Tudo Menos Economia

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Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

10 de Novembro de 2014, 09:02

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O mercado dispara quase tão depressa como a sua própria sombra

bava e coelhoDemorou alguns dias, mas chegou no fim de semana a resposta fuzilante de comentadores económicos contra o apelo pelo resgate da PT (a resposta do ministro Pires de Lima entra noutra categoria, que ele se encarregou de criar para si próprio). A bateria desses comentadores disparou em ordem e sempre com o mesmo argumento: deixem o mercado funcionar.

Pedro Sousa Carvalho, aqui no PÚBLICO (7 novembro), atira a matar e escolhe para isso o mais fácil, a etiqueta partidária: “Na mesma onda deste discurso de carteira vazia e que olha para o capital estrangeiro com desdém, um grupo de 14 personalidades, da direita à esquerda, de Bagão Félix a Francisco Louçã, assinou umaespécie de manifesto, intitulado de ‘Apelo para resgatar a PT’ em que defendem não se percebe muito bem o quê e pedem ao Governo para fazer não se sabe muito bem o quê para salvar a Portugal Telecom. O argumento de salvar a PT para defender a ‘soberania nacional’ junta na mesma frase o pior do CDS (o discurso bolorento da soberania) e o pior do Bloco de Esquerda (a visão estatizante da economia)”. Deixem o mercado funcionar.

No Expresso (8 novembro), João Vieira Pereira, director-adjunto, intitula a sua catilinária com um “Por favor, não resgatem a PT”, para logo explicar que o apelo é um “discurso que me dá urticária” e um “disparate hilariante”. Abençoado país que tem analistas tão preclaros que nos salvam das trevas e, sobretudo, dos “disparates hilariantes”. Vieira Pereira concede uma explicação, porque ele sim, tem uma alternativa: a “concorrência é o principal motor da eficiência e do crescimento”. Deixem o mercado funcionar, já viram onde a concorrência nos leva.

Luís Marques, no mesmo Expresso mas sempre mais moderado, arruma o assunto escrevendo que o apelo é um “absurdo”, mas anuncia que prefere que seja evitada a “inação”: “O governo não se deve envolver no processo de venda, mas deve exigir que esse processo seja transparente”. Deixem o mercado funcionar, transparentemente.

Pedro Santos Guerreiro, ainda no mesmo Expresso, vitupera as “ingenuidade de soldadinhos de chumbo em luta pelas guerras erradas” e, ao arrepio de muito do que tem escrito, acrescenta: “Querer andar para trás é o mais estranho. Resgatar a PT? Por dinheiro do Estado numa empresa que vale pouco mais do que deve? Restabelecer o saudosismo, voltar à empresa das rendas que acomodava tudo, todos, sempre?”. Também ele tem uma solução: deixem o mercado funcionar, desde que seja com gente boa. E concretiza: “O país está a ser vendido e isso não se resolve com nacionalizações. Resolve-se com empresários honestos, com gestores bons, bancos sérios e políticos com visão.”

Olhar o capital estrangeiro “com desdém”? Então não correu bem a fusão com o capital estrangeiro da Oi? E não correu bem a venda da ANA, que benefício para a concorrência? E a nacionalização pelo Estado chinês da EDP e da REN, abençoado capital estrangeiro que nos dá o pão nosso de cada dia?

“Voltar à empresa das rendas”? Mas não foram as rendas, a do BES, com a Rioforte e outras, que vergaram a PT?

“Empresários honestos”, mas não eram o Henrique Granadeiro e o Rafael Mora?

“Gestores bons”, mas não tínhamos o Zeinal Bava?

“Bancos sérios”, mas isso não era o Ricardo Salgado?

“Políticos com visão”? Então estamos descansados, temos Passos Coelho e Cavaco  Silva. Eles deixam o mercado funcionar, vai ser cada vez melhor.

Que a PT SGPS tome posição sobre a anunciada venda da PT pela Oi? Coisa de pobres “soldadinhos de chumbo”. Que o Estado determine o voto do seu dinheiro na PT SGPS? Absurdo “discurso bolorento”. Que o Estado condicione o negócio para proteger o interesse estratégico dos consumidores, da economia portuguesa e da sua capacidade inovadora? Triste “discurso de carteira vazia”.

