Carlos César, ex-presidente do governo da RA dos Açores em sucessivos mandatos, é uma das principais figuras políticas da actualidade, agora a nível nacional. Presidente do Partido Socialista na era António Costa, eleito líder parlamentar da bancada na nova AR, e, provavelmente, destinado a outros lugares para predestinados.
Com o seu ar tão de estadista, quanto de impante, de tudo seguro, tem um discurso muito orientado por uma pseudo pedagogia de indicar o que os outros (que não ele) devem fazer. Não direi um discurso moralista, mas anda lá perto. Um dos seus jogos predilectos, em qualquer esquina onde depare com uma câmara televisiva, é, perante uma pergunta mais incómoda, fugir à questão, logo apresentando um outro caso de um qualquer oponente ou oposição, por ele achado semelhante E – verdade seja dita – em política, o que não falta é sempre o factual de um oponente, que assim iliba César de justificar seja o que for. Nem de se esforçar a imaginar um contrafactual.
Esta arcaica e estafada forma de fazer política beneficia, outrossim, da curta memória do registo discursivo e factual.
Recorde-se então o que se passou nas eleições legislativas regionais dos Açores de 1996, que levaram Carlos César (ou Dr. Carlos César, como o vi tratarem no debate do programa do Governo na AR) a presidente do governo regional.
Os 52 deputados regionais eleitos distribuíram-se assim: 24 para o PS, 24 para o PSD, 3 para o CDS e 1 para a CDU. Apesar do empate em mandatos, o PS formou o Executivo pois, em termos de número de votos, havia vencido. Tudo bem. A César o que é de César. O vencedor, ainda que minoritário e escassamente vencedor, tomou posse. No acto de investidura, o novel líder do Governo Regional havia de afirmar que a sua então minoria “não era um facto inultrapassável”. Pouco tempo depois, com a mudança das lideranças no PSD e CDS, foi alcançado entre estes dois partidos um acordo para formar um governo maioritário (27 deputados em 52). Carlos Costa Neves,o então novo líder do PSD açoriano, disse há dias, à revista Sábado, que teve uma audiência com o PR Jorge Sampaio “em que ele disse preto no branco que não daria posse a esse governo e convocaria eleições“, pois que quem tinha ganho as eleições (ainda que minoritariamente), havia sido o PS.
Novos tempos, novas ideias, novas ambições. Agora César desanca em Cavaco Silva pelas mesmas razões pelas quais aplaudiu Jorge Sampaio a quem, indirectamente, deve (talvez) parte importante da sua carreira politica.
Costa Neves, ministro / ex-ministro (riscar o que não interessa) do Governo demitido na AR, e portanto parte interessada no assunto? Com uma história que mais ninguém confirma? E porque é que o PSD e CDS não apresentaram uma moção de censura ao governo regional quando pudessem, se tinham um acordo? Tinham mesmo?
E já agora, também me lembro de uma história gira sobre Costa Neves, uns sobreiros e o caso Portucale. Não o incomoda ter um ministro com tão honrado currículo?
Fica-lhe mal ser caixa de ressonância, Dr. Bagão Félix. Creio que nos últimos anos ganhou o respeito de muitos portugueses com a lucidez que apresentou as suas posições. Não desperdice isso agora a defender gente que deixou há muito tempo de representar a Social Democracia ou a Democracia Cristã.
Bagão Félix toma como facto uma história de Costa Neves que não foi confirmada por Sampaio (e o que mais se tem ouvido por aí são histórias falsas sobre o passado recente da história política portuguesa). E acrescenta que Carlos César “aplaudiu Jorge Sampaio” (último parágrafo), acrescento que se destina a dar sentido ao artigo que escreveu. Um artigo infeliz de Bagão Félix.
