Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

18 de Outubro de 2015, 08:32

Por

O futuro do emprego: a tecnologia vai acabar com o trabalho?

A identificação do problema foi feita por muitos: a conjugação de desemprego estrutural com emigração crescente e com transferência de rendimentos do trabalho para o capital é um problema democrático fundamental.

Mas, como muitos leitores têm sugerido a discussão do tema, neste post discuto a mesma questão do ponto de vista do futuro: o que é que vai acontecer ao emprego com o desenvolvimento de novas aplicações tecnológicas? Há soluções ou vamos piorar? Não há uma resposta simples a esta questão. Em estudos recentes, 47% dos empregos nos EUA são considerados sob ameaça de extinção por substituição tecnológica. E em Portugal? Haverá emprego no futuro ou estaremos condenados a um purgatório de dependência das esmolas do Estado?

Talvez neste interregno da formação do governo (qual?), valha a pena tratar de outras questões essenciais.

A crise do emprego não vai ser resolvida, veio para ficar

Analisando a crise do emprego, a OIT publicou um relatório sobre Portugal em que regista três factores de agravamento da crise social: um quinto da população expressa a sua vontade de emigrar; havia então 56% dos desempregados que estão há mais de um ano sem trabalho (e aproximadamente a mesma percentagem que não recebe qualquer apoio); e, ainda, que a reforma de negociação coletiva de 2011 conduziu à degradação da cobertura pelos contratos e portanto à fragilização das relações laborais.

Neste relatório, a OIT apresenta uma simulação do efeito de políticas favoráveis ao emprego, a partir de duas condições: a redução da taxa de juro em 1,5 pontos, para favorecer o investimento, e o desenvolvimento de políticas ativas, muito dirigidas para os jovens e para as famílias em que não há emprego. Segundo esta simulação e nestas condições, seria possível criar 108 mil postos de trabalho até final de 2015 e assim conseguir uma queda do desemprego em 2,3 pontos percentuais.

Ora, a orientação seguida pelo governo Passos-Portas tem sido a contrária, acentuando os factores de redução dos salários e pensões e da procura interna, e estimulando as regras que facilitam o desemprego, excepto quando foi obrigado a fazer o contrário pelo Tribunal Constitucional. Entretanto, o emprego criado é predominantemente precário, ou seja, mais vulnerável a qualquer variação conjuntural.

Quanto emprego vai desaparecer com a computorização?

Temos então uma crise e uma política que acentua a crise. Mas teremos também um problema de sustentabilidade tecnológica do emprego? É o que vamos ver a partir de três estudos recentes e aplicados à realidade da economia norte-americana.

Dois dos artigos procedem a análises históricas sobre a evolução do emprego ao longo das sucessivas revoluções tecnológicas. E perguntam-se se os economistas do século XIX e XX tinham razão ao anteciparem que a sofisticação da tecnologia e das máquinas viria a substituir cada vez mais trabalho humano. Esse era o ponto de vista de David Ricardo (no seu capítulo XXXI dos Princípios de Economia Política e Tributação), de Karl Marx e, mais tarde, de John Maynard Keynes.

pin factoryOra, a estrutura produtiva evolui com a adoção de novas tecnologias ou formas de organização e, por isso, a aplicação de trabalho humano varia muito ao longo dos tempos: na imagem reproduz-se uma fábrica de alfinetes, como aquela a que se teria referido Adam Smith no seu livro de 1776, o Inquérito sobre a Riqueza das Nações: hoje esta fábrica seria igual? Mas, se for diferente, como certamente será, o que é que mudou?

Lawrence Katz (Universidade de Harvard, economia) e Robert Margo (Universidade de Boston, economia) fizeram uma investigação histórica sobre a relação entre as qualificações dos trabalhadores e as vagas de novas tecnologias para poder quantificar esses efeitos. A hipótese tradicionalmente aceite era que no século XIX, com a revolução industrial, a evolução tecnológica teria favorecido o emprego de trabalhadores menos qualificados como operadores dos equipamentos, ao contrário do que se teria passado a partir desse período. Mas os autores tiram a conclusão contrária: apesar do desaparecimento dos artesãos (qualificados) com a industrialização, foram sendo necessários outros trabalhadores qualificados, além dos operadores das máquinas, para serem afectos a funções mais sofisticadas fora da linha de produção, o que conduziu a um importante e persistente aumento de emprego qualificado. Essa seria a base histórica da criação do que se veio a chamar mais recentemente de “classe média”, nos EUA e noutros países.

No livro que escrevi com Chris Freeman, “As Time Goes By” (na tradução portuguesa, “Crises e Ciclos no Capitalismo Global”, Afrontamento, 2009), esses processos são analisados no mesmo sentido.

O segundo artigo é de David Autor (MIT, economia) e David Dorn (CEMFI, Madrid) e foi publicado na American Economic Review em 2013. Os autores estudam unicamente o crescimento do trabalho pouco qualificado entre 1980 e 2005, para verificarem a tese que afirma que o aumento da desigualdade salarial estará relacionado com a mudança tecnológica que favorece as qualificações. Mas a sua conclusão é surpreendente: ao passo que durante os vinte e cinco anos o emprego e os salários de trabalhadores pouco qualificados se têm vindo a degradar, o mesmo não acontece com os trabalhadores dos serviços. A parte destes trabalhadores entre os empregados que não têm formação universitária aumentou muito, mais de 50%. E cresceram os seus salários. Numa palavra, recuperaram poder contratual mesmo durante o período de redução do crescimento e das recessões dos anos oitenta e noventa.

A interpretação destes autores é que a computorização substituiu por máquinas os trabalhadores com tarefas rotineiras e que a rápida redução do preço da tecnologia computacional estimulou essa substituição. Por isso, os trabalhadores terão passado para os serviços, que são mais difíceis de automatizar e onde teriam encontrado cada vez mais empregos.

O último destes artigos é de Carl Frey (Universidade de Oxford, filosofia) e de Michael Osborne (Universidade de Oxford, engenharia) e estuda a persistência ocupacional desses serviços. E é aqui que a porca torce o rabo. Os autores estudam 702 profissões e o impacto previsível que a computorização pode ter no número de postos de trabalho, para concluírem que 47% dos empregos estão em risco, isto é, têm grande probabilidade de serem extintos nas próximas duas décadas.

Para chegarem a esta conclusão, Frey e Osborne distinguem os trabalhos que são intensivos em atividades rotineiras dos que exigem mais criação, e são portanto mais difíceis de conduzir por uma máquina com um algoritmo mesmo que sofisticado. Para isso, dão o exemplo do sucesso da Google em 2010, quanto conseguiu aplicar em Toyotas Prius um processo de condução totalmente automatizado, sem condutor (os estados norte-americanos da Califórnia e Nevada estão atualmente a alterar a legislação para permitirem automóveis sem condutor). Apesar do grande número de factores envolvido em cada decisão na condução de um automóvel, a Google conseguiu reduzir esse processo a rotinas e aprendizagens (o que não quer dizer que o carro automático esteja disponível comercialmente a curto prazo). Mas essa capacidade não se aplica (ainda) em casos muito mais complexos com grande intensidade cognitiva.

