Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

7 de Dezembro de 2015, 08:29

Por

Terroristas

O massacre de San Bernardino, na Califórnia, foi acto terrorista, diz o FBI, apesar da aparente discordância da Casa Branca.

Mas se não tivesse sido reclamado pelo Daesh, não era terrorismo?

O facínora que esfaqueou três pessoas no Metro de Londres é um terrorista. Porquê? Porque gritou qualquer coisa sobre a Síria, não se sabe bem o quê. Se não tivesse gritado a palavra Síria, seria então o quê?

A ambiguidade da palavra “terrorismo” é notória. E não é por acaso que assim acontece, chegámos aqui depois de um longo caminho.

A palavra está amaldiçoada. A França de De Gaulle chamava terroristas aos nacionalistas argelinos que pegaram em armas pela independência do seu país e hoje os líderes dessa revolta armada são recebidos em Paris porque são os representantes do Estado que criaram. Portugal de Salazar chamava terroristas a Amílcar Cabral ou a Agostinho Neto, mas o Portugal democrático veio a reconhecer a sua luta como legítima e a aceitar a independência pela qual lutaram contra o exército português. Muito recentemente, um concerto de países, dos Estados Unidos à URSS e a Cuba, considerava a Fretilin um movimento terrorista e condenava a luta pela independência de Timor Leste, pois apoiava o regime indonésio. Agora estes governos sentam-se com os representantes do novo país, que passaram a ser respeitáveis. O regime do apartheid chamava terroristas aos guerrilheiros do ANC e Nelson Mandela esteve 27 anos presos por essa acusação. O Reino Unido considerava o IRA como terrorista, depois fez um acordo com ele e o partido que representa os seus pontos de vista pode ganhar as eleições na Irlanda em 2016. A Alemanha durante a Segunda Guerra condenava como “terroristas” os resistentes ao seu exército e executava-os sem julgamento, muitos dos sobreviventes foram os governantes do pós-guerra. “Terrorismo” era a designação política que procurava condenar e isolar estes movimentos militares.

Se já não bastasse a transfiguração da noção, o episódio trágico de San Bernardino revela ainda uma outra dimensão da palavra “terrorismo”, uma das piores, o cinismo. A mortandade, diz o FBI, é terrorismo porque haveria uma motivação islâmica dos criminosos, obedecendo ao Daesh.

Mas se fossem criminosos cristãos, não seria “terrorismo”? Se fosse uma qualquer seita alucinada, ou um tresloucado, como em tantas outras mortandades recentes nos Estados Unidos, não seria “terrorismo”? A relativização da vida humana por considerações políticas e comunicacionais pode chocar, mas só surpreende quem não lê as notícias sobre esta longa série de tragédias.

O massacre de 76 pessoas por Anders Breivik em Oslo, em 2011, não foi um acto de terrorismo, por ter sido praticado por um cristão e supremacista branco? Ou o massacre de San Bernardino deixaria de ser terrorismo se fosse simplesmente provocado por uma milícia ou por outros desesperados? Uns fazem parte do ataque à nossa civilização e outros são extravagâncias da nossa civilização, é isso que distingue o uso da palavra “terrorismo”?

Acresce ainda que os terroristas de San Bernardino poderiam ter comprado legalmente as suas armas numa loja nos Estados Unidos. Os que em nome da defesa individual reclamam o livre acesso às armas estão agora confrontados com o facto evidente de estas armas poderem ser usadas para os matar (ou para matar outras pessoas), o que aliás já aconteceu com todos os rituais de massacres em escolas ou noutros episódios no país. É para isso mesmo que servem as armas, ou que podem servir, dirá o mais desprevenido. O terrorismo fabricado em casa e com armas adquiridas no mercado deixa de ser terrorismo?

