Um dos aspectos curiosos da crise que vivemos, desde que as eleições conduziram ao fim do governo de Passos-Portas, é a radicalização da política.
Todos notamos esse processo. Não é só nos ódios que escorrem nas caixas de comentários deste blog ou de todos os outros, sobretudo quando o anonimato protege a bravura do insulto, no acinte de tantos dos comentadores, no frenesim de deputados (“repugnante”, grita Luís Montenegro), nos títulos bombásticos dos jornais. Deixemos isso à sua sorte.
Mas convido os leitores e leitoras a olharem para outro aspecto, porventura mais iluminante: a forma como resvalam para a direita algumas personalidades que cultivavam um lugar ao centro e que disso obtinham relevo social, cultural, comunicacional, exemplos como eram de pensamentos arejados e intrigantes.
Vejamos três casos de pessoas que leio com particular interesse e curiosidade.
Luís Aguiar-Conraria, albergado no Observador, confessa ter votado PS e estar retumbantemente arrependido, assinalando com algum humor como esta revelação o tornou popular entre os cronistas do PSD e CDS (diz ele que tem a companhia de Clara Ferreira Alves). Condecorado pelos próceres da direita como cidadão exemplar, Aguiar-Conraria repete os argumentos mais sofridos contra a mudança de política: o salário mínimo não deve aumentar, mais procura é perigoso, é preciso obedecer ao ditames europeus. Assim, alinha-se sofredoramente com quem entende ser mais coerente com o projecto de “austeridade inteligente”, indignado porque, no acordo PS-BE-PCP, os “orçamentos de Estado serão usados para ‘devolver salários, pensões e direitos’, mas nunca declaram que procurarão fazê-lo dentro do quadro das nossas obrigações europeias.” Supõe-se que as “nossas obrigações” são ortogonais em relação à “devolução de salários, pensões e direitos”.
Clara Ferreira Alves, com mais estrondo, descobre-se “anticomunista”, signifique isso o que significar. Portugal é um problema de atraso cultural perpétuo, conclui ela: “Basta ir a Londres e à Tate Modern, e visitar a exposição ‘The World Goes Pop’, para ver como Portugal não consta desta revolução”, e nesse limbo do atraso vingou o PCP durante a ditadura. Depois, descobre Ferreira Alves, nada de confusões: “O contributo de forças como o PCP e o Bloco para a democracia portuguesa é importante, apesar destes desníveis. Mas só é importante por ter sido enquadrado e travado pelo socialismo democrático dos socialistas e a social-democracia dos sociais-democratas.” O centro foi tudo mas agora encaixou-se e está ameaçado pela esquerda, enfim destravada.
Miguel Sousa Tavares, sempre mais directo, acha simplesmente que “dificilmente esta história acabará bem” (o que, consoante o tempo que se lhe dê, será garantidamente um dia verdade e outro dia deixará de o ser), porque “tudo parece girar à roda de quanta mais despesa do Estado será necessária para acolher as benfeitorias que cada um (dos partidos) propõe”. E há temas que o tiram do sério, como o fim dos exames da quarta classe que, como toda a gente sabe, foi a grande inovação do quartel-general cratista da 5 de Outubro para ensinar pedagogia a uma Europa relapsa. Tudo mal nesse acordo do PS com a esquerda.
O que há de comum entre estas três posições, porventura representativas de outras, embora muito especiais como o são os seus autores, é que apoiavam o centro e sem dúvida desejavam a sua vitória. Mas a realidade eleitoral complicou tudo e, perante a pressão desta crise política, um desloca-se para a direita, outra redescobre-se visceralmente “anticomunista” e sente a necessidade de o proclamar e outro bombardeia o novo governo como se estivéssemos no dia do juízo final.
Ora, este é um sintoma do que é algum do centro neste momento. Perturbado com a simples ideia de devolver salários e pensões, depois de nos anos anteriores se ter compungido com os sofrimentos dos pobres trabalhadores e dos velhos, este centro não tolera a prova da escolha. Amedrontado, parece ficar à espera de que não aconteça nada. Melhor com os senhores do costume, habituados que estamos ao fato de Príncipe de Gales do vice-primeiro-ministro e ao canto coral do primeiro-ministro, do que na aventura assustadora do aumento do salário mínimo para 530 euros, isso nunca.
