CORREIO LEITORES/PROVEDOR

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O PÚBLICO E OS CANDIDATOS A PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O leitor João Couto Lopes apresenta a seguinte queixa: «Venho por este meio mostrar o meu repúdio; hoje, no Vosso jornal (Público, 01.11.2015) mais uma falha no rigor e na isenção, em destacar o candidato presidencial da ultra- direita neoliberal, o Prof. Marcelo!

Será o “Público” mais um instrumento de propaganda da candidatura Marcelista? Basta ler a parte final do texto da página 16 para se perceber o que move a comunicação social!

Há as candidaturas de Sampaio da Nóvoa, Edgar Silva, Marisa Matias e outras que merecem respeito, por parte de um jornal como o Publico.

Isto não são meios de informar…são veículos de transporte ao fascismo;

Está a ser difícil encontrar um Jornal isento;

Julgo que o Sr. Provedor devia ter uma palavra a dizer, se o não fizer já diz o Povo quem cala consente e é conivente.» (…)

Comentário do provedor: Julgo que, a seu tempo, o PÚBLICO vai dar igual espaço aos outros candidatos.

CARTAS À DIRECTORA

Por sua vez, o leitor Luís Melo reclama sobre os critérios de selecção nas “Cartas à Directora”. E escreve: «Edição do Público de 4 de Novembro de 2015: é lamentável a seleção de “cartas à diretora” que refletem apenas a visão defendida pela Coligação Pàf. Num dia em que se agudizou o confronto entre duas posições sobre o futuro do País (nem sequer se trata de direita versus esquerda, é apenas pró-Pàf versus contra-Pàf), a direção do Público assume uma postura mediocremente partidária ao ignorar cartas de leitores que são contrárias ao que julga ser o interesse de quem financia a comunicação social (é a síndrome do His Master’s Voice).  

Para além de uma carta que enviei enfatizando a mudança de paradigma que a posição de A. Costa introduziu no debate político em Portugal, falei com algumas pessoas conhecidas que me disseram ter escrito, nesta mesma semana, cartas à diretora contrariando as posições da coligação neoliberal. E também com algumas que se pronunciaram a favor. 

Este equilíbrio entre posições opostas, que se estende a toda a sociedade portuguesa, e até atravessa alguns partidos, não é refletido por este jornal nas cartas dos leitores, quando deveria merecer uma atenção especial.

Antes pelo contrário, tal equilíbrio é espezinhado pela política cada vez mais enviesada da direção do jornal, que é patente nos Editoriais vácuos e amedrontados com que diariamente nos brinda. Para já, a direção vai escondendo a sua insuficiência jornalística com colunas de comentadores convidados (…) Não pensem que os leitores se deixam enganar por estes pequenos truques.

 

Espanta-me que os jornalistas ainda não tenham contestado, pelo menos internamente, as estratégias que os seus diretores designam eufemisticamente como “de interesse jornalístico”, das quais já resultou o afastamento de inúmeros leitores e o fim de muitos postos de trabalho dos profissionais da comunicação social. É um problema dos jornalistas, dirão alguns. Não, também é meu, porque sem jornalismo livre e plural, o pensamento único instala-se e as ditaduras mais ou menos disfarçadas regressam.»

Comentário do provedor: Provavelmente a melhor forma de contrariar esta contundente acusação que o leitor faz ao público e aos seus critérios editoriais é editar esta carta. Não creio que, não obstante as sempre possíveis críticas de discordância que a grande maioria dos leitores do PÚBLICO tenha a propósito desses critérios, estes comentários possam ser referendados por essa maioria. E digo-o pela percepção geral que tenho pelos comentários que recebo dos leitores. A gestão dos critérios de publicação de cartas não é nada fácil. Primeiro, porque são muitas e nem todas cabem no espaço que lhes está reservado. Há autores, mais activos, que enviam muitas cartas.  Depois, porque algumas não cumprem com as modalidades estabelecidas. Quanto ao critério dos conteúdos, e muito especialmente nas diferenças dos posicionamentos políticos e ideológicos, se o leitor reclamante acompanha habitualmente esta secção verá que esta diferenciação procura ser estabelecida. É evidente que face à presente situação política atravessamos no uma época de forte contestação e, sobretudo, de apaniguadas divergências políticas. Ainda no passado dia 3.11.2015, Graça Canto Moniz, na página 9 do i, acusava o PÚBLICO de declaradamente apoiar António Costa.

