O futebol motiva paixões extremas e dificilmente haveria condição mais intensa do que o Euro disputado em França. Portugal ganhou contra todas as expectativas. A surpresa foi criada pelo desempenho da equipa, contrariando o que deixara antever nas suas primeiras partidas e desmentido a lei das probabilidades. O país entusiasmou-se à medida que o campeonato progredia e suponho que muitas pessoas vibraram como se não houvesse amanhã.
Uma empresa patrocinadora da seleção, a GALP, desenvolveu neste contexto a costumeira estratégia de relações públicas e convidou diversas personalidades para viajarem e assistirem a alguns jogos da fase final (deixo de lado por hoje a espinhosa questão da lista das empresas patrocinadoras da selecção). Suponho que terá pago passagens aérea, estadia e deslocações, e entre os convidados – o critério do convite é desconhecido – estavam pelo menos três Secretários de Estado e também alguns deputados do PSD. Sabido o facto, incendiou-se a política, com o PSD a fazer de conta que não sabia de nada e o CDS a pedir demissões, o Bloco e o PCP a mostrarem irritação e o governo em modo de contenção de danos.
Como o assunto é sério, não vale a pena nem fingir que é simples eflúvio de silly season nem esperar que o mês de Agosto passe tranquilamente para se esquecer a contenda.
Vejamos então os factos.
Facto um. O Estado tem um conflito com a GALP sobre questões fiscais, que se disputam em tribunal. O Secretário de Estado que tem a tutela do fisco foi um dos convidados. Interpretação um: entre uma coisa e outra haverá pouca relação, a GALP não deve estar à espera de algum favor judicial. A empresa convidou ainda um Secretário de Estado para a internacionalização e outro colega. Para algumas outras vantagens imediatas? Até pode ser que não. Mas promove estas relações e estes convites porque eles fazem parte de uma cultura de vinculação do sistema político às empresas e a esse beautiful people que navega à volta dos eventos chiques.
Facto dois: o governo reagiu afirmando que os mantém nos cargos mas que vai elaborar um código de conduta. Interpretação dois: se o código de conduta define esta situação como irregular, isso significa que os três Secretários são condenados a posteriori (se não é que as regras explícitas já os impediam de aceitar o convite). Se o código aceitar situações deste tipo, não serve para nada. Ou seja, o governo não condenou o facto mas anunciou que vai condenar o facto desde que essa condenação nada afecte o facto.
Facto três: o ministro dos Negócios Estrangeiros Santos Silva anunciou que vai conduzir “pessoalmente” as eventuais questões sobre a Galp que requeiram decisão do seu Secretário de Estado Costa Oliveira. Interpretação três: o Secretário de Estado foi punido publicamente porque o ministro anuncia que considera que a sua viagem compromete a sua isenção e a sua capacidade de decisão sobre a GALP.
Facto quatro: alguns deputados do PSD, que foram ver os jogos, alegaram “trabalho político” para evitarem uma falta injustificada e sobretudo para receberem o salário do dia. Parece que um deles teve a ousadia de defender que era mesmo “trabalho político” – gritar ou aplaudir numa bancada de futebol, bem vistas as coisas, pode ser uma coisa parecida com “trabalho político” para certos políticos. Interpretação quatro: é assim que estão habituados, a singrar entre os regulamentos.
Conclusão primeira: os Secretários de Estado ficam na posição impossível de decidirem no futuro sob o peso de uma acusação ou suspeição e, pelo menos num dos casos, perdendo mesmo tutela sobre o tema GALP. A decisão de Santos Silva sobre o seu Secretário de Estado atinge directamente os outros dois, que dependem dos ministros das Finanças e da Economia.
Conclusão segunda: os deputados do PSD vão fingir que é tudo normal nos seus casos porque é mesmo tudo normal para eles, estão habituados ao truque.