Outros, que há um par de meses eram entusiastas da negociação da dívida, a começar por alguns do PS, preferem hoje que fique tudo esquecido, porque o clima não está para essas coisas, a Grécia assustou as boas almas, vão andando que eu vou lá ter.
Só que, e aí é que está o busílis, falta ao centro a alternativa onde lhe sobra indignação. Há um vislumbre de resposta sobre como gerir as contas públicas? Nada, só o temor reverencial à “Europa”. Há uma palavra sobre como criar emprego ou onde por as fichas do investimento? Nada, os mercados dirão. Há um gesto acerca deste indignante desbaratar de bens públicos ou da teia de interesses entre a banca e a decisão política? Não se espere tanto. Nem se deveria esperar, o centro é o lugar onde não se decide nada, obedece-se à “Europa”.
Porque não tem nada a propor e prefere nada fazer, o centro está a desfalecer. Por isso não me surpreende que alguns dos seus ideólogos ou praticantes se sintam agora forçados a sair para o lado. Só posso elogiar a sua sinceridade e a sua presciência. O que nos estão a dizer é que a esquerda pode e deve enfrentar a direita e que ninguém mais o fará, se não ela.
A liberdade de expressão é o direito dos outros dizerem aquilo que não gostamos de ouvir mesmo quando “estão em causa” as nossas convicções mais profundas.
Francisco Louça tem efectivamente o direito à liberdade de transcrever as suas opiniões mesmo que estas, não sejam mais do que uma escolha criteriosa de palavras para manipular a opinião…
Caro professor, a estratégia passa também pela mentalização das hostes, não vão estas reparar, duvidar e questionar, mas o que mais me surpreende é a forma e a rapidez como, por passarem a ser inconvenientes ou, deixarem de ser convenientes, as pessoas passam de bestiais a bestas.
Já pensou, por hipótese, que estes se sintam enganados, traídos ou, até mesmo, e porque não, convencidos de outra verdade?
De acordo com o que escreveu, “um dos aspectos curiosos da crise que vivemos… é a radicalização da política. Possivelmente será assim.
A questão que se impõe é esclarecer quem é que, por conveniência, subverteu valores e adulterou princípios para satisfazer caprichos que de outra forma estariam à distância de muito anos-luz?
Parafraseando o autor, “a esquerda pode e deve enfrentar a direita” (sem dúvida)… mas de forma séria, transparente e digna.
Alguém do Centro, como eu, já não pode votar no PS ou no PSD sem estados de alma e alguma náusea. Faz falta no nosso espectro político, um partido agregador, da família da Aliança dos Democratas e Liberais da Europa. É a teceira força política no Parlamento Europeu mas só conta, vindo de Portugal com o MPT. E como se sabe o Movimento Partido da Terra não é um partido credível; mais parece um bando de amigos, e as suas propostas avulsas, uma lista de compras. Além do mais tem a péssima reputação que Marinho Pinto, um oportunista, lhe deixou, antes de o abandonar para se lançar em outras e mais emocionantes aventuras. Um partido que se reivindique do Liberalismo, do clássico ou do social, faz muita falta em Portugal e poderia ter alguma expressão eleitoral, se por ele dessem a cara figuras credíveis da sociedade portuguesa, vindas naturalmente do PSD e do PS e até possivelmente do CDS.