 

A PROPÓSITO DA DECLARAÇÃO INDEPENDISTA DA CATALUNHA

 

 O leitor Carlos A.F. de Moura veio pedir ao jornalista Jorge Almeida Fernandes alguns esclarecimentos. E escreve: «Na edição da passada Quarta-feira, dia 4 de Novembro, num artigo dedicado à situação na Catalunha causada pela discussão próxima pelo Parlamento de uma Declaração independentista (“Parlamento catalão vota declaração independentista na próxima semana”), o Jornalista Jorge Almeida Fernandes escreve “Os soberanistas têm um problema a resolver: Como construir um Estado independente em situação de minoria? Nas eleições plebiscito de 27 de Setembro, as suas listas apenas somaram – com os votos da CUP – 47,8% dos sufrágios, contra 52,2% das listas “unionista”.

Isto seria de facto assim se todas as outras listas se tivessem pronunciado contra a independência. Porém tal não se verifica.

A análise feita omite (seguramente por distracção) que Iniciativa per Catalunya – Verds/ Esquerra Unida i Alternativa, que concorria a estas eleições em conjunto com o movimento “Podemos”, sob a designação de Catalunya si que es pot, nunca se colocou contra a independência, mas fá-la depender de um referendo. Daí os eleitores que de facto votaram em forças “unionistas” foram apenas 39,17% (PP, Ciutatans e PSC). Desconhecendo-se ainda para que lado se inclinaria o eleitorado que votou em outros partidos (148.529 eleitores, ou seja 3,63% votaram em Unió, PACMA, Recorts, Ganemos e Pirata).

Há assim uma conclusão ineludível, sem que exista um referendo a melhor aproximação que temos é a diferença entre o SIM com 47,74%, o NÃO com 39,17%, e uma incógnita respeitante a 12,57%.

Seria de esperar que o Público fornecesse uma informação rigorosa sobre a questão, quando o que parece foi ter optado por repercutir a abordagem da impressa madrilena (particularmente El País) sobre o assunto.»

Solicitei ao jornalista Jorge Almeida Fernandes uma resposta a este comentário do leitor. Ei-lo:

«Peço que agradeça em meu nome a crítica do leitor, que passo a esclarecer.As eleições de 27 de Setembro foram transformadas num “referendo” sobre a independência por Artur Mas e pela coligação “Juntos pelo Sim” (JpS). E, do ponto de vista dum “referendo”, só há um critério que permite medir o seu resultado: o número de votos “Sim”. Ora, o bloco independentista obteve 47,8%. Por isso perdeu, ficou em minoria.

O leitor argumenta que a lista Catalunya si que es pot (CSQP) defendeu um referendo, não se pronunciou contra a independência e que, por isso, a sua votação não deve ser somada, tal como a da Unió, ao conjunto do “não à independência”. Para sermos rigorosos temos de complicar um pouco o quadro: é que também nem todos os votos do próprio PpS terão sido independentistas. Um inquérito pré-eleitoral, de Setembro, do instituto catalão GESOP, indica 20% dos eleitores do JpS não querem a independência. E o mesmo acontece com quase 80% dos eleitores de CSQP.

Num plano mais global, poderíamos olhar o último inquérito do Centre d’Estudis d’Opinió, da Generalitat, realizado em Julho: 50% dos catalães diziam “não” à independência e 42,9% diziam “sim”. Segundo este estudo, a larga maioria dos catalães prefere um estatuto negociado com Madrid. Por isso mantenho a pergunta: Como construir um Estado independente em situação de minoria?”»

 

O leitor Carlos A.F. de Moura retorquiu a este esclarecimento do seguinte modo: «Lamento mas não só não fiquei esclarecido como fiquei mais confuso. O Presidente Mas, com efeito fez campanha sempre tendo em vista um plebiscito, porém Catalunya si que es pot recusou sempre essa visão, assim como o fizeram sempre os partidos que de facto se apresentam contra a independência. Daí o meu comentário.
Fazer referência a sondagens, às quais nunca se fez referência no texto, misturando-os com resultados eleitorais, parece-me não só abusivo como me parece também uma busca de argumentos justificativos que não tinham sido sequer aduzidos inicialmente.
Pergunta-se porque não fez o articulista o artigo com base na sondagem do GESOP e o fez com base em resultados eleitorais de onde não se podem fazer tais inferências?»

RESPOSTA DO JORNALISTA, JORGE ALMEIDA FERNANDES:

Pedi nova resposta ao jornalista Jorge Almeida Fernandes, que escreve: «Repito que o critério de vencer um “referendo” é ter a maioria dos votos. Os próprios dirigentes da CUP o afirmaram na noite das eleições. Depois mudaram de opinião. Claro que o leitor tem o direito de pensar o contrário. Sobre o resultado das “eleições plebiscitárias” escrevi na altura mais longamente.

