A entrevista mais recente de José Rentes de Carvalho, que tem falado sobre a sua obra e a sua vida com discrição (Expresso, 23 abril), é, para quem o lê, uma preciosidade.
O escritor apresenta-se como é, rebelde. A sua história é uma raridade, precisamente por causa dessa rebeldia: nasceu em Gaia de família de Trás-os-Montes (conta-nos esses primórdios da sua história por exemplo em “Ernestina”) e depois teve que emigrar, para o Brasil, para os Estados Unidos, depois para França, para finalmente se fixar em Amesterdão. Foi lá que ganhou relevo nas letras holandesas antes de ser conhecido como escritor português em Portugal. Exílio, transgressão, emigração e rebeldia, então.
Hoje com 86 anos, Rentes de Carvalho é uma das sólidas promessas da literatura nacional, a que continua a dedicar o seu cuidado: “O Meças” (ed. Quetzal) foi publicado este ano e é uma história de memórias descobertas num tempo marcado pela violência. É sempre na narrativa do quotidiano, das agruras, das esperanças de gente pobre, do cruzamento de vários mundos, que Rentes de Carvalho melhor se destaca na escrita meticulosa e contida.
Doutor: Leu a crítica de António Guerreiro na 6ª. feira no “Ípsilon” sobre “O Meças”? Está nas antípodas da sua.
Noutra página, Guerreiro comenta a ausência de Vasco Pulido Valente até Outubro. O tom é reverencial. Nas antípodas do que referiu para Rentes de Carvalho. A crónica acaba muito bem. Não resisto à tentação de passar a descrever: “Para as metáforas da destruição tem o nosso cronista uma acentuada tendência. Mas, até Outubro, ele será esperado e celebrado como construtor. Outubro não será ainda o tempo do fim, mas será o fim de um tempo”. VPV nasceu em 1941. O tempo urge. Esperamos ainda melhor do que “Glória” e “Paiva Couceiro”.
Porque, como dizia o próprio jornal em “Escrito na Pedra”, citando Borges, “O livro é uma extensão da memória e da imaginação”.
Não tinha lido, obrigado pela referência.
«Hoje com 86 anos, Rentes de Carvalho é uma das sólidas promessas da literatura nacional», uma promessa Francisco Louçã? Tem a certeza?
ler rentes de carvalho nao para todo e cerebro obrigado F.louça por ter lembrado um grande português
Se lermos o artigo com atenção, a pessoa que ficou chocada com o termo de GENTE POBRE, mostra bem quando fala em feirantes, pois quase todos são dignos e como tal deverão ser. tratados, pois são a classe trabalhadora mais antiga.
Já li “O Meças” e gostei. Como todos os outros. Partilho da opinião de Francisco Louçã.
Também li a entrevista e o livro. O Rentes é uma lufada de ar fresco, como o Novais aliás, de que ele tanto e tão bem fala. Homem livre, não é um escritor de aviário como tantos hoje, trouxe a liberdade e a verdade para o papel.
Um só reparo à entrevista: Rentes de Carvalho, o Balzac não teve filhos, e muito menos bisnetas!
Com que então “gente pobre”!!
“gente pobre” é uma expressão racista, do racismo saloio da burguesia. Um racismo de analfabeto, pobre quer dizer infértil.
1 – Gente pobre é gente estéril, coisa mais comum na boçal burguesia do que na gente a quem lhe é cortado o acesso aos meios existentes. Há mais pobres (inférteis) entre os ricos do que entre a gente que tem o acesso cortado aos meios existentes.
2 – A boçal burguesia corta o acesso aos meios existentes às gentes, através das práticas de feira e o uso de trabalhadores.
Não é “gente pobre” é gente a quem os feirantes cortaram o acesso aos meios. O corte do acesso aos meios não produz infertilidade, produz a carência que é a base de chantagem do poder feirante.
3 – O uso termos de descriminação de gente, como “gente pobre”, é uma prática usada para a aceitação da sobranceria feirante e justificação da condição de subserviência das gentes à boçal burguesia.
A esquerda é uma miséria cultural, não sabe diagnosticar a base dos problemas sociais e muito menos definir a terapêutica para os erradicar. Pactua ainda com a utilização dos termos do racismo feirante, de descriminação de gente, usados para a sobranceria e poder dos feirantes sobre as gentes.
A igualdade de gente e a erradicação dos termos de descriminação feirante das gentes, usados para imposição da sobranceria do boçal burguês, não está na agenda da esquerda. Não se preocupa com o uso de termos como “gente pobre” preocupa-se antes com o uso de termos como “cartão de cidadão”.
Gastar o tempo com minudências inofensivas ao sistema feirante é a segurança necessária ao mantimento do poder feirante. Parabéns, caro Louçã.
Poupe-nos à sua arrogância. Já sabemos que a universidade o abandonou, que é uma enciclopédia com pernas apesar de ter ficado prisioneiro de uma entrada e de só a saber repetir à saciedade. Se se der ao desfastio de ler Rentes de Carvalho, aprenderia muito e só lhe fazia bem, ficava menos azedo. É um grande escritor que conta como viveu entre gente marcada pela pobreza. É assim, o que é que quer?
Não, não é assim. É “um grande escritor que conta como viveu entre gente atingida pela acção dos feirantes”.
Não se descriminam as gentes pelo que lhes é imposto. Aponta-se o responsável pela miséria produzida, e não a descriminação usada para camuflar, e se aceitar como normal, o resultado da acção dos feirantes e dos seus trabalhadores.
Pobre (infértil) é a esquerda, e não as gentes atingidas pela acção dos trabalhadores.
Não sabia que a universidade me tinha abandonado. Nem sabia sequer que a universidade abandona. O centro de analfabetismo da barbárie é um prostíbulo à disposição de qualquer um.
Compram-se na universidade desde diplomas por patos bravos, políticos e afins, até estudos para resultados pré-definidos pelo cliente industrial delinquente, ou pareceres em favor de quem os pagar.
Na universidade o feirante encontra desde criaturas domesticadas para lhe obedecer (trabalhadores) até formas de ficar impune pelos crimes e misérias que comete contra as gentes. Não é caro Louçã?
O que seria dos feirantes sem os serviços da universidade? As gentes ainda descobriam que não têm nada que aceitar nem as práticas da feira, nem os resultados dos negócios, nem as misérias provocadas pelos feirantes e seus trabalhadores, e ainda menos a condição de trabalhador (domesticado aos feirantes), impingidos pela universidade como sendo “conhecimento”.
Caro Louçã, a universidade é um objecto de estudo e não um lugar de estudo.