Gosto de futebol. Do que se joga nos relvados. Arrebato-me e sofro pelo meu clube de paixão. Mas ando desiludido com o clima de guerra e de degradação ética que cada vez mais envolve este desporto. Ou melhor, o que está à volta do futebol, que é tudo menos futebol. Onde só há superlativos extasiados. Ou porque se idolatra um qualquer artista a quem tudo é consentido, ou uma jogada de divindade pagã, ou um “golpe de génio” de um qualquer treinador vá lá saber-se porquê, ou um devaneio ardiloso e espertalhão de um qualquer dirigente auto imaculado ou de um funcionário pago a peso de ouro. Neste mundo de fantasia e vaidade, os limites de sã convivência e de desportivismo são facilmente ultrapassados.
Na passada semana, viu-se o pior e o melhor do desporto. Por aqui, num pavilhão onde duas boas equipas disputavam um simples jogo de andebol, uns energúmenos encapsulados numa dita claque passaram todos os limites, nem sequer respeitando os 71 mortos num desastre aéreo e destilando todo o ódio na equipa rival. No mesmo dia, e na Alemanha, numa acção provavelmente terrorista, é atacado o autocarro de uma equipa. O jogo foi adiado e vimos não só os adeptos da equipa visitante a entoar cânticos de apoio ao adversário, como adeptos deste a receber nas suas casas os oponentes.
Propositadamente não mencionei o nome dos clubes. No primeiro caso, porque desta vez foi assim e nada assegura que, amanhã, seja ao invés. As claques têm uma coisa em comum: são todas iguais. No segundo caso, porque este exemplo deveria ser universal e, por isso, o nome é o que menos importa.
Acresce que, em Portugal, temos agora, em progressão logarítmica, o efeito nocivo de alguns programas desportivos em canais televisivos de notícias. O que neles se passa ultrapassa todas as barreiras éticas e deontológicas. É até confrangedor ver pessoas respeitáveis no meio de touradas de sangue onde só falta o bicho. Ali, com mais ou menos desrespeito ou fanfarronice, o que importa é excitar a discussão pela discussão, dar argumentos de ódio para ouvintes mais propensos à acefalia, repetir imagens de “enorme importância” vezes sem conta até se ficar nauseado. Os oráculos que se lêem debaixo de ecrãs, divididos aparvalhadamente em 3 ou 4 partes, são um pré-incitamento à violência, que depois se vem criticar com um ar insonso de pureza artificial. Dá-se guarida a declarações de marginais que são tratados como heróis. Propaga-se incontroladamente o mau exemplo, o rastilho do ódio, a acendalha lançada para cima do fogo tão artificial, quanto teatral. Pedagogia do bom exemplo é coisa rara, com direito, quando muito, a rodapés e fugidios momentos de ecrã. Ainda há dias, o coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto deu uma excelente entrevista. Quem a replicou nessas vertigens televisivas de aleivosia e graçolas? Ninguém! Tudo vale em nome das audiências. Uma vergonha!
O mimetismo é uma doença, por natureza, contagiosa. Se exceptuarmos a televisão pública, bem mais contida e com excelentes programas sobre futebol (por exemplo, a “Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio”), os outros canais fazem por copiar o (pior) original, que é, neste caso, a CMTV. A TVI 24, com excelentes jornalistas, deixa-se enlevar por discussões patetas e patéticas, onde tudo se discute menos os jogos. A SIC Notícias, também com bons jornalistas, é cada vez mais um “canal de bola”. Inimaginável é a SIC Radical transmitir o “Brasileirão” de futebol, pervertendo assim todas as regras fundacionais e de licenciamento deste canal.
Parafraseando Béla Guttman, “porca miséria!”
Sr. Bagão Félix
Tenho asco ao futebol e tudo o que ele representa… no fundo um (mais um) espelho da sociedade.
Tenho tanta pena de não ter nascido nos Estados Unidos, onde frequentar um estádio para assistir a uma partida desportiva significa um passeio de família, uma tarde agradável, boas memorias.
Aqui na europa ir ao futebol é ir assistir a selvajaria, a gritos, insultos, hooligans, verdadeiros animais, dentro e fora do relvado.
Depois há todo o resto à volta, a corrupção as fraudes os escândalos.
Que diferença assustadora.
É por isso que optei por objeção de consciência de CGAR NO FUTEBOL
Adoro futebol, mas há muito que já deixei de ver qualquer programa de desporto na televisão.
