Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

12 de Abril de 2016, 08:31

Por

Fazer contas no Brasil não é coisa para gente sensível

A Folha de São Paulo publicou há um par de dias as últimas sondagens sobre as presidenciais no Brasil, que se deveriam realizar em 2018 caso a presidente Dilma Rousseff não seja demitida dentro de duas semanas.

As contas impressionam e explicam bem alguma da motivação política dos recentes acontecimentos: Lula é o único candidato de topo que sobe nas duas sondagens e está mesmo à frente numa delas, na outra fica empatado com Marina Silva (que desce). Os dois hipotéticos candidatos do PSDB, o principal partido de direita que está a liderar o movimento para a demissão, caem ambos: Aécio Neves, que já foi derrotado por Dilma, seria derrotado por Lula, e Alckmin, o outro possível candidato tucano, tem menos de metade das intenções de voto de Lula. Quanto a Michel Temer, o vice-presidente que aspira a ser presidente se Dilma vier a ser demitida, tem em ambas as sondagens 2%. Se a direita não elimina Lula da corrida presidencial, prendendo-o ou arrastando-o pelos tribunais, bem a pode vir a perdê-la.

A pergunta é então: porque é que Lula sobe, apesar da imprensa que o massacra e dos inimigos que não lhe dão tréguas? Há várias explicações possíveis. Sobe porque as primeiras salvas da perseguição foram exuberantemente fora-da-lei, porque cheiravam demais a manobra partidária, ou porque os candidatos da direita estão tão envolvidos no escândalo que enlameia a política brasileira que não se podem apresentar como alternativa – nos Panamá Papers lá apareceu mais uma revoada de figurões desses partidos. Por tudo isso, Lula sobe, apesar da barafunda criada pela estratégia do seu partido com múltiplas alianças com os partidos mais inapresentáveis da direita (Collor de Mello, o presidente que se demitiu, ou Maluf, o último candidato da ditadura militar, fazem parte da frente de apoio ao governo), ou ainda pela actuação do seu governo em casos como o Mensalão, um esquema de corrupção e compra de votos. Apesar de tudo isso, sobe porque a alternativa é tão venal que Lula ainda aparece como um amigo para uma parte importante do povo – o que é certo é que vai na frente.

Acresce que a eventual demissão de Dilma Rousseff só agravaria o imbróglio jurídico, não o resolveria. Depois da votação da sua demissão no parlamento federal, ela ficaria suspensa até decisão do Senado, seis meses depois (com Jogos Olímpicos pelo meio). Se o Senado rejeita a demissão, então ela volta a assumir a presidência. Se a confirma, já temos pelo menos seis meses perdidos em crise política e não vai parar.

Jogando contra a incerteza e sublinhando as fraquezas dos seus adversários (o tribunal decidiu acelerar o processo contra Eduardo Cunha, o presidente do Parlamento e líder do grupo derrubista no PMDB, o maior partido parlamentar), Dilma recuperou alguma iniciativa política. O prolongamento da crise joga a seu favor, até porque Temer, o vice-presidente, tem que ser imputado pelas mesmas acusações que a atingem e que agora se resumem a ter assinado decretos com “pedaladas fiscais”, ou seja, a antecipação de pagamentos por bancos para facilitar a cosmética orçamental – o que foi igualmente subscrito por quem pede a sua demissão, o próprio Temer.

Entretanto, começou ontem o procedimento parlamentar para a destituição de Dilma. Dos 38 deputados que aprovaram a acusação, 16 respondem no Supremo Tribunal Federal por acusações várias: crimes eleitorais, improbidade, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, formação de quadrilha, peculato, apropriação indevida de bens da segurança social, corrupção ativa e passiva, crimes contra o sistema financeiro nacional, incentivo à invasão de terra indígena, incitação ao crime, formação de quadrilha, desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento e outros. O relator da acusação, Jovair Arantes, é acusado de “concussão” (pagamentos indevidos e corrupção). O processo é tutelado pelo presidente do parlamento federal, Eduardo Cunha, cujas contas secretas na Suíça foram pagas por 52 milhões de reais da Petrobrás, e é ainda acusado em tribunal de  crimes contra a Lei de Licitações, crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva (inquéritos 3983, 4123 e 4146). Em contrapartida, a presidente é acusada por esta comissão parlamentar de ter procedido a estrategemas orçamentais.