Se conjugarmos esta análise com a de Autor e Dorn, então deduzimos que são precisamente os serviços onde mais aumentou o emprego para trabalhadores pouco qualificados que estão agora em risco com a computorização. Os exemplos das suas listagens de profissões com 99% de probabilidade de perderem grande parte do emprego são os operadores de telemarketing, os reparadores de relógios, os processadores de fotografias, os bibliotecários, os processadores de seguros, os agentes de cargas e fretes, os analistas de crédito, os motoristas, secretárias, operadores de rádio, operadores de telefone, vendedores, inspetores fiscais, analistas de orçamentos, técnicos em geologia e petróleo, cozinheiros, empregados de mesa, pedreiros, técnicos de equipamentos celulares, joalheiros, tratadores de animais e muitos outros. Por outras palavras, a qualificação será a base do emprego, mas só no caso de algumas qualificações.

Portugal em risco

É certo que, em Portugal, a redução dos salários desincentiva a curto prazo esta substituição de trabalho por processamentos computacionais. Para a redução de custos das empresas, atacar o salário é sempre uma vantagem. Mas a margem é muito estreita e essa vaga de alterações tecnológicas chegará em pouco tempo. Teremos assim uma dupla crise: a do desemprego criado pela destruição salarial e pelas regras facilitistas, e a do desemprego criado pelo reajustamentos dos processos produtivos e de gestão de serviços.

Sendo Portugal um dos países com menores qualificações da força de trabalho, esse desincentivo é evidente. No relatório do Conselho Nacional de Educação esses dados são evidentes nas comparações de níveis de qualificação em 2011: a parte da população que atingiu pelo menos o 12º ano é em Portugal de 31,9% (Espanha 52,6% e UE27 72,7%) e a que terminou o ensino superior é em Portugal de 15,4% (Espanha 30,7% e UE27 25,7%). Os salários são mais baixos e o trabalho é portanto mais barato.

Nesse sentido, a evidência demonstra que também nos sectores mais qualificados tem aumentado o desemprego.

Assim, nesta era da austeridade, são os diplomados do ensino superior que sofreram as maiores quebras de emprego em 2012 e 2013. Mais uma vez, isso demonstra que a procura de redução de custos com salários se concentra nos sectores mais bem pagos, ou que poderiam vir a ser mais bem pagos. Como muitos desses desempregados emigraram, temos então uma dupla armadilha. Em primeiro lugar, a redução de salários e o desemprego dos trabalhadores mais qualificados provoca perda de capacidade, emigração e exclusão do trabalho. Em segundo lugar, esta situação cria menos incentivos para a qualificação de quem chega à idade de estudar e trabalhar. Ou seja, perdem-se as qualificações existentes e perdem-se as qualificações futuras. Por outro lado, a evolução tecnológica sugere que no futuro próximo se vão perder muitos empregos em profissões rotinizadas de baixa qualificação.

Em analogia com os estudos atrás citados, o risco de um processo de substituição de trabalho pode abranger mais de 50% dos trabalhadores nos sectores mais vulneráveis (serviços financeiros, energia, consultoria, comércio, armazenamento, distribuição, educação e outros). Mesmo que o resultado não seja uma computorização tão extensa como a referida pelos estudos para os EUA, não deixa de ser uma ameaça imensa. A ela soma-se ainda a situação corrente da austeridade: há um grande número de empregos em trabalhos por conta própria, que dependem da procura interna e são por isso a primeira fronteira da austeridade. Eles também estão a desaparecer em grande velocidade.

Por outras palavras, com austeridade não teremos medidas ativas para o emprego. E com a combinação entre autoridade tecnológica e submissão social teremos um regime apontado para viver na base de desemprego de massas, permanente e sem apoio. Não conhecemos nenhuma democracia assim. Mais vale prepararmo-nos para nos subjugarmos a este regime autoritário ou para viver para lutar contra ele, e para o vencer.

Comentários

    1. Eu sempre que posso atiro lixo para o chão, para dar emprego aos trabalhadores do lixo. Já viram o que seria uma sociedade onde as ruas estivessem limpas? A quantidade de desemprego! De vez em quando também ateio uns fogos para dar emprego aos bombeiros, gente honrada com mulher e filhos para sustentar. Como cidadão consciencioso, crio também desacatos públicos com frequência para dar emprego à polícia e diversos trabalhadores judiciais. O grande problema começou quando os elevadores deixaram de necessitar 24h por dia de um ascensorista profissional, um técnico acreditado e certificado para operar um elevador. A insegurança aumentou e o desemprego foi uma tragédia. Agora vêm com mais esta ideia peregrina, de colocar automóveis sem condutores. Estes progressistas só trouxeram miséria e desemprego!

  1. Não resisto em partilhar aqui uma pequena história:

    Um primo de um tal Arquimedes decidiu visitar o seu SENHOR para lhe apresentar a sua última invenção: uma grua para içar pedras e colunas.
    O FAQUIR após um breve instante de reflexão, exclamou: Génio irresponsável, bem me saíste! Com esta máquina de erguer palácios, quem acudirá o meu povo, condenado a definhar do desemprego?!…
    A que o Inventor responde: Meu adorado Amo, ora medite: Esta técnologia não come trigo! O povo não terá privação!

    O Rei voltou a cogitar. E pareceu recuperar as suas rosadas cores.

    Bem. Querem saber do final? Olhem à vossa volta. O Rei, embalado com a ideia, pôs-se a construir palácios enquanto lhe crescia a soberba. Depois, foi preciso decorá-los com lindos cetins e marfins, pérolas e ouro. Depois foi preciso contratar exércitos para vigiar todo aquele tesouro, e armamento, e umas guerras “preventivas” porque não, questão de acalmar invejas e cobiças, e rentabilizar o investimento…Enfim, todo o trigo do reino tinha sido gasto, desviado, delapidado..

    No dia seguinte, veio o Senhor ao varandim, com ar grave e compadecido, explicar ao seu povo escanzelado, que nada havia a fazer contra o desemprego. Que era tudo culta da amaldiçoada tecnologia.

    Na multidão, ouviu-se uma voz.: “Lá isso é bem verdade! Escravos sem pão ainda vá, mas sem trabalho é que não! Contra o desemprego só vejo uma solução: que se decrete já o Trabalho obrigatório.” Exclamou um primo afastado de uma figura eminente do nosso tempo.

  2. Realidade identificada, solução tem de ser equacionada, rendimento Básico incondicional universal ou renda cidadã (RBI ).
    Cada cidadão não deve depender do trabalho para uma sobrevivência digna. O salário sempre a adicionar ao RBI. Ex. 420€ para todo o cidadão com mais de 18 anos e legal em Portugal, sem qualquer condição, e para todos.

    1. O Francisco Louçã não quer o Rendimento Básico Incondicional nem mesmo num cenário de desemprego em massa que tenderá a tornar-se realidade. Mas o que propõe em contrapartida?
      Que as pessoas continuem a ter de se expôr a situações perigosas e degradantes só para poderem sobreviver?
      Que vivam da caridade e de apoios condicionais que estão permanentemente a serem atacados e de acesso cada vez mais restrito?
      Que se empreguem umas às outras por comiseração e mesmo sem terem um cêntimo para pagar?

