“Fado Camané”, um documentário de Bruno de Almeida, abriu uma das secções do DocLisboa e está agora nos cinemas. O realizador já tinha feito o vídeo de “Sei de um Rio”, mas agora conta-nos, a propósito da gravação de um disco, como Camané, ao lado de José Mário Branco e de Manuela de Freitas, faz do seu mundo uma música fascinante. Camané tem sido um dos reinventores do fado, é uma das vozes mais sublimes do nosso tempo e também um cultor da poesia, de letras fascinantes. A música dele tem algo para dizer. No meio da vacuidade de palavras gastas ou insignificantes, este cuidado amoroso com a letra é radioso, e é o que nos conta o filme.
“Mudar de Vida, José Mário Branco, vida e obra”, um documentário anterior, foi realizado por Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo e mostrado no IndieLisboa no 25 de Abril. Como o filme de Bruno de Almeida, é também sobre a invenção das palavras e dos sons e, neste caso, sobre um dos “homens dos sete ofícios” que têm marcado a música popular portuguesa desde há muito anos. Não era trabalho fácil.
Cantor, compositor, produtor, director artístico, poeta, José Mário Branco tem-se dedicado sempre mais aos outros do que a si próprio, mantendo uma reserva contida que o distancia da evidência pública, sobretudo nos últimos anos. Guerreiro e Fidalgo descobrem os segredos dessa reserva e expõem a força daquela música e de quem a canta. José Mário Branco enche o filme.
Assim é: de uns se dirá que são generosos, dele dir-se-á mais, que se empenha sempre. É tamanho empenho que se vive no filme (aqui explicado numa entrevista dos autores). A música conta a história, desde o exílio em Paris até ao entusiasmo revolucionário, uma vida que vai de Antero de Quental ao fado de Camané. Intransigente, radical, verdadeiro.
Para muitos, será comovente ver estes retratos do nosso tempo. É mesmo comovente.
Não vi o documentário sobre o Camané. Mas recomendo a todos a passagem do Mudar de Vida em que o Zé Mário está a produzir o Camané. Resume os 2, o fado, a compreensão da música….. É belo!
Olá Francisco Louçã
Ao ler os seus artigos tão assertivos e recomendações culturais como esta é difícil não retorquir com algo.
Para além dos ícones incontornáveis que nos trouxe até aqui, chamo a atenção para um álbum deste ano, que deixou um rasto escasso, observada a valia das canções, “Pelo meu relógio são horas de matar”, o último trabalho dos Mão Morta.
Obrigado pela referência. Já ouvi, o Adolfo é um criador intenso.
Boa tarde Sr. Louçã.
Peço desculpa pelo lapso pois não tinha conhecimento…e precipitei-me.
Peço desculpa.
Não tem que pedir desculpa. É um excelente filme e ainda bem que o sublinha.
Queria informar o Sr. Loucã de que foi estreia dia 18 de Setembro um documentário sobre o Cante Alentejano, Alentejo Alentejo de Sérgio Tréfaut. Talvez por ser Alentejo passou-lhe ao lado. Deixo em baixo alguma informação.
“Alentejo, Sul de Portugal. Dezenas de grupos amadores reúnem-se regularmente para ensaiar antigos cantos polifónicos e para improvisar modas sobre o tempo presente. Isto é o cante.
Nascido nas tabernas e nos campos, o cante transmitiu-se ao longo de várias gerações. Nas últimas décadas, com a diáspora alentejana, novos grupos surgiram na periferia de Lisboa e em diversos países de emigração. Muitos deles formados por adolescentes e crianças, provando que o cante está vivo e é o traço identitário de toda uma população.
Alentejo, Alentejo é uma viagem a um modo de expressão musical único e à paixão dos seus intérpretes.”
Obrigado pela informação, mas vem tarde. Escrevi sobre o “Alentejo Alentejo”, aqui (http://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2014/09/24/alentejo-alentejo/) e falei dele no meu programa na SicN, às 6ªf à noite.
gostaria de acrescentar que um dos grandes discos de musica portuguesa chama-se “resistir é vencer” do josé mario branco.ouçam este disco,ouçam as letras deste disco, e depois comparem com a situação actual de portugal.josé mario branco tinha e tem muita razão em tudo o que diz e faz.sem clubites partidarias…
Boa recomendação.