Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

António Bagão Félix

28 de Junho de 2015, 00:33

Por

A seca do (excesso) de Verão

Chegados ao Verão, outrora também conhecido por Estio, começo a ouvir entre as pessoas ou na rádio e televisão louvaminhas ao calor. Até aqui, tudo bem. O problema é quando a temperatura sobe em demasia, o ar se torna mais sufocante e a pulsação aumenta. É o caso destes dias, aqui no Alto Alentejo, mas também em Lisboa. Mesmo assim, lá tenho que ouvir exclamações e interjeições sobre as maravilhas de uma overdose em graus centígrados. “Que óptimo tempo!”, dizem e eu não percebo como pode ser óptimo suportar trinta e muitos graus…

Confesso que me dou melhor com o frio do que com o calor. Porque o frio entra-me pelo corpo mas não me arrefece o espírito e o calor sai-me pelo suor e não me entusiasma a alma.

Associa-se o calor (e o seu excesso, que é do que me queixo) à praia, ao mar. Mas, também aí, não sou entusiasta. Areia árida, filas de automóveis e de pó, estacionamento sem lugar à vista, água sempre mais fria do que a que havia sonhado, o sol sempre assertivo na direcção dos meus olhos que me imploram descanso oftalmológico e da minha pele que se recusa a ser churrasco, afastam-me do oceano.

Vim-me tornando, com a idade e definitivamente, um animal de sequeiro. Mas não me queixo. Tenho sempre ao dispor duas dádivas da natureza: o nascer do dia e o dia antes de se deitar. Cores diferentes, matizes suaves, serenidade contagiante, alimento para os olhos e para o que em mim habita. No entretanto, um aliado ainda que instrumental e tecnológico: o ar condicionado. Que me permitiu escrevinhar este pequeno texto, alentejanando em casa, à espera que o termómetro do senhor Anders Celsius me convide a alentejanar lá fora, com uma temperatura mais consentânea com os meus gostos.

Comentários

  1. Encontrámo-nos casualmente tomando café no Vita Roma. Trocámos breves palavras…acho que, mais sorrisos do que palavras. E há sorrisos que dizem mais das pessoas que as palavras…Saíra de casa só depois de ouvir o programa rediofónico – permita-me a sinceridade – para escutar o sociólogo que nele com o senhor participara. Fazia eu revisão de um livrro que tem dentro, quase só, gente alentejana. “Gosto muito do Alentejo”, disse-me “Quando publicar envio-lhe” disse-lhe. Já publiquei. Mas enviar… para onde?

    Temos duas coisas em comum: 1 – Gostamos muito do nosso Alentejo, onde nasci e cresci; 2 – Tal como Virgilio Ferreira também “Gosto de me ouvir ser” … E por aqui não me deixam! Nâo tenho sorte de poder aí ter um meu montinho onde pudesse ver poisar garças…Mas aceito com alento aqui estar…Tenho uma visinha rôla que me canta não sei de que telhado num refúgio que arrajei para fugir ao bulício da cidade.. Não há aqui bonequinho mas cá vai um…smile. Partilhe-o com sua esposa que também me sorriu. Saúde Dr Bagão Félix!

  2. Encontrámo-nos casualmente tomando café no Vita Roma. Trocámos breves palavras…acho que, mais sorrisos do que palavras. E há sorrisos que dizem mais das pessoas que as palavras…Saíra de casa só depois de ouvir o programa rediofónico – permita-me a sinceridade – para escutar o sociólogo que nele com o senhor participara. Fazia eu revisão de um livrro que tem dentro, quase só, gente alentejana. “Gosto muito do Alentejo”, disse-me “Quando publicar envio-lhe” disse-lhe. Já publiquei. Mas enviar… para onde?

    Temos duas coisas em comum: 1 – Gostamos muito do nosso Alentejo, onde nasci e cresci; 2 – Tal como Virgilio Ferreira também “Gosto de me ouvir ser” … E por aqui não me deixam! Nâo tenho sorte de poder aí ter um meu montinho onde pudesse ver poisar garças…Mas aceito com alento aqui estar…Tenho uma visinha rôla que me canta não sei de que telhado num refúgio que arrajei para fugir ao bolício da cidade.. Não há aqui bonequinho mas cá vai um…smile. Partilhe-o com sua esposa que também me sorriu. Saúde!