Deixem o mercado funcionar. Este país ainda há-de ser um grande Portugal. Se deixarem o mercado funcionar.

Comentários

  1. A lógica básica dos mentecaptos de serviço que todas as manhãs rezam missa pelo “mercado” e pelos “mercados” é a seguinte: dado o falhanço dos capitalistas e banqueiros nacionais (que ainda há pouco tempo bajulavam), o pais deve ser entregue a “investidores internacionais” – que ninguém conhece -, uma vez que só eles poderão conduzir-nos à prosperidade.

    Esquecem-se que com toda a probabilidade (dado o estado do país) esses “investidores” pertencem precisamente à categoria de abutres sem escrúpulos – doutorados em engenharia financeirra e peritos em restabelecer a “competitividade” despedindo pessoal – que foram responsáveis pela maior crise financeira de que há memória desde 1929. Crise de que – é preciso lembrar – as economias desenvolvidas ainda não recuperaram nem recuperarão, se continuarem a ser aplicadas as atuais políticas de “austeridade” predatória (para a esmagadora maioria).

    1. Não creio que sejam mentecaptos, mas sim pessoas inteligentes, em geral. Mas seguem uma agenda e essa é a liberalização: os mercados têm sempre razão. Estão errados.

  2. A minha questão: o que podemos fazer, enquanto colectivo?
    O que deve ser esperado e exigido de nós, enquanto povo?
    O que é exigível nestes tempos de cada cidadão nacional?
    O que podemos fazer para que possamos impedir que as elites políticas e económicas nos roubem o futuro desta forma desenvergonhada, conspurcada, corrupta, absolutamente enlameada?
    A política e a economia em Portugal é uma gamela conjunta onde os porcos se regozijem sobre o suor de um povo.

    1. Como terá verificado – por exemplo, n’Os Burgueses – a relação de paredes meias entre os governos e as grandes empresas é muita densa. É preciso recuar ao governo de Lurdes Pintasilgo para encontrar o último governo que não tinha BES… Por isso, só há uma solução que responda pelo país quando se enfrentar o poder da finança.

  3. bem
    depois deste reflexão toda
    vale a pena dizer que a legionella tambem coloniza equipamentos de refrigeração

    Ora, se coloniza é porque se desloca ; e está “em natureza”

  4. claro ,
    isto (os ultimo tres anos e o que os seguintes três) pode ser resumidos assim
    enquanto o psd-coelho promove a “pilhagem internacional” ; o ps-costa faz “a defesa do mercado” ; bem vistas as coisas só um se inscreveria como ideologia oficial ; q isso é como em todo o lado ; nenhum gangue ou cartel põe à porta do establecimento “rouba-se” ; antes
    psd: “personalismo” ; ie, a “pessoa humana” do dinheiro
    ps: “bonomia socialista” ; e logo “mercado de status” dus logares

  5. bem
    só há duas hipoteses; ou se toma o poder pelas armas , ou é melhor que o proximo governo ps pense em por em sentido a armada ; “juncker” ; “juncker” ……………. pior que um vermelho da coreia , um laranja do cacem ; só mesmo um “rosa” poliglota do luxemburgo

    1. a europa precisa de uma política transformadora que defenda o estado social ; o euro podeia servir para baixar o horário de trabalho

  6. e ivva o info mediático
    a carteira profissional , e o régulo partidário ………………
    Cavaco esse , deu uma entrevista “mas está de partida” ; ponto final

  7. duas palavras para aqui
    “a pt” é uma “questão de segurança nacional” ; quem nao percebe isso devia ser fuzilado
    e se os tempos nao se de fulizado é de por ao menos alguem a mandar ……..

    1. arrojo, minha cara
      mas lembre-se, Portugal já teve uma revolução (sim uma revolução) e não ficou barata

  8. não percebo
    este país tá tomado.
    o pior – é que o que prolifera são jornalistas com cabeça de políticos e politicos com a conversa de jornalistas

    Costa , esse
    nem sequer diz nada

    1. este fm de semana foram pelo menos dois comícios
      um respondeu à Merkel e no outro falou às bases – a garra está de volta

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