Afigura-se que o Presidente da comissão executiva do Santander Totta, António Vieira Monteiro, tem demonstrado pouca habilidade na gestão do processo de compra do Banif.
Primeiro, parece existir uma troca de “arrufos” com o Ministro das Finanças, Mário Centeno:
o Ministro “desmentiu” o Santander na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif argumentando que a integração do Banif na CGD era uma alternativa mais favorável, com custos mais baixos; posteriormente, durante a apresentação dos resultados do Santander Totta, em 2 de Maio, sem necessidade nenhuma, o Presidente do banco, desmente as declarações de Mário Centeno na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a data do acordo para a compra de 1,8 mil milhões de euros de dívida pública portuguesa pelo Santander Totta e fala sobre esse tema, dando a entender que o Santander Totta fez o “favor” de comprar esse montante de dívida pública portuguesa; ora esse eventual “acordo”, antes ou depois da data da resolução, é um pormenor embaraçoso porque o Tratado Sobre o Funcionamento da União Europeia (artigo 124º) proíbe a Estados-Membros o “acesso privilegiado às instituições financeiras” e porque a operação se parece demasiado com uma operação de financiamento do défice público proibida por esse artigo[1]; pode apenas tratar-se de “linhas trocadas” utilizadas para criar manchetes nos jornais, mas competia ao Presidente do Santander Totta manter um perfil muito discreto nesta altura pois é inconcebível que o presidente de um dos principais bancos a operar em Portugal – ainda por cima de capitais espanhóis – deixe transparecer, ou deixe passar para a praça pública, que existe tal diferença de entendimentos com o Ministro das Finanças.
Segundo, os lucros do Santander Totta cresceram, no 1º trimestre de 2016, 113% face ao mesmo período do ano anterior, mas o Santander e António Vieira Monteiro, em particular, fizeram questão de frisar que o contributo do Banif para os lucros no primeiro trimestre foi “marginal”: “O Banif teve um impacto positivo de um milhão de euros por mês, como estamos a falar de três meses são três milhões de euros”.
Ora, os números (e as estatísticas) podem ser lidos de muitas formas mas a estratégia do Santander Totta e de António Vieira Monteiro de argumentar que o negócio Banif não foi nada de especial, e que não explica o crescimento dos lucros do Santander Totta, parece fraca e pouco credível (num próximo post apresentarei as minhas estimativas dos ganhos do Santander com a compra do Banif).
Por último, afigura-se que António Vieira Monteiro está a menosprezar a relevância deste caso do Banif, não para o Santander Totta, mas para o grupo Santander. Se o processo não for bem conduzido e a polémica ultrapassar fronteiras, as consequências serão outras. E, não são ainda, de forma alguma, favas contadas…
[1] Artigo 124º do TFUE (que se segue ao artigo 123º que proíbe financiamento directo do Banco Central Europeu ou do Banco Central Nacional a qualquer Estado-Membro):
“São proibidas quaisquer medidas não baseadas em considerações de ordem prudencial que possibilitem o acesso privilegiado às instituições financeiras por parte das instituições, órgãos ou organismos da União, dos governos centrais, das autoridades regionais ou locais, ou outras autoridades públicas, de outros organismos do setor público ou de empresas públicas dos Estados-Membros.”
Os chavōes comunistas já estiveram fora de moda. Agora, têm maior ressonância na realidade.