Conclusão terceira: há outros casos de permanente sobreposição de interesses entre a política e o negócio. Maria Luís Albuquerque tornou-se o exemplo mais exuberante. Mas um Secretário de Estado tem ainda mais obrigações do que um deputado, porque tem poder executivo. Quem criticou a deputada Albuquerque não pode aceitar a facilidade do Galpbol.
Acrescento que considerei a escolha de Rocha Andrade para o fisco muito adequada. Tem formação técnica, visão política e grande capacidade de trabalho, condições para ser um excelente Secretário de Estado (os outros conheço pior e nada escreverei sobre a sua inclusão no governo). Lastimo por isso que estes Secretários de Estado se tenham colocado nesta situação devido à sua escolha, mesmo que motivada por paixão por futebol e mesmo que seja sem outras razões, muito menos a dependência em relação à empresa. Mas é uma situação impossível e eles sabem-no melhor do que ninguém.
Francisco Louçã, lendo seu blog fiquei com uma imagem melhor de si.
Sempre o julguei como alguém que se interessa mais em defender seus valores ignorando a realidade das pessoas ( um preconceito meu em relação a “esquerda” ).
Mas continuo a pensar que és responsável pela queda do governo que precipitou o “golpe” Democrático ( sim!, golpe – eu via CNN, e compreendi desde cedo a jogada do PSD ) da direita, e a consequente vinda do FMI. Continuo a acreditar que sabia do que poderia suceder ao fazer cair o governo de Socrates, de quem ñ sinto muita simpatia, embora não o conheça pessoalmente.
Nestas questões de promiscuidade governo-interesses privados, tem chovido sempre copiosamente num lugar em Portugal chamado CENTRÃO, habitado pelos figurões do CDS-PSD-PS.
Calha agora a vez a alguns governantes do Governo PS. Nada de relevante ou de não-habitual.
É claro que estes casos não devem ofuscar as transferências recentes para o privado de Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas, para só falar nos mais recentes.
Não esquecer as escandalosas transferências de Jorge Coelho para as hostes da Mota-Engil, depois de demitido de Ministro das Obras Públicas, na sequência das tragédia de Entre-os-Rios e de Ferreira do Amaral, na mesma situação governativa, para a LusoPonte.
Relativamente a Portas a questão tem um longo rastttttttttttttttttttttto. Submarinos, caso da Moderna e agora o somatório de empregos arranjados, após saída de altas funções governativas.
Recentemente, entrei numa livraria e deparei com o “Album dos Antigos Alunos do Colégio São João de Brito”. Desfolhei o livro; encontrei os dados e as fotografias de Miguel Portas, António Pires de Lima e Paulo Portas, então no princípio da adolescência. O que levou ao destino bifurcado destas três pessoas? Miguel, de um lado; Paulo e António do outro.
Os múltiplos empregos de Paulo Portas(PP), herdados e surgidos por via das suas antigas funções de governante, transformam-no num videirinho, à semelhança de Durão Barroso, Maria Luis Albuquerque and so on.
“É mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha, do que um rico entrar no Reino dos Céus”. Esta citação biblíca acaba por se articular com a Acumulação Primitiva de Capital, de que fala Marx. De quantos milhares de pobres é feito um rico?
PP pode continuar a frequentar a Igreja da sua paróquia. Mas, estou convicto, que Deus, a existir, nunca permitiria a entrada de PP no seu Reino. Nesse aspecto, o mesmo Deus, se existisse, seria infinitamente mais benévolo com o seu irmão Miguel.
Achar que isto é um assunto sério é desvirtuar a solução como vital para que não se repitam assuntos tão “sérios” como este…O tempo e a tinta que este assunto menor já derramou na apatia, diz-nos bem da seriedade com que os políticos e outros quixotes respondem à seriedade destes assuntos, repeti-los insistentemente parece ser um argumento forte da seriedade que eles revelam. Pena que muitos destes episódios não venham à tona e pudessem assim derramar tanta tinta e garganteio quanto este. Portugal arde em todos os sentidos.
