Crítica de dança: Sagração da Primavera, de Olga Roriz


A força do movimento de Roriz em diálogo com uma CNB de alto nível

Sagração da Primavera, de Olga Roriz

4 estrelas

La Valse, filme de João Botelho, coreografia de Paulo Ribeiro

3,5 estrelas

 

CNB, Teatro Camões, 31 Maio, 16h, sala cheia

 

Henriett Ventura é a eleita numa coreografia maior de Olga Roriz (fotografia ricardo brito)

Luísa Taveira, a directora artística da Companhia Nacional de Bailado (CNB), tem razão quando diz que Olga Roriz é a coreógrafa que melhor conhece a CNB. Ver Sagração da Primavera é encontrar nos corpos destes bailarinos a força com que, há algumas temporadas, enfrentaram (é este o termo adequado) Treze gestos de um corpo (2007) eIsolda (2009), dois exemplos de coreografias que Roriz remontou para a companhia, depois de terem sido criadas para o Ballet Gulbenkian.

A peça, criada pela coreógrafa em 2010 para a sua companhia e estreada no CCB, quando Taveira era responsável pela programação de dança – e quando na CNB se dançava uma lamentável versão da mesma peça de Cayetano de Soto, a terceira que a CNB interpretava [Nijinsky (1994 e 2006), Carlos Trincheiras (2004)], revela, uma vez mais, a força impressiva do movimento de Roriz dialogando com corpos que carregam em si uma ideia de grupo, de justo equilíbrio entre referências individuais e responsabilidade colectiva (por momentos, regressamos a uma das melhores interpretações da CNB nos últimos anos, As Bodas, de Bronislava Nijisnka, 2010). E, com isto, sabendo gerir uma herança que reclama de Maurice Béjart, Martha Graham e Pina Bausch as maiores influências, Olga Roriz inscreve Sagração na lista das suas peças maiores, como as colectivas As Troianas (1985) e Pedro e Inês (2004) e os solos como em Os Olhos de Gulay Cabbar (2000) ou Electra (2010).

Claro que podemos sempre dizer que o extraordinário trabalho de programação que Luísa Taveira tem feito nesta última temporada não apenas devolveu à CNB uma outra forma de resolver problemas de coesão, como obrigou a uma reestruturação dos desequilíbrios por demais evidentes e não resolvidos nas direcções artísticas anteriores. Mas é da força de Roriz que se falará, capaz de criar uma coreografia onde os desafios se colocam no jogo entre a eleita e os outros, entre homens e mulheres (e como Roriz os sabe tratar!), entre metáfora e narrativa. A coerência de Sagração está nesse diálogo sempre franco entre companhia e coreógrafa, aqui de uma emoção sem reservas.

O programa inclui um filme de João Botelho com coreografia de Paulo Ribeiro, a partir de La Valse, de Maurice Ravel, revelando o modo como o coreógrafo tem vindo a abrir cada vez mais o seu movimento, antes contido e cada vez mais uma materialização de uma dor interior, que torna o corpo irrestivelmente intenso. Botelho mostra alguma dificuldade em conseguir colocar-se perante a densidade deste movimento, contraindo os bailarinos em planos que os cercam e limitam.

A CNB está em digressão que a levará, em Junho, à Guarda (20, Teatro Municipal), Castelo Branco (29, Cineteatro Avenida), e em Julho, Caldas da Rainha (3, Centro Cultural e de Congressos), Porto (6, Coliseu) e Almada (12 e 13, Teatro Municipal).

La Valse (realização João Botelho, fotografia João Ribeiro, coreografia Paulo Ribeiro)

Texto publicado no PÚBLICO a 18 de Junho.

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