Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Ricardo Cabral

25 de Março de 2016, 14:46

Por

O Estado da União

Mais dois horrores, que nos tocam de perto, os atentados terroristas que se verificaram esta semana no aeroporto e no metro de Bruxelas – em símbolo, a capital da União Europeia –. É de repudiar a violência contra inocentes, por jovens cidadãos nascidos na Europa, dispostos a morrer e a arrastar o mundo com eles, por fanatismo religioso. De lamentar a perda de vida e o sofrimento humano. Noutros países, em particular no Iraque e recentemente na Turquia, os atentados terroristas, tão ou mais graves do que os verificados em Bruxelas, e antes em Paris, ocorrem com demasiada frequência. Estes tocam-nos mais porque parecem mais perto de nós. Atingem o nosso modo de vida. Todos inaceitáveis.

Estes atentados suscitam várias questões:

1. Não podemos ignorar a responsabilidade do Ocidente no conflito que se iniciou no Iraque e que, rapidamente, se alastrou a todo o Médio Oriente e Norte de África.

2. A Europa goza de uma paz, que dá por certa, que é em parte consequência da última Grande Guerra e dos ensinamentos daí retirados. A actual geração de líderes políticos e tecnocratas tem de saber continuar a construir a paz o que exige visão, generosidade, capacidade de empatia com a situação dos mais fracos e sério esforço de integração das suas minorias étnicas.

3. É necessária uma estratégia Europeia para o fim das guerras civis que grassam na Síria, na Ucrânia, na Líbia, no Iémen e no Iraque, referindo apenas alguns teatros. Porque as crises humanitárias e de segurança que testam a Europa são, em parte, consequência da forma despreocupada como a Europa olhou para o caos pouco além das suas fronteiras ou como, em alguns casos, interveio militarmente;

iemen

Imagem: Resultado de um bombardeamento por caças da Arábia Saudita, numa área próxima do aeroporto de Sanaa, a capital do Iémen

Fonte: The Economist

4. A União Europeia não tem sido capaz de lidar com a complexidade interna e externa que enfrenta, ou seja esta União de 28 países é, como refere Viriato Soromenho Marques, um gigante, um monstro de muitas cabeças, que não é capaz de gerir o dia-a-dia de forma harmoniosa em prol dos seus cidadãos e em prol do mundo: nem na esfera económica, nem na esfera política, nem em relação à crise dos refugiados, nem em relação à política internacional em que era importante que falasse a uma só voz, nem em relação à política de segurança.

Nesta Páscoa de 2016, os atentados terroristas de Bruxelas relembram-nos da importância da vida humana e da paz, mas ao mesmo tempo de como o actual Estado da União está muito aquém do que se exige…

Comentários

  1. Grande feito! Conseguiu fazer um comentário aos ataques terroristas e à “integração” sem fazer qualquer referência ao Islão. De facto, não tem nada a ver. Tudo o que acontece de mau no mundo é culpa da Europa e dos EUA. Os ódios selvagens que percorrem o Médio Oriente estão absolutamente dissociados das culturas locais, que sempre foram as primeiras na defesa da liberdade e da dignidade humana, o que fazem questão de demonstrar hoje em dia da forma mais explosiva. Ainda ontem, no Reino Unido, um muçulmano que desejou aos seus conterrâneos cristãos uma Páscoa Feliz nas redes sociais foi libertado da sua vida à facada por outro muçulmano — certamente uma consequência directa da falta de oportunidades económicas do capitalismo, que por outro lado não tem o mesmo efeito em nenhuma das outras minorias étnicas e religiosas na Europa. Houve ainda o pregador islâmico na Escócia que fez a apologia comovente de um rapaz no longínquo Paquistão. Esse rapaz, condenado à morte, orgulha-se de ter libertado da sua vida um político que ousou questionar a lei da blasfémia, um instrumento para perseguir cristão e muçulmanos naquela terra da Luzes. Por favor, continue a explicar em detalhe como é que horrores deste tipo, de Marrocos ao Bangladesh, são da responsabilidade do Ocidente, e como é que só o Ocidente é que pode e deve tomar medidas (inteiramente pacíficas, claro) para resolver a situação.

