Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

18 de Janeiro de 2016, 11:47

Por

Uma nova crise não é um risco, é uma certeza

O Royal Bank of Scotland, hoje uma divisão do Santander, emitiu um alerta nos termos mais catastrofistas: vendam tudo, 2016 é para a desgraça.

O Santander é o gigante adquiriu recentemente a preço da chuva o Banif, depois de uma curiosa inconfidência de alguém que desencadeou notícias alarmistas e uma corrida aos balcões do banco. Repete-se agora a dose em plano inclinado: fiquem só com dívida alemã e norte-americana, tudo o resto é para perder. Como se percebe, o banco recomenda uma acção de manada que realizaria o seu próprio prognóstico.

É um jogo perigoso e que demonstra o nervosismo das grandes instituições financeiras. Elas temem um novo crash financeiro como o de 2007 e 2008, que foi desencadeado pelo incumprimento de pagamentos em algumas hipotecas num mercado reduzido e muito marginal, mas que provocou o congelamento dos mercados monetários e efeitos mundiais.

Há em todo o caso fortes razões para alarme. Primeiro, a recessão no Brasil e a desaceleração das economias emergentes. Segundo, a aterragem da China e a sua instabilidade financeira: em seis meses, é a segunda vez que o seu mercado financeiro dá sinais de colapso, que as Bolsas são suspensas e que o governo é forçado a gastar somas colossais para manter a flutuação financeira. Terceiro, o Plano Draghi, uma enxurrada de dinheiro para financiar a banca e os mercados especulativos, nem conduziu a um aumento do investimento nem retirou as economias da zona da deflação.

Lagarde, do FMI, chama a este período o “Novo Medíocre”. Depois do tempo dos foguetes em que se anunciava, a “Grande Moderação” e o fim do ciclo económico, não está mal. O Banco Mundial anuncia que se está a formar a “tempestade perfeita”. E Joseph Stiglitz, que antecipou todos estes profetas, explica as razões da estagnação.

Uma nova crise financeira não é uma possibilidade. É uma certeza. E essa certeza tem consequências para o euro, para a Europa, para as economias emergentes, para as relações internacionais de poder. Como terá para o Orçamento do Estado português para 2016.

Comentários

  1. Caro Louçã,

    Penso que o RBS ainda é detido maioritariamente pela Coroa Britânica (Estado). O Santander está a tentar comprar um spin-off do RBS – Williams & Glyn (inclui ca. 300 Balcões do RBS). O RBS ainda é “independente” do Santander e penso que continuará a existir mesmo após a venda da nova sucursal: Williams & Glyn.

    http://www.theguardian.com/business/2015/dec/16/santander-royal-bank-scotland-bid-rbs-branch-takeover-williams-glyn
    http://news.sky.com/story/1622807/santander-readies-fresh-bid-for-rbs-branches

  2. Só espero que tudo o que expõe não sirva de desculpa para um eventual e mais que provável agravamento dos indicadores económicos no Portugal sob o consulado do Poucochinho.

  3. Dr otto do MIT aponta para o caminho que poderemos tomar. Temos de tomar todas as variáveis em conta simultaneamente (ecologia, social e saúde). O sistema com realimentação positiva que temos é não só instável como insustentável e que obrigatoriamente acabará um dia (a realimentação tem que ser negativa). (Ver teoria de controlo)

