É uma palavra que, de acordo com a Wikipedia, conjuga mereō ou meritum “merecer”, do latim, com o sufixo –cracy (“poder”) do antigo grego.
A meritocracia insinuou-se nas nossas vidas. Fomos educados a acreditar que a meritocracia desempenha um papel fundamental na organização (de parte) do nosso mundo e é um conceito com uma conotação positiva: os mais merecedores triunfam (e são recompensados não no céu, mas nesta vida)!
Mas a palavra meritocracia é uma invenção recente. Não existia tal palavra antes de Lord Michael Young, Baron Young of Dartington, um destacado pensador do partido trabalhista inglês do pós guerra e membro de um governo trabalhista, a ter inventado numa sátira “The rise of meritocracy”, publicada em 1958.
Na minha perspectiva, meritocracia é um conceito utópico, que muitas vezes não reflecte a realidade.
Lavagem ao cérebro, talvez?
Obrigado pelos comentários.
Vejo, então, que o conceito foi cunhado quando nasci. Não admira portanto que, mau grado a frequência de escolas de bom nome, reputação e proveito, eu fosse ainda educada num paradigma mais antigo, caído entretanto em desuso. Eu já desconfiava que esta minha desadaptação aos tempos de agora fosse superior à minha determinação. Agora estou de consciência mais pacificada – tudo tem uma explicação. É esperar até que ela surja. Daqui um muito obrigada.
Não quero cair no exagero, mas creio que este foi o artigo mais sucinto e eficaz que li nos últimos tempos, e que melhor reflecte aquilo que se anda a passar em Portugal. Sim, para bom entendedor, meia palavra basta. Parabéns
A meritocracia é frequentemente evocada de forma contraditória. Os agentes políticos confundem (ou querem confundir) causa e efeito, ao sabor do eleitorado, muito à semelhança do episódio sobre o que seriam afinal as “gorduras do Estado”. Já os agentes económicos usam a premissa no seu sentido estrito, para fomentar competição, alcançar o sucesso, e assim determinar os indicadores sociais que diferenciam uns dos outros. O darwinismo social parece prevalecer, mas será que este é mesmo o caminho? Os agentes sociais vão estar condicionados à cartilha do sucesso a todo o custo? No mínimo, este episódio de Ricardo Salgado a gracejar sobre as “brincadeiras na Comporta” enquanto defraudava clientes e empresas, obriga a uma reflexão sobre os nossos valores, e quem queremos ser enquanto sociedade.
O problema da meritocracia é que acaba por degenerar na “cultura da excelência”. Essencialmente os melhores (para certas definições de melhores) vão ficar com a totalidade dos recursos (seja salário, seja tempo, seja componentes, etc), impedido o progresso e o crescimento dos menos bons. Ao premiar o mérito, estamos a criar novas oligarquias que usam os seus maiores recursos para manterem os seus privilégios, em prejuízo de todos os “sem mérito” e em prejuízo do output global. Um país que só presta atenção aos 10% melhores, está a ignorar a contribuição que os outros 90% podem trazer.
Não é a meritocracia um subproduto do neoliberalismo?
Suponhamos, a título de exemplo, que eu trabalho no ramo da física nuclear. Sou bom no que faço e mereci o lugar de destaque que tenho na minha empresa, a chefia de uma equipa de investigação.
No entanto, neste dois últimos meses de trabalho, alguém que contratei para a minha equipa se demonstrou melhor líder que eu, melhor físico que eu. O meu lugar ficou à sua disposição. Perdi de imediato a liderança do grupo porque o meu chefe encontrou alguém melhor que eu, e encontrará sempre que procurar.
Não quero dizer com isto que favoreço o sistema das cunhas, mas a partir do momento que estou num lugar, crio laços à minha volta, não será que só não perco o lugar porque o meu chefe não segue a regra do mérito?
Não sei muito bem como será em todas as sociedades no mundo, mas em Portugal, não tenho dúvidas que é completamente utópico. E isto aplica-se ao estado, às empresas, à sociedade em geral.
Agora como todas as utopias, mesmo que não seja implementada a 100% é óptimo se a tivermos como um farol à distância para onde possamos apontar o rumo.
Eu estou convencido que o problema com a meritocracia tem que ver com a nossa incapacidade de avaliar claramente as pessoas. Estamos normalmente muito mais presos aos estatutos (filiação, lugar ocupado, titulo, etc…) do que realmente à sua performance ou às suas capacidades. Também por este motivo nós somos tão avessos à clareza e transparência.
Eu trabalho no mundo universitário e é absolutamente incrível a incapacidade que a maioria (quase 100%) das instituições de ensino superior portuguesas não têm disponíveis páginas dos seus docentes com o seu output cientifico completo. Eu já estive envolvido na criação de alguns desses sites e vem sempre o argumento das “cinco publicações escolhidas”. Isto é uma pequena coisa, mas é curiosa! Porque motivo se resiste tanto à transparência destas listagens?? Porque motivo é tão difícil ao cidadão comum chegar ao sitio de um departamento ou faculdade e ver quem lá trabalha, o que faz, onde publica, o que publica? Essa investigação não é paga por todos? Não devia esta informação estra presente de forma clara e transparente?
Inclusivé na maioria das instituições a maioria das informações não estão disponíveis sem login!!! O que é completamente ridículo.
Porque motivo os dados dos bolseiros da FCT (nome, titulo da tese, orientador, instituição) há dez anos estavam disponíveis e hoje não? Eu tenho observado um claro retrocesso em Portugal (no qual a famos recente avaliação dos centros é um exemplo)
no que diz respeito à imparcialidade, transparência e logo da meritocracia.
Reflexão certeira no conteúdo e no tempo. Nas universidades vendeu-se, anos a fio, esta ideia da “meritocracia” que é utópica, não fosse ela dependente da apreciação humana e seus interesses. A aplicação deste conceito ao funcionalismo público, por exemplo, é bem interessante.
Concordo. Não é possível medir/avaliar pessoas com objectividade!