A questão grega fez renascer a pergunta: pode-se recusar a austeridade e ficar no euro? Nesta nota comento essa questão a partir de um ponto de vista muito particular, o de um economista destacado, Paulo Trigo Pereira, que tem discutido o assunto com inquietação. Em textos escritos e em conferências, anteriores à crise grega, Trigo Pereira (PTP), especialista em políticas e contas públicas e hoje um dos convidados do grupo do programa do PS, tem estudado as alternativas para a economia portuguesa, recusando quer um ponto de vista hagiográfico sobre a troika quer uma visão simplista das soluções.
Em janeiro de 2012, PTP antecipava uma longa recessão e dela concluía que a saída do euro seria uma inevitabilidade, decorrendo da lentidão da recuperação, a não ser que houvesse uma redução importante da dívida: “Acho que vamos ter recessão este ano e vamos ter para o ano também. Sem crescimento económico a partir de 2014, não temos hipóteses. Sem crescimento económico não temos hipóteses dentro do euro e temos de sair do euro, é tão simples quanto isso. Se não houver crescimento económico a nossa saída do euro tornar-se-á inevitável, a menos que houvesse um perdão da dívida substancial”, afirmou à Agência Lusa. A solução seria portanto uma reestruturação da dívida e substancial.
Um ano e meio depois, em setembro de 2013, confirmada a recessão e sem vislumbre de alteração da posição da dívida, PTP mostrava temer que os países periféricos tivessem mesmo que sair do euro (segundo a versão de Pedro Pitta Barros acerca de uma conferência em que ambos participaram). O seu prognóstico tinha sido confirmado, as dificuldades identificadas ampliavam-se, a solução da dívida não tinha sido aceite pelas autoridades europeias, ficava portanto a última solução, recuperar a economia com uma desvalorização e com o resgate da soberania monetária.
Passa mais um ano. Num colóquio na Gulbenkian, em outubro de 2014, PTP insiste no mesmo ponto de vista: “Entre vários desfechos, o especialista ‘aposta’ na saída do Euro ou na inevitabilidade de outro resgate se não houver crescimento económico”, descreve André Rosa, da Universidade Nova de Lisboa. O DN cita PTP no mesmo colóquio: “O euro pode continuar mas com a saída dos países periféricos”.
Não é preciso acrescentar mais para se compreender como o economista estudou o problema: para PTP, com a recessão e a crescente divergência europeia, análise que os factos confirmaram, restava ou a resolução da dívida ou a saída do euro (que é também uma forma de corrigir a dívida). A chave da alternativa seria então o crescimento económico, repondo as contas públicas e assegurando a margem de manobra para o investimento e a criação de emprego, que a austeridade condena e que a solução da dívida facilitaria. Ora, mesmo em 2015, o crescimento é tão ténue que o PIB navega ainda em níveis inferiores aos de 2008: como não basta, o dilema mantém-se.
Recapitulemos o dilema tão claramente estabelecido: ou crescimento com reestruturação da dívida ou saída do euro. O autor escolhe a primeira solução, como se compreende, mas insiste no risco da precipitação da última alternativa se Portugal se arrastar na indignidade da austeridade.
No entanto, nos últimos meses, PTP passa a discutir a questão acrescentando um outro ponto de vista. Em dezembro de 2014, aqui na sua coluna de opinião no PÚBLICO, PTP critica várias propostas de reestruturação da dívida: a do PCP, que não aponta objectivos concretizados mas que defende a rejeição do Tratado Orçamental, e os relatórios que apresentei com outros colegas (cordialmente publicados pelo Instituto Thomas Jefferson, dirigido por PTP). Escreve ele sobre o mais recente destes relatórios: “Uma outra proposta, esta técnica, mas também radical, porque unilateral e envolve uma considerável recapitalização da banca, é a apresentada por Ricardo Cabral, E. Pires, F. Louçã, e P.N. Santos. Tem o mérito de ser bem fundamentada e de discutir as alternativas, nomeadamente o Plano Draghi. A vontade não é sair do euro mas forçar uma reestruturação das dívidas, pública e externa, se possível no euro. Porém, não se compreende como é que um avanço unilateral de reestruturação da dívida não teria essa consequência”. Tem certamente razão, embora esse tema não seja tratado na nossa proposta e no nosso relatório mais recente sobre a dívida: a reestruturação pode exigir, se for recusada, a saída do euro.