A palavra “terrorismo” é como essas armas. O problema não é sempre os que inclui (mas lembre-se que já incluiu muitos que hoje são respeitados como os grandes estadistas do século, como o recentemente falecido Nelson Mandela), mas decerto os que exclui. Usada segundo as circunstâncias, tem-se tornado instrumental, protegendo criminosos. A palavra manipulada tem sido uma das bandeiras do relativismo.

Comentários

  1. Ontem fiz um comentário ao artigo de Francisco Louçã sobre o plutónio. Não foi publicado.
    Hoje volto cá e verifico novamente as regras dos comentários. Afinal links para o exterior podem ser indicados pelo autor dos artigos e pelos comentadores…

    Para aqueles que nunca se lembraram de ver as regras dos comentários elas estão aqui e não são poucas…

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    1. Não houve nenhum comentário de “Delta”. Os critérios estão explícitos e são cumpridos com cuidado. Insultos não são publicados.

  2. Uma acto terrorista é um acto que visa aterrorizar pela violência uma população civil com vista a determinado fim (amedrontar, quebrar a resistência, chamara atenção para uma causa, etc.). Uma componente importante de um acto terrorista é desde logo a sua teatralidade ou o seu aspecto de encenação. Este aspecto tornou-se claramente mais saliente na época em que vivemos, na época do espectáculo e da comunicação em massa. As cabeças cortadas pelos cruzados nas redondezas de Lisboa ou pelo exército português na sanzala Mihinjo eram apenas presenciadas pelas povoações locais. Já os ataque do 11 de Setembro e a política de “shock and awe” de Bush no Iraque, foram actos super mediatizados, tornando-se quase icónicos, uma espécie de hiper-terrorismo para as massas. Parece-me ser importante, se não fundamental, distinguir entre “terrorismo de opressão” (as cruzadas cristãs, “shok and awe,” a destruição de Gaza, o financiamento por parte da Arábia Saudita a escolas fundamentalistas, e outros “terrorismos perfumados”) de “terrorismo de libertação” (IRA, Fretilin, ANC) e de “terrorismo de desespero” (palestinianos armados com facas a atacar israelitas na rua). Nenhum tipo pode ser justificado mas todos têm explicações (e causas) muito diferentes.

  3. http://www.cbsnews.com/videos/witness-describes-the-san-bernardino-shooting/

    Testemunha:

    – “Nós vimos três homens vestidos com traje militar”, diz ela… “Eles abriram a porta, em seguida, ele começa a,,,, você sabe, atirar para a sala …

    CBS: ‘Senhora. Abdelmageed, você pode descrever-me em detalhes como era o atirador?

    – ” Eu não podia ver o rosto dele, ele tinha um chapéu preto. Tudo o que eu podia ver era um chapéu preto, camisa de mangas compridas preta … Ele tinha munição extra. Ele provavelmente estava pronto para algo, para recarregar – Eu não sei …

    “Eu só vi três, vestiam exatamente o mesmo. Eles pareciam ter porte atlético, pareciam altos … ‘

    CBS: “é certo que você viu três homens?

    – ‘Sim’, responde ela, 3 homens brancos.

    Outro depoimento advogado na CNN: https://www.youtube.com/watch?v=B-hFxp23_KA

  4. Aqui vai mais um tipo de terrorismo. Proponho que este se chame de “terrorismo de lume brando” porque mata devagarinho e com pouco alarido. Ocorre neste preciso momento nessa prisão gigantesca que se chama de faixa de Gaza, esse sítio esquecido para onde os tais cruzados já se dirigiam em 1146 depois de terem saqueado Lisboa. A versão portuguesa da notícia, públicada a 2-9-2015 tive que a ir buscar à agência de notícias Brasileira EFE:-