    1. Tem toda a razão. Estou agora, depois de o ler, convencidissimo de que os atentados são uma instrução deixada por Maomé num envelope lacrado para ser aberto em 2016. Também determinava o desemprego em Portugal e a queda da ponte Entre-os-Rios. E a derrota de Portugal face à Bulgária.

    2. Caro Louçã, só no que respeita aos atentados, maiores e menores, acho que seriam precisos demasiados envelopes. Nem um profeta guerreiro poderia despachar tanta papelada.

    3. O Islão considera Jesus como um dos maiores profetas. Tais como Noé, Abraão, Moisés e Maomé … Jesus também é considerado o Messias. Isso está em conformidade com a visão islâmica da Unicidade de Deus, a Unicidade da orientação Divina, e o papel complementar da missão dos mensageiros de Deus… No entanto, no Islão, Jesus Cristo não é considerado como Filho de Deus… Nada mais…

      “E quando os anjos disseram: Ó Maria, Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no outro, e que se contará entre os próximos de Deus. Falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade, e se contará entre os virtuosos. Perguntou: Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, se mortal algum jamais me tocou? Disse-lhe o anjo: Assim será. Deus cria o que deseja, posto que quando decreta algo, basta dizer: Seja! E é”: (Alcorão, capítulo 3, versículos de 45 a 47).

      Existe realmente uma “espécie” de religião, que é racista, odeia de morte o Cristianismo e está invariavelmente nos “bastidores” da maioria das calamidades do Mundo … Mas não é o Islão.

  2. Esta chamada UE não tem nada a ver com aquela a que Portugal se deu há 30 anos nem aquela a quem Portugal entregou a soberania monetária, cambial e financeira.

    Esta chamada UE resultou de um alargamento expansionista do ponto de vista militar e geopolitico e isso comporta grandes riscos.

    Esta chamada UE são várias: a Norte, a Sul, a Este e a Leste e sobre estas divisões a chamada moeda única que nunca o foi nem será.

    Esta chamada UE conflitua com a vizinhança onde instiga guerras e conflitua com os Estados membros impondo políticas irrealizáveis ou cedendo direitos especiais ou derrubando eleitos por não eleitos, ou erguendo muros e subcontratando deveres a ditadores confessionais.

    Esta chamada UE não subsistirá a este percurso. Ou muda o percurso ou parte a chamada UE.

  3. Ricardo Cabral está quase a perceber e a colocar a génese na ferida (ou vice versa), falta-lhe entender que a Europa não acatou quaisquer ensinamentos da última guerra, os nossos políticos simplesmente engendraram um modo de deslocar a guerra para bem longe dos estragos que ela causa “entreportas”. Já de empatia não será questão, tampouco de generosidade que essa tem alimentado uma outra façanha da mentira: os beligerantes das guerras longínquas alimentam-se da generosidade e da solidariedade que tão bem sabe enquadrar o negócio na arte de assistir, todos sabemos que a ajuda ao “terceiro mundo” não passa de financiamento aos beligerantes, que dão e repartem, mas tal como manda a arte ficarão com a maior parte…Tudo bons rapazes, depois é especular e sinalizar os bons colaboradores. Mas não Ricardo Cabral, “as crises humanitárias e de segurança que testam a Europa não são em parte consequências da forma como esta olha para o caos”, é preciso que compreenda que o caos é simplesmente o resultado da nossa opção de vida, do consumo desregrado e do desperdício com que elegemos o crescimento no ocidente, alguém tem que pagar a factura da exploração desregrada dos subsolos e da erosão prescrita dos solos, as migrações não são tanto pelo atractivo da vida no ocidente, mas mais pela falta de alternativas nos seus países de origem, cujas guerras são a nova faceta do colonialismo, é a tragédia das matérias primas, possuir minas de ouro, de cobre ou jazidas de petróleo é como uma cruz que se carrega por castigo, bastará olhar para o que se passa com os nossos emigrantes, toda essa gente formada que abandona um país como Portugal, país de sol e bela vida, para irem encher de horas infinitas os transportes públicos nos países da Diáspora, acredita mesmo que o fazem para premiar o ego? Faça um pequeno esforço para entender que a união existe, a Europa está toda unida, mas não no sentido que elege aqui, toda ela sabe que o tipo de desenvolvimento que professamos é um monstro com sete cabeças, mas ainda assim ninguém abdica dos pequenos prazeres que elevam as elites e fazem transpirar de inveja os deserdados, é uma crença antiga, uns pilham, os restantes empilham.