A nossa análise é portanto coincidente com o que PTP defendeu nos textos a que me referi atrás, mesmo que a solução seja diferente. De facto, PTP defende neste texto uma reestruturação da dívida à escala europeia. Podemos discutir se é plausível ou não: eu penso que não é e PTP pensa que deveria ser. Concordemos em todo o caso em que não há disso nenhum sinal, que os eurobonds foram arredados e que o Plano Draghi é uma injecção numa bolha financeira. Nada, a Europa não faz nada pelas periferias, senão continuar a austeridade, como está a tentar impor à Grécia.
Aliás, PTP pergunta-se, mais uma vez na sua coluna no PÚBLICO, no mesmo mês de dezembro de 2014: “Mas será a manutenção do euro uma boa solução? Não seria melhor termos soberania monetária? Provavelmente sim. Os países da União Europeia com moeda própria tiveram, durante a crise, um desempenho médio superior ao dos países da área euro. Para além da política orçamental têm a política monetária. Com mais instrumentos de política económica é natural que o seu desempenho económico seja melhor. Isto não significa que seja melhor voltarmos ao escudo por duas razões essenciais. Os elevados custos e incerteza associados a uma eventual transição. Por outro lado, mais soberania nacional significa menos soberania europeia. Este não será um problema para os nacionalistas, mas sim para federalistas ou convictos europeístas.”
É uma forma límpida de colocar o problema. “Provavelmente” é melhor criarmos uma moeda nacional e sairmos do euro, porque é “natural que o seu desempenho económico seja melhor”. Isso tem dificuldades, os “elevados custos” e a “incerteza”, o que leva o autor a preferir outras soluções. Tem razão, essa dificuldades são importantes. Há custos, mas que devem ser comparados com a certeza da austeridade, e há incerteza, que só pode ser resolvida com argúcia e clareza democrática. E ainda é certo que a Europa muda com um conflito desta natureza, o que é um problema para os “federalistas e ou convictos europeístas”. No entanto, são mesmo estes que escrevem que a União está a caminhar decidida e inexoravelmente para o desastre da tirania da finança e para o autoritarismo da Alemanha, como tão bem tem argumentado Viriato Soromenho Marques.
Num artigo publicado ontem na Visão, Viriato Soromenho Marques traça uma conclusão ainda mais forte: “Acreditar que esta Zona Euro, baseada num absurdo económico e numa injustiça política, se pode manter, não é uma estória de crianças, mas um ficção de puro terror. A coragem da Grécia rompeu uma brecha no muro da insensatez. Mas continuamos todos dentro do túnel. Ainda sem luz à vista.”
Temos por isso que escolher. Quem defende a reestruturação da dívida pode opor-se a um projecto de resposta portuguesa porque prefere uma solução europeia – mas tem de acreditar que ela é realista e realizável em prazo curto, ou então não é solução nenhuma. E quem propugna uma restruturação da dívida tem que estar preparado, e mais vale estudá-lo com todo o cuidado, para a necessidade da saída do euro.
Quer queiramos ou não, há um contexto para esta conversa. Salazar respondeu aos seus diplomatas aflitos, quando o seu governo foi criticado por ter imposto a bandeira a meia haste nas embaixadas pela morte de Hitler, com uma mensagem simples e enigmática: “hora a hora, Deus melhora”. Perdoem-me a paráfrase, mas a Europa de hoje só confirma que, dia a dia, Merkel e Schauble pioram. Mais vale saber do mundo em que vivemos, para ajudarmos a resolver o problema.
Muito interessante o trabalho de Francisco Louçã. Está honestamente bem gisado e foca um problema gravíssimo português que há muito me preocupa.
Não é com “brincadeiras” e “fechar os olhos para não ver” que contribuímos para resolver ou minorar os problemas que nos afligem, que afligem milhões de portugueses com fome e desprezados.
