Abra-se o champanhe: Mário Centeno é o novo presidente do Eurogrupo. Surpreendente? Sim, há meses houve quem suspeitasse, eu também, que era estratagema de propaganda. Não, era o início de um movimento vitorioso e Dijsselbloem (socialista, pois é) tinha de ser substituído por outro ministro da mesma família. Pois temos Centeno, champanhe.
Para o ministro, grande promoção. Para o governo português, sucesso total. Para o PSD e CDS, mais uma humilhação, vénia ao vencedor, acabou a conversa sobre os números orçamentais falsificados. Até Durão Barroso renasceu das profundezas do Goldman Sachs, qual Dona Constança para se juntar à festança. Para a esquerda, mais pressão. Mas, para a União Europeia, tudo igual.
Em todo o caso, vamos ter congratulações efusivas, evocações de Afonso de Albuquerque a espadeirar os indígenas. Sugiro, se me é permitido, alguma contenção e mais realismo. Primeiro, porque os festejantes se devem lembrar de quantos deles, e dos mais ilustres, anunciavam há parcos meses o “esboroamento a olhos vistos” e as “crises sufocantes” da União, ou até a “morte de um projecto”. Os mais afoitos marcavam datas, “o tempo para salvar a Europa acaba este ano, porventura o mais tardar no Outono” (faltam duas semanas), ou, já vai para dois anos, que “nos próximos dias” chega o “verdadeiro colapso moral por parte da Europa”, “abjurando todo o património de que tem sido portadora no campo dos direitos humanos”, ao passo que o mais eufórico anunciava, esse vai para dois anos e meio, que a crise do euro “começou a acabar”. Esta obsessão por marcar prazo da abjuração ou, vice versa, da redenção, diz muito do que por aí vai.
Há no entanto uma razão menos paroquial para alguma prudência. É que ninguém sabe o que vai ser o Eurogrupo, o euro, ou até a União Europeia. E bem se pode dizer que ela o merece. Veja o seguinte exemplo, convocado da solenidade dos grandes momentos, em que a Comissão Europeia resume o melhor dos cenários que propõe, o de “fazer muito mais todos juntos”, com este caso maravilhoso: “Os europeus que pretendam ter uma palavra a dizer sobre um projecto de implantação de turbinas eólicas na sua região, financiadas pela UE, terão dificuldade em identificar a autoridade responsável uma vez que lhes será dito para contactarem as autoridades europeias competentes”.
Ou seja, o risonho futuro da União será quando os cidadãos andarem em papos de aranha até para “identificar” com quem falar a propósito da turbina imposta no seu quintal. Devemos então estranhar que as democracias se sintam ameaçadas? Quem assim se apresenta perdeu a noção de que deve convencer ou até conversar com as pessoas, oferece-lhes somente o mistério da autoridade. É por estas e outras que a União se tornou um projecto falhado.
O que poderá então fazer o nosso Centeno, o último dos crentes no aprimoramento do euro? Um Orçamento para transferências entre os Estados (mas o orçamento está a diminuir)? Uma política que responda a cada recessão promovendo emprego em vez de austeridade (mas os tratados não mudaram)? Uma Merkel gentil, um Macron discreto? Sim, pode erguer as mãos para as alturas e esperar. Pois parece que a única reforma que está em cima da mesa é o título da função, ministro das finanças europeu. Para Centeno é confortável, para a Europa é pouco.
É sucesso garantido e ao mesmo tempo,alívio e despeito,o que toca á importância da escolha de Centeno no conclave dos ministros das Finanças dos países europeus,visto do lado lusitano da Europa.De um lado,os euforismos habituais que acompanham a exaltação dos heróis da pátria,do outro os sorridentes chacoteiros da turba de detratores,ou de falsos entusiastas,todos a suspirar de alívio,os primeiros a antecipar a rendição às políticas europeias partilhadas pelos profetas domésticos da austera desigualdade e os outros por pensarem estar afastada s hipótese,remota e insana de estar predestinado a outros voos na política nacional.De um extremo ao outro,sem esquecer o centro imperfeito e rarefeito,seria ilusão imaginar uma opinião consensual acerca da nomeação. Para alguém que,por várias vezes,tem afirmado que a procura de consensos é uma das suas preocupações,é caso para antecipar que a tarefa que o aguarda,não será mais difícil do que aquela que,como ministro das Finanças ainda o aguarda.
A escolha de Centeno para aquele lugar tem o mesmo impacto para Portugal do que o Ronaldo ser o melhor jogador do mundo: nenhum.
A escolha de Centeno para Presidente do instrumento informal conhecido por eurogrupo é o resultado dos arranjos e arranjinhos que caracterizam sempre as escolhas de todo o mosaico de figurinhas e figurões que formam o biombo por trás do qual se esconde o verdadeiro jogo de influências, sempre em conflito permanente, de lobby, tecnocratas, grupos de pressão…
Este jogo escondido tem por objetivo desviar os fluxos de “pipas de massa” para os bolsos dos poucos que no mundo concentram o Capital para lhe darem o uso que querem sem qualquer controlo democrático.
A UE é um espaço de captação das riquezas criadas no que chamam o mercado único de 500 milhões de seres humanos para as desviarem, à margem dos votos dos eleitores, para fins cujos resultados são o mundo em que 8 indivíduos concentram, sem controlo democrático, repito, mais de metade de todo o Capital de metade da humanidade.
Portugal abdicou das politicas: aduaneiras, monetárias, financeiras, cambiais, bancárias, orçamentais, de negócios estrangeiros para perder a independência nacional e contribuir alegre e pateticamente nesse processo de acumulação capitalista. Centeno é um dos “maestros” dessa orquestra do enterro das identidades dos povos e destruição das nações europeias. Tem pouco de que se orgulhar.
A consolidação da gestão bancária e da união económica é monetária agravará as contradições internas entre povos e nações europeias aproximando a Europa da guerra, não dá paz.
Bom comentário, mas deixe-me sugerir que talvez a Europa se ponha ela própria em banho maria como fez com o Barroso. Creio que não é com portugueses sem poder no contexto deste presente que a Europa pode avançar para algum lado. Estagnou na comodidade do vazio de fracas elites. O que vai contar a opinião dum português na Alemanha, na França, na Espanha e deixo de fora a Itália ‘ Se tiver que forçar alguma coisa quem o apoia ? Parece-me uma Europa sem motor , aquela que se constrói perdendo meio mundo por falta de iniciativa e liderança , subjugada á canga duma América que aposta sempre em menor espaço europeu.
O que vai ser o Euro é fácil de saber: vai ser o mesmo que sempre foi, desde os tempos do Bretton Woods, passando pelo EMS e pelo ERM, que os alemães são os alemães e têm um umbigo bonito.
O artigo está incompleto, pois termina deste modo: ” Entretanto, queiram os deuses que pelo menos não se agravem a”. Faltam aqui palavras, não ?