Como dizia o Adelino Amaro da Costa, o CENTRO, é uma clara posição política. É uma filosofia radical de acção. O centro esquerda, estará atento aos desafios vindos das esquerdas. O centro direita, aos reptos vindos das direitas, para os colocar no crivo dos reais interesses nacionais. Mas ambos militam nos mesmos objectivos, na defesa do radicalismo construtivo, não deduzido de ideologias históricas. Infelizmente (para mim), o PSD deixou de ser social democrata e virou à direita. O PS, baralhado e apertado pelo colete de forças europeu, e pelo radicalismo político da coligação de governo do PSD-CDS dos ultimos quatro anos, virou à esquerda. Calma, o Dr. Louçã tem razão, não é o fim do mundo: os comunistas já não comem criancinhas ao pequeno almoço! Sim, eu que sou do centro (ao contrário das personalidades referidas), sinto-me orfão, porque não tenho nemhum partido que me represente! Concordo com o Dr. Louçã mas, prefiro dizer: falta a este centro (dos interesses), que não tem nada a propor e prefere nada fazer, a alternativa onde lhe sobra indignação. Este centro, não é, o Centro. É pois necessária, uma clarificação política, para não vivermos na “malapata do centro”.
Todos os partidos, em Portugal, têm nas suas ideologias, algo de bom, algo com que concordo e defendo. Cada qual à sua maneira.
Para que um governo possa governar bem, melhorando o valor, quer económico quer social, tem de ser equilibrado, e com medidas equilibradas. O próprio povo português, tem de deixar de analisar o aspecto das coisas para se aprofundar nas respectivas questões.
Mas mais importante que isto, os políticos têm de deixar de considerar o “poleiro” como uma oportunidade única para garantir financeiramente o seu próprio futuro .
Vemos políticos exaltados, com discursos inflamados, porque é isso que querem vender. A exaltação. Quanto mais aquecer os ânimos, menos o povo reflecte no que na realidade se está a passar. Quem mais berra, menos razão tem.
Vemos também, penso que seja um lapso (ou gostaria muito que o fosse, assim poderia vir a ser corrigido) o facto de termos uma organização europeia que procura gerir a economia, o comercio e a industria. Pressupõem-se que as políticas sociais sejam da inteira responsabilidade dos respectivos países. É um erro. Uma politica social bem implementada no seio de uma empresa, faz com que a qualidade do trabalho realizado dê um salto em frente. Por cá, vemos todos os dias noticias nos jornais que nos retractam empresas que pretendem contratar gente que trabalhe bem e ganhe mal. Pensam que é com esta ideologia que defendem a sua empresa, quando, tem-nos dito a experiência, é precisamente esta actuação que a desgraça a médio/longo prazo. É precisamente esta política que tem sido defendida para Portugal, até mesmo, e principalmente por quem tem uma melhor política social. Veja-se quantos portugueses de valor foram aliciados por empresas alemãs, quantos deixaram Portugal, e como Portugal ficou mais pobre depois da sua saída. Veja-se, a nível internacional, como está cotado o trabalho dos portugueses pelo mundo. E cá, tiramos proveito das tremendas capacidades do nosso povo ? Ou governo atras de governo, seja de que partido seja, continuam a apostar no pouco grau académico do povo? Talvez os próprios políticos não tenham cultura suficiente para governar um povo culto …
Uma dos aspectos positivos deste neste momento que estamos a passar é que ele conseguiu dividir muito claramente os que estão à direita dos que estão à esquerda. Antes a coisa estava confusa embora sempre considerei que o centro nunca existiu ele é sempre de direita
Sendo o mais semelhante possível com um centrista convicto, confesso-me espectador dos próximos tempos.
No meio disto, para lá desta linha esquerda-direita que a tantos separa, e porque as pessoas podem ter mais peso do que as ideologias:
– Não confiaria 1 escudo a António Costa, se tivesse essa hipótese.
– Então e aos outros…..? Poderão perguntar.
Depende de quem. Mas a Costa, e a todos que tocaram no nojo Socrático, nem 1 escudo!
Para lá da ideologia, e dos partidos, e mesmo assumindo como dúbia a honestidade e valor de alguns políticos, espera-se pelo menos pudor. O mínimo de decência.
Neste momento, e passados 4 anos, não estão para mim resolvidas responsabilidades pessoais e morais.
Costa encaixa aqui, neste lote viscoso.
Nada terá isto a ver com a instituição do partido em si.
A minha esperança, quer no bloco, quer no PCP, não é a de nos livrarem da direita.
É, antes de mais, a de nos defenderem de Costa.