      Mais importante do que isso, deixe-me perguntar-lhe: Porque é que eu tenho de trabalhar 8h por dia, 5 dias por semana ou ainda mais, só para ter comida na mesa quando o meu esforço não é realmente necessário e quando eu poderia em vez disso estar a fazer coisas que me interessam mais mesmo não sendo remuneradas?

      Ficam as questões.

    2. Com o Estado Social a passar por sérios problemas de sustentabilidade financeira, gostaria de saber quem financiaria o RBI? Diga-me algo caro António, como explica que haja mais automóveis que pessoas com trabalho? Faço-lhe uma pergunta o mais honesta possível: considera a posse de automóvel um elemento “básico” para a cidadania que o Estado deva apoiar? Essa proposta, teria outro problema, as empresas e o patronato usá-la-iam para explorar o Estado, como já acontece em grande medida com os estágios financiados, promovendo a precariedade.

  3. Vou evitar ser denso e prolongado. A tecnologia não é nem nunca foi um “papão”. Pelo contrário, tem sido o que nos tem feito sobreviver e evoluir como seres humanos ao longo das eras – sem excepções.
    Desde o final da segunda guerra, começamos a deixar a era industrial para entrarmos num novo paradigma. Toda a sociedade é, de facto, muito diferente e se-lo-à mais ainda pois felizmente existem milhares de novas aplicações tecnológicas em desenvolvimento que alterarão as nossas vidas e a forma como nos relacionamos uns com os outros.
    Nestes períodos intermédios, a adaptação costuma fazer-se de uma forma mais lenta até se chegar ao ponto de maturação, de adaptação. Isso não implicará necessariamente a perda em massa de emprego. Significa antes a migração de funções para outras, novas, diferentes. O processo é demorado mas certo.
    Numa sociedade tradicionalmente resistente à tecnologia e à inovação como a nossa, somos confrontados com o grave problema da cristalização e subsequente decadência.
    Num pequeno país como este, com bastantes recursos naturais (ao contrário do que nos têm tentado “vender”, estamos muito longe de sermos um país pobre em recursos), temos todas as condições para conseguirmos produzir mais e melhor – se utilizarmos mais e melhor tecnologia. A tecnologia, nos dias de hoje, faz toda a diferença. Quando nos dizem que produzimos pouco tenho de concordar – usamos pouca tecnologia e trabalhamos horas a mais. Com melhor tecnologia, podemos render o dobro, o triplo ou mais ainda.
    Depois, para além de resistirmos à tecnologia, a nossa capacidade para exportar o que fazemos é muito limitada. Em suma, perdemos a nossa vocação comercial ultramaritima. Depois, a nossa capacidade de inovação tecnológica tem sido baixa. A nossa indústria é globalmente rudimentar e com pouca tecnologia. Provavelmente, o nosso problema é termos tecnologia a menos. Honestamente, espero que a adopção da IoT seja mais rápida porque as estatisticas da utilização de internet e e-comerce nas nossas empresas é muito baixa. A internet aberta já tem mais de 20 anos. Não é novidade nenhuma mas por vezes ainda se fala dela como se tivesse sido inventada ontem. Não pode ser. Temos de estar sempre na vanguarda tecnológica – sempre na linha da frente. A bem da nossa própria sobrevivência como país. O emprego readapta-se. Se o colaborador introduzia dados, passa a fazer blogs ou posts ou e-marketing ou qualquer outra coisa nova. A tecnologia abre sempre novas oportunidades. Sempre. Resistir à tecnologia é muito perigoso. Nos tempos que correm, é absolutamente mortal. Se-lo-à cada vez mais mortal pois o desenvolvimento só terá, felizmente, tendência para acelerar. E não é preciso ter medo nenhum disso. As máquinas vão substituir trabalho perigoso, trabalho repetitivo ou pouco qualificado. Mas a mao-de-obra é flexível e adaptável se reciclada com novas competências. A inovação é sempre uma oportunidade e nunca um problema. Nunca é um problema. É sempre uma oportunidade.

    1. Tem razão, na minha opinião, num ponto essencial: a tecnologia é sempre uma utilização e uma escolha humana e social.

    2. Não é verdade, onde antes existiam 1000 operadores fabris, hoje existem meia dúzia de engenheiros para fazer manutenção das máquinas. Os outros 994 são entregues à sua sorte.

    3. O Francisco Louça vai-me desculpar que discorde, mais uma vez, da sua opinião. Segundo Jacques Ellul, que terá dito praticamente tudo o que havia a dizer sobre tecnologia, os seus segredos, os seus valores e sobretudo o veneno que lança no comportamento humano, a tecnologia é um “sistema” e não uma ferramenta. Pelo que não temos meio de evitá-la, ela está por todo o lado, somos constrangidos por ela e subordinados às suas determinações e consequências. Experimente alugar um carro, comprar um bilhete da avião, comprar algo com uma nota de 500euros… se não tiver um cartão de débito ou crédito fica empanado. Na rua o que vê? Tecnologia por todo o lado, automóveis, painéis digitais de informação, radares e controlo de tráfego electrónico, até as casas de banho publicas já são chamadas de elevador e têm lavagem automática. Será que continuara a afirmar que a tecnologia é uma opção humana e social?

  4. Nenhum dos economistas que o artigo cita preve que o progresso tecnologico leve ao “desemprego de massas”. Citar estes estudos para dar credibilidade as suas opinioes e pouco honesto.

  5. Conto ao Dr. Louçã a minha experiência profissional. Já trabalhei como eletricista na construção civil, emprego que as máquinas computacionais nem num futuro longínquo tenderão provavelmente a substituir, porque se trata de um emprego in-locco que exige uma técnica intelectual e manual; mas já trabalhei também para uma grande empresa portuguesa de comunicações, na área dos serviços, cuja única tarefa era digitar números num teclado, após visualização num ecrã. Entretanto saí, pois achei o trabalho tão entediante e intelectualmente limitado; mas sei que a maioria das pessoas desse tipo de trabalho foi despedida devido a uma simples invenção computacional de processamento de imagem: OCR, algo que o Dr. Louçã pode utilizar gratuitamente na web. Embora esteja sensível à questão do desemprego, dececiona-me bastante a ideia que tem sobre o trabalho, pois minora o intelecto do ser humano como elemento produtivo, mesmo que artesão qualificado. Uma forma simples, nesse encadeamento lógico, de findar com o emprego (a minha ideia favorita) era que o governo decretasse que cada elevador seria obrigado a dispor permanentemente de ascensorista, e que cada porta fosse obrigada a ter permanentemente um porteiro. Garanto-lhe Dr. Louçã, que o desemprego do país ficaria sanado, mas tornaríamos o país melhor? A solução no meu entender, para o desemprego, algo que já se pratica com algum sucesso na Holanda, é redução do horário de trabalho semanal, para quem tem emprego, para que mais vagas abram para quem está desempregado. Mas sem demagogias: ou seja, com o respetivo corte salarial. Por hipótese, se o Estado passasse todos os funcionários públicos a part-time, podia contratar o dobro dos funcionários. Uns ganhariam metade, mas outros passariam de zero, ou muito pouco, para algo razoável. Não é isto solidariedade intra-geracional?

