Maguy Marin é a convidada especial da 41ª edição do Festival d’Automne que acontece em Paris de 13 de Setembro a 31 de Dezembro deste ano. Será a primeira vez que a coreógrafa francesa, uma das mais radicais e interessantes daquela que foi a geração de ouro da dança contemporânea francesa, nos anos 80, se apresenta no festival.
Este é o primeiro efeito da nova direcção artística, da responsabilidade de Emmanuel Demarcy-Mota, também director do Théâtre de la Ville, nomeado no ano passado, por recomendação do presidente da câmara de Paris, Bertrand Delanöe, ao então ministro da cultura Frédèric Mitterrand.
Maguy Marin (Toulouse, 1951) apresentará cinco peças no festival, entre elas uma nova criação (Théâtre de la Bastille, 16 a 27 Outubro) e ainda May B, na imagem, (Le Cenquatre, 16 e 17 Novembro) peça criada em 1981, um marco no seu percurso e na história da dança europeia, e que se apresentará com o elenco original, onde se encontrava a brasileira Lia Rodrigues, então bailarina e hoje coreógrafa com passagem regular por Portugal. A peça, que se apresentou em Lisboa nos Encontros ACARTE em 1992, parte do universo criado pelo dramaturgo Samuel Beckett.
O ciclo tem ainda a particularidade de “espalhar” o trabalho de Maguy Marin por vários teatros da cidade, num esforço que é entendido pela nova direcção artística como uma oportunidade para devolver ao Festival d’Automne a sua condição de festival da cidade de Paris, ao invés da ideia de uma temporada, como o que tem acontecido nos últimos anos. O festival tem a duração de três meses e, apesar de algumas temáticas e anos dedicados a países ou regiões do mundo (recentemente os Estados Unidos, o Médio Oriente ou o Japão), vinha perdendo alguma da sua força, face a outros festivais como o Kunsten Festival des Arts, em Bruxelas, que acontecendo mais cedo (em Maio), tinha a possibilidade de estrear espectáculos que mais tarde se apresentariam em Paris. Ou, então, passariam primeiro pelo Festival de Avignon, que acontece em Julho.
Mas a edição tem outros atractivos, entre eles um recital da actriz alemã Angela Winkler, (Ich liebe dich, kann ich nicht sagen, Les Abesses, 13 e 14 Outubro), elemento central do Berliner Ensemble, que vimos em Portugal por duas vezes em 2010 (John Gabriel Borkman, encenação Thomas Ostermeier; Peer Gynt, encenação Peter Zadek, Teatro Municipal de Almada).
Nesta edição ver-se-á ainda o regresso de Claude Régy a Tarjei Vesaas, o autor norueguês que descobriu com Brume de Dieu na edição de 2010. Le barque le soir apresenta-se no Ódeon de 27 Setembro a 3 Novembro. Régy, que esteve em Almada em 2010 com Ode Marítima, a partir de Fernando Pessoa, fala da sua nova peça como “uma aventura do corpo e do espírito, uma experiência suscitada pelo que é extremo no ser humano, no momento dilatado da sua ruptura”.
Nomes como o polaco Krystian Lupa (La cité du rêve, Théâtre de la Ville, 5 a 9 Outubro), o suíço Christoph Marthaler, que este ano vem ao Festival de Teatro de Almada/Centro Cultural de Belém, dias 13 e 14 Julho com + ou – zero (Foi, Amour, Esperance, 14 a 21 Setembro e Meine Faire Dame, 11 a 16 Dezembro, ambas no Ódeon) e Oriza Hirata, figura de culto no teatro japonês (As três Irmãs versão Androide e Sayonara ver.2, ambas em Dezembro, de 15 a 20, no Théâtre de Gennevilliers), também fazem parte da programação. No teatro destaque ainda para duas peças que já vimos em Portugal. O alemão René Pollesh apresenta Olhos nos Olhos, Contexto de Contestação Social! (15 a 19 Setembro, Théâtre de Gennevilliers), que esteve na última edição do Festival de Teatro de Almada, e o chileno Guillermo Calderón mostra Villa+Discurso (L’Apostrophe-Théâtre des Arts-Vergy e Les Abesses, 5 a 19 Outubro), que esteve no programa Próximo Futuro, da Fundação Calouste Gulbenkian também em 2011.
Na dança, e para além de Maguy Marin, destaque para o encontro da coreógrafa Emmanuelle Huyn com o bailarino de butoh Akira Kasai em Spiel, espectáculo descrito como “espelho que revela as cartografias subjectivas [de cada um] para melhor desfazer as fronteiras”. E ainda destaque para Disabled Theater a nova peça de Jérôme Bel, estreada na semana passada no Kunsten – e que veremos este ano em Avignon – com os intérpretes portadores de deficiência do Theater Hora (Centre Pompidou, 10 a 13 Outubro). Xavier Le Roy apresenta Low Pieces, que esteve em Serralves no ano passado, e em Outubro François Chaignaud e Cecilia Bengolea estreiam nova peça. A dupla franco-argentina veio ao Festival Materiais Diversos em 2011com Les Sylphides e que regressam este ano a Portugal como co-autores de (M)imosa (Centro Cultural de Belém/Alkantara Festival, 4 e 5 Junho), peça também apresenta em 2011 no festival Circular, em Vila do Conde.
O Festival d’Automne dedica-se ainda a uma retrospectiva do cinema de Glauber Rocha e outra ao encontro entre Jonas Mekas e José Luís Guerin, para além de uma performance intitulada The Impossible Wardrobe no Palais de Tokyo, que junta o director do museu Galliera Olivier Saillard à actriz Tilda Swinton (29 Setembro a 1 Outubro). E na música, oportunidade para a remontagem da ópera The Sinking of Titanic, de Gavin Bryars, criada em 1979 e estreada no festival.
O programa pode ser consultado no site do festival em www.festival-automne.com/programme-2012.html, e os bilhetes serão postos à venda a partir de Julho.