  4. A seguir a 2008 muitas pessoas – eu incluo-me neste grupo – pensaram que este seria o momento em que as ideias economicas que estiveram subjacentes a crise de 2008 estavam expostas e seriam de uma vez por todas abandonadas. Fomos todos ingenuos, e dificil abandonar o que alimenta o proprio sistema e vive no subconsciente de governos, instituicoes financeiras e a populacao em geral. A resposta a crise de 2008 foi equivalente a isto: sim de facto os nossos modelos fallharam em reconhecer a catastrofe que se estava a preparar mas se acrescentarmos umas valvulas e uns parafusos aqui e acola fica tudo perfeito. O modelo nao estava errado so incompleto, tao incompleto que nem espaco para o sector bancario incluia. Esta foi e continua a ser a atitude. A verdade e que o modelo esta errado, o sistema nao tende para o equilibrio, pelo contrario, e inerentemente instavel, e a “Great Moderation” nao era mais do que pseudo-estabilidade, o espaco em que o sistema comeca concentrar as forcas que eventualmente o conduzem a “Great Turbulence”. Nas palavras de Hyman Minsky: “Stability is destabilizing”.
    A partir dos anos 70 as ideias monetaristas ganharam dominio completo nos meios academicos, financeiros e governamentais. A consequencia foi que os governos abandonaram o seu compromisso fundamental, a aspiracao de emprego pleno para a populacao que os elegeu, e o uso dos meios que fiscais que tem a sua disposicao para avancarem esta aspiracao. Com o avanco das ideias monetaristas, os governos passaram a preocupar-se essencialmente em controlar os juros e a inflacao e entregaram o motor do crescimentoo economico ao sector financeiro atraves da emissao de credito. O resultado foi um sistema altamente volatil e perigoso: o crescimento economico para manter-se passou a necessitar que o sector nao governamental se endivide constantemente e crescentemente. Pela primeira vez na historia do Reino Unido a divida privada e cerca de 17 vezes o rendimento anual das familias, nos tempos de Margaret Tatcher era cerca de 12 vezes e todos sabemos qual foi o resultado. O milagre economico de George Osborne tem pes de barro.

    Enquanto estas ideias perigosas nao forem abandonadas, milhoes de pessoas continuarao desempregadas e os beneficios do sistema serao sempre divididos desigualmente. Infelizmente para Portugal e a Europa o problema requere opcoes mais drasticas que incluem a dissolucao da Zona Euro.

    1. Ainda é difícil saber, mas pode afectar os juros das emissões de dívida, entre outras coisas.

    2. A crise financeira mundial que se avizinha estava à vista. No entanto Centeno e Costa acharam que não precisavam de entrar com cautela. Assistimos a um aumento substancial da despesa do Estado sem que se saiba como será contrabalançado com receitas. Costa e Centeno entraram a matar, sem qualquer prudência. A crise financeira internacional aproxima-se, muito certamente o défice de 2015 – depois do que se soube hoje relativamente ao terceiro trimestre – ficará acima dos 3%e os sinais relativos aos juros da dívida pública dão sinais algo inquientantes. Vaja-se o demolidor relatório, sobre Portugal, do Comerzbank hoje divulgado. Estou ansioso por saber como caberá isto tudo nas contas macacas de Costa para o Orçamento de Estado que, pelas contas da nossa Frente de Esquerda, promete ser a repetição do milagre da multiplicação dos pães. Acabou-se a austeridade! Aproxima-se um tempo que vem pôr fim ao ciclo de empobrecimento do país! Claro que se tudo der para o torto – o que é o mais provável – a culpa será sempre da Europa, de Berlim e dos odiosos mercados; nunca dos erros de quem nos governa e da Frente de Esquerda que os apoia.

  5. F, a que adicionar a necessidade de acomodaras dificuldades financeiras dos bancos americanos e canadienses que têm financiado o tracking, cujos custos de +60 de dólares o barril esta a gerar muitos problemas na devolução dos empréstimos, fala-se de uma tracking bubble similar ao housing bubble de 2007-08, parece que o feitiço se vira contra o feiticero, a pressão sobre o preço do petróleo por motivos geo- políticos compromete a arma de auto-suficiência energéticos dos USA. Parece que os ventos não são nada venturosos, as medidas mais certas para Portugal não são ainda apoiadas pela maioria dos portugueses, enquanto o PS não arranje coragem para colocar a banca no domínio público, a vulnerabilidade será obvia e muito perigosa. Tal vez uma posição comum dos pigs esteja mais próxima para flexibilizar o investimento, re-estructurar a dívida, 2016 será uma ano duro.

  6. A incerteza, ou antes, a incerta certeza é tudo o que nos resta neste primeiro quartel do século XXI.A Economia, também ela, não pode ser ludibriada, pelos desejos dos homens, quer se apresentem do lado da procura, pouca, escassa e insuficiente, quer do lado da oferta, alimentada artificialmente, por fábricas em locais cada vez mais longínquos, descarregando mais e mais produtos, em contentores a abarrotar, destinados ao armazém quando não à eliminação ou à reciclagem.O modelo da superprodução, mesmo que submetida a processos de travagem, é o caminho mais curto para uma nova crise, alimentada por investimentos não reprodutivos, de montantes cada vez mais elevados, na ansiedade sempre insatisfeita de gerar , de forma tão rápida quanto possível, os lucros que o mercado dos normais produtos, bens e serviços, já não consegue assegurar.O alerta do Royal Bank of Scotland, pode não ter efeitos em 2016, ou em 2017, nem nos anos seguintes mas, os desequilíbrios no modelo dominante na economia, não permitem confundir simples desejos com sólidas garantias.