Os factos estão aí: o PIB que não descola. A emigração que não inverte o seu sentido. As empresas, muitas, que não reveem seus procedimentos de gestão. As Universidades que, muitas ainda, se mantêm no seu ninho sem abertura total ao exterior. O investimento, “calcanhar de Aquiles”, não responder às necessidades de uma turbulenta austeridade. A falta de uma política bem portuguesa que “agarre pelos cornos” as potencialidades da CPLP e tudo que venha do lado do mar, sem negligenciar a Europa onde estamos. A incapacidade, face a uma profunda realidade da necessidade de reestruturar o Estado. Os partidos que se fecham e parecem ignorar a realidade, caminham, para o desastre político.A ausência de um Plano e de uma Estratégia Nacionais assentes em verdades que tenham em atenção os desequilíbrios nacionais, mas também as potencialidades internas e externas. O cuidar de discutir os problemas, sem complexos, por que se é de direita ou de esquerda.
Portugal precisa de gente séria, que tem de facto, a tratar dos problemas com seriedade. Há saídas possíveis e também é possível minorar os sofrimentos do Povo por demais vilipendiado, amargurado e sem perspectivas que não sejam os roubos premeditados e constantes.
Bem-haja Francisco Louçã pelas suas pedradas no pântano tão sujo, para que o possamos limpar, com o esforço de todos, cada um no seu lugar, nas suas funções. Não sou da sua área política, mas não lhe nego a sua muito importante participação.
Só conseguiremos sair da beira do abismo com gente intelectualmente séria e empenhada na resolução de tão magno problema que, para mim, deverá passar pela reestruturação da dívida, pela saída do euro e por uma profunda análise das nossas potencialidades, para enfrentar o futuro com a dignidade nacional que a maioria dos portugueses quer com certeza, tendo por base um um plano e uma estratégia nacionais. Possíveis? Sim, de nos deixarmos de fait divers e de estados complexados de superioridade ou inferioridade, e sempre sem arrogância intelectual e não só.
Obrigado
Obrigado pelo seu comentário. Este blog serve precisamente para conversas entre gente distinta mas que procura caminhos.
Em sede própria comuniquei ao Dr. Ferreira do Amaral, acérrimo defensor da saída de Portugal da moeda única e coautor de um livro com o Dr. Louçã, que considerava a solução holandesa muito mais justa, sensata e razoável. A questão da permanência ou saída da moeda única, prende-se basicamente com a questão do défice externo, na medida que uma moeda forte incentiva importações e desincentiva exportações. Todavia mais de 1/5 das nossas importações são carros mais combustíveis. Taxe-se estes bens de forma assertiva e grande dos problemas que o Dr. Louçã evoca ficam sanados. Além disso o Dr. Louçã, escusa-se sempre de referir (porque será?) que uma eventual saída de Portugal do euro implica inevitavelmente o real empobrecimento do país, bem mais do que aquele observado desde 2010, assim como um aumento brutal da dívida na medida que esta está em euros. Cumprimentos
1. Desde que Portugal mantenha acesso ao mercado para emissao de divida publica, a restruturaçao da divida vai-se fazendo progressivamente todos os anos, à medida que a divida viva chega ao vencimento e nova divida é emitida em condiçoes de prazo e taxa de juro potencialmente mais favoraveis.
2. A ideia de que o país beneficiaria a prazo com uma saída do euro, assenta no pressuposto – optimista – de que teria muito mais liberdade em materia de politica orçamental e monetaria para promover em especial o investimento publico e assim por a economia a crescer. A questao é que, fora do euro, o país viveria, como bem nos recordamos dos anos 70 e 80, sob enorme constrangimento de balança de pagamentos, que condicionaria decisivamente a politica orçamental, monetaria e cambial, obrigando a manter apertado controlo sobre o defice publico e taxas de juro elevadas para assegurar a estabilidade da moeda e a solvencia externa; os factores de risco e incerteza associados a Portugal seriam maiores o que afectaria o investimento privado e consequentemente a criaçao de emprego sustentavel.
3. Em ultima analise, a prosperidade do país depende da sua capacidade de criar riqueza, da competitividade e dinamismo da sua economia; e isto, como bem sabemos, depende mais de reformas de fundo que nos aproximem dos padroes dos paises mais ricos da Europa do que dos constrangimentos da moeda unica.
O mesmo que respondi atrás: se o juro baixo for de 2% e se o crescimento for de 1% (agora é menor), então a dívida continua a aumentar. Quanto ao problema da balança de pagamentos, é precisamente por isso que uma desvalorização é útil (se for acompanhada de uma política industrial e de emprego, caso contrário significaria só empobrecimento relativo). Finalmente, reformas de fundo qeu privatizem monopólios naturais ou que reduzam os salários (e promovam emigração) só agravam os problemas de fundo.
