Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

27 de Abril de 2016, 13:25

Por

Uma granja e um banco, mas a granja já acabou

Escrevia Oliveira Martins, desesperado no final do século XIX: “Uma granja e um banco: eis o Portugal português. Onde está a oficina? E sem esta função eminente do organismo económico não há nações. Pode haver populações provinciais; pode haver Mónacos; mas falta um órgão de circulação, um membro ao corpo humano. Um povo constituído em nação é como um abecedário: todas as letras lhe são necessárias para escrever o que pensa” (1881, Portugal Contemporâneo, vol 2, Porto: Lello e Irmão, p413)

Diz agora Vítor Bento, desesperado no início do século XXI: estamos a ser uma cobaia para novas regras para bancos falhados.

Sem granja, ou com escassa produção, e com pouca indústria, restou a banca e ela falhou. Pagamos por tudo: por ter perdido as pescas, por termos uma devastação ambiental, pela decadência da indústria, pela emigração, pelo desemprego ou pelo emprego precário, pela austeridade, e pela banca, que leva uma conta generosa. À correcção disto é que se devia chamar “reformas estruturais”.

Comentários

  1. Boa alegoria para explicar o tão já gasto argumentário. Este diagnóstico é repetido até à exaustão mas quem manda, quem tem responsabilidades governativas supranacionais (as únicas que verdadeiramente contam para este tema) assobia para o lado.
    A visão de curto prazo dos investidores, o lucro fácil e rápido, a financeirização da economia com recurso a instrumentos (complexos na sua forma mas muito simples de serem compreendidos na sua substância), a desregulação dos mercados… e os países no meio, presos neste teatro encenado pelo poder financeiro/burocrático da UE… “reformas estruturais”, “défice de 2,5876%, 2,7634 ou 3% do PIB” blá blá… todos os dias… tudo uma ficção. No final bate tudo certo e está tudo bem. Mas até lá vamos ficando mais pobres e sem expectativas. Andamos em hipnose. Não deve ser fácil ser jovem nos dias de hoje.
    De estratégia económica comum, nada. De competitividade comum, nada. De política social comum, nada. De medidas contra o dumping fiscal, nada…
    Vamos ficar nisto indefinidamente até à implosão da UE.
    Um efeito perverso disto tudo é que se foi criando um “mercado” nos mass mídia. Não faltam comentadores (no qual não incluo o Professor) que vivem disto. Vão capitalizando importância mediática e massajando o ego.

  2. É por isso que a Venezuela é um modelo de sucesso.
    Ou Cuba.
    Ou o Brasil.
    Estranho, que o modelo socialista preconizado pelo autor nunca tenha funcionado.
    A social democracia tem casos de sucesso estrondosos mas em sociedades com uma postura moral e caracter que não existe em Portugal ( embora um sistema judicial que funciona ajude e muito)
    Eu não quero Portugal transformado numa espécie de laboratório para a extrema esquerda.
    Até porque o resultado está à vista. É so ler os jornais da Venezuela, da Grécia e afins.
    E utilizando a ideia de um dos comentadores, cá vai uma citação : ” o socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros”.
    Creio que todos sabem a quem atrubuir esta brilhante frase.

  3. Não só perdemos tudo, como os mais poderosos foram impondo a sua grei, e constituindo-se como uma casta elitista, que foi sugando o Estado e nada lhe dando em troca. Bem, pelo contrário. Pegou em milhões e colocou a salvo em paraísos fiscais, amputando dessa forma a Res Publica de parte dos recursos a que tinha direito, para que houvesse uma maior distribuição de rendimentos. Afinal, e tomando em conta este e os casos de clientelismo político, económico, financeiro, a rede de interesses à volta dos escritórios de advogados, a corrupção no aparelho de Estado e no poder local (com certos autarcas a se considerarem donos de regiões e senhores feudais em vez de meros representantes das suas comunidades), não houve um saudável progresso social, mas triunfou uma ordem onde os mais poderosos “encapotados”, dissimulados vão fazendo o seu cursos honorum sem serem incomodados, enquanto o restante sociedade empobrece.

  4. A banca falhou?

    Escrevia Winston Churchill
    O socialismo é a filosofia do fracasso, a crença na ignorância, a pregação da inveja.
    Seu defeito inerente é a distribuição igualitária da miséria.

    João Albuquerque

    1. A banca não falhou? Em que planeta é que vive? Os bailouts são um bónus pela saúde da banca? E o Banco Bom/ Banco Mau? Sem dúvida um hino à saúde do BES?

      E já agora, em relação à distribuição igualitária da miséria? Nós sob este sistema capitalista em que vivemos, estamos muito bem certo? As coisas correm bem á fartazana basta ver que as pessoas estão bem não é? Cheias de dinheiro, desemprego em baixa, nenhuma marosca por parte dos bancos com a conivência de quem nos governa… Não há dinheiro a fugir para offshores para não pagar impostos… Sim, com a miséria dos outros podem eles bem certo?

      Ignorância é pecado João Albuquerque. E pior que isso, espalhar desinformação por motivos ideológicos é pior ainda. Se chama-se as coisas pelos nomes este comentário não seria publicado.

    2. João Albuquerque, a Churchill se atribuem muitas afirmações, umas mais interessantes que outras. Certa vez, por exemplo, durante uma ocasião social, uma aristocrata ter-lhe-á chamado bêbado, ao que ele respondeu; — sim, estou embriagado, mas isso amanhã já passou, ao passo que a senhora continuará a ser feia. A pergunta que eu agora lhe dirijo, é a seguinte: o que é para si preferível, a distribuição igualitária da pobreza ou a miséria de muitos em benefício da riqueza de alguns.

      Ao seu Churchill permita-me que lhe atire um Garrett: «Quantas almas é preciso dar ao diabo e quantos corpos se têm de entregar no cemitério para fazer um rico neste mundo».

    3. “Todos somos aficcionados. A vida é tão curta que não dá para mais.”
      Charles Chaplin

  5. Já la vai um tempinho desde Oliveira Martins a Vítor Bento e diferentes que eles são.

    A lamúria de Oliveira Martins era de ver enxuta de economia sua nação, com povo sim senhor e um estado para a corte dos que se achavam acima, diferentes e mais alto que esse povo e dele se serviam como se serve o senhor.

    Nestes tempos de Vítor Bento o desespero vem-lhe de se achar da nova “corte”, deste novo povo, que por instantes se ergueu e disse: na minha nação mando eu!
    A “corte” primeiro não percebeu depois reconsiderou e pensou três vezes e três vezes contou seus haveres e os dos demais e seus poderes e concedeu que não havendo já nada em que mandar com proveito, nem havendo poder para ter e usar mais lhe valia que fosse o povo a mandar.

  6. Pois, mas o governador do Banco de Portugal ainda está contra os juros negativos para manter os lucros (spreads) dos bancos, mas quando sobem não põe ele um tecto máximo favorável aos clientes. O povo que aguente as mordomias dessa gente que levou o país à bancarrota.

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