    1. E assim esta civilização cria este «monstros».nova corrida/nova viagem.Que venha depressa outra crise. Nós os sobreviventes estamos por cá e desta vez será por todas. Será que Adolf Hitler,tinha razão ?

  7. O título não está correcto. Não é uma nova crise. É a crise de sempre que se sente há décadas. Vamos todos rever a teoria do valor (primeiros capítulos do kapital) vamos tentar perceber porque não há nem nunca mais haverá trabalho. Vamos nos informar um pouco e com sorte se fizermos o mesmo aos economistas e políticos que os republicanos fizeram à igreja na guerra civil de Espanha, talvez ainda encontremos o paraíso na terra, já para depois de amanhã.

    1. Não compreendo a culpa da Igreja na crise,económico financeira,senão na justa medida,de não acusar o desrespeito da «ORDEM DO CRIADOR»,de DESCANSAR AO 7º DIA,bem como fazer respeitar o sangue derramado pelas operárias americanas pelo horário das 8h diárias,permitindo nós,o comércio livre mundial com esta CONCORRÊNCIA DESLEAL,para mim,a VERDADEIRA CULPADA da DESINDUSTRIALIZAÇÃO OCIDENTAL,com o conluio da EXPLORAÇÃO DESENFREADA,das MULTINACIONAIS,primeiro,seguida pelo conhecimento,PODERIO ECONÓMICO,e amanhã,MILITAR CHINÊS,por exemplo.
      Assim,«MUNDO OCIDENTAL»,DESAPARECERÁ,a EXPLORAÇÃO E GUERRA,ACONTECERÃO,alimentando,também,a não menos desejável,GUERRA RELIGIOSA MUÇULMANA,pelo menos.

  8. Caro Louçã, porque é que o “mercado” entra sempre em crise?
    O que sabe a universidade e os seus doutos sobre as causas das crises constantes na história dos “mercados”?

    Um motor que não respeita as regras da física, até se pode movimentar, mas “funciona” sempre mal e colapsa invariavelmente, tal como se observa na história do “mercado”. Será que o “mercado” não respeita as mais elementares regras de economia e por isso colapsa sempre? Será a economia uma coisa disfuncional, ou é apenas o “mercado” que não respeita as regras da economia?

    Caro Louçã, onde é que a retórica feirante, ensinada na universidade como “economia”, está completamente errada? Como a realidade das crises demonstra constante e repetidamente. Porque é que a realidade económica não tem nada ver com as teorias feirantes que a universidade propagandeia, e a feira acaba sempre em crise?

    O que percebe realmente a universidade e os seus doutos sobre economia? Porque é que a história dos “mercados” é uma história de crises consecutivas? Porque não funciona o mercado livre, nem o planificado, nem o assim assim, nem de forma nenhuma? Quais são as regras de economia que o mercado não cumpre para acabar sempre em crise?

    Tal como o sol não anda à volta da terra, a economia não anda à volta do “mercado”. Mas isso é capaz de ser contra os dogmas e crenças da universidade, que inventou que as regras da economia são as regras da feira medieval. Não fosse a universidade o centro de analfabetismo medieval da barbárie ocidental.

    Mesmo no meio das crises constantes provocadas pelos “mercados”, a universidade continua a repetir que economia se rege pelos “mercados”. Quando é que a universidade ganha vergonha na cara pelas teorias feirantes que ensina como economia?

    1. Só um reparo: apesar de tudo, e pelo que se conhece, nas “feiras medievais” existiam muito mais regras que nos “mercados” inventados pelos “doutos”. Nem será aí que os mesmos se inspiraram. è tudo invenção mesmo!

    2. O Eppicuro é especialmente acutilante no diagnóstico. Na Economia existe muita pseudo-Matemática, pseudo-Física e muita reinvenção grosseira de conceitos rigorosamente definidos nas Ciências. Usa termos das Ciências sem a compreensão e a acuidade correspondentes.

      A Economia é um exemplo de pseudo-Ciência, cf: http://www.nytimes.com/roomfordebate/2015/02/09/are-economists-overrated/overreliance-on-the-pseudo-science-of-economics

      No fundo, é uma forma de promover pessoas (recorrendo ao difuso e anti-Científico “É um excelente economista”) sem a seriedade e o esforço gigante de ter de realizar o esforço requerido nas Ciências.

