Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

António Bagão Félix

3 de Julho de 2017, 09:04

Por

Dia da Inclusão

No meio da tragédia que se abateu sobre Portugal e de outros assuntos, desde os políticos aos futebolísticos, que tomam conta dos noticiários, não há tempo, nem espaço para assuntos de algum simbolismo e significado e que também acontecem.

Refiro-me, aqui e agora, à discussão na Assembleia da República, na passada semana, de uma petição subscrita por mais de 4.000 pessoas para a instauração do “Dia da Inclusão”. A primeira peticionária e grande impulsionadora da ideia foi Ana Rebelo, também carinhosa e exemplarmente conhecida pela Mãe da Maria, e criadora de um excelente blogue: http://www.amaedamaria.com/.

Assisti, como peticionário, na companhia de outros militantes desta causa, à discussão do documento, que obteve uma apreciação muito favorável de todos os grupos parlamentares.

Bem sei que se poderá dizer que é apenas mais uma efeméride. Mas também sei que a problemática da inclusão, como direito-dever de todos, pode ser robustecida pela acrescida consciência humanista, social e política da sua necessidade. Também se poderá dizer que já existem dias nacionais ou internacionais dedicadas a esta temática, como é o caso das pessoas portadoras de deficiência. E se é certo que esta última área é das que mais precisam de testemunhos, vivências e acções, outras há que importa prevenir e combater, como sejam a exclusão étnica, geracional, digital e formas agressivas de isolamento e violência.

A inclusão exige tempo. Não tanto ou apenas o tempo do tempo esmagado por um quotidiano frenético, mas o tempo visto como um dom, o tempo dentro de nós para quem está em nós. É assim que vejo a ideia de inclusão. Sem tirar importância aos actos políticos e às necessárias leis, a inclusão não se esgota nos decretos. Vivencia-se, pratica-se, poliniza-se. Através da partilha, da palavra, da solicitude, do exemplo, do serviço e do testemunho.

A inclusão na sociedade pressupõe também o esforço de inserção dos que se sentem excluídos, para se atingir a plena participação, isto é, ser parte do todo.

Sobretudo, por via de uma ética social intensiva, alicerçada na ética das virtudes, na ética dos deveres e na ética dos cuidados.

Ética das virtudes, através de carácter recto e disposição para a prática do bem, da justeza e da equidade. Com sabedoria, mansidão e temperança. De um modo honesto, amigo e leal. Como escreveu Kant, “a virtude não é aquilo que nos torna mais felizes, mas aquilo que nos torna dignos de ser felizes”.

Ética dos deveres, que eleja, como seu primeiro valor, o direito-dever. Quando usufruímos de um direito, alguém cumpre um dever. Quando praticamos um dever, alguém exerce os seus direitos. É esta simetria que se deve exprimir de uma maneira integral e responsável. Um verdadeiro dever activo, pelo qual nos constituímos obrigantes (pela consciência) e não tão-só obrigados (pela lei, pelo contrato, pela convenção).

Ética dos cuidados, radicada na relação interpessoal, afastando a regra impessoal e anónima. Porque as regras morais e os fins sociais requerem uma exigente sensibilidade para compreender as particularidades da pessoa envolvida e do contexto concreto.

A inquietude e o inconformismo saudáveis e eticamente responsabilizadores deverão ser centrais no magistério de esperança associado à promoção da dignidade das pessoas em risco de exclusão. Sempre com afecto, educação, carácter, trabalho, princípios, humanidade, consciência.

Somando através da diferença e multiplicando através da divisão dos “bens interiores” (era assim que São Tomás de Aquino, chamava aos bens espirituais e sociais, pelos quais, quando se partilham com os outros, ficamos todos com mais).

Por isto tudo, aderi, com júbilo, a esta iniciativa e regozijo-me pela sua aprovação na casa da democracia.

 

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