Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Ricardo Cabral

16 de Novembro de 2015, 13:50

Por

François Hollande: continua a decepcionar

Infelizmente, os ataques terroristas em Paris, não estão a dar azo a boas respostas, racionais, próprias de decisores que sabem que a “vingança” é um inútil desperdício de recursos, mas que, a ocorrer, se serve fria.

Mas François Hollande tem desapontado como presidente de França. Quase nada do seu mandato até à data convence. Ficará, para a posteridade, nomeadamente: o apagamento da França como parceiro activo na UE, desapontando a parte da Europa  e dos Europeus que esperavam que com a sua eleição pudesse mudar a orientação de política económica austeritária imposta pela Alemanha; o “apoio” que deu à Grécia na hora H; e até as polémicas relativas à sua vida privada!

A reacção aos horríveis atentados de sexta feira 13 de Novembro é típica da forma pouco ponderada como Hollande tem reagido aos desafios que confrontam a França e a Europa e relembram a reacção de responsáveis dos EUA, notavelmente o seu vice-presidente Dick Cheney e George Bush junior, que pouco depois dos atentados do 11 de Setembro de 2011, estavam convencidos (ou quiseram convencer-nos) que Saddam Hussein era responsável pelos ataques (George Bush sénior na sua biografia, recentemente publicada, critica directamente Dick Cheney e também o seu filho, então presidente, pela intervenção dos EUA no Iraque). Todavia os EUA ainda levaram o seu tempo a analisar a situação e a preparar a intervenção militar. A intervenção militar no Afeganistão, que se iniciou em Outubro de 2001, foi a partir de Dezembro de 2001 enquadrada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

François Hollande nem isso. Assumiu-se imediatamente que a responsabilidade pelos ataques é do Estado Islâmico e, 48 horas depois, a França desencadeia um ataque aéreo maciço contra o ISIS/DAESH, ou melhor contra a capital do Estado Islâmico Raqqa. Embora a operação seja contra alvos “militares”, é provável que resultem vítimas civis (“danos colaterais”), sendo certo que esses ataques desviaram a atenção das questões internas francesas, polarizando a opinião pública francesa em torno do seu presidente.

Sabe-se igualmente que há dez dias tinha sido anunciado que o único porta-aviões francês iria ser enviado para o largo da Síria para apoio a missões contra o estado islâmico.

François Hollande pede ainda ao Parlamento o poder para prolongar o estado de emergência por mais três meses.

Estes são tempos perigosos para as democracias ocidentais e para o estado de direito democrático – uma conquista civilizacional de séculos de progresso – onde a pretexto de atentados terroristas, muito graves, sem dúvida: se centralizam e aumentam os poderes executivos; se incrementa a propaganda e a desinformação; se age e se decide – quase como no “Wild West” – “disparar primeiro e fazer perguntas depois”.

Não é assim que se vence o terrorismo. Pelo contrário, se se acabar ou se cercear o estado de direito democrático é o terrorismo que vence!

Comentários

  1. O «Estado de Direito Democrático» prevê o estado de emergência e não exclui de forma alguma o direito de resposta perante um ataque. Neste caso não houve a mínima dúvida sobre a autoria dos atentados. Sem abdicar da minha posição moderada sobre política em geral penso que neste caso não há lugar a «posições moderadas». Aprovo as decisões tomadas pelo chefe de estado francês.

  2. Nao creio que o desapontamento dos franceses com Hollande tenha a ver com a politica externa em relaçao ao mundo muçulmano – que lhe valeu até encómios no caso da intervençao na Republica Centro Africana – ou com a politica economica austeritaria “imposta pela Alemanha”; os franceses compreendem bem (por experiencia propria de resto) que um país que nao apresenta contas publicas equilibradas desde o inicio dos anos 70 nao tem como evitar austeridade se quer manter o controlo sobre a dívida publica que, situando-se ja em quase 100% do PIB, começa a aproximar-se de niveis perigosamente elevados para permitir que o estado se possa continuar a financiar a taxas de juro comportaveis se nao houver sinais claros de vontade de por freio no defice publico; a popularidade do primeiro-ministro Manuel Valls de cerca de 50% (v. menos de metade para o presidente) é ilucidativa a este respeito.
    Quanto às intervençoes na Libia e na Siria, o que se pode dizer com o beneficio do conhecimento retrospectivo, é que Hollande foi talvez demasiado permeavel ao discurso politicamente correto de uma parte significativa da opiniao publica para, em nome da democracia e da defesa dos direitos humanos, ter embarcado em empresas de mudança de regime de sensatez duvidosa. Mas, que se veja, nao tem havido vozes influentes (com excepçao da Frente Nacional) a questionar seriamente as opçoes da França nestas intervençoes.
    A impopularidade de Hollande é antes fruto da demagogia que fez para ser eleito com um discurso populista anti-austeridade, anti-ricos e anti-finança, que se desfez como um castelo de cartas ao primeiro embate com a realidade e que lhe retirou toda a autoridade quando teve de apelar à razao em materia de finanças publicas e de reduçao do defice de competitividade da França em relaçao aos paises vizinhos e principais parceiros na Europa.