    1. Está correcto até à parte em que diz que não é eficiente, nem desejável manter empregos que são inúteis.

      Por outro lado tem noção que +/- 60% da população activa recebe 500 euros ou menos. Ou seja o que voce está a sugerir é que este país passe a ser composto por 60% que recebem 250 ou menos.
      http://www.portugal.gov.pt/media/1348545/orcamento%20cidadao.pdf Estou a assumir que uma “familia” tem 2 ou mais elementos.
      Parece-lhe que isso é um país onde qualquer empresa que não seja de bens ditos “essenciais” sobreviva?

      Sabe que a principal fonte de receita do estado é IRC e IVA, imagina o que acontece aos rendimentos do estado com uma população adequada ao seu modelo? Não é possível ter um estado social, ou seja, um estado que providencia serviços como saúde, educação etc com o modelo que sugere. Bom, sem fazer uma reforma fiscal brutal.

      Ainda não li nenhuma solução que me parecesse viável, mas parece-me que se se quiser manter o principio da liberdade dos actores económicos, num modelo onde os bens essenciais praticamente não necessitam de mão de obra, só podem ser consumidos em massa se forem comprados por pessoas que trabalham num mercado secundário.. mas para esse mercado ser viável, necessita de compradores e para as pessoas consumirem nesse mercado, têm de ter capacidade financeira para o fazer, o que implica que ganhem um excedente em relação ao custo dos bens “essenciais”.

      A alternativa é um mar de “sobreviventes”.. com umas ilhas de luxo no meio. Acho que uma civilização que lançou uma sonda que viajou nove anos no espaço para aterrar num cometa, consegue melhor.

    2. A maior receita fiscal neste momento é o IRS e o IVA, não o IRC. A sua questão está vista de um prisma sofista, porque metade de todos os desempregados nem sequer recebe nada. Metade das despesas de um trabalhador médio, segundo o autocustos.pt, vão direitinhas para o automóvel. Venda-se o carro, e passemos a andar de transportes públicos e a folga orçamental sobe bastante. Demoraremos mais tempo? Nem sempre, mas mesmo que o seja, também trabalharemos menos horas ou menos dias! Contas todas aqui: http://www.veraveritas.eu/2012/08/bicicleta-duas-vezes-mais-rapida-que-o.html

      Como explica, que com os salários que menciona, haja neste momento em Portugal mais carros que pessoas com emprego, tendo o automóvel um custo médio total de 320€ por mês? Vivemos numa sociedade em alta velocidade, precisamos de trabalhar menos horas, mas para isso, temos de consumir menos, e para isso a austeridade tem tido um papel importante de frugalidade no consumo, tenho pena que a esquerda não o veja.

      Um desempregado não paga IRS, nem tem muito dinheiro para dar IVA ao estado. Um empregado a oito horas por dia, paga tanto ou menos ao Estado, que dois empregados a 4 horas por dia, quer em IVA, quer em IRS, e não me parece que a empresa lucre menos dois empregados, do que apenas com um (IRC). Relembro que a TSU é percentual. Logo, a questão da receita fiscal que menciona também é um sofisma.

    3. Mais um sofisma do seu argumentário caro “h”. A tecnologia permite em abstrato, produzir todos esses bens “essenciais” a que se refere a preços extremamente baixos, aliás, no meu entender até demasiadamente baixos (no supermercado até já há frangos inteiros de aviário a cerca de 1€, cujo valor não reflete os problemas ambientais subjacentes). Os bens essenciais, tirando algumas exceções devido a “esquemas” com o Estado, como a eletricidade; estão até razoavelmente baixos. O problema é aquilo que as sociedades de consumo consideram como “essencial”, e o meu caso favorito é o automóvel e para tal basta ver as diversas taxas de motorização do país e ter em consideração que mesmo no primeiro quintil de rendimentos (ou seja, as pessoas com rendimentos mesmo muito baixos, ou seja salário mínimo) há metade das pessoas que tem carro (INE, Censos 2011).

      A tecnocarcia dita, que a tecnologia pode produzir os bens essenciais a preços mesmo muito baixos, e depois o não essencial pode tomar valores bem mais altos. As pessoas devem, mesmo em adultas, nunca perder o sentido de formação pessoal e tecnológica, e trabalhar em empregos tendencialmente mais intelectuais e menos maquinais; e menos horas por dia, para que se finde o desemprego.

  6. Demorou um pouco, mas o Louçã chegou à conclusão certa. O problema está identificado. Parabéns. Estou esperançado que não demore outro tanto para chegar à solução certa. Porque o comum dos mortais já entendeu que não é a desmantelar as máquinas à cacetada (como ocorreu com os teares mecânicos das linhas texteis britânicas em séculos idos) e lá colocar homens “maquinizados” e voltarmos à idade das trevas só para salvar o “emprego” que devemos proteger num ímpeto religioso e irracional a todo o preço desse papão que é a tecnologia. Não. Os papões já os conhecemos. São frios mas não são máquinas.

    Que se salve a liberdade, dignidade e criatividade humana, sim, e nesse ponto, a tecnologia é a nossa principal aliada se os seus valiosos benefícios deixarem de ser usurpados por uma fina elite. Ai reside o problema. E a solução é esta: O tão almejado nível tecnológico deve beneficiar todos. E deverá libertar o homem da sua condição de besta de trabalho. Se os Louçãs ajudarem levará menos tempo.

    1. Um problema bem diagnosticado é meia solução. O Louçã tardou a entender a grandeza da mudança que se anuncia, a julgar pelas medidas tradicionalistas que defendia bem mais amenas e amigas do atual sistema que este seu ultimo apelo alarmado deixa transparecer). É a sensação com que fico e partilho-a aqui. Só será um monólogo se me deixar sem resposta.

      Professor Louçã, já conversámos antes sobre esta matéria ( e sobre o RBI como uma via de solução) e continuo disponível para dialogar. Porem nada mais posso fazer pela parte que lhe diz respeito. Admiro muito a disponibilidade (formal?) que demonstrou até aqui.

      Talvez sim, tenha falado pelos dois. Mas o modo prudente e lacónico como o Louçã alude à solução que preconiza, dá largas a isso. Portanto, para bem da clareza de ideias, ora deixe cá adivinhar: (sinta-se livre para me corrigir).

