Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Ricardo Cabral

27 de Fevereiro de 2015, 13:47

Por

A 2ª batalha (negocial) inicia-se

É sabido que vão ser necessárias várias negociações entre a Grécia e os parceiros e credores da zona euro. Tsipras tinha alertado, aliás, que iriam ser necessárias várias “batalhas” (negociais). Na primeira “batalha” o lado grego, ameaçado com a catástrofe, viu-se forçado, no último minuto possível, a recuar em “quase” toda a linha, minimizando os “danos” sofridos por tal recuo.

Ao fazê-lo e ao aceitar quase todas as condições do outro lado, o governo grego obrigou aos credores e parceiros da zona euro a entrar em acordo e a arriscar mais do que já tinham arriscado até aqui.

Esta semana já se iniciou a segunda batalha negocial.

Segundo o ekathimerini, em Março vencem 7,3 mil milhões de euros de dívida pública da Grécia, sobretudo dívida de curto prazo, mas também alguma dívida ao FMI (1,6 mil milhões de euros).

Bild greece large_1_0O acordo a que se chegou a semana passada obriga a uma solução para este problema de financiamento do governo grego. A Alemanha, pelo seu ministro das finanças já veio dizer que não serão autorizados quaisquer pagamentos adicionais para Atenas – espelhado nas paragonas do tablóide BILD – “NEIN”. O veto do governo alemão a financiamento adicional – que é credível dado que é com base nessa promessa do ministro das finanças (e do governo) da Alemanha que o parlamento alemão aprovou a extensão do resgate hoje –, significa que não poderão ser transferidos montantes provenientes do financiamento controlado pela troika, o que obriga a encontrar uma solução alternativa.

O entendimento possível e provável será o BCE dar o dito por não dito, permitindo à banca grega refinanciar mais bilhetes do tesouro junto do Eurosistema, aumentando o limite dos actuais 3,5 mil milhões de euros para cerca de 10 mil milhões de euros. E aumentando o limite global de refinanciamento (bancos gregos e bancos estrangeiros) deste tipo de dívida grega de 15 mil milhões de euros para cerca de 17 mil milhões de euros.

Ou seja, o recuo do governo grego colocou os seus parceiros e credores europeus num dilema. Os gregos disseram que sim a “quase” tudo, mas se não lhes emprestarem mais dinheiro o governo grego entra em bancarrota e a Grécia não paga aos seus credores externos cerca de 400 mil milhões de euros. A opção dos credores é pois, agora, emprestar mais 7 mil milhões de euros ou ficar a ver voar 400 mil milhões de euros.

Afigura-se que os credores irão sentir que não têm outra alternativa senão emprestar 7 mil milhões de euros – “perdido por cem, perdido por mil”?

Por isso, é que o recuo negocial do governo grego foi uma boa jogada estratégica. Se entrarem em incumprimento, a culpa não é deles nem é uma decisão unilateral. Simplesmente não têm dinheiro para pagar as contas…

Espero que o governo grego utilize o mês ou os meses que ganhou nesta segunda negociação para preparar uma alternativa “B” (que não tem de ser a saída do euro).

Comentários

  1. «Espero que o governo grego utilize o mês ou os meses que ganhou nesta segunda negociação para preparar uma alternativa “B” (que não tem de ser a saída do euro).»
    Que enigmático!
    Acha mesmo que há por parte da Grécia alguma solução mágica para este problema?
    Quanto aos 400 mil milhões de euros que a Grécia deve (presumo que a soma da dívida pública, privada das famílias e privada das empresas), fazem-me lembrar a dívida externa portuguesa, que, segundo tem vindo a lume, é ainda maior que essa. É por isso que acho muita piada quando ouço tantos portugueses a afiançarem que “NÓS NÃO SOMOS A GRÉCIA”!

    1. Caro Mário Pereira,

      agradeço o seu comentário. Sim, acho que há soluções e não são soluções mágicas. Os desafios que o governo grego enfrenta são muito concretos. As soluções têm de ser também concretas e sobretudo operacionalizáveis no curto prazo.

      Os 400 mil milhões de euros são a dívida externa bruta de governo, banco central e banca comercial da Grécia.

      Tem razão na sua avaliação que Portugal está numa situação muito parecida. A dívida externa portuguesa é da mesma ordem de grandeza.

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