O Relatório do OE tem 278 páginas. Extenso como é habitual. Com as acessíveis técnicas de busca, resolvi fazer um exercício: escolher alguns vocábulos e ver a sua frequência ao longo do documento em redor de dois grupos: de natureza mais económica e de âmbito mais social. Os resultados das citações foram:
PIB | 319 | Banca (bancos) | 18 |
Dívida | 197 | Crise | 11 |
Crescimento | 165 | Equidade | 8 |
Economia | 159 | Pobreza | 5 |
Impostos (s) | 138 | Idoso (s) | 4 |
Défice | 113 | Corte (s) | 4 |
Desemprego | 80 | Criança (s) | 3 |
Jovens | 61 | Desigualdade | 3 |
Poupança (s) | 53 | Bem-estar | 1 |
Tr. Constitucional | 38 | Redistribuição | 1 |
Trabalhador (es) | 36 | Estado Social | 0 |
Privatizações | 19 | Constituição | 0 |
Podem analisar-se estes dados como uma simples curiosidade. Mas também é admissível (embora obviamente discutível) fazer uma leitura mais política . Por mim, embora com todas as reservas desta “bisbilhotice orçamental”, diria que a) a economia dá uma “cabazada” ao social (1185 referências contra 202, ou seja uma razão de quase 6 para 1); b) A obsessão sobre o Tribunal Constitucional (38) é por demais evidente, ao passo que a Constituição, ela própria, não merece qualquer referência; c) o optimismo das previsões de crescimento (165) é traduzido abundantemente no uso daquela palavra; d) o Governo continua a preferir o eufemismo poupança (53) a cortes (4); e) a dívida, afinal, é um problema sério (197); f) os impostos continuam, a reinar (138); g) a crise já está a passar (11), h) os grupos mais vulneráveis (pobres, idosos, crianças) são apenas esparsamente referidos (11); i) o Estado Social (0) não faz parte do Estado.
A análise de conteúdo de pendor quantitativo pode continuar, não obstante as limitações associadas a uma racionalidade eminentemente positivista e sobretudo a estratégia que lhe subjaz, a ser uma interessante “caixa de ferramentas”.