    “A Faixa de Gaza pode ser inabitável em 2020 se a deterioração econômica continuar, assegura a Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) em um relatório divulgado nesta quarta-feira por meios de comunicação palestinos. O relatório responsabiliza os oito anos de bloqueio israelense apoiado pelo Egito e as três operações militares de Israel ocorridas desde 2008 pela deterioração da Faixa, que descreve como reversão do desenvolvimento por “devastar a infraestrutura já debilitada de Gaza”. “Acabaram com sua base produtiva, não deixaram tempo para uma reconstrução ou uma recuperação econômica significativa e empobreceram a população palestina em Gaza, de modo que seu bem-estar econômico piorou com relação ao nível de duas décadas atrás”, lamenta. A situação se agravou com a última operação militar de 2014 que causou o deslocamento de 500 mil pessoas e a destruição ou danos graves a 20 mil casas, 148 escolas, 15 hospitais e 45 centros de atendimento de saúde. O documento da Unctad lembra que três anos antes do último conflito, a ONU realizou um estudo para fazer a previsão das condições em 2020 no enclave litorâneo, onde era esperado um aumento da população de 1,6 milhão para 2,1 milhões de habitantes. A pesquisa concluía que para Gaza ser um lugar habitável, “necessitaria acelerar ‘esforços hercúleos’ em setores como a saúde, a educação, a energia, a água e o saneamento”. Mas ao invés destes esforços, “a tragédia de Gaza se deteriorou e a destruição de 2014 acelerou a reversão de seu desenvolvimento”, critica. O documentos adverte que “o apoio dos doadores é necessário mas não suficiente para a recuperação e o desenvolvimento da Faixa de Gaza” e destaca como em maio do presente ano nenhuma das casas danificadas tinha sido reconstruída e nem tinham sido alcançados progressos na melhora das infraestruturas afetadas.
    Em maio, só tinham sido desembolsados 27% dos US$ 5 bilhões prometidos na conferência do Cairo para a Palestina, deles US$ 3,5 bilhões destinados à reconstrução da Faixa após o cessar-fogo que pôs fim em agosto de 2014 a 51 dias de enfrentamentos entre Israel e as milícias palestinas que terminaram com a morte de mais de 2,2 mil palestinos e 73 israelenses. “Para o povo palestino é muito mais necessário assegurar seu direito humano ao desenvolvimento em virtude do direito internacional que a ajuda dos doadores”, afirma o documento, que ressalta a capacidade de “auto-suficiência dos cidadãos”, “impossível”, no entanto, “sob as condições do bloqueio e a destruição periódica da infraestrutura e os ativos privados”. “A ajuda não deve ser considerada uma alternativa para pôr fim ao bloqueio e pedir a Israel que cumpra com suas obrigações em virtude do direito internacional”, reivindica a nota. “Se continuar assim, Gaza voltará a ser economicamente inviável e as condições socioeconômicas já sombrias podem se deteriorar”. “O resultado provável serão mais conflitos, pobreza em massa, alto desemprego, escassez de eletricidade e água potável, assistência sanitária insuficiente e uma infraestrutura em vias do colapso. Definitivamente, Gaza será inabitável, como destacaram as Nações Unidas (2012)”, sentencia o documento.

    1. Israel proibiu a entrada de cimento na Faixa de Gaza. Não passou na com. soc. portuguesa.
      Cada vez acredito mais no Udo Ulfkotte…

