Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

António Bagão Félix

29 de Dezembro de 2016, 08:06

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Os três lados do nosso futebol

O nosso futebol está metido num triângulo, cujos lados são paradoxalmente contraditórios, ou pelo menos, desconformes. Um triângulo que, na maioria dos casos, despreza o longo prazo e se concentra excessivamente no “dia seguinte”. Os três lados bem desiguais dão-lhe a forma canhestra de triângulo escaleno: o lado bom e prestigiante; o lado mau e corrosivo; o lado perigoso e ilusório. Vejamos:

1. O lado bom: somos campeões europeus. Temos títulos conquistados em escalões jovens. Boa representação nos Jogos Olímpicos. O nosso futebol feminino em ascensão. 8º lugar no ranking mundial de selecções e 6º no de clubes da UEFA. O Benfica 8º na classificação europeia e o Porto em 12º. Ainda entramos com 3 clubes na Champions. Cristiano Ronaldo, o maior. Outros grandes e promissores jogadores. Maior volume de retorno financeiro por transferências de atletas.

O futebol português – se o comparamos à luz da nossa dimensão demográfica e da nossa riqueza per capita – está numa posição relevante face a outras actividades económicas do país. Pede meças a outros países bem mais poderosos. Goste-se ou não de futebol, não é difícil reconhecer a sua influência para colocar Portugal no “mapa global”. Tal como a nossa selecção é um dos (poucos) elementos de unidade integrante quanto ao nosso (débil) orgulho de pertença.

2. O lado mau: apesar do lado bom, há sempre um mas. Um mas de incompetência, de cretinice, de ganância, de deslealdade, de cupidez, de mentira, de incoerência absoluta de paixão transformada em ódio.

Um mas de desculpas, de omissões, de mentirolas, de jactância, de irresponsabilidade, de falta de nível, senão mesmo de carácter e de integridade.

Os media tabloidizados regozijam-se e regurgitam com tanta miséria moral. Repetem, até à náusea, situações perversas, como se as estivessem a promover e incitar. Pessoas respeitáveis há que até entram nesse jogo, sem se sentirem envergonhadas ou incomodadas.

A corrosão do lado bom do futebol português é de um primarismo que, espero (ainda que com muito pessimismo) não contagie os jovens e crianças que vêem diante dos olhos, dia após dia, esta feira franca de aleivosias e de maus exemplos. Deveria até haver o sinalzinho no canto do ecrã para prevenir os progenitores.

3. O lado perigoso: em tempos de sérias dificuldades (embora amortecidas pela ilusão de que agora tudo vai na melhor), continua a ser dificilmente compreensível a atmosfera de “abundância” que, impassivelmente, se continua a respirar no mundo do futebol. Lá fora e – mais surpreendentemente – cá dentro.

Houvesse “rating” para os nossos principais clubes e, por certo, ver-se-iam “gregos” na escala das letrinhas que, implacavelmente, as agências de notação lhes assinalariam.

A facilidade com que se fala de milhões para cá, milhões para lá no futebol, é uma forma perversa de separar este mundo à parte da realidade, às vezes penosa, da vida dos portugueses.

Estou consciente de que o que agora e aqui escrevo não é aquilo que o “povão da bola” gosta de ler ou ouvir. Quer sempre mais, na indiferença de saber quem vai pagar a factura (mais tarde ou mais cedo e inexoravelmente, o mesmo povão).

Sei que sempre foi assim. O que não compreendo é que este “sempre ter sido assim” se agrave num momento de fragmentação ética, de acentuada contingência económica e de difícil situação social. Alguém que nada conhecesse de Portugal, e só olhasse para as primeiras páginas, diria que Portugal era um verdadeiro oásis no meio do deserto da penúria.

Comentários

  1. No futebol muito bom são os 90 minutos……depois à o Mundo que gira à volta do futebol que é mesmo muito mau.É o mundo dos que servem do futebol

  2. Pois eu acredito na cordialidade,educação e urbanidade,que é exactamente o contrario do que os “media tabloidizados” fazem.Pois será que o poder politico,não quer olhar para a afronta que canais(um exemplo,entre tantos) como a TVI todos os dias fazem? gravam conversas privadas de politicos,mentem no caso Banif,utilizam meios das autarquias para promover o seus proprios “programas”,atiçam odios dia sim,dia tambem,vendem vaidades bacocas,e medicamentos sem receita medica,nem controlo algum(calcitrin),mas será que os politicos tem medo desta pouca vergonha a ceu aberto? É tempo de dizer Basta de tanta porcaria.

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