Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

António Bagão Félix

26 de Novembro de 2015, 08:41

Por

Topos de gama e de gamanço

Topo de gama. A propósito de quase tudo o que se vende, vem sempre à baila uma qualquer referência a um qualquer topo de gama. Topo de gama para automóveis, topo de gama para apartamentos, topo de gama para equipamentos electrónicos, topo de gama para comida para canídeos, topo de gama para topos de gama.

Agora que se aproxima o Natal, cada vez mais comercialmente antecipado, eis, em todo o seu esplendor, o maior expositor de topos e de gamas.

Há ainda, mas aqui no reino animal, o gamo – uma espécie de cervo ruminante frequente nas ilhas mediterrânicas – cujo topo de gama é a melhor fêmea que consegue escolher. Com a vantagem de, ao contrário do gamo, não ter chifres.

A propósito de topo de gamo, há quem se dê bem com ele no meio do gamanço. Sobretudo na gama fiscal. Em linguagem tecnocrática, há quem lhe chame “planeamento fiscal agressivo”.

No plano mundano cor-de-rosa, as regras na “topolândia” são estritas. Quem não alinha por esse diapasão da escala pseudo-social é uma de três coisas: parolo, pelintra ou pobretana. Por este aferidor, há até quem, na sua cabecinha, ache que as pessoas já não se distinguem pelo carácter, pelo profissionalismo, pela conduta ou pela inteligência. O traço de separação é o certificado topo de gama, adquirido algures e exibido por toda a parte. Tem a vantagem de se mostrar por sinais exteriores bem visíveis e assinalados. Não exige, por seu lado, sinais interiores e invisíveis, daqueles que, por exigentes, não são topo de gama. Sinais interiores que são, na alma, suporte da vida fora da efemeridade dos topos, das gamas e das lamas.

Quem se der ao trabalho de ter lido este texto, pensará por que razão não escrevo, hoje, sobre o XXI governo, uma espécie de topo (perdedor) de gama (vencedora). Deixemos esse topo de gama, de tanta originalidade e de tanta gamela de ministros e secretários de Estado, para outra altura. Que não faltará.

Comentários

  1. Snr. Bagão Felix:

    Alguns aspectos da herança do Governo Coelho/Portas:

    – Portugal é o líder na desigualdade entre os países desenvolvidos. O estudo é do banco norte-americano Morgan Stanley. O estudo abrange 20 países desenvolvidos. A seguir surge a Itália. Depois, a Grécia, Espanha e Estados Unidos. Os bancos interessam-se por estas coisas, porque “…a desigualdade pode ser perigosa, se se tornar permanente…se a distribuição é demasiado desigual ao longo do tempo, com uma diferença crescente e persistente entre os que estão no topo e na base da escala, impede a participação generalizada nos ganhos de bem-estar com o crescimento e, a prazo, arrisca-se a corroer a estrutura e social de um país…embora a desigualdade não seja um assunto tipicamente discutido, ele conta para as decisões de investimento…” (Fonte:”Público”, 26/11/2015);

    – Em Portugal, os custos bancários anulam os juros de depósitos de pequenos montantes. “…abaixo de 5000 euros ou prazos até um ano…todo o rendimento é devorado pela inflação ou pelas comissões bancárias…”. Conclusão: vamos depositar as poupanças no colchão.(Fonte: Deco – “Proteste Investe”);

    – Os Certificados do Tesouro Poupança Mais(CTPM) desde Fevereiro último passaram de 5% de rentabilidade bruta para 2,25%. Não esquecer que os CTPM são um produto “remodelado” dos primeiros Certificados do Tesouro. O ministro Teixeira dos Santos decidiu colocar a dívida pública à disposição dos pequenos aforradores em 2010 , através dos Certificados do Tesouro. Atitude diferente tomou o ministro Gaspar em 2013 – transformou-os em CTPM, com menor rentabilidade;

    – O “enorme aumento de impostos” de Gaspar elevou a taxa efectiva do IRS para 12,9%. No Portal das Finanças, é dito: Taxa Média Efectiva de Tributação Bruta: 2011 – 9,93%; 2012 – 10,12%;2013 – 12,93%;

    – A população portuguesa diminuiu em 2014 pelo quinto ano consecutivo(Fonte:INE);

    – Metade das famílias portuguesas vive com menos de mil euros por mês(Fonte:Deco);

    – Portugal é, conjuntamente com Bulgária, Roménia e Lituânia, líder europeu da repulsão(alta emigração com baixa imigração). Em 2014 saíram de Portugal para a emigração cerca de 110.000 portugueses, valor igual ao do ano de 2013, a esmagadora maioria jovens qualificados(Fonte: Observatório da Emigração);

    – O caso BES afinal vai atingir os contribuintes, ao contrário do que sustentou o Governo. E o caso Banif não vai atingir também o contribuinte?

    Temos de acreditar em alguém para nos governar. Não concorda que devemos dar uma oportunidade a António Costa e à coligação de esquerda?

  2. Caro Dr. Bagão Félix, embora sendo pessoa de esquerda tenho sido um apreciador do seu comentário televisivo e jornalístico. Por isso muito me surpreende este seu “topo de gama” de insulto e desrespeito, numa linguagem desbragada. O senhor está encolerizado, vê-se bem, e com isso o seu discernimento deixa muito a desejar. Já num anterior ataque pessoal a Carlos César essa cólera estava patente. Onde estão as suas preocupações com a pobreza e os pensionistas indefesos? Tem alguma dúvida que a condição dessas pessoas vai melhorar? Muito frequentemente eu me interroguei o que teria o senhor em comum com Paulo Portas. Agora percebo – o senhor está a ficar igual a ele. Continuem assim, pois isso vai dar muito jeito ao actual governo: o PS ficará distante da direita e o BE e o PC sentir-se-ão obrigados a não dar nenhuma possibilidade de a direita voltar ao poder. O radicalismo da direita vai dar coesão à esquerda.

    1. Desculpar-me-á mas o meu texto nada tem a ver com a política, a não ser a última frase mas num contexto mais ligeiro. Ou seja o topo (Antonio Costa, perdedor) e a gama (as esquerdas, vencedora). Ou já não se pode brincar por esta incidir sobre a esquerda? Insulto, desrespeito, cólera a quem ou sobre quem? O Senhor com o devido respeito vê o texto de uma maneira completamente desfocada. A que propósito fala de temas sociais, quando o texto ironiza sobre os sinais exteriores de riqueza?

  3. Caro Dr. Bagão Felix o Sr. para mim era até hoje um topo de gama de caracter, de garantia de principios e de exemplo do que um politico pode e deve ser fora da politica.
    Contudo não menospreze aqueles com os quais não concorda , o que é o meu caso, mas o respeito que lhes devo , até prova em contrario, deve ser mantido. Um pouco de contenção pode lhe provocar azia, mas como diria o outro “é a vida “.

    1. Como já escrevi em anterior comentário, o meu texto é uma sátira social e nada tem a ver com a política, a não ser no ultimo parágrafo brincando com o facto de o governo ter um topo(Antonio Costa) perdedor e uma gama (as esquerdas) vencedora. Anda tudo muito tenso, mas creio que ainda se pode escrever com humor.

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