Não sendo seu partidário, é ainda assim o vos peço.
Este António Ferreira não é o mesmo que comentou este artigo a 12 de Novembro de 2015.
Prezado Professor Louçã:
Na minha perspectiva, o PCP e o BE podem ter caído numa armadilha. Porque é que o António Costa está a apelar à “postura responsável” do PSD e do CDS?
Isto não é por acaso. O António Costa, alguns minutos após a tomada de posse, vai alavancar os acordos e compromissos Europeus como armas para prender os partidos de Direita. E já agora a TAP.
O que é que impede o PS de começar a fazer Políticas de Direita com a mesma agressividade do governo anterior? Se o BE e o PCP votarem contra, o PSD e CDS aplaudem ou quando muito aguentam para evitar os chamados “breachings” Internacionais. Até pode usar o BE e o PCP para fazer o chamado “salto-à-vara”: usa a ameaça das Nacionalizações, a direita reage e faz o que o António Costa quiser.
Nessas circunstâncias, dentro de alguns meses para que é que o António Costa precisa do apoio parlamentar do BE e do PCP?
Por favor digam-me que estou enganado, seria um alívio.
Acho que o cálculo só pode ser aferido pela realidade. Se as pensões, os salarios e o emprego recuperarem, esta convergência ajudou a mudar Portugal.
Porque nas próximas eleições o PS era extinto como o PASOK.
Caro Louçã, não sabe o que significa anticomunista? Eu explico-lhe. Significa ser contra a ditadura e o totalitarismo comunistas. É semelhante ao significado de antifascista. Ou será que também não sabe o que significa antifascista?
Que mau gosto.
Fascismo? É, mais ou menos, o que o governo de Passos andou a fazer e avivou nestes últimos dias, não?
“…descobre-se “anticomunista”, signifique isso o que significar…”
Como? não sabe o que é não ser comunista? TENHA VERGONHA e respeito pelas vítimas que se contam pelas dezenas de milhões.
Vítimas? Assim como as da Bomba Atómica de Hiroshima e Nagasaki?
O ponto é mesmo este:
“O que há de comum entre estas três posições, porventura representativas de outras, embora muito especiais como o são os seus autores, é que apoiavam o centro e sem dúvida desejavam a sua vitória.”
O centro não deixou de existir. Continua e acredito que continuará a representar a maioria do nosso eleitorado. A origem desta “radicalização da política”, como Francisco Louça refere, deve-se à imperiosa necessidade do PS defender o seu flanco esquerdo. Desde 74, o PS apenas conseguiu uma maioria absoluta – com José Sócrates em 2005 e na sequência da muito particular liderança de Santana Lopes. Com o surgimento do BE, o PS viu o seu espaço à esquerda ameaçado com um discurso mais jovem e populista (as tais causas fracturantes), particularmente reforçada com a liderança de Catarina Martins. Quanto mais o PS se “coordenasse” com o PSD, mais o seu eleitorado à esquerda fugiria para o BE. A velha máxima de “as eleições ganham-se ao centro” deixou de ser verdade para o PS, pois ganhando o centro perderia a esquerda. Assim, a única estratégia para o PS não se “PASOKiar” é ganhar novamente a esquerda, fazendo o BE tropeçar num eventual erro político que impeça o PS de governar. Politicamente, por mais que custe a grande maioria do eleitorado que preferia políticas moderadas ao centro, enquanto o BE existir com a actual força, apenas a se verá aumentar a radicalidade da dicotomia esquerda-direita. Assim, os próximos tempos políticos serão caracterizados por esta guerrilha táctica entre PS e BE. Naturalmente, o grande risco do PS é o centro fugir para a coligação de direita, mas é um risco menos estrutural (o centro move-se mais facilmente entre as suas extremidades próximas) que a continuação do crescimento do BE – pois aí sim, seria o fim do PS como o conhecemos. Talvez assim se compreenda melhor o A Costa e a sua tantas vezes agora referida “falta de verticalidade política”. Sobrevivência, apenas, e não somente a dele mas também do seu partido.