      A SOCIEDADE DO TRABALHO OBRIGATÓRIO (na putativa versão da minha pessoa (Francisco Louçã))

      1-O desemprego tecnológico é de dimensões globais
      2-Afetará o modo como as pessoas trabalham e ganham a sua vida
      3-Novas regras portanto se impõem.
      4-Eu (Louçã) proponho algumas (ou todas):
      5-Uma “entidade” deve decretar que nível tecnológico é desejável
      6-Esse nível deve permitir que todos trabalhem para merecimento do pão e da dignidade.
      7-Mesmo se, para tal, tenha que fazer trabalho que máquinas gratuitamente fariam por si (isso seria facilitismo).
      8-Essa “entidade” central (“complicadista”) determinará assim quem fará o quê, onde, em que horário, na produção de quê, e com que tecnologia (terá de se escolher o século, já que a tecnologia de sempre acompanhou o homem).
      9-Ficaria portanto estipulado que ser ÚTIL à sociedade (a ESTA visão de sociedade, claro) prevalece sobre o direito à felicidade e realização individual e ao livre arbitrio. (Quanto às ideias de cada um logo se decidirá o que fazer com isso)
      10-Esta NOVA ORDEM prevalece sobre a variedade intrínseca dos indivíduos: aspirações, sensibilidades, projetos, afinidades, competências, crenças, ambições, relações familiares, etc.
      11-Uma força policial será constituída afim de conter todos os ímpetos individualistas e comportamentos desviantes e diferenciados, garantindo a homogeneidade desta massa a favor da “coesão social”.
      12-Uma Secretaria Central deve desdobrar-se numa nomenclatura descomunal para policiar/administrar esta disciplina programática substanciada na distribuição do trabalho, da produção e do lazer.
      13-Sempre na dialética materialista e produtivista numa visão redutora e UTILITÁRIA do homem, fingir-se-à discutir coisas como: Qual arte é bela? Quem fará os trabalhos degradantes? Quem decide o que é socialmente útil, como lidar com os descontentes, inconformados, inadaptados, incapacitados, objetores de consciência, insubmissos, contestatários, infelizes, libertários, desobedientes, artistas, crentes, ciganos, capitalistas, ideólogos…enfim, toda essa amalgama que é a intrínseca natureza humana.
      14-Uma forte MÃO REPRESSIVA deve vigiar aquele que, movido por ambições/capacidades pessoais, pretenda trabalhar (ao negro) mais que o que lhe é concedido.
      15-No oposto, a RENÛNCIA de trabalho é um acto ANTI-SOCIAL subversivo e de insubordinação.
      16-A sociedade no seu todo parecer-se-à com uma bela NAÇÃO FABRIL de cidadãos-operários lindamente fardados como a era industrial nunca produziu (não obstante o rol de tentativas fracassadas).
      17-À classe de patrões de topo dessa MEGAESTRUTURA, (diretores, gestores, administradores), poder-se-à arranjar um nome mais afável como “comité” e “camaradas”, ou outras designações que façam esquecer os guarda-corpos.
      18-Uma economia paralela a esta economia planificada tratará de reabilitar o CAPITALISMO INDUSTRIAL CLANDESTINO. Mas desde já que fique claro que isso é terrorismo propagandista. Uma mentira do inimigo.
      19-É óbvio que a religião será banida, como qualquer outra expressão da fé, da ciência, ou do pensamento que possa rivalizar o Poder Central.
      20-Não obstante, criar-se-à uma nova religião (sem nunca o assumir, no entanto) que aguardará a vinda do seu soberano divino: preparar-se-a, no vértice desta dantesca estrutura piramidal, o sacro-santo TRONO daquele AMIGO DO POVO (ou déspota, como calhar a sorte) que o irá ocupar. Também, para salvar as aparências, poderá ser apelidado de “O” CAMARADA. ou o GRANDE IRMÃO para disfarçar distancias. Será idolatrado como um Jesus, o Cristo, o Super-homem, o Alfa, o Pastor, o Salvador, o Redentor, o Pai, o Anunciado, o Iluminado…e numa vasta onda de fervor e paixão, de devoção e temor, será idolatrado. Pintar-se-à o seu retrato nos muros, nas empenhas, nas frontarias e nas fachadas, num assombramento de CULTO DA PERSONALIDADE, num mundo IMPESSOAL.

      Tal é o sonho destas AURORAS CANTANTES de felicidade decretada. Certo, nunca vi (eu Louçã) uma multidão fardada feliz. Mas garanto-vos que lá funcionar funciona! Até o muro ruir.

      Pronto. Espero que esta “confissão ficcionada” mereça mais que o epíteto de “monologo”. Convido o Louçã a “entrar no jogo” e clarificar o que lhe vai na alma. Ponto a ponto seria bestial. Se o fizer, prometo que, eu em retorno, farei a “confissão” ponto a ponto também, do que vai na alma do projeto RBI (Rendimento Básico Incondicional), como o que poderá ser a via de SOLUÇÃO e que tem vindo a conquistar milhares de inteligências e de corações em todo o planeta. Assim, teríamos uma base sã de dialogo. O mais importante é conseguirmos destruir os pressupostos e pensar juntos.

      Sempre respeitosamente, Carlos Teixeira.

  7. O título completo da obra que referiu de Adam Smith – A Riqueza das Nações – é como sabe:
    “Inquérito sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”. Um longo… título.

    Gostei de ler o seu texto. Pena que não tenha referido Stephen Hawking quando recentemente alertou para os riscos de
    não sermos capazes de impedir desigulades cada vez maiores. Sempre era mais uma voz a falar mais alto.

    É importante caminhar cada vez mais no sentido da democracia directa ou líquida.
    Eu acredito que cada vez mais as bases de dados dos Registos e Notariado, tuteladas pelo Ministério da Justiça, deverão ser
    cada vez mais de acesso livre, público e baseadas na tecnologia de ‘blockchain’.
    Cada vez mais devemos caminhar no sentito de uma sociedade cusca onde tuto está alerta e o mais informado possível,
    no sentido de proporcionar o bem estar comum.
    Por isso defendo veementemente o uso de detectores de mentira em todas as zonas de passagem com segurança e a transparência
    total da localização no espaço e no tempo de tudo o que move e varia.
    É absurdo que tendo nas nossas mãos tecnologias tão valiosas como o GPS e o telemóvel ainda haja crianças e adultos que são
    raptados, escravatura sexual, abuso animal, sadismo mórbido, crimes violentos, etc.
    É uma realidade à qual de todo em todo não sou alheio e que procuro por todos os meios resolver. E que, sem o uso de sofisticados
    sistemas de segurança que já existem (mas precisam ser usados!), não conseguiremos resolver.
    Já tenho escrito sobre isso. E continuarei a escrever!

    Cada vez mais temos que alertar as consciências para o imperativo de um Rendimento Básico Incondicional.

    Só essa consciência, permitirá alguma coisa, quando as desigualdades do Capitalismo, tão bem descritas por Marshall Brain nos seus livros online em forma de blogue: “The Robotic Nation”. E mais recentemente com outras reveladoras publicações, mais atuais, está claro.