  5. Desculpem mas, antes de ir jantar, gostava de deixar aqui mais um exemplo de tipos de terrorismo. Este tipo devia-se chamar de “terrorismo perfumado,” porque é feito à distância sem se ter que cheirar os corpos queimados. Notícia publicada a 14 de Março de 2003 no Jornal de Negócios (versão Online) e escrita por Nuno Carregueiro:-
    “George W. Bush, Tony Blair, Durão Barroso e José Maria Aznar vão encontrar-se este domingo numa cimeira nos Açores para discutirem as opções com vista a desarmar o Iraque, anunciou a Casa Branca.
    Ari Fleischer, porta voz do presidente dos Estados Unidos, confirmou hoje na Casa Branca que a reunião deste fim de semana nos Açores vai ser o último movimento diplomático com vista a desarmar o Iraque.
    A mesma fonte, citada pelas agências internacionais, referiu no entanto que não vão ser discutidos planos militares e que se vai tentar encontrar uma solução que possa ser aprovada no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O primeiro ministro Durão Barroso também vai participar na cimeira.
    Bush, Blair e Aznar foram os três subscritores da segunda Resolução proposta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que dá um ultimato ao Iraque para se desarmar.
    No entanto, depois da França e a Rússia terem alertado que são contra o documento e podem vetar a segunda Resolução, os Estados Unidos e o Reino Unido tentam novos esforços diplomáticos, que podem atrasar a guerra no país de Saddam Hussein e explicam a valorização nos mercados accionistas nas últimas sessões.
    Caso a diplomacia falhe Bush já alertou que a guerra será a opção para desarmar o Iraque, onde o país tem 225 mil militares.
    Os Açores, onde os Estados Unidos utilizam a Base das Lajes, podem ser assim o palco de um importante episódio do provável conflito militar que centra as atenções em todo o mundo.
    O primeiro ministro português, Durão Barroso, já disse que apoia um ataque militar aos Iraque, mesmo sem o aval da ONU, facto que não terá sido alheio à escolha do nosso país para a cimeira deste fim de semana.”
    Voltarei para a sobremesa!

  6. Diz o Sr. Manuel Barros que terrorismo é só com o islão, que o cristianismo nunca o praticou. Não deve conhecer o extermínio que os cristãos praticaram sobre os cátaros, por exemplo. Eliminaram tudo, as pessoas, as casas, os locais de culto, os objetos de culto. Queimaram-nos, só sobraram os registos que a Igreja elaborou.

  7. Mais umas cabeças?
    No Público de 16-12-2012, as jornalistas Lucinda Canelas e Isabel Salema descreveram da seguinte forma o testemunho de um capitão do exército português sobre uma “acção punitiva” contra suspeitos de terrorismo durante a guerra colonial em Angola:-
    A “cerimónia” de fuzilamento com mutilação de cadáveres começou às 10h30 de 27 de Abril de 1961, poucas semanas após o início da guerra em Angola, na sanzala Mihinjo, a cerca de 20 quilómetros de Luanda. É descrita por 11 pontos, sendo o primeiro uma explicação muito incompleta dada ao povo pelo soba, o chefe tribal, para a presença de um pelotão de execução português. Segue-se o disparo do que devem ser seis pistolas-metralhadoras. E os suspeitos de terrorismo caíram. Depois, vem a violência extrema.
    “5 – Avançaram os cortadores de cabeças. Cumpriram a sua missão.
    6 – Avançou o soba. Colocou as cabeças nos paus. Ficaram dois sem cabeça. As cabeças ficaram espetadas pela boca, submissamente viradas para o chão.
    7 – Clarim tocou ombro arma, apresentar arma. Depois: Marcha de continência, e terminou a cerimónia.
    8 – Soba falou ao povo, explicando a razão por que tinham ficado dois paus sem cabeça, à espera dos futuros não respeitadores da lei.
    9 – Ao soba eu disse: Os corpos podem ser enterrados as cabeças ficam sete dias, os paus ficam para sempre.” “

    1. no mesmo artigo ainda pode ler:

      “Um dos testemunhos citados por Araújo no artigo é o do padre Francisco Jorge, um capelão militar que acompanhou o batalhão que tomou Nambuangongo, centro operacional da UPA a 180 quilómetros de Luanda, que fala na série da RTP feita por Joaquim Furtado (A Guerra). O testemunho do sacerdote relata o corte de cabeças a guerrilheiros e recorda que os feiticeiros convenciam os rebeldes de que “bala de branco” não matava, a não ser que os corpos fossem mutilados. Por isso, explica ao jornalista o capelão, “havia a necessidade de cortar a cabeça a um ou outro, para dizer aos que sobreviveram que estavam em perigo de não ressuscitar”.