    1. Claro que os franceses vêem a França metida em guerras civis incompreensíveis na Síria, seguidas por represálias sangrentas sobre civis em Paris, e ficam mais contentes com o seu presidente… Tenha dó, ao menos da inteligência dos franceses.

  3. Se a NATO for chamada a responder por causa do ataque à França, o futuro governo de António Costa (o tal que não ganhou por poucochinho) tem um problema bicudo. É bem conhecido o ódio da extrema-esquerda pela NATO e pelas instituições ocidentais em geral.

  4. Hollande não assumiu que foi o Estado Islâmico o responsável, eles assumiram que foram eles. É uma grande diferença em relação ao ataque contra o Iraque. No entanto, concordo que a reação não vai levar em nada. O ISIS não vai parar por causa disso.

  5. Aplaudo o Ricardo Cabral no que respeita à inadequação dos ardores guerreiros da França na Síria para reduzir a ameaça terrorista em França. Tem o seu quê de fuga para a frente voluntariosa a atitude do presidente francês, o que pode também ser motivado pela consciência de que o povo o poderá responsabilizar eleitoralmente a ele por ter contribuído, como contribuiu, para que Paris se tenha transformado num alvo de eleição dos ‘jihadistas’. Já se sabe, perdido por um, perdido por mil…

  6. Talvez fosse melhor a UE abrir uma embaixada em Raqqa (uma vez que António Costa está comprometido com o governo de Portugal, sugiro o autor para embaixador dadas as suas manifestas capacidades para definir estratégias de como lidar e negociar com o Estado Islâmico); talvez fosse melhor propor o Estado Islâmico como membro da ONU, talvez mesmo como membro permanente do Conselho de Segurança; propor ainda o Estado Islâmico como membro da UNESCO de modo a colocar as suas observações sobre o património cultural a ser preservado e, em nome da tolerância, talvez devamos, logo à partida, como sinal de boa fé, dar por assente que devemos incendiar o Louvre com tudo dentro, turistas incluídos. De tudo, o pior mesmo, o que mais me decepciona no Hollande são as polémicas relativas à sua vida privada! Que chatice pá!!

  7. EUA e França planeiam uma intervenção militar da nato na Síria e no Iraque.
    Todas as peças colocadas estrategicamente.

    A operação terrorista em Paris, teve como objectivo Central terminar com o controlo militar da Rússia na Síria, e com a sua influência militar no Iraque. Em síntese, fazer desaparecer a derrota com extermínio do Estado Islâmico na Síria concretizado por as forças russas. E neutralizar a liderança geopolítica e militar emergente da Rússia no oriente médio.

    Como primeiro passo operacional, o massacre jihadista reinstalou ao Estado Islâmico como o “grande ameaça terrorista para a humanidade” (disse Obama 20 min. depois do atentado).
    A ressurreição de Estado Islâmico.
    Como segundo passo, restaurou a psicose de medo do terrorismo na Europa e a nível mundial.
    Em resumo, O Objectivo Central da operação massacre foi orientado a salvar a estado islâmico de sua vergonhosa derrota com fuga na Síria (agora também no Iraque), e projectá-lo novamente como o inimigo número 1 da paz e da humanidade, e reunificar a EUA e as potências imperiais numa nova fase superadora da “Guerra terrorista”.

  8. Há algo que ninguém entende sobre este terrorismo:

    Nem a CIA nem os serviços ocidentais executam em forma directa as operações terroristas.
    Os que executam ações terroristas são os próprios grupos fundamentalistas islâmicos. Que são infiltrados, financiados e treinados pela cia/mossad/m16 e serviços secretos ocidentais que lhes direcionam as acções e os objectivos através da manipulação com a guerra religiosa.

    Esta metodologia operacional estabelece-se com fundações e organizações islâmicas associadas a empresas fantoches e agentes encobertos, que realizam operações psicológicas infiltrados nos grupos fanatizados.
    O agente encoberto que realiza o trabalho de infiltração celular, planifica as acções pretendidas (usando códigos e linguagem da “Guerra Santa”). E em coordenação com uma estratégia geral, induz as ações e objectivos terroristas .