De acordo. As “reformas de fundo” que interessam sao as que aumentem a atractividade do país para o investimento (interno e externo) melhorem a educaçao e qualificaçao das pessoas, melhores e mais eficientes serviços publicos – como nos paises mais ricos da Europa, cuja prosperidade nao se baseia em salarios baixos, pelo contrario. Quanto aos monopolios naturais, nao é necessario de facto que sejam privados, o importante é que sejam bem geridos e regulados, de forma a que o consumidor nao pague preços (e ineficiencias) de monopolio, incluindo as que resultam dos “jobs for the boys”.
Então estamos de acordo nestas matérias.
Caro Francisco Loucã fico muito contente que tenha escrito este texto. Os pontos onde discordo de “A solucão novo escudo” são em linha (não totalmente) com a de PTP. Fico contente que aqui esclareca a divergência de pontos de vista. Eu pessoalmente considero-me um pragmatista e como tal acho que a nossa situacão politica de deve adaptar ao contexto económico em que estamos, o Sr. por outro lado esclarece que os nossos ideais de soberania e gestão politica devem estar acima e sobrepor o nosso contexto económico. Acho que mais pessoas concordam consigo do que comigo mas de qualquer maneira dá-me gosto saber que pessoas como o senhor se esforcam verdadeiramente para oferecerem alternativas reais ao sério problema económico\social em que nos encontramos.
Em relacão a outro tópico: Embora o BCE esteja a limitar a compra de divida soberana os seus efeitos são na minha opinião bastante acentuados. Quem diria que Portugal algum dia iria imitir divida a 10 anos a juros de 2%! Claro que não podemos contar com isto a longo prazo mas na sua opinião não acha que isto está a tornar a divida mais sustentável no curto-médio prazo? Não acha que este factor está pelo menos a adiar a necessidade de um default/saida do Euro?
Espero que sim, que o texto ajude aos diálogos necssários. Registei as posições e argumentos de PTP, que são consistentes e abertos, porque é assim que se progride nas conversas. Noutra ocasião discutirei os meus argumentos. Quanto aos juros, o problema é que uma economia que cresce menos de 1% não pode pagar juros (baixos) de 2% porque, nessas condições, a dívida está ainda a aumentar.
De facto um regresso ao escudo faz todo o sentido.
Um pais ultraperiferico, sem recursos naturais, sem ligacoes ferroviarias de mercadorias para a europa, tem tudo a ganhar em isolar-se e passar a viver com uma divisa fraca.
Esta-se mesmo a ver que os pobres ficarao melhor do que estao, com a inflaccao galopante a comer-lhe as magras reformas.
Que a classe media ficara melhor, tambem com salarios fixos que serao esmagados pela inflaccao.
Os unicos que beneficiariam desta tolice seriam os Blocos de Esquerda e Livres deste pequeno pais no rabo da europa, eleitos para cargos de poder e prontos a tornar portugal numa nova Venezuela – sem petroleo.
É uma forma de discutir coisas sérias. Felicidades.
Então e a Islandia? A sua visão é de se não formos explorados pelos mais fortes, então paramos e morremos, mas existe a alternativa de lutarmos pelo nosso destino.
O Autor que me perdoe o abuso por me servir do espaço para tecer uma breve consideração que nada tem que ver com o artigo.
Quero realçar a excelência da inquirição feita pela Mariana Mortágua ao formely known as best europe CEO. Toda a inquirição e não particularmente o sound bite “é um bocadinho de amadorismo daquele que foi considerado o melhor CEO da europa e arredores, não?”.
Gostei especialmente da parte em que o FKABECEO (formely known as best europe CEO) é perguntado se sabia que 90% da tesouraria da PT estava investido no GES.
O FKABECEO responde: “blá, blá blá, blá, sim sabia, bastava ver o tableux de board para saber que a percentagem era x, não sei se era essa, mas a sra. deputada tem aí o documento, mas se está no tableaux de board então é porque é verdade” (cito de memória). Por sua vez, a deputada replica secamente : “porquê?”. Ao que o FKABECEO responde timidamente, ” porquê?”. “sim, porquê, porque é que estavam investidos 80 a 90 % no GES?”. aquele porquê não resultou de não entender a pergunta mas foi o mais básico reflexo de quem se vê em apertos com uma pergunta incómoda. Julguei ver um aluno mal preparado numa prova oral em que perguntado continua ecoando a pergunta na esperança de uma epifania.