      “Houve massacres e coisas violentíssimas durante toda a guerra”, diz Furtado ao PÚBLICO. “A ideia com que fiquei é que os cortes de cabeças caracterizaram o início da guerra em Angola. Associo essa prática à análise que as autoridades portuguesas faziam do perfil do inimigo que tinham pela frente, cuja luta assentava num discurso messiânico, religioso, que o levava a acreditar que as balas eram água e não matavam”, explica este jornalista que há dez anos trabalha em A Guerra, série para a qual fez 260 entrevistas a militares e civis envolvidos no conflito.”

  8. Em 1146, antes da chegada de um grupo de cruzados norte europeus, Lisboa era uma cidade cosmopolita governada por mouros mas onde habitavam importantes comunidades cristãs e judias. Os cruzados iam a caminho da Palestina (cheios de boas intenções é claro) mas já que ali estavam, resolveram ajudar um grupo de mercenários cristãos do norte da Península (ditos “portugueses”) a saquear tão apetecível cidade. O que se segue é um relato de um dos episódios dessa conquista por um dos cruzados inglês, chamado Osberto de Bawdsey:-
    “Quando os mouros, ao olharem das muralhas, avistam as cabeças espetadas nas lanças, saem ao encontro dos nossos a pedir que lhes entreguem as cabeças cortadas. Tendo-as recebido, em pranto e clamor prolongado, levam-nas para dentro das muralhas. Ouviu-se por toda a noite uma voz de dor e uma lamúria magoada de pranto por quase todas as partes da cidade. O facto é que por tal acto de ousadia tão preclaro ficámos a ser de extremo terror para os inimigos pelo tempo fora, enquanto que, para os colonienses, para os flamengos e para os portugueses, isso era factor de honra. Livre ficava a partir de então o caminho para atravessar até Almada.”

  9. A maioria da barbárie ocidental não sabe sequer que as palavras são termos com significado específico, tal como as expressões de matemática. Não saber o significado das palavras é uma demonstração de analfabetismo que revela o estado de ignorância e atraso da universidade.

    Terror, do latim terror, decorrente do verbo terreo (fazer tremer).

    Os terroristas fazem tremer os sistemas instalados. Os que não fazem tremer os sistemas instalados não são terroristas, são delinquentes, mas não colocam em causa os sistemas instalados.

    Às vezes não é pior saber o significado das palavras, para não se dar os exemplos de analfabetismo característicos dos universitários. Os tais que dizem que economia quer dizer regras da feira. E que a barbárie germânica (Adam Smith e Karl Marx) que não percebe sequer de culinária, e nunca teve a palavra economia no seu léxico porque nunca a praticou, percebe afinal de economia.

    Enfim, universitários ou não fosse a universidade a instituição do atraso medieval instalado.

  10. Pois,temos “terroristas” para todos os gostos(informativos? ou será mesmo a “sociedade do espetaculo” como o outro dizia).Pois ,eu tambem tenho uma de definição de terrorista:pessoa que ganha muito dinheiro com o negocio(ou trafico? la esta,o “valor” das palavras) das armas,e esta-se completamente a marimbar para as consequencias dos seus actos.Onde escrevi “trafico de armas” poderia escrever “trafico de drogas”.É exactamente as mesma coisa.Mais,as duas estão interralcionadas.

  11. A extrema direita francesa não é diferente do pcp e do bloco de esquerda. Ambos querem recuar décadas na evolução das nossas sociedades.

