Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

António Bagão Félix

19 de Janeiro de 2016, 08:26

Por

Levantar o dinheiro e não o contar

Man using a ATM

Portugal foi um país pioneiro no surgimento e desenvolvimento dos chamados “caixas automáticos Multibanco”, já lá vão quase 31 anos. Um sistema de grande eficiência e precisão, oferecendo uma variedade alargada de serviços e funcionalidades.

Um dos aspectos comportamentais mais curiosos relacionados com estes “caixas” é a confiança que os seus utilizadores neles têm. Ainda bem. Pelo que observo, julgo que a grande maioria das pessoas, quando levanta dinheiro, não confere se o valor recebido é o mesmo que foi pedido e que será debitado. Recebe-se e mete-se na carteira ou nos bolsos. Por isso, o caixa é tão familiar no dia-a-dia que é normalmente referido no mais afectuoso feminino, como a caixa.

Pelo contrário, se se recebe um troco ou um montante de alguém já é bem mais comum o recebedor conferir, discreta ou indiscretamente, o valor.

Ou seja, confiamos mais na máquina impessoal do que nas pessoas sem máquina. Afinal, hoje diz-se correntemente que “está certo, foi o computador que fez”. A tecnologia não tem rosto, mas nós acreditamos cegamente nela, ainda que numa lógica, por vezes, ambivalente.

Há tempos, aconteceu comigo um caso curioso. Meti o cartão, recebi o talão com o valor debitado, mas notas, nem vê-las. Ao que julgo, a máquina já só tinha notas em valor inferior ao pedido, tanto que a seguir deu a indicação no ecrã de que já estava sem disponibilidades. Fiz a necessária reclamação e, depois de algumas diligências, lá me fizeram o estorno do não levantamento.

No entanto, uma dúvida tenho quanto aos “caixas Multibanco”. Não contamos as notas porque confiamos totalmente ou não contamos porque, caso falte uma notinha, não teríamos como provar a diferença?

Em suma: entre pessoas a chave é a seriedade, logo infelizmente insegura e falível. Entre a máquina e nós, a chave é a precisão que nós aceitamos como segura e infalível (ou quase).

Comentários

  1. A mim só me aconteceu dar o dinheiro errado uma vez. Fui verificar e efectivamente a nota que faltava estava lá enrodilhada.
    No xadrez chama-se “blunder” a um erro crasso que coloca o jogador que o cometeu numa posição não recuperável se o adversário não cometer erros. Os blunders são comuns (em diferentes quantidades) inclusive nos grão mestres de topo (elo maior do que 2700) isto porque o humano é falível a concentração e o cansaço não são os mesmos passado umas horas de jogo etc. Os computadores, actualmente os melhores jogadores do mundo (elo 3300) não cometem nem nunca cometeram blunders mesmo quando o seu conhecimento euristico não era suficiente para vencer humanos minimamente competentes na modalidade. Tanto lhes faz jogar 5 min ou 5 meses seguidos. Também não têm uma dimensão psicológica que lhes perturbe o raciocínio. A mesma coisa se passa com o MB. É normal que uma CAXA do pingo doce depois de 7 horas de trabalho cometa erros nos trocos. Já o MB não.

    Ps: campeão mundial tem elo de 2800 e qualquer coisa.

  2. Caro Bagão Félix, essa do pioneirismo de Portugal no que respeita aos caixas automáticos é muito discutível, a única coisa que me ocorre de diferente em Portugal foi a união dos bancos para criar uma rede de caixas automáticos comuns a todos, e que permite fazer coisas que cada banco sozinho não poderia fazer. No entanto, não só os caixas automáticos já existiam no mundo ocidental e até em Portugal bem antes da criação da rede MB, como esta levou bastante tempo a ser aceite pela população, conservadora e analfabeta no que respeita ao processamento de dados. A vantagem de o MB ter chegado tarde foi, de facto, ter ganho possibilidades com que muitos nacionais de países ricos só podem sonhar.

  3. Certamente que o estorno foi feito automaticamente no acto, que foi o que me aconteceu a mim em iguais circunstâncias. Não foi “lá me fizeram o estorno”.

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