    Excepto os chefes e os líderes (formados nos sótãos da cia e nos programas de forças especiais do Pentágono) a maioria dos quadros terroristas operacionais ignoram que estão a ser manipulados por uma estratégia de poder imperial internacional.

    A maioria acredita que está agindo estritamente a partir das suas convicções religiosas fundamentalistas. Isso explica o porquê das ações terroristas suicidas e os assassinatos serem aparentemente guiados pela alienação religiosa.

    O massacre terrorista de sexta-feira, em Paris (atribuída a uma célula de Estado Islâmico) foi concebida e executada seguindo os parâmetros de infiltração celular que usa a inteligência imperial com os grupos fundamentalistas.

  9. A guerra direta contra o Iraque, a guerra indirecta sobre a Síria, as revoluções coloridas e o assassinato dos líderes nacionais em alguns países do Médio Oriente, fazem parte da ilusão criada pela política global do Ocidente para travar uma guerra de ocupação. Escondendo a sua verdadeira imagem: A imagem Horrorosa de quem desconhece limites na crueldade humana nas suas ambições Geoestratégicas. Em geopolítica não há espaço para emoções e valores morais, como demonstram estes modelos ocidentais de “Caos e ocupação”.

    O governo sírio tem sido o principal obstáculo. O presidente Assad sobreviveu a muitas tentativas de derrube pelo Ocidente e seus aliados regionais. Por outro lado, os agentes por procuração ocidentais que são conhecidos como “terroristas” e mais tarde “Rebeldes moderados” na Síria e no Iraque, perderam ativos importantes durante a campanha aérea da Rússia que durou um mês. Curiosamente, quando o Ocidente vinha observando a derrota das suas forças por procuração (Terroristas), aceleraram a sua actividade diplomática para realizar um acordo de paz na questão síria.

  10. Este artigo está um porco embrulhado entre o deve e o haver. Por um lado, o seu autor critica – e bem – Bush por se ter precipitado em acusar, e atacar, o Iraque aquando dos atentados do 11 de Setembro, e por outro lado, também critica Hollande por fazer o mesmo, sabendo que os ataques a Paris, desta feita e ao contrário do que aconteceu em NY, foram já reivindicados pelo estado islâmico. Ou não percebe a diferença, ou então não quer perceber. O inimigo está bem localizado desta vez. Não há qualquer dúvida.

    Acredito que a Europa, as nações europeias, os Europeus devam procurar a paz como um dos grandes valores da nossa cultura. No entanto, acima disto tudo, está a preservação da nossa cultura ameaçada por uma força implacável às portas da Europa, a qual já mostra a suas garras aqui dentro. Não é uma altura para hesitar meu caro. É altura de cortar o mal pelos pés e atacar em força esse monte de fundamentalistas religiosos. E relembro-lhe, a paz não existe só porque a queremos, a paz é algo que se alcança e por vezes é preciso fazer a guerra para a alcançar. Faz parte da “tristeza” de ser Humano. Digo isto pelo sentido de urgência e porque não quero esperar para ver rebentar mais bombas por toda a Europa, inclusive Portugal. Este é, sem dúvida, o momento para agir. Sem paz, não há democracia.

    1. Nunca ninguém ganhou uma guerra de guerrilha (contra os guerrilheiros) e é disso que se trata, à escala mundial.
      Quanto mais armas forem introduzidas em circulação e mais violência for empregue, mais intensa a resposta com a agravante de que intensificar-se-ão as clivagens e o mundo dividir-se-á entre não muçulmanos e muçulmanos quando o rumo deveria ser no sentido da religião deixar de ter palco no mundo moderno (algo difícil após a criação de Israel).

  11. É óbvio que falo à distância, sem ser afectado directamente, mas talvez assim seja a melhor maneira de analisar os fenómenos.
    Este tipo de situação, infelizmente será recorrente e não há bombardeamentos que evite tal recorrência.
    Temos que lidar com este fenómeno como sendo equivalente aos acidentes de aviação: muitas casualidades, impacto psicológico, mas nada que possamos controlar.
    E deixo ainda mais dois comentários:
    Quanto melhor tratarmos os refugiados, mais aliados teremos na luta contra o terrorismo (até porque os refugiados saberão identificar melhor os terroristas e cooperar na sua descoberta) e o inverso também será verdade.
    E é risível constatar que Hollande desapontou e esperar que Costa faça algo de diferente (Hollande só desapontou a quem criou expectativas injustificadamente e Costa está igualmente a gerar expectativas injustificadas na mente de muitos).

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Tópicos

Pesquisa

Arquivo