As escabrosas e inadmissiveis ” peripécias ” dos prendados membros do Governo pelas viagens-pack ao Euro em França ” oferecidas ” pela Galp, envenenam patamares muito importantes da máquina do Estado: ética governamental feita em frangalhos; direcção politica do PM…inconsequente, mole e perdulária ; e, last but, but not the least, a frágil e ténue sintonia na ” aliança ” institucional entre o Governo e o PR sofreu, mesmo com os vapores ultra-lihgt da silly season, um choque de repercussões incalculáveis para o futuro. Niet
A Galp não anda a dormir. Se convida estas pessoas é porque sabe que são corruptos. Se não fossem, a empresa não poderia tirar nenhum proveito. Se uma empresa daquelas convida uns burgessos daqueles, está à espera de contrapartidas. Só mesmo na classe política é que estes comportamentos se consideram normais. Porque é o mundo do “arranja-me isto”. Alguém me explique 1) qual é a utilidade do secretário dos assuntos fiscais ir ao futebol? 2) ganha assim tão mal que não possa pagar? 3) se fosse importante, até o Estado pagava; 4) No meio de tanta crise, não tem mais nada que fazer do que ir berrar e fazer cenas? Não há que fazer? Uma última pergunta. Se fosse um cidadão (daqueles estúpidos, como eu) a enganar-se numa vírgula numa declaração qualquer, a punição não faltava. Estes tipos ainda estão no governo porquê?
A lei portuguesa contempla este tipo de situaçoes. Os membros do governo nao estao acima da lei. O Ministerio publico tem a estrita obrigaçao de fazer aplicar a lei.
Os patrocínios são actos do quotidiano que interessam às partes. No caso dos patrocinadores da Federação Portuguesa de Futebol a GALP está a ter um retorno inesperado, não por causa da colagem da marca GALP à imagem do enormissimo sucesso da seleção nacional Campeã da Eurooa e galardoada com a Ordem de Mérito, mas por ser o pretexto do “debate político do ano”.
Só falta a demissão do governo do PS para os parasitas de calúnias obterem a cereja no topo do bolo do verão de 2016.
Não vi ainda propostas de política alternativa ou simplesmente diferente quer para patrocínios quer para a participação neles de pessoas do Estado. O debate ainda não saiu da calúnia e das exigências absurdas de demissão de parte do governo, não pelas suas políticas, mas por terem participado conjuntamente com muitas outras pessoas do Estado e da sociedade na efetivação desses patrocínios.
Por isso classifico esta operação de “debate político” (entre aspas).
Podiam exigir o fim dos patrocínios ou simplesmente a participação de membros do Estado em atos sociais ou soluções intermédias cujos limites seriam sempre objeto de discordância em todos os casos conforme as conveniências, mas não vejo nenhuma proposta política sobre a matéria excepto a avançada pelo Ministro Santos Silva.
Vejo sim um motim explorando o gáudio popular contra os políticos, o Estado e principalmente contra o governo.
Todos perderão com este desastrado ruído da comunicação social exceto a GALP que todos os dias soma ganhos.
Na lógica policial de responder a quem aproveita o delito todas as pistas apontam para a GALP.
A demissão dos srs.Secretarios de Estado é a única saída.A ética Republicana assim o exige.
Conclusão quarta: Difícilmente se encontra um político honesto!
Joāo Albuquerque
Pergunta:para que precisam os beatiful people de ordenado,reforma ou conta no banco se tudo lhes é oferecido? ou seja,se tudo me for oferecido,e se eu for muito importante já sei que vou passar a vida a almoçar no gambrinus e a jantar na laurentina do bacalhau na conde valbom.então,preciso de dinheiro exactamente para quê? e com alguma sorte ainda me oferecem casa nas av.novas,carro e despesas pagas.P.S-eu já não sei se a ironia do Eça serve para alguma coisa.tenho esperança que sim.