  4. Aquela que me parece ser a melhor e única estratégia eficaz para promover a paz, passa, obrigatóriamente, por dois pontos fulcrais.
    O primeiro, seria retirar a produção de armamento das mãos privadas. Enquanto houverem grupos económicos privados a lucrarem com guerras, num mundo tomado por uma ganância desmedida e alarmantes sintomas de desumanização, alcançar uma paz duradoura é como remar contra uma grande e forte corrente.
    Claro está que continuariam a haver motivos de preocupação, mas, aí todos nós poderíamos ter uma participação activa e exigir a quem elegemos para nos representar, explicações e mudanças de actuação.

    O segundo ponto passaria por condenar a actuação de um certo país, país esse que, apesar de falar muito em paz, tudo o que faz é guerra. Começando em provocações, directas ou indirectas, a outras nações, passando pela arrogância com que se auto afirma ser o único com o direito de ter determinado tipo de armamento bélico e, acabando em invasões, e destituíções, tudo isto é criação de guerra. A situação actual no Iraque é uma boa prova disso. E, agora, o resto do mundo que ajude a resolver o problema.
    Não vejo, infelizmente, qualquer iniciativa neste sentido, por parte dos politicos “do lado de cá”. Nem o menor comentário sequer ao facto desse país criar, treinar e financiar células terroristas para destabilizar (e aqui leia-se para levar sofrimento a povos, destruir a paz existente) nações. Vejo, isso sim, exagerados e injustificados sorrisos, muitos cumprimentos e, até, alguma idolatração. Um comportamento idêntico a este seria o de recebermos de braços abertos e com grandes sorrisos, os autores dos ataques em Bruxelas, por exemplo. Incompreensível.

    Para terminar, um comentário sobre a actuação da União Europeia.
    É bem evidente que os povos dos países membros não são uma prioridade da UE. Aliás, na internet, circula uma reportagem, a qual foca o despesismo assombroso lá existente, o que por si só já nos diz muito sobre ela, na qual vários deputados europeus, sem qualquer problema, afirmam, perante as câmaras, que não querem saber dos direitos humanos, que esse assunto não lhes interessa. Ora, perante isto, qualquer pessoa consciente, sã, de um ponto de vista mental, interrogar-se-á sobre o papel destes indivíduos na UE.
    E se isto ainda não é suficiente para alguns compreenderem a actuação da UE, podemos ainda referir mais dois exemplos.
    As diferentes taxas de juro cobradas pelo Banco Europeu à banca privada e aos países. Não vale a pena aprofundar este assunto, pois estou certo de que as referidas taxas são do conhecimento geral. Sublinho apenas que ajuda mais e melhor grupos financeiros privados.
    O último exemplo é a passividade com que encara o facto de Portugal não cumprir o que lhe é exigido. Refiro-me, em concreto, à criação de leis contra a corrupção. Já por outro lado, a mesma UE, há algum tempo atrás, tomou a iniciativa de investigar certas empresas chinesas, por estas estarem a vender os seus produtos “muito baratos”. E note-se que isto aconteceu, sem a apresentação de qualquer queixa das empresas europeias. Sem uma queixa formal, a UE não pode actuar desta forma, mas fê-lo, em defesa dos interesses de grupos económicos privados.

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