É sabido que vão ser necessárias várias negociações entre a Grécia e os parceiros e credores da zona euro. Tsipras tinha alertado, aliás, que iriam ser necessárias várias “batalhas” (negociais). Na primeira “batalha” o lado grego, ameaçado com a catástrofe, viu-se forçado, no último minuto possível, a recuar em “quase” toda a linha, minimizando os “danos” sofridos por tal recuo.
Ao fazê-lo e ao aceitar quase todas as condições do outro lado, o governo grego obrigou aos credores e parceiros da zona euro a entrar em acordo e a arriscar mais do que já tinham arriscado até aqui.
Esta semana já se iniciou a segunda batalha negocial.
Segundo o ekathimerini, em Março vencem 7,3 mil milhões de euros de dívida pública da Grécia, sobretudo dívida de curto prazo, mas também alguma dívida ao FMI (1,6 mil milhões de euros).
O acordo a que se chegou a semana passada obriga a uma solução para este problema de financiamento do governo grego. A Alemanha, pelo seu ministro das finanças já veio dizer que não serão autorizados quaisquer pagamentos adicionais para Atenas – espelhado nas paragonas do tablóide BILD – “NEIN”. O veto do governo alemão a financiamento adicional – que é credível dado que é com base nessa promessa do ministro das finanças (e do governo) da Alemanha que o parlamento alemão aprovou a extensão do resgate hoje –, significa que não poderão ser transferidos montantes provenientes do financiamento controlado pela troika, o que obriga a encontrar uma solução alternativa.
O entendimento possível e provável será o BCE dar o dito por não dito, permitindo à banca grega refinanciar mais bilhetes do tesouro junto do Eurosistema, aumentando o limite dos actuais 3,5 mil milhões de euros para cerca de 10 mil milhões de euros. E aumentando o limite global de refinanciamento (bancos gregos e bancos estrangeiros) deste tipo de dívida grega de 15 mil milhões de euros para cerca de 17 mil milhões de euros.
Ou seja, o recuo do governo grego colocou os seus parceiros e credores europeus num dilema. Os gregos disseram que sim a “quase” tudo, mas se não lhes emprestarem mais dinheiro o governo grego entra em bancarrota e a Grécia não paga aos seus credores externos cerca de 400 mil milhões de euros. A opção dos credores é pois, agora, emprestar mais 7 mil milhões de euros ou ficar a ver voar 400 mil milhões de euros.
Afigura-se que os credores irão sentir que não têm outra alternativa senão emprestar 7 mil milhões de euros – “perdido por cem, perdido por mil”?
Por isso, é que o recuo negocial do governo grego foi uma boa jogada estratégica. Se entrarem em incumprimento, a culpa não é deles nem é uma decisão unilateral. Simplesmente não têm dinheiro para pagar as contas…
Espero que o governo grego utilize o mês ou os meses que ganhou nesta segunda negociação para preparar uma alternativa “B” (que não tem de ser a saída do euro).
«Espero que o governo grego utilize o mês ou os meses que ganhou nesta segunda negociação para preparar uma alternativa “B” (que não tem de ser a saída do euro).»
Que enigmático!
Acha mesmo que há por parte da Grécia alguma solução mágica para este problema?
Quanto aos 400 mil milhões de euros que a Grécia deve (presumo que a soma da dívida pública, privada das famílias e privada das empresas), fazem-me lembrar a dívida externa portuguesa, que, segundo tem vindo a lume, é ainda maior que essa. É por isso que acho muita piada quando ouço tantos portugueses a afiançarem que “NÓS NÃO SOMOS A GRÉCIA”!
Caro Mário Pereira,
agradeço o seu comentário. Sim, acho que há soluções e não são soluções mágicas. Os desafios que o governo grego enfrenta são muito concretos. As soluções têm de ser também concretas e sobretudo operacionalizáveis no curto prazo.
Os 400 mil milhões de euros são a dívida externa bruta de governo, banco central e banca comercial da Grécia.
Tem razão na sua avaliação que Portugal está numa situação muito parecida. A dívida externa portuguesa é da mesma ordem de grandeza.