  3. Há praias ainda quase virgens em Portugal. Onde vale a pena estar e sentir o mar e toda a maravilha que ele tem. A água pode não estar à temperatura desejada, mas isso enrigesse o corpo! E o vento norte pode fustigar, nada que uma duna não proteja. Visite o Norte e vai ver como a sua opinião muda em relação às praias. Cito só uma: Canto Marinho a norte de Viana do Castelo, bem perto do primeiro farol de Portugal (Montedor).

    1. Obrigado pela sugestão. Eu passei a minha infância e juventude indo também para uma bela praia atlântico, no meu concelho natal, Ílhavo (Costa Nova). Entretanto fui-me afastando da praia. Gostos não se discutem…

  4. Com o calor vem também os incêndios de verão. Verdadeira aflição para as gentes do centro e norte do país. Sobretudo nas zonas mais deprimidas do interior, onde ao luto da viuvez e o cinzento da velhice -na falta do colorido das crianças – se vem juntar o rubro do calor do inferno das chamas, seguido das cinzas e da escuridão da morte, onde antes ainda havia a frescura verde da sombra das árvores… No interior da “zona do pinhal”, o calor sufocante sempre traz a fatidica memória dos incêndios, que vem com um cheiro de morte e desolação!
    Da minha juventude, recordo na memória a má lembrança do início do verão de 1987. Um violento incêndio cercou a minha aldeia, adentrando no quintal da casa dos meus país e contornando o casario dos meus avós e de toda a vizinhança. Naquele dia, ouviu-se o apito da sirene dos bombeiros, mobilizando os voluntários, ouviu-se o apito das fábricas dispensando os operários (no tempo em que ainda existiam fábricas de lanifícios em Castanheira de Pera), ouviu-se o toque dos sinos a rebate na torre da capela, juntando o povo da aldeia… e, em poucos minutos, irrompendo com todo o terror e violência, abrigam-se à nossa frente as portas do inferno. Ouviam-se gritos e ranger de dentes… era o choque e o pânico. Ouvia o som das árvores, dos pinheiros, explodirem em chamas, fagulhas e fumo. Baldes, mangueiras, batedores improvisados… Lembro- me do meu pai jogar água contra as paredes da casa – pois o importante era tão somente salvar a casa e proteger a família, enquanto o quintal ficava negro, coberto de cinzas.
    Não conseguindo penetrar no casario do lugar das Anchas, o fogo virou em direção ao monte de São Nicolau. Viu-se então uma gigantesca labareda. Ouviu-se um grande estrondo. E o fogo ali se extinguiu – e tudo terminou… A capela da nossa aldeia do Troviscal não resistiu a uma batalha que já não era só deste mundo – e apenas a torre sineira se preservou. Quando lá nos dirigimos, entre os escombros, o restollho do respasto do fogo ainda fumegava… A bonita capela, bem ornamentada de madeiras talhadas, esculturas de imagens de santos e belos tecidos, estava irreconhecível…
    “Jesus! Olhem para ali… ” No nicho do altar da capela, salvara-se, miraculosamente – logo pensou a gente da aldeia – a imagem da padroeira, N. S. Bom Sucesso.
    [Se fosse hoje, talvez o casario não tivesse resistido. Na altura, moravam no lugar das Anchas, no arredor da aldeia do Troviscal, cerca de 35 habitantes – contando 6 crianças. E com o esforço popular conseguiu-se reconstruir a capela. Hoje, restam 11 moradores permanentes, quase todos reformados – e não há crianças, nem casais em idade fértil! Ocasionalmente, ainda vai havendo missa na capela e festa na aldeia. – Nossa Senhora, até quando? O interior envelhecido de Portugal precisa de um novo milagre…]

    Concordo consigo, caro Bagão Félix – também não gosto do calor infernal do verão! Abraço fraterno.

    1. Muito obrigado pelas suas interessantíssimas reflexões. Abraço muito cordial.

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