Contrariamente ao autor do post já tive clube de preferência(e não de paixão), mas actualmente já não tenho. Continuo a gostar de futebol e raramente vou aos estádios. Aproveito e vejo na TV, em locais públicos – não subscrevo a TV dita SPORT.
Acho risível a “competência” futebolística do Grupo de Combate para o Futebol do CDS/PP, onde pontificam Telmo Correia, Sílvio Cervan, Helder Amaral e Diogo Feio – um aproveitamento quase total dos militantes de proa. Fico hipnotizado com a acuidade jurídica aplicada ao futebol de Rogério Alves, Rui Gomes da Silva e José Guilherme Aguiar, que, face à valia intrínseca que transportam, fazem paralisar a produção e emissão de informação normal no período 22.00/24.00, todas as segundas-feiras, na SIC-Notícias. Fico estarrecido com a desenvoltura de João Gobern e Miguel Guedes, um improvável jornalista e crítico de artes e um ainda menos improvável músico e jurista. O programa da TVI24 merece um detalhe à parte: o comentador Guerra, adstrito ao Benfica, traz uma “cábula” elaborada pelo Padrinho, Filipe Vieira, de acordo com o revelação indiscreta na imprensa; o Manuel Serrão aparece travestido de boçal inflamado, com manifesta falta de amor clubista; o José Pina aguenta-se mas, às vezes, também descamba.
O futebol em Portugal contribui para o embrutecimento dos jovens; os menos jovens já conheceram outras realidades e não são recrutáveis para tão maus caminhos.
O mundo das contratações é abominável: porquê recrutar jovens da América do Sul, quando os jovens já deram e continuam a dar provas de excelência? Vide Ronaldo, Quaresma, Futre, Simão, Rui Costa, Figo, Baía, Paulo Sousa, Fernando Couto e outros.
O mundo dos empresários é dúbio, insondável e desnecessário. Qual é a mais-valia trazida por Jorge Mendes?
A cultura das claques é perniciosa, geradora de criminalidade e desvios no correcto caminho da integração dos jovens, penetrando com facilidade em meios desfavorecidos. A infiltração ideológica extremista é um perigo exponenciado pela fragilidade social e asfixia económico-financeira em que o País vive, ditada por poderosos interesses externos.
Sempre gostei de futebol. Sou do tempo do Benfica conquistador, da gloriosa década de 60 – o Benfica participa em quatro finais europeias e conquista em 1961 e 1962 o título de Campeão da Europa e a selecção portuguesa regista um 3º. lugar no Campeonato do Mundo, realizado em Inglaterra. Vi, nos anos 60 e 70, grandes jogadores na Luz: Best, Law, Bobby Charlton(o United deu cinco ao Benfica, na noite em que Best se revelou ao mundo; Beckenbauer, Muller e Maier; Gento, Di Stefano e Santamaria(o Real Madrid levou cinco na numa noite inesquecível de Eusébio, em 24 de Fevereiro de 1965); vi a fabulosa dupla Pelé-Coutinho gelar a Luz na Taça Intercontinental. O FUTEBOL ERA AUTÊNTICO E QUASE INGÉNUO. UM DESPORTO DE MASSAS. OS INTERESSES PESSOAIS E DE GRUPO REFLECTIAM-SE NUMA ESCALA QUASE ÍNFIMA. Era quase impossível admitir que os grandes clubes de Lisboa pudessem ser dirigidos por personagens do calibre de Vieira e Carvalho. Os personagens eram outros: Maurício Vieira de Brito, Borges Coutinho, Brás Medeiros – era pouco imaginado que personagens com a “entourage” de Damásio, Vale e Azevedo ou José Veiga pudessem entrar no “glorioso”. O Benfica era verdadeiramente uma escola de integração de grandes jogadores provindos de África(Angola e Moçambique) e constituía-se como um exemplo para a comunidade. Alguns grandes jogadores desse tempo: Eusébio, Coluna, Simões, Germano, Santana, Águas, Costa Pereira. Recordo um momento em particular, que dá nota do ambiente de modéstia vivido pelos grandes jogadores de futebol daquele tempo: numa segunda-feira, imediatamente a seguir a um Benfica-Sporting, atónito deparei com José Águas, acompanhado pelos filhos Rui(celebrizado mais tarde como Rui Águas) e Helena(celebrizada mais tarde como Lena de Água), viajava no comboio apinhado de gente da Linha de Sintra, a ler calmamente “A Bola”. Dá nota do ambiente da época: simplicidade e ausência de vedetismo. Hoje nada disto se passa. É gritante a diferença: Outros interesses e clima de negócio, num contexto, em Portugal, em que o espectáculo oferecido é de uma mediania confrangedora.
