Numa reveladora entrevista ao Público, Manuel Pizarro, líder do PS-Porto e seu candidato autárquico, explica como fará campanha simultaneamente em separado do seu presidente da Câmara, Rui Moreira, e a favor de uma nova coligação com ele, que restabeleça a ordem natural das coisas – a que ele candidamente chamou “fazer pelos dois”, escarrapachado em conspícuos outdoors. Assim, quando os jornalistas perguntaram: “Não é fácil fazer campanha contra o parceiro de coligação…”, Pizarro respondeu: “Acho que o truque está em não fazer uma campanha contra ninguém, mas a favor da nossa ideia para o Porto”.
O uso da palavra “truque” nesta resposta não deve ser empolado, afinal palavras excessivas podem sempre ser usadas na linguagem corrente e só quem nunca falou se pode atrever a atirar a primeira pedra. Pizarro usou “truque” e podia ter dito “a arte” ou “a estratégia”, se quisesse ser mais subtil. Nada indica que ele queira enganar os eleitores, até acho que lhes quer dizer precisamente o que pretende para o Porto e para a sua própria carreira como vereador de Rui Moreira. O problema é que aqui arte ou estratégia se parecem demasiado com um truque, este bem à vista de todos: ser candidato só para poder vir a apoiar de novo o outro candidato que espera que ganhe e de que só se separou por umas semanas e por circunstâncias anómalas que ambos lamentam. É nesse sentido que é um truque, é um intervalo em que fala grosso, “fazer pelos dois” segue dentro de momentos. Pizarro “não fará uma campanha contra ninguém” porque precisa desse ninguém para ser alguém no seu projecto para o Porto.
Ora, pergunto-me se isto é assim tão excepcional. Não será que os truques, porventura sem outdoors tão declarativos e sem candura tão expressa, não se estão a tornar o nosso dia a dia do final de agosto?
Dois exemplos de tipos de truques (e já sem contar com a enfastiante polémica acerca dos poemas de Chico Buarque, um pequeno truque para ajustar contas com ele pelo papel que desempenhou na luta contra o golpe palaciano no Brasil e a ascensão de Temer e do seu gang parlamentar) ilustram esta tendência tardo-veranil.
O primeiro truque é o “tudo ao molho e fé em deus”. Exemplo: Cristas, que se atirou ao primeiro-ministro (que a tinha criticado com pouca elegância) lembrando que Costa acabou com os guardas florestais, para esconjurar o seu próprio passado como ministra da agricultura, que a persegue todos os dias, transformando a razão da sua eleição para o cargo que desempenha na sua principal vulnerabilidade. Daí o contra-ataque, mas só a presunção de que o passa-culpas resulta no imediato alimenta esta polémica, enquanto a dirigente do CDS esquece que a voragem da culpabilização nunca a poupará (ela que queria ter feito muito pela floresta mas não fez, excepto promover os eucaliptos e acabar com os serviços florestais).
O segundo truque é o “deita-me poeira para os olhos”. É o caso dos “meninos e meninas”, que se tornou tema favorito da brigada neoconservadora e dos trumpificadores.
Reconheço que o governo permitiu desastradamente a politização desse conflito com uma editora e não tenho nenhuma simpatia pela ideia de uma norma que defina livros aconselháveis. Mas a questão de saber se livros que apresentam os meninos como garbosos candidatos à aventura de piratas e as meninas como nenúfares caminhando para rainhas convêm aos nossos filhos, essa sim, diz mais sobre os pais do que sobre os filhos.
O PÚBLICO resumia assim os livros: “No conjunto das 62 actividades propostas, existem seis cuja resolução é mais difícil no livro dos rapazes e três que apresentam um grau de dificuldade superior no das meninas. Mas a maior parte das actividades reproduzem uma série de velhos estereótipos. Apenas alguns exemplos: eles brincam com dinossauros, com carrinhos e vão ao futebol, enquanto elas brincam com novelos de lã, ajudam as mães e vão ao ballet; eles pintam piratas, elas desenham princesas”.
O que é que se lê nos trumpificadores? Escândalo, as meninas até aparecem melhor tratadas do que os rapazes. Não percebo bem como é que essa distinção entusiasma esses pais (querem os filhos mal tratados?) e justifica que diferença de tratamento (acham que as meninas sonham e os meninos fazem?). Mas tenho um conselho para lhes dar: se pensam que as vossas filhas vão ser felizes com vestidos de princesas preparem-se para um choque. Elas vão querer mesmo ter uma profissão e uma vida.
Este para Salazar só lhe falta o cardeal Cerejeira….
È a Esquerda com o Campo Pequeno versão digital
Sim, o Campo Pequeno, não na versão campo de concentração (até porque não era prático lidá-los a todos ao mesmo tempo…), mas na versão feira do artesanato. Sim, porque grande parte dos próceres da right-alt (inclui trupistas, neocons e outros néscios…) foi feita em casa e à mão.
Seria bom expô-los para ver se alguém os compra. Duvido!
Tanto “argumento” substantivo neste palavreado, mas tanto… Até dói!
Ei-los que saem das suas tocas…
O meu vizinho está muito feliz.