É uma análise interessante. Mas talvez seja melhor olhar antes para as medidas que se venham a concretizar.
Sr Francisco Louçã talvez pudesse acrescentar a Dra. Manuela Ferreira Leite?
Sr Luis Gonilho a sua análise não está errada, mas não se resume a isto.
Durante a campanha eleitoral assustaram muita gente e agora ainda mais.
Até alguns jornalistas de peso. Ou então estão a defender os patrões (2 ou 3)
que dominam a comunicação social.
Ao centro, é própria a indefinição. Shakespeare lembrou em tempos que o dualismo é o próprio de uma atitude: “to be or not to be”. Quem se coloca ao centro é alguém que se expõe à influência de outros, ou à disposição do que mais dá. Dos três personagens que aqui são relatados, um não conheço, os dois outros são fruto dos média que cultivam o centro como terreno propício à dúvida e à indefinição. Clara e Miguel são imagens de marca dessa aristocracia atípica que vende o “nada” com uma etiqueta cultural, coisa que os portugueses fazem melhor que ninguém. No caso presente, vemos como a ausência de uma plataforma ao centro, já que o PS derivou para a esquerda e o PSD resvalou à direita, obriga os eunucos a tomar posição e a revelar-se em toda a sua nudez e concupiscência. Só por isto já valeu a pena, é sempre bom destapar as dúvidas e expor a vacuidade.
Prefiro a aristotélica “no meio está a virtude” ao “to be or not to be” shakesperiano.
Pois pois! Mas num tempo em que as desigualdades fazem furor, não me parece que Aristóteles e a sua virtude estejam na ordem do dia.
No centro é que está o cinzentismo.
Repetindo o que é evidente: excelente artigo.
Louçã é no contexto político deste país um elemento fundamental a ser lido e relido.
Obrigado em nome daqueles que desejam profundamente a mudança no sentido oposto ao medo e à cobardia subserviente de lacaios que em nosso nome destroem o essencial da nossa dignidade colectiva.
Campos Pessoa
Excelente crónica, Francisco Louçã. Só me resta talvez lembrar as palavras memoráveis de Tony Benn (que eu já havia deixado em comentário a uma crónica recente de Francisco Assis sobre o “debate que importa” (sic) — outro exemplo paradigmático do que contesta nesta crónica):
“Margaret Thatcher once said Tony Blair & New Labour were her greatest achievement, and she was right!”
Ainda bem que, depois da eleição surpresa de Corbyn, lembra Benn, um grande senhor da esquerda inglesa.
Esquerda, direita, centro…pouco sei de politica e de partidos para conseguir encaixar as diversas ideologias em compartimentos aparentemente estanques , que se em algum período histórico terão feito sentido, actualmente me parecem absolutamente irrelevantes. Caso alguém se tenha esquecido de reparar já não vivemos num mundo polarizado. Vivemos num mundo complexo, onde a informação flui de forma rápida, e onde opiniões e posições sobre as múltiplas dimensões – políticas, económicas e sociais – se fundem e modificam constantemente em novos conceitos, posicionados acima, abaixo, por dentro ou fora do antigo binómio esquerda/direita. Liberdade, justiça, ética, direitos humanos, são valores em que a maioria dos portugueses acredita e não são exclusivos ideológicos de nenhuma facção politica.
A “radicalização” da opinião publica é consequência da pobreza dos politicos em Portugal e na Europa. Cada politico promete o que for preciso para obter votos e chegar ao poder, mas aí chegado nunca é responsabilizado pelos seus actos.
Demagogia. Dá-se o dito pelo não dito, mente-se. A culpa é sempre dos outros. Falta ética. Falta integridade. Rouba-se sempre que a oportunidade é propicia. Falta coerência. Mudam-se os discursos e convicções consoante os interesses do momento e dos amigos de ocasião.
E as pessoas que deviam representar assistem impotentes. Alguns poucos ainda votam, mas nada muda. O sistema continua podre. Falta vergonha. A classe politica nacional devia ter vergonha mas não tem.