Bem, a partir daqui é o completo ruir de um mito. É mais confrangedor que assistir à destruição das estátuas assírias pelo malucos do EI.
Agora citando com mais cuidado, mas ressalvando qualquer lapso ou inexactidão resultante de inexperiência em transcrições, responde o FKABECEO:
“Porque nessa altura, se reparar…ah!…ou seja,… porquê?…não…não entendo, porque é que ‘tava 80 ou 90 % no BES?… Eu, primeiro, não lhe sei confirmar se era 80 ou 90 eu não tenho essa informação…ahhhhh….”(neste momento o FKABECEO diz “desculpa?” dirigindo-se a alguém que o interpelou, não percebi se tentaram atirar uma bóia ao náufrago -alguém me esclarece?). O presidente da comissão diz ao FKABECEO: “responda ás perguntas da sra. deputada mariana mortágua que é a sua interlocutora neste momento”. “correcto”, diz o FKABECEO, e dirigindo-se à deputada diz: “desculpe?”. A deputada, secamente: “não disse nada”. Finalmente, diz o FKABECEO: ” Ah! não…o….o…”- arregala os olhos, insufla as bochechas e sopra- ….”era onde estava investido.”. É então que o FKABECEO, depois de um momento de silêncio, ouve da deputada: ” um bocado amadorismo para quem ganhou tantos prémios, de melhor CEO do ano, melhor CEO da Europa e arredores”.
Pergunto-me por que razão apenas passa na TV o sound bite e não aquele minuto inteiro que o antecede?
Post Scriptum
Bye Bye Ana Drago.
SAIR SIM…. Estar no euro é uma maneira de os mais poderosos mandarem nos mais fracos… veja-se a agricultura…
Todos os que pregam a saída do euro são equivocados, desinformados ou querem perpetuar a atual corrupção e gastos públicos.
A culpa da situação da Grécia, Portugal e outros não tem nada a ver com o euro. Obviamente chegamos a esse ponto devido ao governo ter gasto mais do que possuía nos cofres públicos (orgia financeira), devido aos roubos, desvios e a ter de dar dinheiros aos amigos das PPPs, das fundações que só servem para o branqueamento de capitais, da ajuda aos partidos e deputados, das avenças, subvenções e ajudas a deputados e juízes, dos carros com motoristas, assessores, regabofes, etc.
No passado, quando tínhamos o Escudo, era fácil, quando o dinheiro acabava ligávamos ao Banco Central e falávamos para que imprimissem dinheiro. Nem toda gente sabe que a inflação é gerada pela impressão de dinheiro. É como se colocássemos diluente num balde com tinta. Agora temos mais tinta, mas a tinta é aguada. É a mesma coisa com a moeda.
Então, o que iria acontecer seria desvalorizar constantemente a moeda, com a impressão de mais e mais dinheiro para manter a incompetência, má gestão, regabofes, orgias financeiras, descaso e mau uso do dinheiro público.
O que é preciso fazer é ter governantes competentes e honestos (coisa que Portugal nunca viu) que saibam gerir um património público em nome do povo (não em proveito próprio e dos amigos). Precisamos de políticos que gastem apenas o que arrecadarem.
O “problema” do euro é que os políticos incompetentes e corruptos não conseguem governar com o dinheiro que têm, pois não querem abrir mão do regabofe e das orgias financeiras. Como a EU impede que dinheiro seja impresso para pagar pela incompetência, são obrigados a contrair empréstimos para pagar as dívidas e depois outros empréstimos para pagar os empréstimos, numa bola de neve descontrolada.
É como a família que arrecada 5 mil por mês, mas vive uma vida de 30 mil por mês e quando chega à beira da falência, em vez de parar de gastar, resolve pegar um empréstimo para pagar o que deve, pois não quer abrir mão dos carros topo de gama e das férias em França.
