Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

3 de Julho de 2017, 22:53

Por

É tempo de o governo acordar

Tudo correu bem este ano ao governo de António Costa. Até agora. As contas em dia, um pequeno crescimento, alguma criação de emprego, até o Schauble está rendido: o governo arrasou onde a direita o desafiou. Não foi ousado, até foi ortodoxo, mas cumpriu as regras pelas quais o mediam na UE. A direita ficou constrangida, o diabo nunca mais aparece. Mas desengane-se quem afirmar que a escolha actual de Passos Coelho e de Assunção Cristas, de fugirem ao tema que os esmaga, a economia, é somente instinto de sobrevivência. É, mas é mais do que isso. Eles estão a tocar num ponto importante.

A ignição do inferno de Pedrógão Grande não é culpa do governo, assim como o assalto a Tancos não o é – na medida, e só na medida, em que possamos esquecer o tempo de inacção deste governo quanto à floresta ou mesmo quanto à segurança dos paióis, ou a forma como o anterior governo, sob a batuta de Passos e Cristas, cortou nesses investimentos, reduziu funcionários e afundou a soberania. Mas o governo Costa é quem está, e respondeu de forma desencontrada ao incêndio. Esse erro repetiu-se agora com Tancos.

O governo actuou rapidamente em Pedrógão para corrigir a flagrante impreparação e descoordenação da frente de combate nas horas iniciais. Foi na política que tropeçou: para comprometer Passos, aceitou a estranha comissão “técnica” nomeada pelo Parlamento, como se competisse a este órgão dirigir a investigação ou tivesse o necessário poder executivo para o fazer. Ou seja, Costa aceitou deixar passar o tempo, quando precisava de acção incisiva, e deixou que a manobra política fizesse a agenda, dando a entender que o governo descuida de saber já o que se passou – e portanto de corrigir as falhas. Foi um erro.

Pior do que um erro, só um segundo erro. Quanto se soube do assalto a Tancos, era preciso firmeza. E tivemos o contrário: o ministro foi à TV explicar três dias depois que não era o caso mais grave, que isto e aquilo. O roubo foi 4ªf passada e só nesta 2ªf o número dois do governo, Santos Silva, vem responder sobre o assunto e ainda de forma mais leve do que o caso exigia.

Entendamo-nos: o que o responsável máximo do governo devia ter feito logo era uma comunicação oficial explicando que há duas possibilidades que o governo tem de levar muito a sério – um roubo para os circuitos de venda de armas ou um roubo para as redes terroristas. Podendo além disso suspeitar-se de cumplicidade entre os militares, este é sempre um caso de Estado, é grave e exige todo o esforço de informação e de perseguição. O governante pode ser obrigado a cuidados especiais quanto ao que diz, para não prejudicar a investigação em curso, mas o que não pode é desvalorizar o assunto, ou deixar andar. Devia ter dirigido o debate sobre o assunto sem permitir qualquer dúvida. Tivesse-o feito e não havia espaço para jogo político; não o fazer é jogo político. Falar e actuar no tempo certo impediria a deriva demagógica e colocaria a questão onde tem de estar: entre o Estado e os bandidos. Isso tiraria do caminho o envergonhante jogo da direita mas, sobretudo, poria o governo no pé da sua responsabilidade.

Acontece ainda que há outro sinal preocupante. É Espanha. Portugal entrega aos seus parceiros militares a lista do material roubado, que é secreta, e vem publicada no dia seguinte no El Espanhol. Uma ministra portuguesa comenta o caso com o seu parceiro espanhol e uma versão da conversa vem escarrapachada no El Mundo, no dia seguinte. Uma vez é um deslize suspeito, duas vezes é uma operação. Como se viu no caso “Sebastião Pereira”, o Partido Popular espanhol está muito preocupado com o exemplo do governo português e desembainhou a intriga. Já agora, convém-nos saber o que fazem os vizinhos.

Senhor primeiro-ministro, é tempo de o governo acordar.

Comentários

  1. O governo minoritário do PS é da responsabilidade de António Costa Primeiro Ministro indigitado pelo Presidente da República, Cavaco Silva. Esse governo passou na Assembleia da República por se terem somados votos de deputados do próprio PS, BE, PCP, PEV.

    É certo que há “posições conjuntas” assinadas entre o PS e BE, PS e PCP e PS e PEV sobre matérias específicas. Nenhuma de natureza estratégica. O governo minoritário do PS é pois um governo de evolução na continuidade dos governos do ex-“arco da governação”: PS, PSD e CDS.