Hoje, quando me cruzo com jogadores do passado cumprimento-os, e eles respondem, porque, pelo meu aspecto, identificam-me com os velhos tempos. Aconteceu, ainda há pouco tempo, com António Simões, num Centro Comercial e com Pedro Gomes, numa artéria de Lisboa.
Uma chamada de atenção para quatro grandes senhores do futebol, quatro grandes jogadores e homens de eleição: vindos de Coimbra para o Benfica, Artur Jorge(1946) e Toni(1946). Grandes desportistas, grandes jogadores, grandes treinadores. Noutro plano, Pelé(1940) e Cruyff(1947-2016). TUDO O QUE É BELO NO FUTEBOL ESTAS QUATRO PESSOAS ELEVARAM A UM NÍVEL EXTRAORDINÁRIO.
Lamentavelmente esqueci-me de Humberto Coelho(1950), actual Vice-Presidente da Federação Portuguesa de Futebol e um grande homem do futebol, Está ao nível de Artur Jorge e Toni. Isto na área do “Glorioso”, o Benfica.
Na área do Sporting a minha grande homenagem a um guarda-redes de eleição: o enorme Vítor Damas(1947-2005). Grande senhor na vida e no futebol.
Na área do F.C.Porto a referência a António Oliveira(1951), ex-seleccionador nacional, verdadeiramente um mago da bola.
O nível intelectual de um país é inversamente proporcional à quantidade de jornais, revistas, programas em canais de tv e rádio totalmente dedicadas ao futebol.
É o mercado, Dr. Félix, é o mercado. O povo quer parvoíce e o mercado suprime essa procura.
Sou de opinião que o que as pessoas abençoadas com um encéfalo completo devem fazer é desvalorizar. «O árbitro gama»? E que é que isso interessa? «O Presidente é trauliteiro»? E que é que isso interessa? «O melhor do mundo é…»? E que é que isso interessa?
Mas quem é que quer saber o que pensam, o que dizem as pessoas com o encéfalo completo? O que é preciso é o mercado funcionar.
Filipe, se é o mercado a funcionar, está tudo bem! E ai de quem se insurgir contra os mercados, não é, caro Bagão Félix?
@Ernesto,
O meu comentário pretende ser irónico, se bem que o exagero seja pequeno.
Sem querer responder pelo Bagão Félix, acho que ele é fraco exemplo desses adoradores do bezerro de ouro que é o mercado.
Nao estou certo que seja culpa do mercado. É sobretudo mau jornalismo televisivo e péssima gestao e direcçao de programas. Metade da populaçao sao mulheres, um publico que nao é obcecado por futebol. Nao é por acaso que cada vez mais gente nao vê televisao ou se vira pura e simplesmente para canais estrangeiros, internet, Netflix, etc, para se informar e ocupar tempos livres. A TV portuguesa é particularmente má, nao tem nada a ver com o que se faz na generalidade dos paises europeus onde, no entanto, tb existe um publico tao entusiasta pelo futebol como o portugues. O que se passa em Portugal é doentio e o argumento de que a TV dá o que o mercado quer é a desculpa usada pelos gestores mediocres das estaçoes portuguesas para nos servirem gato por lebre.
@am,
Talvez fazer boa TV e bom jornalismo seja muito mais difícil do que fazer péssima TV e péssimo jornalismo, mas porque é que não se faz TV e jornalismo assim-assim? Porque a malta não quer.
Veja a RTP, e mesmo a SIC e a TVI, até ao século XXI; na minha opinião eram muito melhores. Porque é que pioraram? Porque descobriu-se o filão de quanto pior melhor. Qual é o jornal mais lido? Não é o Público. Qual é a TV mais vista? Não é a RTP2.
Quanto ao resto da Europa, os média britânicos têm fraca fama no que toca a futebol. Da imprensa cor-de-rosa nem falo. Mais: creio que o conceito do Big Brother foi criado na Holanda. Como vê, na trampa como em tudo seguimos a tendência.