Sou um leigo na matéria, infelizmente. Costumo ser favorável ao euro por razões ideológicas, por ideal europeísta, não por motivos de conhecimentos no domínio da economia, que são parcos e inconsistentes. Sou no entanto forçado a aperceber-me de que há problemas sérios na matéria. É assim com grande interesse que leio ou ouço discursos críticos em relação à moeda única. Apreciei nesse sentido este artigo de Francisco Louçã. Mas acho também que a crítica acima, do comentador “Zé”, não é completamente anódina. Nomeadamente quando alude ao perigo de desvalorização constante da moeda nacional entretando introduzida. E sinto que, no intuito de esclarecer as minhas ideias sobre o assunto (ou melhor, suscitá-las, pois são escassas) apreciava que Francisco Louçã respondesse a este comentador, em poucas palavras mas de forma fundamentada quanto baste. Seria possível?
Não concordo com a argumentação de “Zé”, porque acho que comparar uma família à economia de um Estado é demagogia e errado. o Estado pode emitir moeda, a família não. O Estado pode endividar-se para investir e portanto melhorar a economia no futuro, a família endivida-se tipicamente para consumir ou comprar habitação. Quanto à desvalorização, é precisamente ela que permite recuperar a economia, porque aumenta as exportações e portanto diminui a dívida externa, desde que seja acompanhada pela protecção das pessoas mais vulneráveis (por causa do aumento do preço das importações) e de uma política industrial para a criação de emprego. Caso não desvalorize a moeda, um país endividado só tem a escolha de desvalorizar salários e pensões, ou seja a austeridade permanente. Portugal assim não resulta, pois não?
Obrigado, Francisco Louçã. A questão merece, efetivamente reflexão.
Sendo assim, a pergunta a fazer é: Em quem votaste?
“For reasons We know, capitalist evolution spells disturbance. We know that it spells simulteneous disturbances of different order of importance and diffrent range in time. Junctures therefore occur wihich the symptoms incident to scrapping and rearranging dominate the scene. Among these junctures there are some which adjustments to long-range and more fundamental, adjustments to short-range and less fundamental industrial changes do not occur at the same time, and there are others in which they do.”
Joseph Schumpeter
Há três caminhos para esta crise:
1. Deixar andar, a reboque da Alemanha e dos seus sequazes do norte.
2. Forçar uma renegociação da dívida.
3. Sair do euro.
O primeiro mais não é que um arrastar da situação, piorando a situação – ainda que pontualmente com ligeiras melhorias conjunturais – até ao desastre, que pode ter várias formas: fim do euro, desmembramento da própria UE, tumultos e revoltas populares, guerra(s).
A segunda só é possível com uma união entre os sobreendividados países do sul, que não parece possível, pelo menos por enquanto.
A terceira é provavelmente a única solução. Tem custos elevados numa primeira fase, mas permitirá a recuperação dos países sobreendividados ao fim de três ou quatro anos. Para um país como o nosso, que vive em recessão há meia dúzia de anos e que voltará a cair nela ao mínimo sobressalto, mais três ou quatro anos não parecem assim tão terríveis, desde que depois as coisas encarrilhem de vez.
Sempre ouvi dizer que vale mais uma má decisão do que nenhuma decisão, que é o que acontece actualmente com esta abdicação da soberania nacional e completa submissão por parte dos partidos do “arco” à Alemanha.
Relativamente à questão do pagamento da dívida é que não há nenhuma dúvida: ela não é pagável, pelo menos nos próximos cem anos, e muito menos sem crescimento.
Concordo com o seu comentário, mas isso só é possível com um povo mais esclarecido e a prova que temos tido é o contrário: um povo que continua a votar nos ladrões que o roubam.
não é uma questão de ser possível ou não sair do Euro, e se isto nos vai ajudar ou não a viver melhor neste cantinho a que chamamos portugal. A questão é conseguir que os seres humanos possam viver todos melhor e com menos desigualdade neste continente que se chama Europa. Conseguir pensar em termos de Europa foi um grande avanço. Continuar a pensar em termos nacionais é parolo, saloio e reaccionário. A luta política deve ser a nível europeu e não em termos nacionalistas serôdios. E nem vale a pena invocar argumentos históricos ideológicos que o Francisco conhece tão bem. Por estas razões é que deploro o recente cartaz do BE a criticar o governo por ser alemão, dum primarismo reaccionário que não tem nada a ver com a matriz ideológica de que o BE se reclama. O Marx também era alemão! E vamos deixar de ser marxistas?