Na Grécia por exemplo o governo de esquerda continua a austeridade e diz que a isso é obrigado e apoia as manifestações na rua. Mas isto faz algum sentido?? Mas não disseram que iriam romper com com a austeridade, mudar a página? Que tenham vergonha e afirmem de forma peremptória à Europa que não aplicarão mais medidas com as quais o povo não concorda, de acordo com o mandato que foi dado pelos eleitores. E assumam a consequência dos seus actos.
De forma firme e convicta. Como prometeram que fariam. Se não cumprem o que prometeram que se demitam ou pelo menos que se calem. As revoluções são os momentos de caos que precedem uma nova ordem. Não podem??? Têm medo que o povo passará fome? Então porque prometeram o que não podiam ter prometido??
O mesmo em Portugal. A “maioria de esquerda” vai acabar com a austeridade? Vai mudar a vida dos portugueses? Vai enfrentar a direita? Óptimo!!! Que se faça algo! Eu e muitos portugueses, todos, aguardamos com expectativas muito elevadas depois de tudo o que tem sido dito nas ultimas semanas.
E com cada vez menos paciência para tanto discurso e pouca acção por parte dos politicos.
Vejamos então a acção. A da direita já sabemos, baixar os salários e pensões.
De entre todos os falsos socialistas agora elevados pela Direita que não respeita o Parlamento eleito, com “Os Grandes Patriotas”, a que me faz mais espédie é Clara Ferreira Alves, uma soarista pura e imaculada até 4 de Outubro.
Se Mario Soares disse ha 1 ano que “Esta direita tem que ser corrida nem que seja á paulada”, em forma de metáfora, imaginem o que não dirá hoje, agora que a Direita teve a 2a pior derrota de sempre, e que se está a revelar anti-democrática…
Mas enfim… se a Direita até tentou comprar deputados do PS com leitões, atravéz do Assis dos Leitões, não podemos ficar surpreendidos com mais nada…
Boa Nuno, ainda bem que és silva e não pereira.
Gostei da metáfora.
Já o coelhorum também gostava de recorrer à metáfora e no mesmo sentido
Correr os adversários (para eles inimigos) à cacetada.
Mas adiante.
Vamos ver agora se os democratas dos kostistas e cesaristas que têm o amplo apoio popular e 60 e tal por cento dos votos aceitam ir de novo às urnas.
Estou convencido que o nosso querido líder vai agarrar na bandeira extraordinária da revisão especial da CRP e organizar mais uma arruada.
Eu ajudo com o slogan
A ESQUERDA DESUNIDA JAMAIS SERÁ VENCIDA
Ana, se a Direita forçar eleições, e se por acaso ganhar (o que eu não acredito), a Esquerda tem também o direito de mandar repetir as eleições. E podemos andar nisto durante anos.
A Direita tem que respeitar a democracia e a Assembleia eleita por todos nós. António costa será Primeiro Ministro nos próximos 4 anos, quer você goste, quer não goste.
A direita sempre respeitou a democracia.
Os comunas é que nunca a respeitaram.
Esta na natureza delas o totalitarismo e as victórias por 99,8 %.
Claro em Portugal ainda nem passam dos 10 % e daí andarem ressabiados como diz o nosso querido líder Kim Kosta.
Era por causa dessa insignificante percentagem que os socialistas do Kosta enchiam de nomes feios os comunas do Jerónimo.
Mudados os tempos – mudados os comportamentos, agora que precisam desses votos insignificantes
Mas desta vez são os comunas que vão dar o abraço do urso aos kostistas
Um mau gosto que não é defeito, é feitio. Espero que compreenda que este blog não faz parte de “O Diabo”.
Clara Ferreira Alves limitou-se a expressar o pensamento de uma certa “intelectualidade” que limita o papel da esquerda, e principalmente do Bloco, à função de ser uma força que se limite a fazer umas cócegas ao “centrão” e lhe sirva de muleta incondicional de vez em quando. São aqueles que advogam que existam umas forças “de esquerda” tipo “pisca-pisca”: estarem “on” quando convém e “apagarem-se” quando também convém. Se acham o que digo é mentira, veja-se como trataram o “Livre”…Quanto aos outros: do primeiro conheço pouco e do terceiro preferia nunca ter conhecido.