    Podem agradecer a opinadores como alguns deste blog. Está à vista a integração francesa o que fez com mulheres a andar de burka no meia da rua no século XXI. Está à vista o gigantesco estado social que coloca meia sociedade a viver às custas da outra meia que trabalha. Tudo culpa da esquerda socialista. (não vale a pena desviarem atenções)

  12. Vai-me desculpar, Francisco Louçã: creio que está a fazer alguma confusão com o conceito porque o toma num sentido demasiado amplo, mas corrija-me se estou errado. O terrorismo, se quisermos que a palavra tenha algum significado e não caia numa nebulosa semântica que serve para designar tudo e mais alguma coisa, deverá ser abordado no seu significado mais estrito. Só o Estado tem legitimidade, dentro dos pressupostos legais previamente estabelecidos, para o uso da violência com fins políticos ou ideológicos. Nos nossos sistemas, todas as outras formas de violência com esses fins, por parte de indivíduos ou instituições, pode ser classificado como «terrorismo». É isso o terrorismo, mesmo que posteriormente, esse fins venham a ser considerados legítimos. Sinceramente não vejo onde esteja o «cinismo» desta noção.

    1. Mais uma vez, esse foi o conceito usado contra a Fretilin e contra os independentistas africanos. Ou contra Mandela. Ou contra Washington, já agora. Serve mesmo?

    2. Francisco Louça, os conceitos são os conceitos, e só. Se quisermos ser precisos devemos retirar-lhes todas as implicações espúreas, mesmo as morais, o que por vezes custa, mas que deve ser feito em nome do rigor concetual se quisermos que as palavras ainda signifiquem alguma coisa.

  13. Curioso: Francisco Louçã terminar a falar de relativismo. Se não é cómico, é pelo menos irónico.
    Faz muitas perguntas, mas esquiva-se a definir claramente um conceito que permita qualificar com propriedade e delimitar. Será que é porque acha que não existe verdadeiramente terrorismo? Que este é mais, que tudo, uma conceptualização para efeitos de propaganda? Que tudo é função da natureza da causa – libertária vs. não libertária?
    E que tal (por favor, esteja à vontade para corrigir): terrorismo é toda a conduta que se dispõe a toda a espécie de ferocidades para com os seres humanos com vista a obter, pelo terror que causa na sociedade, determinados efeitos políticos? É óbvio que a qualificação não depende do autor ou autores, mas da natureza da acção.
    Agora, seria bem conveniente reconhecer que o facto de se vir, posteriormente, a negociar acordos com os autores de actos terroristas, ou mesmo conceder-lhes tardia respeitabilidade, tal não apaga a natureza terrorista dos actos que praticaram, nem os justifica. Fazê-lo seria… cínico. E isto inclui quem quer que seja, mesmo, eventualmente, se for o caso (não sei o suficiente) Nelson Mandela, por quem tenho, como homem de paz, grande estima.
    Já agora, para registo e para aclarar ainda mais, há terrorismo islâmico. O islão, para quem o quiser conhecer com probidade intelectual, revela-se como padecendo de graves problemas que fazem dele uma ideologia intrinsecamente terrorista. O terrorismo no islão está perfeitamente fundamentado nas suas fontes canónicas – corão e hadites – e a sua própria natureza de ideologia que exige submissão total ao alá e à sua xária, com rejeição visceral da interpretação e da tradução, o constituem como terrorista. Já com o cristianismo e outras religiões, a história é bem diferente. Olhe, por exemplo, e só para ter uma ideia: não consta que Cristo tenha violado, torturado, queimado, massacrado tribos inteiras, ou que se tenha rodeado de um bando de sequazes que levavam a cabo as suas instruções para assassinatos selectivos.

    1. Não, a sua definição de terrorismo inclui Mandela. Não serve.
      E sim, existe terrorismo islâmico. O mais importante financiador e organizador chama-se Arábia Saudita.

    2. Ahhhh. Começa a revelar-se qualquer coisa. Então a sua definição de terrorismo depende do sujeito que o pratica. Se tiver sido o Nelson Mandela a praticar as atrocidades com certo objectivo político, então já não é terrorismo. É isso? Gostava que apresentasse um definição de terrorismo e uma definição de cinismo. Para si, o que são?

