Faltam pouco mais de nove meses para as eleições para PR. Este período de gestação presidencial foi iniciado pela apresentação de um candidato surpresa: Henrique Neto. Surpresa para os principais partidos que se consideram mandatados para escolher (ou condicionar), em regime oligopolista, pré-candidatos, “lebres”, putativos candidatos e candidatos propriamente ditos.
Utilizando um jargão desportivo, temos uma espécie de marcação homem a homem (isto no caso de não haver candidatas), que é como quem diz marcação candidato a candidato. Uns à espera de melhor sondagem, outros a trabalharem para que haja a tão desejada vaga de fundo, outros à espera do resultado das eleições legislativas, outros ainda à espera de ordem partidária ou a “ver como param as modas”.
Henrique Neto tem o mérito de se ter apresentado fora da órbita partidária. Na sua bem conhecida forma desalinhada, independente e provocativa, dizendo o que pensa pela própria cabeça, apesar de ser militante de um partido (PS).
A reacção do PS foi tudo menos serena e politicamente elegante. Não porque o candidato possa vir a obter um assinalável resultado, mas mais porque teve o atrevimento de “avançar sem procurar consultar o PS” (expressão de um seu dirigente). O que levou outro socialista a sugerir que “com tantos candidatos, o PS deveria optar por primárias”. Ou o secretário-geral a dizer que “lhe era indiferente”, ou ainda antigos governantes a compará-lo a Beppe Grilo ou a apelidá-lo de “bobo”!
Os partidos, e em especial o PS e o PSD, acham que são donos das escolhas para um órgão de soberania uninominal como é o da Presidência da República. Tudo o que saia deste enquadramento é quase subversivo.
Pelo contrário, acho que quanto menos estiver condicionado e espartilhado por uma lógica estritamente partidária, mais o futuro PR terá condições de exercer, com independência, imparcialidade e equidistância, a sua magistratura. E com isso ganha Portugal.
Não sei que votação terá, mas merece-me todo o respeito.
Não excluo votar nele (e enquanto não conhecer todos os candidatos, mais não posso dizer).
Votando ou não nele, predisponho-me, se necessário, a subscrever a sua candidatura.
Quem ainda se lembra de Fernando Nobre?
Entrou na política com nobreza e saiu sem honra nem glória… Quem tramou Fernando Nobre? As tramas político-partidárias ou ele próprio…
Um outro caso a acompanhar é a evolução política de Marinho Pinto… até onde poderá ir na política o antigo bastonário dos advogados com o seu discurso marcadamente anti-político/partidário?
Fernando Nobre sempre será um bom estudo de caso – e um aviso! – sempre que se intrometam no status quo da política “outsiders”…
«Não porque o candidato possa vir a obter um assinalável resultado».
Porquê?
Terá os votos que os portugueses lhe quiserem dar.
Para já, tem algumas coisas a seu favor: sendo socialista, sempre criticou o Sócrates, mesmo nos primeiros anos, quando muita gente da direita o gabava, deixando perfeitamente claro que o PS e o PSD são as duas faces da mesma moeda.
Má moeda, porque os dois sempre existiram para sustentar as suas clientelas, os milhares de militantes e simpatizantes que são autênticos zeros à esquerda e que precisam do partido para terem umas boas vidas, sem que em troca dêem nada de positivo ao País.
O Henrique Neto subiu a vida a pulso, começou como operário, não fez estudos superiores – muito menos aldrabados, como é tão comum nas classes políticas dominadas pelos jotas -, que se saiba também nunca precisou de compadrios com o Estado para formar o maior grupo português de moldes…
Claro que, infelizmente, os portugueses costumam portar-se como um rebanho, sempre atrás da voz do dono.
Claro que o facto de o Henrique Neto já ser velho, numa sociedade que vergonhosamente desclassifica, desrespeita e maltrata os seus mais velhos, não é um factor a favor.
Em última análise, o facto de ser careca, cheio de rugas e usar óculos – vá lá ver as imagens da última campanha para as legislativas, para ver se o Coelho os usava habitualmente nessa fase – não lhe é favorável, numa sociedade que privilegia a imagem em detrimento do valor intrínseco.
Mas ninguém pode estar derrotado à partida. Para mais uma pessoa que já provou à saciedade o seu valor e a sua seriedade, duas características profundamente arredadas da nossa classe política.
O Henrique Neto constitui portanto uma excelente oportunidade para o português comum, que passa a vida a dizer mal dos políticos em geral, agir em conformidade.
Este é diferente dos outros.
Ou pelo menos parece, que neste mundo conturbado o melhor é não pôr as mãos no lume por ninguém…
Estou perfeitamente de acordo com o seu comentário.