A solução tem que ser europeia e a luta é conseguir transformar as instituições europeias em instituições democráticas que representem os cidadãos europeus. E é aí que devemos concentrar os esforços, não numa luta de galos franceses contra os falso da beira-baixa ou algarvios ou transmontanos ou catalães ou asturianos ou piemonteses ou flamengos ou escoceses ou galeses ou bretães…
Li o cartaz e vi que criticava o governo alemão e Merkel, e não o governo por ser alemão.
“Continuar a pensar em termos nacionais é parolo, saloio e reaccionário.”
A isto chegou a argumentação dos concentracionários europeístas.
O que está a dizer não tem nexo nenhum. As lutas fazem-se na progressão de território, a menos que possua uma bomba H e a largue no centro nevrálgico do inimigo.
Só para dizer que a expressão não é (não deve ser, não foi nunca…) ‘dia a dia Deus melhora’.
Mas sim: ‘de hora a hora Deus melhora’…
Cumps
Tem toda a razão, corrigido.
Deus melhora dia a dia é uma expressão que gsoto , não tanto como campanhas eleitorais !
O problema principal dos políticos e economistas, já não é provar que o regresso á moeda nacional é benéfico para o país.
O problema é convencer as pessoas que o escudo é melhor que uma moeda forte como o euro (esqueçam a Alemanha porque a Alemanha tem saído beneficiada da União Europeia, mesmo antes do euro, e não vai facilitar a vida a ninguém porque estão completamente viciados em excedentes comerciais).
Antes de apontarem as vantagens, têm que apontar os perdedores, ou seja, os detentores de capital em Portugal (os muito ricos que entretanto não conseguirem fugir com os capitais para o estrangeiro), os importadores, ou outros dependentes do estrangeiro e empresários rentistas.
Depois sim apresentar as vantagens. O BOOM no turismo, a produção interna de bens e serviços (e máquinas – muito importante), pescas, agricultura, exportações, etc, etc, etc.
É fazer as contas (como dizia o outro). Apresentar o número de cidadãos portugueses directa ou indirectamente (dependentes familiares desse cidadão) que sairão prejudicados, e o número que sairão beneficiados (ganhavam por larga margem).
Resumindo. São os empresários não rentistas que mais têm a ganhar com o regresso ao escudo.
Eles sim dão emprego a sério, e são a riqueza de um país.
então não viu o descontetamento com a queda do BES
agora se fizesse cair o uero nao havia pequeno-burguês qu resistisse , q dicide as eleições é a burguesia . a bruguesia ou o Costa evidentemente : actores da Hist´oria
por outro lado , as coisas apenas precisam de um arranque …
Costa tem solução :
dar entrevista ao orgão noticioso oficial do partido e contar com os investimentos chineses
trazem o dinheiro
Sim!
Só há dinheiro onde há mercadorias!
F Louçã ,
excelente adjectivação da questão !
Bem haja
explique-nos lá como é que a saída do euro corrige a dívida , e como diz o outro – explique-me como se fosse mt burro
não m diga que está a ver multiplicadores , onde só vejo efeitos multiplicativos . os juros multiplicavam , o principal multiplicava ; a moeda-bancária multiplicava
…as importações des-multiplicavam
claro ,
a nova moeda vai ter a forma da cerâmica , Doutos Drs. da nossa praça..
Se Portugal tivesse moeda própria, redenominava em escudos a sua dívida pública sujeita à lei portuguesa. Como o escudo desvaloriza, o valor da dívida também.
Portugal não pode renedominar a sua dívida externa unilateralmente. E a maioria da nossa dívida é externa.
Entrariamos em batalhas legais eternas, que não conseguiriamos vencer. Além que mesmo que vencessemos (o que não acredito), significaria que não teriamos credibilidade para pedir crédito.
No win situation.
Pode. Tem o direito legal, desde que esteja submetido à lei portuguesa.
o resgate ficava logo de fora
a outra não sei … nao sei em q jurisdição o gov. anda a emitir… mas grande parte dela tb é divida interna (vide a usura nos certificados de “aforro”) .. externa privada sao aí uns 20% … isso era bom era em 2011 ..
mas pra a grécia é um problema … os credores são todos além macedónia ..
Compreendo que queira usar um pseudónimo, mas devia procurar informar-se, é o que todos devemos fazer. Assim, as opiniões têm mais sentido.
Yes