Creio que há outras histórias interessantes sobre Carlos Cesar… e não estou a defender a PàF, meramente a refrescar a memória dos mais esquecidos:
http://www.acorianooriental.pt/artigo/nepotismo
http://marchadovapor.blogspot.pt/2014/07/as-poucas-vergonhas-que-se-vao-fazendo.html
http://expresso.sapo.pt/blogues/Opinio/HenriqueRaposo/ATempoeaDesmodo/carlos-cesar-e-a-mulher-devem-nos-20-mil-euros=f769666
Trataram-no por Dr Carlos César, é certo, mas a verdade seja dita: ele pediu imediatamente para ser tratado simplesmente por Sr deputado. Acho que poderia ter evitado esse comentário na crónica, porque revela algum sentimento negativo não justo relativamente à pessoa em questão, o que não lhe fica bem.
Aliás, tantos doutores que por aí andam, gostaria muito de saber em que é que são doutorados.
E quem é que lhe disse que Carlos Costa Neves fala verdade? A história foi confirmada por Sampaio?
Caro Sr. Bagao Felix,
Na impossibilidade do Sr. PR poder convocar eleicoes antecipadas, e da maioria do parlamento nao querer o partido que ganhou as eleicoes, que resta? Governo de gestao ou governo de esquerda. Deveria de ser esta a pergunta que todos deveriam de responder de forma clara. Cada um que se pronuncie de forma clara e aberta, sobretudo o sr. PR.
(peco desculpa pela acentuacao, mas estou a escrever de fora do pais, sem um teclado nacional)
A sua pergunta deve ser reformulada. governo de gestão ou governo do António Costa?
Boa Tarde, O texto apresentado ironicamente, até no trato pelo Bagão Félix, comentador televisivo e ex ministro chamado institucionalmente de dr., esquece de registar o facto de na mesma noite das eleições, em 1996, o dr. Alvaro Dâmaso (PSD) tentar com o CDS uma coligação pós eleitoral. Os contactos para Lisboa foram muitos, apesar de serem inconsequentes. caso contrário, por parte do PSD o caminho seria igual ao de agora. Opção Principal: SER GOVERNO, olhando p todos os meios.
As histórias que se vão desencantar. Há para todos os gostos e paladares. Dum lado os “impolutos” e altruísticos defensores do Bem Comum, do outro os “arrivistas” sem escrúpulos, ganaciosos de vaidades e do poder pessoal a qualquer custo. E trazer à colação o episódio do “senhor dr. César” é risível ou dum “fino” humor, Ou não ? Também Sua Excelência o Senhor Professor Doutor Cavaco Silva deverá a sua boa estrela a outro Presidente, antecessor de Sampaio, após a rodagem do pópó até à Figueira, Valha-nos a boa disposição para aligeirar as negras núvens que se acastelam no horizonte !
Bem vindo um esclarecimento factual, preto no branco, que evidencia à saciedade o carácter desta seita.
Bagão Felix faz aqui exactamente o que acusa Carlos César de fazer: usar um caso, por ele achado semelhante, para tentar ilibar o comportamento de Cavaco Silva (não é do próprio, mas de alguém que Bagão Felix quer defender). Parece esquecer-se (na realidade não se esquece nada, que eu não lhe subestimo a capacidade intelectual) de que as situações são muito diferentes, pois no caso dos Açores existia a possibilidade de eleições. A decisão de Sampaio foi discutível como o é a de Cavaco. A de Cavaco torna-se inaceitável por estar disposta a deixar Portugal com um governo de gestão por mais de seis meses numa altura crítica para o país.
Na mouche
“Com o seu ar tão de estadista, quanto de impante, de tudo seguro, tem um discurso muito orientado por uma pseudo pedagogia de indicar o que os outros (que não ele) devem fazer. Não direi um discurso moralista, mas anda lá perto. Um dos seus jogos predilectos, em qualquer esquina onde depare com uma câmara televisiva, é, perante uma pergunta mais incómoda, fugir à questão, logo apresentando um outro caso de um qualquer oponente ou oposição, por ele achado semelhante ”
Em tudo parecido com, pelo menos, Paulo Portas e Passos Coelho, portanto.
Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, mas não faças o que ele faz!
Muito bem observado por Bagão Félix, desconhecia este episódio da vida açoreana.