Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Ricardo Cabral

3 de Março de 2015, 22:10

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A banca em movimento

A crise no BES levou a movimentações na banca. O BPI pretendia adquirir o Novo Banco e, para o fazer, deverá ter pedido ajuda a um dos seus principais accionistas, o espanhol la Caixa/CaixaBank que deve ter dito que sim, mas só com o controlo do BPI, lançando para o efeito uma OPA sobre este.

Isabel dos Santos, outro dos principais accionistas do BPI, propôs uma fusão entre BCP e BPI.

O Governo indica que estará a aguardar a evolução da situação, antes de se pronunciar, sobre todas estas movimentações. Seria importante que estivesse atento e que não fosse um participante passivo e desprendido. É que, da banca privada nacional, pouco restará: a concretizarem-se estas operações, teremos os principais bancos privados nacionais controlados, quer por bancos espanhóis (Santander e la Caixa), quer por bancos ou accionistas angolanos (BIC/BPN e um BCP-BPI de Isabel dos Santos e outros accionistas).

Tudo supervisionado pelo Banco Central Europeu.

A banca ficará muito concentrada o que tenderá a reduzir a concorrência e a resultar numa deterioração das condições oferecidas, quer no que se refere a depósitos, quer no que respeita a crédito bancário. Porquê e para quê?

É que os bancos em questão (BPI, BCP, Novo Banco) têm activos entre 40 e 80 mil milhões de euros. Mesmo antes das fusões propostas, estes bancos já seriam considerados muito grandes (> 50 mil milhões de dólares), mesmo nos EUA. Ora a literatura académica não encontra ganhos de eficiência em bancos com dimensão superior a 10 mil milhões de dólares (9 mil milhões de euros) de activos, sendo que encontra sim deseconomias de escala. E, a literatura académica também aponta para o facto de operações de fusão de bancos desta dimensão, não melhorarem a eficiência.

De facto, um paper de 2002 de investigadores da Reserva Federal dos EUA, que revê a literatura académica existente, afirma:

“A maioria da investigação sobre a existência de economias de escala na banca comercial de retalho encontra uma curva de custo médio em forma de U, relativamente plana, com um mínimo de aproximadamente US $ 10 mil milhões em activos, dependendo do período de amostragem, do país e do período analisado. A maioria desses estudos sugere que os ganhos de eficiência resultantes da exploração de economias de escala desaparece assim que um determinado tamanho é atingido e que pode haver deseconomias de escala acima de certo valor, presumivelmente devido à complexidade da gestão de grandes instituições […]. Este resultado é bastante robusto e vale para os EUA, Europa e Canadá. No entanto, baseia-se principalmente em dados de 1980 e início de 1990 ” p. 18-19.

 

Por outro lado, com bancos de menor dimensão, a própria supervisão bancária fica facilitada e o risco sistémico é muito menor. Isto porque bancos pequenos que adoptam estratégias arriscadas rapidamente ficam sem liquidez, o que significa que tais riscos são identificados muito mais cedo. E se um banco pequeno falhar, o impacto no sistema bancário nacional (i.e., o risco sistémico) é reduzido. Em contraste, o risco sistémico da queda de um grande banco nacional é muito elevado, porque o colapso de um grande banco tenderia a arrastar consigo todo o sistema bancário nacional.

Será que há a noção do efeito destes movimentos de concentração no dinamismo do sector e na economia real do país? É que, para resolver “um problema” de curto prazo (i.e., a “nacionalização” não assumida e não reconhecida do Novo Banco), poderemos acabar, no médio e longo prazo, com um problema maior ainda…

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