Querem ver que a p..a sou eu? A velha história e que tem a ver com uma cultura enraizada que precisa de combate moral persistente. Mas no meio destas pequenas prebendas, escapa sempre o mais importante- na noticia do Observador sobre o percurso do Rocha Andrade (um génio nacional, pela quantidade de “feitos” que lhe são imputados…), vem uma inconfidência: que ele foi vogal da Comissão de Auditoria da REN tendo recebido 48.000 euros em 2009 por essas “funções”). E este não é o “emprego” dele, foi mais uma prebenda (deve ter ido a 2 reuniões no máximo …). Um professor universitário não chega a ganhar metade desses 48.000 euros (após impostos) durante um ano inteiro. E trabalhou decerto 1 milhão de vezes mais do que o Rocha como vogal da REN, fez uma tarefa socialmente mais util (mas não valorizada como tal) e contribuiu muito mais para esta sociedade do que o vogal da REN. Custa saber que os Rochas deste país conseguem ganhar 48.000 euros só por estarem dentro do tacho. E quantos Rochas estão dentro do tacho? Quantos Rochas foram no avião da GALP? E querem ver que a puta sou eu?
Não sei quem foram os teus professores universitários mas posso garantir que os do técnico não fazem ABSOLUTAMENTE nada. Nem a duas reuniões vão. Todo o ensino superior é dado e corrigido por assistentes. Dos professores só lhes vi o nome, há alguns que de quando em vez recorrem à universidade mas para papar alunas em troca de notas, que do resto não querem saber. Deves ter muito pouco estudos, para mandares bocas dessas.
Cada vez que compro alguma coisa para a empresa onde trabalho aproveito para ir a um ‘fornecedor’ que dê ‘desconto em cartão’ ou ‘desconto em talão’. Porque os dez, quinze ou vinte e três por cento dão jeito para eu comprar umas coisitas que fazem falta lá em casa. Fico preocupado se na falta de um código de conduta não estarei a ser, digamos, um bocadinho corrupto. Como é tudo uma questão só entre empresas e não há políticos envolvidos, estou convicto que a questão da corrupção não se coloca. Gostava de saber a sua opinião.
Entao pela ma’ atitude de uns, desculpamos os outros todos?!!!
Não, caro Pedro. O que eu vejo é uma escola de favores a funcionar 24 horas por dias a todos os níveis, a minar qualquer esboço de ética e igualdade, e só vejo virgens ofendidas quando a questão chega ao plano político, isto é, quando a questão pode servir para mostrar que ‘eu sou mais honesto do que tu’ em termos partidários (aí a esquerda e a direita e o centro funcionam com a mesma metodologia). Se há alguma coisa que não mudou de antes do 25 é esta patriótica tendência para ajudar o próximo.
Esqueceu-se de referir a ida ao Moulin Rouge e outras jantaradas, que habitualmente acontecem nestas viagens. Enfim, coisas que qualquer jornalista minimamente expedito poderia esclarecer, se tivesse vontade. A não ser que sejam como os que assistiram ao discurso do então candidato a PM, a uma certa assembleia de “empresários” chineses.
Embora a atitude dos deputados do PSD seja condenável, existe uma diferença crucial. Não têm capacidade de decisão sobre se a GALP deve (ou não) pagar as dívidas ao fisco. Sobretudo não devem ser usados para branquear esta tentativa de aquisição de serviços de patrocinato(?).
FL diria coisa análoga se o PSD fosse governo e o PS oposição? Sabemos bem que não. Daqui não vêm novidades.
Inventar um Moulin Rouge para melhorar o seu argumento diz tudo sobre o que pretende argumentar. Escusava de se envergonhar, o assunto é suficientemente sério.
Pois… é tão sério como apanhar amoras. Às vezes pica mas compensa sempre.
Escusa de tentar mudar a baliza de sítio. Já marquei o golo.