Confusão? A sondagem diz que não.

Comentários

  1. Esse artigo é uma das peças mais equivocadas escritas por V.Sa., nos últimos tempos. Aliás, vem se superando a cada artigo.

    Quais salvas de perseguição foram fora da lei? Os milhões roubados pelo partido da Dilma e Lula? A compra de deputados e senadores feita pelo lula do quarto de hotel? Os 50 mil milhões de ruptura do orçamento que é CRIME DE RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE no Brasil e que em Portugal é visto com bons olhos? O que é crime? A Dilma usando o palácio do planalto para realizar plataforma política e permitir a incitação à violência? O ministro da defesa dizer que é concebível a violência? O PT dizer que vai transformar o país em guerra civil se não votarem à favor da Dilma? O que é crime? Fazer campanha com dinheiro de suborno? Fraudar os eleitores prometendo coisas que não eram possíveis de ser feitas? Transformar o Brasil num país próspero deixado pelo Fernando Henrique num mar de estrume?

    O Louçã devia se informar antes de falar.

    1. Obrigado pelo simpático incentivo. Tenciono mesmo superar-me em cada artigo, em sabendo.

  2. O problema é que, de tanto sedenta do poder, a oposição brasileira tornou-se irracional, buscando na irracionalidade a única via para alcançar o poder. O que estão a fazer é ressuscitar, unir e fortalecer um PT que já se mostrava nocauteado e moribundo com tantos escândalos de corrupção.

  3. A tragédia do Brasil está num sistema político criado para favorecer a corrupção e os mais velados interesses das suas poderosas e retrógradas elites. Qualquer individualidade ou legenda política, por mais honesta ou bem intencionada que seja, jamais conseguirá governar se não fizer acordos com deus e com o diabo ao mesmo tempo. Fica assim vulnerável à corrupção. A história um dia esclarecerá melhor sobre processos como o mensalão. Enquanto não houver coragem e vontade política para que seja feita uma profunda reforma que torne todo o sistema mais transparente, menos dependente de negociatas e melhor escrutinado pelos cidadãos, tudo continuará na mesma. Já alguém dizia, com certa razão, que o Brasil não é um país para ser levado à sério. A sessão do legislativo brasileiro que votou favoravelmente o relatório do impeachment foi um autêntico festival de infantilidade política. Não admira, afinal o Brasil é o país do carnaval e volta agora à sua realidade depois de uma década de pura ilusão de crescimento e maturidade tanto do país como dos seus políticos.

  4. Sobre a ideia de que, à luz dos resultados das sondagens, o Lula poderia ganhar as presidenciais de 2018, as contas estão mal feitas, Francisco. Em 2002, quando ganhou pela primeira vez, o Lula teve 46% no primeiro turno; em 2006, teve 48,5% no primeiro turno. A Dilma, por sua vez, teve 46% no 1º turno de 2010, e 41% no primeiro turno de 2014. Não há nenhuma chance de um candidato do PT que partisse de um patamar de cerca de 20% na primeira volta vir a sair vencedor na 2ª, mesmo que ficasse à frente na primeira volta.

    1. De acordo, o comentário é certo e a conta também – mesmo que haja grande incerteza quando aos cenários que estas sondagens projectam. Em todo o caso, a explicação mais razoável para o encarniçamento contra Lula é impedir a sua participação com candidato presidencial.

  5. Mesmo que Dilma seja destituída, as eleições serão sempre só em 2018. O mandato atual é completado pelo vice-presidente.

    1. Podem sempre convocar eleições antecipadas.
      Se as sondagens são assim tão favoráveis e as certezas são grandes, podiam ter a dignidade de sair agora, preservando-se do julgamento das “pedaladas fiscais” que é o que a destituição, a acontecer, comprova. Com tanta vantagem, ganham logo as eleições com maioria de pelo menos 100% dos votos.
      Saúde.

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