    #basicincome

    Nota: Não tenho site mas às vezes escrevo no portal: http://www.bomdia.eu

  8. Creio que este “post” toca num ponto essencial das sociedades modernas. E contribui para desmascarar um dos maiores embustes da direita: a de que, ultrapassados os constrangimentos ditados pela “crise da divida” o(s) país(ses) vai (ou vão) começar a crescer e o desemptrego começará a desaparecer. Só que tal esbarra na realidade. Exemplos: a Polónia, o tal país apontado como “exemplar” de todos os liberais da nossa praça (a começar pelo inefável John Swordfish, mais conhecido pelo “Churchill da Reboleira”…) que “não tendo conhecido a recessão” continua com uma taxa de desemprego bastante elevada. E da Turquia que, apresentando um crescimento médio de cerca de 6% do PIB na última década vai pelo mesmo caminho. E a China? Já ouvi dizer que, por cada 10% de crescimento do PIB os postos de trabalho crescem apenas 1% (daí o terror em que vivem os dirigentes chineses com o atual “abrandamento”). Ou seja não se está a criar emprego em lado nenhum!
    Mas não é o único embuste dos PaFs de serviço: é conhecida a afirmação, repetida a cada passo, de que o emprego “não se cria por decreto” e que “só o setor privado o pode criar”. Mentira! Quase toda a criação de emprego resulta da ação direta ou indireta do Estado. na China, na Noruega, na Alemanha, nos EUA, no Japão…na União Europeia, em Portugal (estágios, subsídios encapotados, “programas de ocupação”, etc. etc. etc.
    Durante muitos anos os liberalóides de serviço propagaram a falácia segundo a qual o “cada vez mais racional emprego de recursos” iria gerar prosperidade e emprego. Mas o que estamos a assistir é que é a irracionalidade que cria mais emprego! Provas? Sim. Quem são os maiores empregadosres do nosso país? São empresas de…segurança! Ou seja, a insegurança cria emprego! Por isso há pessoas a quem interessa que a insegurança se mantenha! Inventar um medicamento que cure uma doença grave pode ser perigoso para o emprego de muita gente! Produzir “energia limpa” pode matar muito emprego! E a indústria de armamento? Vive de quê? Enquanto deixarmos que estes “mercados” se desenvolvam, e só um Estado interventivo e legitimado o pode impedir, caminhamos para a inevitável desgraça!

  9. Caro Francisco, será preciso demonstrar que “lutar contra ele e vencê-lo” passa pela criação de emprego, o que me parece uma tarefa sisífica, inevitavelmente condenada ao fracasso – e aí estão os factos que apresenta a demonstrá-lo. Realisticamente, não iremos além da reivindicação do direito a sermos assalatiados e, sobretudo, consumidores felizes. A receita dos chamados “trinta gloriosos” não se repetirá, apesar de ter deixado as sementes da servidão voluntária.Como sempre tenho argumentado, a fantasia do “crescimento e emprego” tem-se revelado transversal aos discursos da esquerda e da direita, variando apenas nos condimentos, mas já sabemos que não há recursos capazes de sustentar a continuidade do processo de acumulação capitalista. É preciso, portanto, mudar radicalmente. Romper com o dogma da Imaculada Escassez que aprendemos no maldito livro azul e com a teologia dos mercados. Urgente é distribuir e promover a igualdade e a gratuidade. Revolucionário é defender o decrescimento e o direito essencial de cidadanial materializado num rendimento que erradique a miséria; saúde e educação gratuitas e rendimento básico universal.

    1. Recomendo-lhe que venda a máquina de lavar roupa que tem em casa, e que contrate uma empregada para as respetivas tarefas. Reflitamos um pouco. O problema não é a tecnologia, o problema e a solução estão na Política!

    2. Ora, ora. Peço desculpa mas vou fazer só mais um bocadinho de demagogia. É que ninguém se vai livrar de uma máquina que lhe lava a roupa em qualquer altura do dia e o faz em apenas 2 horas e contratar uma pessoa para a respectiva função que leva mais tempo, nem sempre está disponível e se calhar até lhe cobra mais. Já agora também sugeres que o Óscar compre um tanque de lavar? Ou serão estas intervenções apenas um grande sarcasmo?

    3. Caro Nuno, vai ao busílis da questão. A tecnologia, para trabalhos rotineiros e monótonos, permite maior produtividade a preços mais baixos. Abolir a tecnologia em nome do “emprego” é adotar o modelo de desenvolvimento de alguns países da Ásia, assente em baixos salários e pouco valor acrescentado.

  10. Resumindo, longe das previsões otimistas de Lord Keynes, uma sociedade cada vez mais automatizada não se traduzirá num aumento de bem-estar e numa redução das horas de trabalho, mas sim no desemprego em massa. Os otimistas de costela ‘schumpeteriana’ dirão que este processo gerará, como no passado, novos nichos económicos que criarão mais emprego. Como referi aqui atrasado, os dados de que dispomos relativamente à estagnação da produtividade (já sei que prometeu um artigo a este respeito) parecem indicar o contrário. O mesmo parece derivar dos estudos de Piketty, ou seja uma sociedade em que a taxa de retorno do capital é superior à (baixa) taxa de crescimento global da Economia, o que concentra mais e mais a riqueza nas mãos de uma minoria. Ou seja, uma nova ‘Guilded Age’ (mas de baixo crescimento) parece estar a desenhar-se. Não espanta pois que um dia Passos Coelho tenha referido Singapura como modelo a seguir, é lá e não nos EUA, onde apesar da natureza plutocrática do seu sistema político, há ainda mecanismos de resistência devido à liberdade política, que podemos ver o futuro espelhado, se estes senhores levarem a sua avante…

    1. O que a esquerda não compreende, é que paradoxalmente a solução é a frugalidade, austeridade e consumir menos, para que ao se gastar menos, possamos reduzir o horário de trabalho, sem perda de dividendos para o empregador. Eu sou favorável à redução do horário de trabalho, mas com o respeito corte salarial. Não tem lógica que, por hipótese, haja metade da população ativa empregada oito horas por dia, e outra metade desempregada. E porque não todos com 4 horas por dia? Ganhariam menos? Claro, mas caso fosse a 60% trabalhariam apenas de segunda a quarta, e poupariam por exemplo em mobilidade 2/5, um dos grandes custos das famílias.

    2. João Ferreira, portanto, na tua opinião a população devia começar a viver na rua e comer comida de cão 1 única vez por dia e sem carne para que o empregador não perca dividendos. Ok, começa tu então.

    3. Caro Nuno. Não foi isso que eu disse, e a sua demagogia histérica, demonstra-o. O que disse é que não alinho na demagogia que devemos reduzir o horário de trabalho, com o mesmo salário, porque isso na prática, é aumento salarial; da mesma forma que foi corte salarial na função pública, quando o governo aumentou o horário de trabalho para os funcionários públicos de 35 para 40 horas, sem o respetivo aumento salarial. Por isso, é muito comum em países como a Holanda, mesmo com contrato de trabalho sem termo, por conta de outrem, mencionar-se o salário à hora e não ao mês. O facto de não o fazermos em Portugal, como também não se menciona o salário bruto, mencionando-se quase sempre “o limpo”, revela a iliteracia financeira da maioria dos trabalhadores em Portugal. E não faça ataques se não me conhece, pois eu sou um grande defensor do Estado Social, uma grande conquista de Abril.

    4. João Ferreira.

      Deixa-me lá fazer mais um pouco de demagogia. Portanto se bem percebi tu não és contra as pessoas não terem dinheiro para pagar as suas necessidades básicas visto que para ti a solução “é a austeridade e consumir menos”. És simplesmente contra aumentar salários porque é uma “demagogia histérica”. OK.