    3. Atrocidades de Nelson Mandela? Fiquei curioso. Parece que afinal o apartheid tinha razão, suponho que Salazar e Hitler também.

    4. Primeiro: está-se a esquecer da Inquisição. Segundo: Cristo histórico nunca existiu, é uma invenção.

    1. Pensava que o normal entre pessoas civilizadas era tratarem-se pelo nome e não terem vergonha dele.

  14. Se a designaçao de terrorista contribuir para um enquadramento legal especifico que permita mais graus de liberdade no processamento desses individuos, nao me parece que haja grande inconveniente, pelo contrario.

    1. Certo. Mas isso exige rigor jurídico na tipologia do crime e não na interpretação das suas motivações ou da sua religião, como estou certo que concorda.

    2. Pedro: a Lei de Combate ao Terrorismo (Lei 52/2003) já tipifica os crimes relacionados com terrorismo e organizações terroristas. O problema agora é outro: o que se pretende é claramente inverter o ónus da prova -uma pessoa poder ser classificada de terrorista e ter de provar que não o é – e mesmo a possibilidade de condenar pessoas a determinadas medidas de segurança mesmo sem julgamento. Já que Louçã dá, e muito bem, o exemplo de Mandela, lembro-me de uma lei que existiu na África do Sul tempo do “apartheid” para combater “os comunistas”. Constava de uma lista pública na qual um suspeito era incluído caso fosse suspeito de ser “comunista” (as aspas são propositadas, já que acabava por se aplicar a todo o que fosse contra o regime) e teria de ser o acusado a provar que não o era. De outro modo sofreria as consequências de diverso tipo, desde a perda de emprego, à interdição de determinadas profissões, até à prisão. Será que não se está a construir paulatinamente um “apartheid”, agora baseado nas crenças e intenções e já não na raça?

  15. Também quiseram vender essa história que uma certa religião não é um antro de treinar terroristas. Quiseram receber refugiados sem querer que estes se adaptem aos costumes do país e que trabalhem para contribuir para o país. Agora já temos pessoas a morrer às centenas em França. Tudo culpa da extrema esquerda socialista, que não sabe garantir o mínimo de segurança num país.

    Agora vem aí a extrema direita. Agradeçam aos blocos de esquerda, pcp e ps lá do sítio. Agradeçam aos Louçã’s lá do sítio.

    1. Campo de concentração para os refugiados. Le Pen já tem um defensor, um pouco exagerado porque o anonimato permite sempre a extravagância, mas tudo farinha do mesmo saco.

    2. Espinoza para totós: enquanto o ciclo do ressentimento não for quebrado, não há paz nem segurança para ninguém. Mas estar a explicar isto a um tipo que é mais ressentido do que capitalista, e que está disposto a abdicar de pressupostos ANTERIORES e EXTERNOS ao mercado, mas que sustentam o funcionamento do mercado (a liberdade e a harmonia social), e que, por preconceito e ressentimento, não sabe nada das vergonhosas políticas de integração francesas…

    3. Ó capitalista: uma “certa” (ai credo! nem pensar em dizer qual é!) religião pode ser “um antro”? Esquisito…Então todos os que a seguem, na sua capitalística opinião, são treinados para terroristas…É realmente muito terrorista junto!
      E também foi por culpa da “extrema esquerda socialista” que se deu o 11 de setembro nos USA, o 11 de março em Madrid, os tentados no metro e no centro de Paris em 1995, os do metro de Londres, etc. etc. Tudo governos de extrema esquerda! Mas a extrema direita vai pôr mão nisto! Ele vão ser bombas (festa na indústria de armamento!), campos de concentração fortemente vigiados (festa na construção e segurança!), deportações em massa (festa nas companhias aéreas!), três polícias por cada seguidor de uma “certa” religião (festa nas polícias, que se lixe o défice!).Assim sim! Finalmente vai acabar o desemprego!

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