    As políticas estratégicas do governo são a continuação da subordinação às imposições da chamada UE.

    Se observarmos quem são as personalidades que pontificam nos conselhos de administração das empresas públicas e privadas, na gestão das instituições independentes de regulação, concertação, aconselhamento, sociais, económicas, financeiras, diplomáticas, culturais, desportivas, sociedades de advogados e toda a malha envolvente do poder lá encontremos os notáveis do PS com os do PSD e CDS. O poder real é o mesmo desde há mais de 40 anos. António Costa, seus ministros e seu estado-maior do PS faz parte dessa entourage.

    É baixa a expectativa de mudanças vindas do PS que com o PSD e CDS são guardiães do status quo. Daí virá apenas mais do mesmo com as mesmas ou diferentes roupagens.

    O empobrecimento continua a ser assegurado pelo lado do fator trabalho e pela pobreza crescente, endémica, infantil e hereditária.

    Não existe nenhuma contradição essencial entre o PS e PSD ou CDS. Existe conjunturalmente bloqueios ao entendimento nos termos possíveis por incompetência designadamente de Passos Coelho e seu “bando”. Isso passará com a substituição do “bando”.

    Estrategicamente Portugal suicidou-se como país com a entrega das políticas: aduaneira, monetária, financeira, cambial, orçamental, bancária e diplomática.

    A recuperação da independência nacional requer a saída de Portugal da chamada UE. Isso pode ocorrer por decisão de uma maioria inequívoca dos portugueses ou por imposição de afastamento como já foi proposto à Grécia no verão de 2015.

    A agregação da maioria enequivoca dos portugueses que não se identificam com a subjugação às políticas da chamada UE faz-se através da sua consciência de que PS como PSD e CDS são em Portugal os capatazes dessas políticas a par da confiança numa alternativa sólida, preparada, confiável e agregadora da identidade do povo português.

    A esperança na conversão do PS é uma infantilidade.

  2. O Passos tem Costas largas (agora já não é o eucalipto e a Cristas?)
    O Expresso que teve acesso à linha do tempo da protecção civil em Pedrogão escreve:
    “As primeiras horas do combate ao incêndio de Pedrogão Grande foram dominadas pela falta de organização, desrespeito pelo sistema integrado de operações de socorro, ausência de reconhecimento e avaliação, confusão nas comunicações. O comando das operações não foi claro e foram precisas 3h para dividir a área sinistrada em sectores. Contrariando a lei (despacho 3551/15), só 10h depois foi atribuído o reconhecimento a uma equipa especializada. Apesar da gravidade da situação o plano distrital de protecção civil de Leiria foi activado 24h depois do começo do fogo, já com o primeiro ministro no local, e mesmo com o fogo em 3 distritos não foi activado o Plano Nacional de Emergência de Protecção Civil, tarefa que competia ao Conselho de Ministros. Sem comando organizado, e com caos nas comunicações foram as populações a alertar para a dimensão da tragédia, que só às 22h de sábado foi assumida pela Protecção Civil.”
    “A protecção civil ignorara na véspera os avisos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e não antecipara o posicionamento dos meios de reforço. Com aviso de incêndio de nível laranja caberia ao comandante nacional a emissão de um alerta especial. E seria o comante distrital a determinar o pré-posicionamento de meios. Mas o comando da ANPC não colocou oportunamente os meios no norte do distrito de Leiria.”
    “Às 23h08 o secretário de Estado consegue chegar ao posto de comando mas não activa a Comissão Nacional de Protecção Civil, competência que é da sua responsabilidade e o Plano Nacional de Emergência de Protecção Civil não pode ser activado por depender do governos.”
    Isto tem alguma relação com o anterior governo ou deve-se à purga feita pelo governo nos lugares de chefia da protecção civil para colocar boys e girls com os resultados fantásticos que se conhecem.
    O Passos tem alguma responsabilidade em o secretário de estado do MAI e o primeiro-ministro desconhecerem as suas funções: o secretário de estado de estado não activa a Comissão Nacional de Protecção Civil e o Costa não reúne o Conselho de Ministros para activar o Plano Nacional de Emergência de Protecção Civil.
    Quanto a Tancos ficamos pelo facto de o Ministro da Defesa o ter hoje visitado puxado pela orelha pelo presidente da república, como um menino mal comportado.
    E esquece-se o Louçã dos enunciados dos exames conhecidos antes das provas.
    Tanta desorganização só está ao alcance de predestinados…
    E o que faz o Costa? Vai para banhos porque as férias já estavam marcadas…
    O BE que no caso do fogo limitou-se a pedir chuva o que faz? Agora tenta passar entre os pingos da chuva que pediu sem se molhar… Mas existem as posições conjuntas assinadas pré-geringonça e os 2 Orçamentos já aprovados para nos recordar das prioridades que o BE deu à floresta.