      É chocante o uso de modelos de causa-efeito (isto sobe aquilo desce), a utilização de lineariedade, a falta de noção de complementaridade e, muito especialmente, a utilização de gravata para fingir que se está a dizer algo de importante.

      Os resultados desta pseudo-ciência são bem conhecidos.

    3. Caro Eppicuro…

      “A GRANDE QUEDA” de James Rickard, pode não responder as suas perguntas todas mas traz muita luz ao assunto.

    4. Bom, talvez então ‘mercados’ e ‘economia’ – sem pensamento científico de economistas e universitários – sejam e devam ser de novo o livre jogo de forças da caverna. Produção e consumo, oferta e procura, valor, moeda, sujeitos simplesmente à liberdade entrópica dos processos naturais e dos simples jogos de forças. Quem tem, tem; quem não tem que tivesse. Ou em versão mais pós-moderna : ” é a vida ! ”

      Atrás de um Epicuro quantas vezes não se esconde mais um alapado em privilégios a quem a Lei dos Cidadãos incomoda !

    5. Caro “Péricles”, no século de Péricles existiam sociedades que viviam em cidades. A cidade era literalmente a casa da sociedade. Uma sociedade é um conjunto de sócios, e por isso iguais entre si e regidos pelas leis da sociedade. Dentro dessas leis da sociedade existiam as “regras da casa” (economia). As “regras da casa” são as regras da cidade, as regras da sociedade. As “regras da casa” não são o jogo de chantagem entre o feirante e o freguês. As regras não andam ao acaso de jogos, a ordem não é uma desordem (jogo). Quando há uma feira não há uma casa, nem regras. Há a sua antítese, há uma bandalheira de imbecis ao acaso de um jogo de chantagem. Não há regras, há o jogo do “negócio” e andam todos ao acaso dos resultados desse jogo. Andar ao acaso tem invariavelmente o mesmo resultado: é uma questão de tempo até colapsar.

      É necessário integrar a universidade e as suas fantasias no contexto de atraso cultural milenar da barbárie ocidental. A maioria dos ditos “economistas” são criaturas vindas da cultura germânica/Abraâmica que nunca foi civilizada, nunca viveu em sociedade e nega os valores e a vivência em sociedade (valoriza os delinquentes feirantes ou outros, e não os cidadãos e a vivência em ordem), e que gosta de usar os termos da civilização (como mercado e economia) para disfarçar o atraso pré-histórico que apresentam.

      A barbárie judaico-cristã, que tem na base cultural um deus delinquente – que fez um inferno para impor a submissão e fazer negócio (criou uma ameaça e agora negoceia a salvação) – que tem o endeusamento da chantagem e do chantagista como valores culturais, vai continuar imbecil, a comportar-se de forma imbecil e a ter os resultados da imbecilidade: a insalubridade, os colapsos constantes e o mau viver de quem não conhece sequer a higiene cultural e menos ainda que existem regras de saúde social.

      O caro Louçã, como é característico entre as criaturas da universidade, não sabe sequer porque é que a feira existe nestes tempos, nem o que é que faz a feira funcionar, quanto mais porque é que ela colapsa.

    6. Estes textos do “caro Eppicuro”, sempre refugiado no anonimato, são sempre um exemplo que muito estimo de uma diversão infantil: quem gosta de etiquetar os outros como ignorantes merece o respeito da inimputabilidade.

    7. Caro Louçã é a realidade que demonstra a ignorância dos doutos da universidade, e não eu. Reparo que não responde a perguntas elementares, como: porque é que a história do “mercado” é uma história de colapsos? Quais são as regras de economia que o “mercado” não cumpre que o conduz invariavelmente aos colapsos que se verificam?

      Como pode constatar, na sua capacidade de resposta, é a realidade que demonstra a sua ignorância, eu apenas a aponto.

      Pode no entanto optar por uma “postura científica” e demonstrar que não é ignorante em economia, com a resposta às questões.

  9. Há sortudos! Para alguns uma “nova crise financeira” é uma certeza, já as minhas costas infelizmente não chegaram a sentir a folga do pau que dizem entretanto ter ido e voltado. Pergunto aos leitores: Quantos de vós nos últimos anos deixaram de viver num Portugal sem crise financeira?

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