Dr. Louçã parabéns, pelo seu artigo cirurgico, quando põe a descoberto “o tirar das mascara da tolerancia” de tantos e tantos escribas do Centrão. Quanto às loucuras e disparates que se escrevem na blogosfera e em revistas com estatuto, basta coleccionarmos durante alguns anos jornais e revistas no armario e, após alguns anos voltar a rele-los (eu assim o faço e aconselho todos a adquirirem este hbito) e constatamos, com perplexidade e alguma angustia misturada com gargalhadas, a torrente de artigos dispratados que se escrevem em materia economica social e até politica neste pais. Mas, regressando ao tema da radicalização dos acontecimentos e dicursos politicos, convem lembrar que, em 2011, o PSD “meteu a social democracia na gaveta”, com alguma culpa, é certo, pelas directrizes economicas impostas pela troika. Mas ninguém se recorda do Dr. Oliveira Salazar ter tido a coragem, mesmo presidindo um regime ditatorial, de dizer aos jovens da decada de 50 e 60 (via radio ou TV) de que eles não tinham outra prespectiva de vida para além da emigração,como aconteceu de facto. Nesta decada, assistimos a afirmações perigosamente radicalizantes da sociedade portuguesa, proferidas por personalidades com responsabilidades governativas, como por exemplo, “vós jovens tereis de emigrar”.
Os resultados destas eleições, puseram a descoberta a fractura social que ocorre na sociedade. Por um lado, existe uma classe média castigada pelas medidas de austeridade e desncantada que votou no BE, PCP e não tanto, mas pouco, no PS que obrigou o PCP e o BE a sairem da sua “zona de conforto de partido de protesto” e assumir outro tipo de responsabildades na politica portuguesa. Como consequencia o PS inflecte à esquerda, também devido à viragem à direita do PSD, e para não ser esmagado pela pressão do BE e PCP. O PS não teve outra alternativa se não “tirar o socialismo da gaveta” e voltar a lê-lo. Em oposição temos uma percentagem, na sociedade, que se identifica com a politica liberal e conservadora do PSD-CDS. E, o mais inquietante para todos nós, é, neste momento actual, o dialogo parece ser pouco ou quase nulo entre estas duas formas de encarar a poiltica economica e social.
Acabo de ouvir o chefe da CIP dizer, a propósito do aumento do salário mínimo, que “a CIP não permitirá que o Parlamento esvazie a concertação social”. Pois! Não me lembro de este senhor ter alguma vez afirmado tal quando o salário mínimo foi sucessivamente congelado pelo Governo, e a sua atualização rejeitada pela maioria agora designada PaF com a desculpa de que tal constava do “contrato” com uma tal Troika…
Embora compreenda o ridículo deste medo sentido por muito do eleitorado de direita em relação a um provável governo das forças de esquerda, entendo que as várias esquerdas deviam ser mais pedagógicas relativamente aos sectores desse eleitorado pouco esclarecido politicamente. Já relativamente à intelectualidade o debate no quadro de uma luta de ideias só fará sentido quando os interlocutores estiverem de boa fé, o que nos exemplos referidos nem sempre sucederá. As esquerdas em 75, fizeram despertar os medos do Portugal obscurantista e conservador começando aí a perder o combate ideológico e perdendo depois no terreno político. O medo é uma arma poderosa que em Portugal fala frequentemente mais alto do que os grandes ideais que guiam as esquerdas. E convenhamos que boa parte das esquerdas têm na sua história uma série de esqueletos trancados em armários que lançam a partir do passado a sua sombra toldando o seu presente. A esquerda democrática humanista e pluralista contemporânea continua a ser chamada a pagar uma pesada fatura (que não é sua) do estalinismo, com o seu desfile de perversões e horrores, praticados por partidos monolíticos e totalitários, que dos elevados ideais socialistas nos legaram grotescas caricaturas, ainda hoje obstáculos no caminho das ideias anticapitalistas e pela emancipação dos povos. Enquanto as esquerdas contemporâneas não encararem de frente esse passado estalinista (e derivados) sombrio e vergonhoso e não ficar claro aos olhos da população que o repudiarem veementemente, esse legado continuará a obstaculizar a luta anticapitalista e a servir para a direita usar a poderosa arma do medo.
