Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

26 de Janeiro de 2016, 08:58

Por

Cumpra-se, é uma ordem europeia

Foi divulgado no fim de semana passado, com pouco eco no meio dos cartuchos quase finais das presidenciais, o email do Banco Central Europeu ao governo a determinar que o Banif fosse entregue ao Santander. O texto em si próprio é um manifesto ao descaramento. Lê-se e não se imagina que seja possível. Num telefonema, numa conversa, quem sabe, já seria afronta. Escrito, escarrapachado, é só porque o Banco e a Comissão se sentem inexpugnáveis e gostam de alardear a sua dominação.

Vejam só: “A conversa com o Santander correu muito bem e a Comissão Europeia vai aprovar”. E mais: “Há outras ofertas pelo Banif que, de acordo com a Comissão, não respeitam as regras da UE das ajudas de Estado, e por isso não podem seguir em frente”.

Continua a ordem para entregar o banco ao Banif: “A comissão Europeia foi muito clara neste aspecto, por isso recomendo que nem percam tempo a tentar fazer passar essas outras propostas”.

Para o BCE e para a Comissão Europeia, a ordem era clara, todo o dinheiro para o Santander e em força.

O email dizia mais ainda: “o Santander está a comportar-se de uma maneira muito profissional e tem um departamento legal excelente” e “a Comissão Europeia vai começar a trabalhar com o Santander assim que as autoridades estiverem prontas para começar o processo”.

É assinado por Danièle Nouy, presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu. O governador do Banco de Portugal cumpriu, o governo aprovou, o Santander recebeu o Banif em que tinham acabado de ser injectados ou prometidos três mil milhões.

É a União Europeia e, se me permitem, aqui está uma questão essencial para uma eleição presidencial e para a nossa vida em 2016.

Comentários

  1. Sr. Miguel: é melhor acabar com a história de deitar abaixo este ou outro governo ou estes ou aqueles políticos. Eles todos, governo e políticos, estão lá porque foram eleitos pelo povo, não assaltaram a Assembleia da República nem o palácio de Belém nem o de São Bento, Entre as várias opções políticas da esquerda à direita, o povo escolheu alguém, o poder foi entregue a esse alguém segundo regras por todos conhecidas e aceites, e se escolheu mal, então é porque o povo não sabe escolher e então também é responsável. JÁ NÃO SE PODEM OUVIR ACUSAÇÕES A ATIRAR COM AS CULPAS SÓ PARA UM LADO, ESQUECENDO DE ONDE VEM AS ASNEIRAS,

  2. Já ninguém duvida de que a União Europeia não é uma instituição democrática. O atual presidente da Comissão Europeia lesou os estados da UE em dezenas de milhar de milhões de euros, o último caso foi apresentado pela Elisa Ferreira num artigo do Público. O presidente do BCE é um ex-funcionário da Goldman Sachs que ajudou a Grécia a esconder dívida pública através de “engenharia financeira” e quando chegou ao BCE retirou o acesso a liquidez aos bancos gregos numa chantagem política que ficará na história como um episódio de ditadura. Schauble, ministro das finanças alemão, impôs uma chantagem à Grécia, e impôs aos líderes europeus a aceitação dessa chantagem, como resposta a um referendo democrático nesse país. Em Portugal passámos quatro anos a prestar vassalagem ao Schauble e à TINA sem conhecermos detalhes. Este episódio Banif/Santander começa a ser explicado e percebemos que há de facto um carácter profundamente antidemocrático na relação entre os burocratas de Bruxelas, que defendem de forma vergonhosa estas grandes empresas, a troco de quê não sabemos, e os líderes dos respetivos países. Soluções não se vislumbram nem se acredita que será este governo quem conseguirá afirmar a independência nacional. Vive no fio da navalha sob a ameaça constante dos mercados, essa agremiação de mafiosos. Se não vivemos um tempo de heróis, há homens que ficam e se elevam como exemplo a seguir e um deles é sem dúvida Yanis Varoufakis.

  3. Afinal o governo da geringonça (tal como a coligação Syria-fascistas na Grécia) não ia resolver os problemas da austeridade e das imposições da troika e da UE e dos BCE?

    Pelo menos, a geringonça já resolveu o problema da austeridade com o aumento espetacular de umas dezenas de cêntimos nas pensões mais baixas.

  4. Este País tem um bloco central anti-democrátio e pior o governo e instituições submetem-se aos interesses externos.
    – Quem não partilha das ideias do bloco central é prontamente rotulado de “Populista”.
    – Quem é Patriota e não quer que o País se submeta às vontades de Bruxelas (Frankfurt) é “Nacionalista”

    Bloco central vendeu o País por um “punhado de Euros”! Nem sequer se dignaram (nem dignam) a fazer um referendo à UE e Euro e deixar o Povo decidir sobre questões de soberania para depois de ganhas as eleições atirarem de forma hipócrita com um “O Povo é quem mais orderna”…

    O problema não está em Bruxelas está no Governo Português que aceitou o diktat de Bruxelas e tomou uma decisão que não era a melhor para o País.

    1. Miguel, “Este País tem um bloco central anti-democrátio e pior o governo e instituições submetem-se aos interesses externos”? Tem a certeza? Olhe que não. Agora quem governa Portugal é o bloco da geringonça que é socialista, comunista, revolucionário e promete os amanhãs que cantam. Além disso, não aceita o diktat de Bruxelas, nem do FMI, nem dos banqueiros, nem dos americanos, nem dos marcianos. Se o Senhor Miguel insistir nas suas ideias revisionistas, estará a ofender os 3 partidos e meio que constituem o bloco da geringonça.

  5. Este Governo, de António Costa, começa mal, no que respeita ao Banif.
    Voltamos ao “bom aluno” ou a algo semelhante.
    Não aceito que o Governo de Portugal se subordine, desta forma abjeta aos ditames dos burocratas europeus que decidem em função de uma ideologia ordoliberal determinada pela Alemanha, que, como sabemos, prepondera nas instituições europeias.
    Há um caminho de desobediência a trilhar.

    1. Essa é ÓPTIMA!!! Então é o governo de Costa é que começa mal quando apanhou com a bronca do anterior governo e com meia dúzia de dias para a resolver entre a espada e a parede !!! Graças aos grandes incompetentes e vigaristas da coligação PSD/CDS que esconderam durante 3 anoso problema do Banif chegou-se a uma situação tal que QUALQUER SOLUÇÃO POSSÍVEL que fosse adoptada seria SEMPRE uma má solução financeira. E agora o sr Samara vem-nos dizer que o governo de Costa começa mal !! NÃO HÁ PACHORRA DE TANTA ASNEIRA DITA.

  6. A irresponsabilidade paga-se cara e torna-nos presas fáceis.
    A UE é um embuste… uma espécie de casino e nós os ludopatas que trocámos a nossa vida independente pela vida ilusória do prémio que nunca virá.
    Gastámos, gastámos, gastámos… na maior parte das vezes impelidos e incentivados a fazê-lo… noutras não, por loucura própria, e agora cumpre-se o desígnio:
    http://observador.pt/especiais/eurocrise-uma-outra-perspectiva/
    E atrás de tudo isto virá ainda menos soberania até que sejamos apenas uma província pobre, povoada de assalariados-consumidores. Escravos.

  7. Só faltava o e-mai ser cor-de-rosa. Noutros tempos, a reacção acobardada a um outro documento dessa cor contribuiu decisivamente para a queda da monarquia. No século XXI, tal afronta descarada passa em rodapé, e a malta deixa-se ficar sentada.
    Com um estado de alma destes, o que fazer, o que fazer…

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