      Também não pareces perceber que a ideia do estado social é precisamente garantir que as pessoas possam “consumir” pelo menos o básico. No entanto dizes que és um “grande defensor do estado social que é uma grande conquista de Abril”. Confere.

      Não sei o que é os contratos de trabalho holandeses têm a ver com a “frugalidade e a austeridade” que estavas a defender. Como preferiste saltar para a questão dos contratos deverem ser definidos por hora de trabalho e não por mês deixo aqui a sugestão de que os mesmos sejam antes definidos ao minuto ou talvez até ao segundo.

      Finalmente, “limpo ou bruto” os contratos devem definir aquilo que as pessoas realmente vão receber e não aquilo que tu acreditas que receberiam se os patrões (e talvez tu) não contribuíssem com aquilo que bem devem à Segurança Social.

      Cumprimentos de outro defensor do estado social.

    5. Caro Nuro, é com argumentos como esse, de prescindir-se de qualquer cálculo para a sustentabilidade do Estado, e do Estado Social, sempre em nome “dos bons valores socias”, que o Estado Social, que muito prezo, faliu nos moldes em que foi concebido. Ser defensor do Estado Social, não é ser defensor “porque sim” como quem defende o Benfica; tal exige cidadania, racionalidade e cálculos, porque que eu saiba, os salários não são pagos em sal, e as pensões não são pagas em víveres.

      A dirença entre o “limpo e o bruto”, serve exatamente para letrar os trabalhadores, da elevada carga fiscal que pagam todos os anos, algo que um trabalhador liberal, tem plena noção. E falo por experiência própria pois tive a sorte, de já ter trabalhado para o setor privado por conta de outrem, de já ter sido funcionário público e de já ter sido profissional liberal, logo conheço todas as realidades na primeira pessoa. E sei que: 1) a grande maioria dos profissionais liberais foge ao fisco (eu como explicador passava fatura e era considerado por todos, família e amigos, otário) 2) os trabalhadores por conta de outrem, não têm a mínima noção de quanto custam à entidade patronal, privado ou Estado, e preocupam-se apenas com o “limpo”, ignorando mesmo os seus descontos para a Seg. Social, que mais tarde pagar-lhes-ão as pensões. 3) A função do Estado é sevir todos os cidadãos, não é ser empregador!

      E descer ao mundo animal no argumentário, mormente ao mundo canídeo, é demagogia histérica.

  11. Fico contente por saber que a profição de “político proficional” (por outras palavras aqueles que usam a política para o seu sustento) no estudo referido pelo professor está de boa saúde antevendo-se para a carreira um brilhante futuro. Se um dia tiver filhos serão educados em plena liberdade com a excepção (que o pai obriga) da frequência obrigatória nas jotas.

  12. “Há soluções ou vamos piorar?” A questão colocada assim, sugere que há algo a salvaguardar, que há uma hipótese de que este seja um modelo a preservar. A meu ver, não é.
    1) Creio que o maior erro que se faz quando se estuda uma problemática como a do emprego, é ir buscar estudos comparativos aos EUA, são duas realidades liminarmente diferentes e, por conseguinte, com resultados necessariamente contraditórios. Os EUA têm uma estrutura social feita da acumulação de outras tantas subestruturas sociais e reagem de forma substancialmente diferente aos estímulos e às consequentes da adversidade. Portugal não depende nem de perto nem de longe do progresso tecnológico e só é afectado por ele de forma exógena. A sua reduzida dimensão geográfica pode tornar-se um trunfo, quando se tratar de reorganizar a estrutura social em torno dos valores endógenos, ou seja, se abandonarmos as premissas do consumo compulsivo a que nos restringe o progresso tecnológico, voltaremos facilmente aos padrões de comércio tradicional.
    2) Numa sociedade de consumo, terá necessariamente que haver consumidores e isso coloca inevitavelmente a questão dos rendimentos individuais. O que se passa, a meu ver, é que estamos numa fase transitória, a sair do limiar entre a 2° e 3° era capitalista; a definir os contornos de uma era dominada, agora, pelas redes de poder horizontal (os grupos económicos) e a abandonar o poder piramidal (um presidente/uma nação). A que nos levará esta redefinição do poder? A boa coisa não será…
    3) Ao tentar entender as propostas de investimento para dinamizar o emprego, percebemos que quem fala assim não entendeu patavina do que se está a passar. É essencial perceber que o desenvolvimento tecnológico prescinde da força dos braços, o homem não entra nessa equação. E assim sendo, para que servem os incentivos ao investimento, senão para fortalecer e dinamizar o investimento em cada vez mais tecnologia; cada vez menos necessidade da força dos braços. Resta saber até onde vai ser necessária a massa cinzenta que todos afirmam ser a grande arma do emprego (a tão badalada qualificação) … As impressoras 3D dão-nos a resposta, hoje jà se imprimem casas (! leu bem…casas!): a tecnologia reproduz-se. O que nos resta?
    4) Creio que o termo “qualificado” entrou enviesado na dialéctica social. As transformações ao nível dos procedimentos na fábrica de alfinetes sofreram apenas uma redução dos efectivos e a “qualificação” não passa aqui de um método simples de selecção, pois tinha que haver um. O fio condutor desta realidade é subtrair o homem (como já vimos atrás) da equação. Terá ele alguma utilidade no futuro? Já vamos perceber que não… Os serviços, que foram arma de arremesso para a criação de emprego até 2008, estão a ser emoldurados pela padronização dos gostos, da moda e da própria oferta, o que confina a procura ao que existe no mercado e impede o prestador de serviços de encontrar os acessórios para a prestação do serviço, não só porque não os encontra no mercado, mas também porque não pode concorrer com os preços de serie. O universo quotidiano de milhões de cidadãos cabe agora num catálogo do Ikea.
    5) Dá ideia que quanto mais entramos nos detalhes da “qualificação” mais nos damos conta de que se trata de uma fraude, como ficou demonstrado na fábrica de alfinetes, trata-se de ir reduzindo as tarefas do homem no mercado laboral, limitando as possibilidades de conflitos sociais pela culpabilização dos cidadãos: falta de qualificação. O paradoxo é evidente. Se Portugal se torna competitivo pelo factor custo do trabalho, isso equivale a dizer que as tecnologias de substituição dessa força de trabalho, dificilmente evoluirão no país. Mas, ao contrário, os “estudos” dos nossos académicos dizem-nos que 47% desses empregos serão extintos. Então a “qualificação” depende apenas do tempo, a muito breve prazo, para que se torne uma coisa fútil.
    6) Para grande desilusão dos fanáticos da modernidade, o desenvolvimento tecnológico tem um instinto dominador e não convive com o determinismo do homem, que evolui num sistema social. A técnica quer o domínio absoluto e por isso exclui o homem. Já estamos no automóvel sem condutor, mas… como há muito se sabe, a melhor maneira de analisar uma realidade é introduzir-lhe o absurdo. Neste progresso singular da técnica é bem provável que o passageiro, também ele, venha a ser excluído. Hoje já ninguém se espanta com uma pessoa a falar sozinha enquanto anda por um passeio, sem que haja sinal de um interlocutor. As maravilhas da técnica farão as máquinas andar sem rumo, só para que haja progresso.
    Conclusão: Se o homem vai ser remetido às cavernas, condenado a recomeçar a civilização do zero, por que não recomeçar agora, já, sem o aviltamento que o progresso produz em nós?

