Fim ano dos exames do 4.º
Do leitor Pedro Félix recebi a seguinte reclamação: «Pela primeira vez na minha vida sinto a totalmente irreprimível necessidade de escrever a um provedor. Fui, até há 30 minutos, um leitor do Público. Um leitor desde praticamente o início de publicação do jornal. Com o tempo, e com a “crise”, fomo-nos habituando a uma redução drástica da qualidade dos artigos. Habituámo-nos a que só veiculassem certas notícias, que tivessem pouco apetite para o contraditório, que até enchessem páginas de erros ortográficos e gramaticais dos mais básicos. Mas hoje, com o artigo “Fim dos exames do 4º ano: as crianças andaram três anos a treinar «para nada»?” foi o chegar ao fim da linha.
Convoco a sua experiência como Professor e como Sociólogo e deixe-me só fazer notar uma mão cheia de ideias:
1) as crianças não estão na escola para ser treinadas;
2) os exames não avaliam nada da capacidade das crianças;
3) a pergunta chamada a título (decisão editorial) é profundamente fascista e ignorante;
4) a questão dos exames é claramente suportada por uma visão retrograda e conservadora do ensino, abandonada em cada vez mais países;
5) a autora de tão fraco artigo devia saber que nas escolas, em particular no 4º ano, não interessa a matéria dada,… a matéria é “despachada” até Fevereiro e entre Fevereiro e Maio as crianças estão constantemente a repetir perguntas “que vão sair no exame”.
É com muita pena que me despeço hoje do Público. Foi em tempos um jornal sério. É pelo respeito pessoal e académico que tenho pelo seu trabalho e a confiança na sua análise que me fizeram escrever esta carta.
Comentário: Solicitei à jornalista Graça Barbosa Ribeiro uma resposta. Ei-la: «Reparei ontem nisto mesmo, devido aos comentários parecidos com estes que foram feitos no facebook a esta peça, precisamente.
Quem quiser ler o texto verificará que fui fazer reportagem a uma escola e que o que descrevi foi o que vi e ouvi (e que, aliás, me surpreendeu). A expressão “treinar” e “para nada” foram usadas por crianças. Mas também pelos professores e ainda, desde que os exames foram instituídos, pelos maiores críticos dessas provas. Ao usá-la não estou, naturalmente, a defender “o treino para exames” como a solução para a melhoria da qualidade do ensino básico. Pelo que escreveu, interpretamos da mesma forma a reacção do leitor.
Agradeço, ainda assim, Sr. Provedor, que releia o texto. Se confirmar que a sua interpretação (que é também a minha) está correcta, talvez fosse importante reflectir sobre a intolerância de algumas pessoas em relação a realidades que são diferentes das que esperavam. Pessoalmente, acredito que, quanto mais tropeçamos nesta diferença e na força dos nossos preconceitos (incluindo o meu, já que pensei que ia dar uma alegria aos alunos com a notícia do fim dos exames), mais se justifica que nós, jornalistas, vamos para a rua e falemos com quem está no terreno, neste e em todos os campos