  3. Finalmente – não com surpresa – vejo alguem elaborar em um único texto todas estas questões que me parecem estar – demasiadamente – ligadas.
    A direita espanhola (El Mundo, El Español) emerge – tal como, precisamente, a nossa ‘querida’ direita – na desgraça e ‘revela’ o desprestígio do Governo, através de manobras ‘sucias’. Identificado mais um inimigo da geringonça e, sobretudo, do Estado.
    Já tínhamos visto algo parecido nos alvores de 2011.

    1. Parece que alguém gritou “ó tempo volta para trás”, quando para sabermos o que se passava em Portugal era preciso ouvir a BBC. Agora se queremos uma informação completa, não “condicionada”, precisamenos de ler os jornais estrangeiros. Era mentira o que o El Mundo disse sobre a desorganização no combate ao fogo em Pedrogão? Pelo que conta o Expresso na última edição a versão do El Mundo até era muito simpática para Portugal… Ah! O que dizem agora do El Mundo e El Espanol era o que o anterior regime dizia sobre a comunicação social estrangeira que noticiava o que era cortado em Portugal…

  4. Nada disto é inocente.

    Jamais este país de segunda categoria terá perante o mundo uma imagem decente com tanta gatunagem, tanta aldrabice, tanta manha, tanto trafulha, tanta politiquice rasteira e tanto traidor interno. Arre! Vergonha este atoleiro.

  5. Sem esquecer a fuga de informação na prova de exame de português… com aquela mensagem cirurgica…

    Se é verdade que Passos e Cristas já não mandam, e por isso poderem nos mandar suicidar sem que isso tenha consequências, como aconteceu com Passos em Pedrogão, não podemos esquecer que nunca o CDS, e principalmente o PSD, tiveram líderes tão fanáticos e extremistas, que depois de 4 anos a massacrar, entre muitos outros, os sindicalistas e os sindicatos, não tiveram vergonha de usar opiniões de alguns sindicatos sobre os incêndios, em plena Assembleia.
    É óbvio que também têm apoio daquele governo corrupto do PT espanhol, que de facto está preocupado com o nosso sucesso económico.
    Sem falar nos habituais milhares de boys que eles instalaram já em gestão, como aconteceu ao Siresp e á TAP, deixando a Motorola e o Nielman em cima das costas de Costa (devia ser proibido um governo assinar contratos superioes a 1 milhão, depois de perderem eleições).

    Há que estar atento, e de tempos a tempos fazer uma revisão e avaliação ao pessoal ministerial. Espero que esta semana de férias na Manta Rota de Palma de Maiorca, sirva para Costa reflectir sobre.
    Porque, tal como diz a nossa Ana Moura, “Cada dia é um bico de obra”.

    1. Desculpem o esquecimento, mas eu tenho que perguntar se ser ministra e ao mesmo tempo sentimentalista, será defeito.
      Devo recordar que os últimos MAI do PSD, tinham uma óptima pose de frente, mas por trás tinham aura de criminosos (alegado branqueador de banqueiros corruptos de igreja, e o outro acusado de corrupção nos vistos gold).
      Eu próprio, se visse agora o Presidente Marcelo, eu desataria imediatamente a chorar, porque ele este ano se esqueceu de referir a corrupção nos discursos do 25A e 10J.
      Nós saímos do Procedimento por défice excessivo, mas nenhum país do mundo sai do Procedimento do défice anti-corrupção.

      Isto a propósito do roubo das armas, que cheira a máfia no interior dos quartéis. Nós não precisamos que os oficiais façam manifs ilegais para despejar faqueiros na rua.

      Precisamos que denunciem….

    2. Pois pois. O Miguel Macedo foi acusado durante o seu governo e não teve pressões de ministros ou recepções na Assembleia da República para o safar (ao contrário do PS durante a Casa Pia, com Costa e Ferro Rodrigues ao comando das operações).

  6. Nada que interesse. Politiqueirice ao melhor nível. Diz que disse. Parece bem e parece mal. Fica bem ou fica mal na foto. Escreve um artigo e manda umas bocas. O outro responde às bocas com outras bocas. Quem ganhou o debate? Logo à noite jantam todos juntos. Enfim. A classe política que temos. Acção, que é bonito, resolver os problemas, que é preciso… não interessa. O país que se lixe.

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