Tudo Menos Economia

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Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

António Bagão Félix

27 de Março de 2015, 08:26

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A subversão de se ser candidato fora da lógica partidária

Faltam pouco mais de nove meses para as eleições para PR. Este período de gestação presidencial foi iniciado pela apresentação de um candidato surpresa: Henrique Neto. Surpresa para os principais partidos que se consideram mandatados para escolher (ou condicionar), em regime oligopolista, pré-candidatos, “lebres”, putativos candidatos e candidatos propriamente ditos.

Utilizando um jargão desportivo, temos uma espécie de marcação homem a homem (isto no caso de não haver candidatas), que é como quem diz marcação candidato a candidato. Uns à espera de melhor sondagem, outros a trabalharem para que haja a tão desejada vaga de fundo, outros à espera do resultado das eleições legislativas, outros ainda à espera de ordem partidária ou a “ver como param as modas”.

Henrique Neto tem o mérito de se ter apresentado fora da órbita partidária. Na sua bem conhecida forma desalinhada, independente e provocativa, dizendo o que pensa pela própria cabeça, apesar de ser militante de um partido (PS).

A reacção do PS foi tudo menos serena e politicamente elegante. Não porque o candidato possa vir a obter um assinalável resultado, mas mais porque teve o atrevimento de “avançar sem procurar consultar o PS” (expressão de um seu dirigente). O que levou outro socialista a sugerir que “com tantos candidatos, o PS deveria optar por primárias”. Ou o secretário-geral a dizer que “lhe era indiferente”, ou ainda antigos governantes a compará-lo a Beppe Grilo ou a apelidá-lo de “bobo”!

Os partidos, e em especial o PS e o PSD, acham que são donos das escolhas para um órgão de soberania uninominal como é o da Presidência da República. Tudo o que saia deste enquadramento é quase subversivo.

Pelo contrário, acho que quanto menos estiver condicionado e espartilhado por uma lógica estritamente partidária, mais o futuro PR terá condições de exercer, com independência, imparcialidade e equidistância, a sua magistratura. E com isso ganha Portugal.

Comentários

  1. Não sei que votação terá, mas merece-me todo o respeito.

    Não excluo votar nele (e enquanto não conhecer todos os candidatos, mais não posso dizer).

    Votando ou não nele, predisponho-me, se necessário, a subscrever a sua candidatura.

  2. Quem ainda se lembra de Fernando Nobre?
    Entrou na política com nobreza e saiu sem honra nem glória… Quem tramou Fernando Nobre? As tramas político-partidárias ou ele próprio…
    Um outro caso a acompanhar é a evolução política de Marinho Pinto… até onde poderá ir na política o antigo bastonário dos advogados com o seu discurso marcadamente anti-político/partidário?
    Fernando Nobre sempre será um bom estudo de caso – e um aviso! – sempre que se intrometam no status quo da política “outsiders”…

  3. «Não porque o candidato possa vir a obter um assinalável resultado».
    Porquê?
    Terá os votos que os portugueses lhe quiserem dar.
    Para já, tem algumas coisas a seu favor: sendo socialista, sempre criticou o Sócrates, mesmo nos primeiros anos, quando muita gente da direita o gabava, deixando perfeitamente claro que o PS e o PSD são as duas faces da mesma moeda.
    Má moeda, porque os dois sempre existiram para sustentar as suas clientelas, os milhares de militantes e simpatizantes que são autênticos zeros à esquerda e que precisam do partido para terem umas boas vidas, sem que em troca dêem nada de positivo ao País.
    O Henrique Neto subiu a vida a pulso, começou como operário, não fez estudos superiores – muito menos aldrabados, como é tão comum nas classes políticas dominadas pelos jotas -, que se saiba também nunca precisou de compadrios com o Estado para formar o maior grupo português de moldes…
    Claro que, infelizmente, os portugueses costumam portar-se como um rebanho, sempre atrás da voz do dono.
    Claro que o facto de o Henrique Neto já ser velho, numa sociedade que vergonhosamente desclassifica, desrespeita e maltrata os seus mais velhos, não é um factor a favor.
    Em última análise, o facto de ser careca, cheio de rugas e usar óculos – vá lá ver as imagens da última campanha para as legislativas, para ver se o Coelho os usava habitualmente nessa fase – não lhe é favorável, numa sociedade que privilegia a imagem em detrimento do valor intrínseco.
    Mas ninguém pode estar derrotado à partida. Para mais uma pessoa que já provou à saciedade o seu valor e a sua seriedade, duas características profundamente arredadas da nossa classe política.
    O Henrique Neto constitui portanto uma excelente oportunidade para o português comum, que passa a vida a dizer mal dos políticos em geral, agir em conformidade.
    Este é diferente dos outros.
    Ou pelo menos parece, que neste mundo conturbado o melhor é não pôr as mãos no lume por ninguém…

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