    1. Totalmente de acordo ! Estamos já a viver a 3ª. guerra mundial ! Será que ninguém se apercebe da dura realidade !? A 4ª. guerra será com pedras !

  13. Nesta frescura tal desembarcaram
    Já das naus os segundos argonautas,
    Onde pela floresta se deixavam
    Andar as belas deusas, como incautas
    Algüas doces cítaras tocavam,
    Algüas harpas e sonoras flautas;
    Outras, cos arcos de ouro, se fingiam
    Seguir os animais que não seguiam.

  14. Tema muito interessante com duas visões aqui: (http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/191/noticias/o-exterminador-de-carreiras). Basta lembrar, no presente, as novas impressoras que passarão a construir tudo, por exemplo, desde casas (https://www.youtube.com/watch?v=aQ_WqvjJtDw) a automóveis (https://www.youtube.com/watch?v=4rww0QiRavo) e aos robots que manterão a ordem mundial e , possivelmente, se sobreporão ao homem (https://www.youtube.com/watch?v=-e9QzIkP5qI).

  15. Caro Francisco Louçã, desde já lhe peço un pouco compreensão em relação à qualidade da minhã escrita ( mas o importante é que a mensagem seja compreendida, e é assim que eu espero). Sou uma pessoa mal formada, faço parte das gerações dos “Nem, Nem”,nem estudam nem trabalham (aliàs, agora trabalho, fui obrigado a emigrar já há muitos anos). Sou esse produto que Portugal produziu em larga escala e, cuje os efeito agora se fazem sentir: desemprego, emigração, pobreza.
    Li a sua crónica com muita atenção, defacto parece existir um concenso da parte dos especialistas em afirmar que vai haver destruição do emprego devido á evolução tecnológica.
    Tendo em conta esta constatação, podemos dizer: feliz aquele que tem trabalho e, felizardo aquele que tem trabalho vitalício!
    Eu, que ideologicamente me considero de esquerda, fico perdido quando vejo a esquerda defender os direitos de uns (os funcionários públicos), em detrimento dos outros; au se recusar rever os estatutus dos funcionários públicos.
    Como é que a esquerda se recusa a pôr um teto nas pensões? Porque é que os baixos salários e baixas pensões têm de financiar ( através do iva por exemplo, e outros impostos e taxas) pensões de 2500 euros?
    O senhor como ecomomista que é, sabe para darmos a uns, temos de tirar a outros, e em portugal tira-se aos mais pobres para dar aos mais ricos.
    Não me venha falar da fuga au fisco das grandes empresas, eu sei que isso é uma realidade e que tem de ser combatida, mas que por si só não resolve o problema, nem do ponto de vista económico nem do ponto de vista ético!

    1. Obrigado pelo comentário. Nunca compreendi o argumento que diz que se deve criar trabalho reduzindo os direitos do trabalho, como se essa fosse a causa do desemprego. O que cria desemprego é a desigualdade social e enquanto ela não for corrigida andamos a correr atrás do prejuízo. A tecnologia pode ser aproveitada para criar emprego e não para o destruir.

    2. Obrigado pela sua resposta, “Nunca compreendi o argumento que diz que se deve criar trabalho reduzindo os direitos do trabalho”. Não foi isso que eu disse, pretendi realçar com o meu comentário e mediante a destruição de postos de trabalho devido ao progresso tecnológico a que refere a sua crónica: o enorme privilégio que têm os funcionários públicos (FP) de terem direito ao emprego vitalício (EV). Quantos FP vemos inscritos no fundo de desemprego? Quantos vimos emigrar? O EV dos FP para além de ser uma enorme injustiça social, é também causa de burocracia e ineficiência, sendo por essas mesmas razões um servico mais caro para o contribuinte. Exceptuando os Magristrados, a Policia e os Militares, o estatuto de FP já há muito tempo que deveria ser abolido, como fizem outos países, a Suecia desde 1960 só 10% dos FP têm Emprego Vitalício. A Esquerda ao defender os FP não está a defender portugal, está a defender clientelas, e assim vamos indo, não se fazem as reformas para defender clientelas, e quem não esta bem que se mude, é o que muitos portugueses têm feito, não por vontade propria mas porque são obrigados!
      Desculpe o desabafo mas detesto injustiças.
      Este artigo fala de algumas reformas que foram feitas noutros países: http://www.lefigaro.fr/lefigaromagazine/2012/08/31/01006-20120831ARTFIG00474-fonctionnaires-ce-que-les-autres-pays-ont-fait.php?pagination=4#nbcomments

  16. Também temos outra hipotese: como não é preciso trabalhar (é necessário muito menos trabalho) abraçarmos uma sociedade que se baseie na gratuitidade da vida e nos permita livremente dedicarmo-nos a artes maiores. Uma concretização do milenarismo, o paraíso na terra, o comunismo, chamem-lhe o que quiserem. E essa é a única solução. Mas não acontecerá enquanto políticos retrógrados apelarem ao emprego e outros arcaísmos ultrapassados que não passam de reflexos de sociedades passadas, falhadas e violentas onde a prostituicao nojenta acha honrado a troca suja de força vital humana por dinheiro.

  17. Caro Francisco Louçã, desde já lhe peço un pouco compreensão em relação à qualidade da minhã escrita ( mas o importante é que a mensagem seja compreendida, e é assim que eu espero). Sou uma pessoa mal formada, faço parte das gerações dos “Nem, Nem”,nem estudam nem trabalham (aliàs, agora trabalho, fui obrigado a emigrar já há muitos anos). Sou esse produto que Portugal produziu em larga escala e, cuje os efeito agora se fazem sentir: desemprego, emigração, pobreza.
    Li a sua crónica com muita atenção, defacto parece que existir um concenso da parte dos especialistas em afirmar que vai haver destruição do emprego devido á evolução tecnológica.
    Tendo em conta esta constatação, podemos dizer: feliz aquele que tem trabalho e, felizardo aquele que tem trabalho vitalício!
    Eu, que ideologicamente me considero de esquerda, fico perdido quando vejo a esquerda defender os direitos de uns (os funcionários públicos), em detrimento dos outros; au se recusar rever os estatutus dos funcionário públicos.
    Como é que a esquerda se recusa a pôr um teto nas pensões? Porque é que os baixos salários e baixas pensões têm de financiar ( através do iva por exemplo, e outros impostos e taxas) pensões de 2500 euros? O senhor como ecomomista que é, sabe para darmos a uns, temos de tirar a outros, e em portugal tira-se aos mais pobres para dar aos mais ricos.
    Não me venha falar da fuga au fisco das grandes empresas, eu sei que isso é uma realidade e que tem de ser combatida, mas que por si só não resolve o problema, nem do ponto de vista económico nem do ponto de vista ético!

    1. Realmente você é um autêntico “Nem, Nem” porque quer para os outros (FP) o que não quer para si.

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