Mas que graça! A Direita para si é «pouco esclarecida politicamente» e a Esquerda deveria ser «mais pedagógica perante esse pobres tolos «pouco esclarecidos politicamente». Está a propor uma revolução cultural maoista? Até parece.
Quem não sentiu na pele um pingo da austeridade,não se preocupa nada,mas mesmo nada,que tudo fique na mesma,com os mesmos de sempre a governar.Quem inclusivamente ganhou dinheiro com a austeridade(os milionarios aumentaram em Portugal nos ultimos 4 anos) então quer mesmo,que tudo fique na mesma.E isto tudo para quê? para comprarem carros aos alemães(ca esta ,as importações é que resolve o problema,certo?) que ficam horas parados na A1 …à minima “constipação” electronica.
Pois, são a favor dos exames na 4ª classe (e não só) mas depois põem os filhos/netos nos colégios finos/alternativos onde não há exames e as criancinhas são estimuladas a ser criativas… por isso é que dava ainda mais jeito que houvesse o cheque-ensino, que estava aí na calha e que agora não vai acontecer por causa dos comunas.
Faz lembrar a história dos “pobrezinhos”, que tanta pena lhes deixam… e se não houvesse pobrezinhos?? Que horror, tia!! Então e como é que exercitamos a caridadezinha?
Excelente artigo. Obrigado. O que eu estou mais receoso é sobre como é que vamos lidar com as instituições europeias. Certamente não vai ser fácil mas espero que o PS não volte a sucumbir aos desejos de Schauble. Para não termos de ir a eleições mais cedo.
Esse é sempre o problema mais bicudo.
Só lamento que o PS tenha esquecido de lembrar o sr. Portas acerca do Zé e da Maria, lembram-se?
Presumo que foi obrigado a esquecê-los na altura do “irrevogável”…e depois claro o Zé e a Maria
tiveram que emigrar ou faliram!
Quanto a Bruxelas, esperemos pelas eleições natalícias em Espanha e depois veremos…
Quando nos aproximamos do Primeiro de Dezembro, percebemos cada vez melhor , porque é que a direita que esteve no governo, anulou o feriado da Restauração da Independencia, o 1 de Dezembro. Nessa data os portugueses de então assumiram, que quem devia governar Portugal , eram os portugueses, ora esta direita entende que os portugueses devem ser submissos aos mercados , e á Europa Alemã , e por isso nada melhor que apagar a data.
A viragem aconteceu.
A par das medidas de elementar reequilíbrio social, que haja a necessária e urgente coragem de extinguir a panóplia de empresas municipais, observatórios, institutos e fundações, por onde o principesco acantonamento das clientelas partidárias suga o erário público!
Esta, sim, será a maior e a mais urgente, mais eficaz e moralizadora reforma do Estado, que os quarenta anos de governo do pomposamente chamado “arco da governação” tornou insustentável!
Santos Quim – 12/11/2015
Não creio que o Centro – doravante órfão político neste país – esteja a resvalar para a Direita. O Centro manter-se-á ao Centro onde sempre esteve e como se manteve durante o Governo PSD- CDS do qual foi sempre tão crítico. Se o Centro já não se revê no PSD tal não significa que se reveja num PS que já não se distingue do BE. O Centro não fez então nenhum movimento para a Esquerda. Isso foi pura ilusão do Bloco e do PS que pensou que o tinha acolhido debaixo da sua asa. Espero que o Centro se mantenha ao centro e seja tão crítico do governo Costa como o foi do governo Passos. Muito mal ficaria a sociedade portuguesa se esse centro tão feroz com o PSD e CDS nos últimos anos não o seja com as eventuais asneiradas que vierem a fazer PS, BE e PCP.