Os mercados financeiros internacionais, como já referi em posts anteriores, passaram a ter um comportamento diferente do que se observava no passado, afigura-se. A especulação financeira – que sempre teve o seu quê de confronto – tornou-se um verdadeiro conflito financeiro.
É de salientar que, no último ano e meio, em casos apontados neste blog, os especuladores financeiros têm escolhido alvos nunca antes ousados, em particular, bancos centrais de países com elevadas reservas de divisas internacionais.
No passado era, em geral, uma política económica insustentável que “fomentava” os ataques especulativos. Mais, esses ataques nunca eram tentados contra bancos centrais de países ricos.
Em contraste, a estratégia dos grandes especuladores anónimos do presente parece ser apostar (especular) contra bancos centrais de países ricos, para obter enormes ganhos financeiros. Porque esses bancos centrais fazem apostas especulativas, mas após perdas de algumas dezenas de milhares de milhões de euros, tendem a desistir dessas apostas especulativas, provavelmente porque os banqueiros centrais terão experiência como políticos ou académicos, mas certamente não como especuladores. Seria, por isso, melhor que os bancos centrais não fizessem tais apostas mas, a fazê-las, que as soubessem fazer e não se atrevessem a perder dinheiro público.
Mas enquanto for essa a prática continuaremos a ver ataques especulativos a bancos centrais.
O último alvo, como já referi neste blog , é a China, país com as maiores reservas externas do mundo, cerca de 3 biliões de dólares! Os especuladores têm apostado na desvalorização do yuan (e na queda da bolsa chinesa) e o banco central da China, apesar de gastar centenas de milhares de milhões de euros, não tem sido capaz de evitar a desvalorização da sua moeda.
As autoridades chinesas têm a noção de que estão sob um enorme ataque especulativo. Hoje subiram para 67% as taxas de juro de empréstimos internacionais em yuan (offshore yuan). E têm, literalmente, prendido especuladores no mercado bolsista chinês.
Nos mercados financeiros, os agentes que têm mais dinheiro tendem a ganhar sempre as suas apostas, determinando (em alguns casos manipulando) a evolução dos preços de activos financeiros. É isso que tende a ocorrer, por exemplo, com bancos, que determinam diariamente o valor dos “euros” dos seus depósitos, assegurando convertibilidade com a moeda pública. Portanto, o natural seria o banco central da China ganhar sempre. O facto de estar a perder as suas apostas, revela a “pujança” e o perigo da especulação financeira no mundo de hoje.
Não creio que haja uma diferença qualitativa tão significativa como a que salienta. Receio que exagere.
Por exemplo, afirma que os ataques especulativos “nunca eram tentados contra bancos centrais de países ricos”, mas isto não é verdade.
Talvez o exemplo mais célebre, e paradigmático, tenha sido o da libre britânica em setembro de 1992, em que os especuladores, com o famigerado George Soros à cabeça, se puseram a vender massivamente libras em seu poder, emprestadas, para forçar a sua desvalorização, contra a vontade do governo britânico – que perdeu milhares de milhões de dólares das suas reservas internacionais a tentar defender infrutiferamente a cotação da sua moeda e a manter o Reino Unido no mecanismo europeu de taxas de câmbio –, e lucrando, com a posterior recompra a preço inferior, enormes fortunas com a diferença.
Tem razão Rui Fontes, o mecanismo que antecedeu o euro, o SME e o “ecu”, foi sistematicamente atacado com sucesso, normalmente forçando a valorização do DM e moedas “germânicas” face ao “Club Med”, França socialista incluída. E eram países ricos, como a França, mas nada puderam fazer, e tentaram. Mas é preciso ver que os mercados cambiais agora têm outra dimensão, que torna qualquer tentativa de defender isoladamente uma moeda nacional em mercado aberto simplesmente ridícula.
Professor, que acha da notícia sobre o RBS aconselhar a venda de todas as posições por parte os investidores?
Não era exactamente assim a notícia, mas incluía de facto vender as acções todas. Deixe lá o pobre do Ricardo Cabral em paz, estamos a falar de especulação, e, se acreditarmos em próximos anos muito maus para a economia mundial, o conselho do RBS é sensato. Se!
Se os chineses tivessem juízo deixariam a moeda cair, sem sacrificar as suas reservas de divisas. Mas entre o juízo e a vaidade, a segunda prevalece.
Muito bem dito! Aquilo que aqui se esta a chamar especulacao nao e mais do que os mercados terem reconhecido que o preco do yuan esta inflacionado. Caso o yuan fosse uma “floating currency” neste momento ja teria desvalorizado. Nos anos 90 tambem George Soros pos o Banco de Inglaterra de joelhos, hoje nao ha ninguem que nao reconheca que a teimosia dos conservadores em manter a libra dentro do ERM foi a causa.
Em português
A Guerra das Moedas, por James Rickards
Publicado em 15 de Abril de 2014 pela Editorial Presença (primeira publicação em 1 de Janeiro de 2011)
Em inglês
Currency Wars: The Making of the Next Global Crisis, by James Rickards
Published November 10th 2011 by Portfolio (first published January 1st 2011)
Ainda em inglês, mas mais recente
China “Loses Battle Over Yuan”, And Now The Global Currency War Begins
Zero Hedge | Submitted by Tyler Durden on 08/11/2015 04:40 -0400
Googlar “Currency Wars”, vem imensa coisa.