O puto dele só queria brincar com as bonecas, vestidos e fichas da irmã.
Agora não tem por onde escolher!
Problema resolvido
O meu vizinho está muito feliz; o filho que só queria brincar com as as bonecas, vestidos e fazer as fichas da irmã agora não tem escolha.
“Aparecem mais bem tratadas” e não “Aparecem melhor tratadas”.
É bizarro que o PS tenha escolhido Pizarro, para confrontar Moreira.Uma espécie de “brutismo à oeirense”, mas com o “challanger” partidário.E tudo isto, porque a Catarina ex-Pedroso disse que vitória de Moreira ,seria vitória do PS?Contem-me outra história
Caro Francisco Louçã. Desafiava-o a comentar as letras dos seguintes temas músicais e, uma vez que enaltecem os meninos sem incluir as meninas, esclarecer se os considera “trumpificadores”:
“Os Putos” Ary Dos Santos / Paulo de Carvalho / Carlos do Carmo
“Menino do Bairro Negro” José Afonso
Caro Francisco Louçã. Assinalo que usou mais palavras e mesmo adjetivação quanto a quem acha que se deve salvaguardar o direito à livre publicação – seja da “Bíblia”, do “Al Corão”, do “Charlie Hebdo”, do “Público” ou livros para rapazes ou meninas – do que para repudiar o facto de um orgão do Estado (com influência sobre uma editora) recomendar a retirada da banca de uma publicação dessa editora.
Mas já que deixa a pergunta, respondo: Não dei uma bola ao meu filho na expectativa de lhe preparar um futuro profissional
(ex. Ronaldo). Foi apenas para ele brincar. Também lhe dei o jogo de construir pulseiras de elástico, que andou há tempos na moda – sem stresses.
Nem me preocupa que, por brincar aos piratas, polícias e ladrões, se venha a tornar num profissional de algum desses ramos.
Está mesmo convencido de que muitas mulheres de sucesso nas suas vidas se acham diminuídas por terem praticado balet em vez de futebol, lido livros da Anita em vez do Mandrake ou terem usado saias em vez de calças? Ou mesmo que, se pudessem voltar a escolher, achariam que o skate, o “Diário de um Banana” ou o boné de pala lhes granjeariam mais competências profissionais e melhor sucesso nas suas carreiras?
Um dos melhores discursos que ouvi na minha vida, foi precisamente o discurso da derrota de Pizarro, há 4 anos. Mas não se entende este truque derrotista, 4 anos depois, e ainda antes das eleições, porque se a moda pega, simplesmente deixa de haver política e políticos.
Quem quer ir lá, tem que fazer diferente… mesmo que os outros partidos considerem em boa conta Rui Moreira, o “Emanuel Macrón” da Direita portuguesa e da Av. dos Aliados.
Isto é como a Direita em geral portuguesa, neste momento, quando dizem que os geringonços só sabem dar (a quem precisa, e precisam mesmo, fomentando a classe média, mas isso pouco importa para o PSD-CDS, como sabem), e dar, e dar, e dar (como se houvesse muito para dar, e poucos problemas para resolver).
“Isso é navegar à vista, e nós aqui com tanta bússola e astrolábio da Huawei e da viagens à China “oferecidas”, para navegar lá longe, com a ajuda das “reformas” e “desígnios” nacionais (sem explicarem o que querem dizer com “desígnios” e “reformas”, e os resultados das mesmas na Europa actual…).
Quem quer, tem que dizer ao que vem. Ser claro, e com resultados no final de mandato.
Como é que querem “navegar à vista”, se nem conseguem sair do porto com tanto lodo(*)?
(*)Exemplos de lodo: crianças a passar frio e chuva nas escolas, polícias em esquadras a cair aos bocados, empresários já com investimentos feitos e à espera de uma assinatura de um ministério de um director quem só Deus sabe onde anda, alguns deles atraídos para investir pelo próprio ministério, etc, etc…
Reduzir a desigualdade no tratamento das meninas e dos meninos, e das mulheres e dos homens, tem todo o sentido. O que se passava nas décadas de 70, 80 e 90, sobretudo, era ridículo e inaceitável. Hoje, felizmente, as coisas estão muito melhores, o que é óptimo. Mas há, concerteza, progressos a fazer. No entanto, a polémica com os livros, que o governo aumentou com a sua “recomendação” à editora, não ajuda nada a tenhamos mais igualdade no tratamento dos homens e das mulheres. Só prejudica! Por regra o ser humano gosta de melhorar, de ser melhor, mais tolerante, mais refininado, mais instruído. Mas não gosta de o fazer à bruta, obrigado, depois de ser ridicularizado, enxuvalhado. A esquerda (ou as pessoas de esquerda) tendem a ser muito pouco tolerantes neste aspecto, erram muito quando fazem as coisas neste domínio sem tolerância pelo comportamentos dos outros. Cada um é o que é. Temos que aceitar que, por vezes, não é fácil uma pessoa mudar de um dia para o outro. Devagarinho e sempre prontos a ouvir os outors com respeito chegariamos lá muito mais depressa, e sem dramas. Os livros da escola podem melhorar, para isso basta sugerir, não é preciso insultar ou ridicularizar.