As fontes que juntei e que não estão na curta notícia pretendiam dar ao leitor uma melhor perspectiva sobre o peso dos independentistas na Catalunha. É muito grande mas, até agora, minoritário. São fontes catalãs, o GESOP e o oficioso Centre d’Estudis d’Opinió, as que forneci ao leitor por não serem “da impressa madrilena (particularmente El País)”. Lamento tê-lo deixado “mais confuso”.

 

MANUAIS ESCOLARES

 

Em relação ao artigo da jornalista Bárbara Reis, directora do PÚBLICO, “Este ano, gastámos três borrachas a apagar manuais para nada” e “Página a página, estes manuais escolares são quase 80% iguais”, (PÚBLICO, 01.11.2015), a leitora Inês Vieira apresentou a seguinte crítica: «A questão dos manuais escolares e os preços dos mesmos deve ser discutida e analisada, sem dúvida.» Contudo, diz a leitora carece de ser analisada com vários exemplos. E acrescenta: «Se o Ministério da Educação não mudasse permanentemente os programas, não haveria necessidade de novos manuais. Havendo mudanças importantes, como aconteceu na disciplina de Português, é fundamental que os manuais sejam atualizados. Mas o artigo publicado no Público peca por isso mesmo – falta de rigor. A análise a um único manual de uma única editora parece apenas uma “cruzada”, em vez de incentivar à discussão do papel do Ministério da Educação na questão dos manuais escolares. O que poderia ter sido uma boa peça jornalística acaba por cair num artigo “básico”, que se limita a atacar um décimo do assunto em questão. Tornar um artigo tão fraco (e cheio de lacunas) capa de jornal e, consequentemente, ocupar 6 páginas do mesmo, é a prova de que é mais fácil escrever um artigo ‘banal’ do que fazer uma análise séria.»

 

 

COMENTÁRIO DA JORNALISTA, BÁRBARA REIS:

 

«A leitora fala de uma coisa “banal” como se alguma vez tivesse visto isto num jornal. Eu nunca vi. E foi esse feedback que recebi de dezenas de professores que não conheço de lado nenhum. Aliás nunca tinha escrito sobre educação. 

Por pontos tento responder à leitora: 

Sobre analisar “vários exemplos”: só para o 5º ano há 88 manuais no mercado. Começámos pelo de Português. Faremos outros no futuro. Felizmente, e como consequência desta análise comparativa, alguns leitores voluntariaram-se para fazerem exactamente este mesmo exercício – comparar, página a página, manuais que estão dentro dos seis anos de vida que a lei prevê. 

Sobre “se o Ministério da Educação não mudasse permanentemente os programas, não haveria necessidade de novos manuais”: a segunda metade do texto é justamente sobre essa questão. E tanto a Porto Editora como o representante dos pais são citados no texto a dizer isso mesmo.

Sobre as “mudanças importantes na disciplina de Português”: a Associação de Professores de Português que entrevistei para este trabalho mas cujas declarações e informações – de resto muito interessantes – acabei por não citar directamente na notícia, explica que as mudanças no programa não foram assim tantas como a leitora sugere. A sua presidente, Edviges Ferreira, diz por exemplo isto: “As metas curriculares e os novos programas introduzem um novo domínio, chamado de Educação Literária, que se limita a reagrupar conteúdos que já constavam no programa de Português de 2009 sob as rubricas da Leitura, Escrita, Compreensão do oral e Expressão oral.” De qualquer modo, independentemente da importância das mudanças, a verdade é que os manuais analisados só têm 22% de páginas novas. Os tais textos impostos pelas novas metas.

Sobre ser “fundamental que os manuais sejam actualizados”: essa é a opinião da leitora. Mas essa é, digamos, uma opinião controversa. Até sob o ponto de vista legal.

Sobre “analisar um único manual de uma única editora”: comecei esta semana a analisar um manual de Inglês da Areal. Uma editora diferente, dirá a leitora. Na verdade, apercebi-me agora, a Areal pertence à Porto Editora. Como de resto outras 20 editoras. É preciso ter uma lupa para encontrar um manual escolar que não seja da Porto Editora ou da Leya.»

 

 

 

Um comentário a CORREIO LEITORES/PROVEDOR

  1. Ola boa noite,

    Sou um leitor assiduo do vosso prezado jornal e considero pertinente prestar sugestões de informação que poderiam ser desenvolvidas pelo vosso jornal , designadamente em materias que Portugal tem potencialidades e poderia ser explorado em linhas editoriais por exemplo aos fins de semana consultando uma serie de entidades afim de se obter informação mais consistente sobre os mesmos.

    É do conhecimento geral que as autoridades Portuguesas pretendem desenvolver a chamada Economia do Mar mas ate ao momento ainda não houve concretização em valor acrescentado para o nosso País dessa estrategia.

    Por exemplo na area cruzeiros, Portugal poderia ter um grande estaleiro de construçao de grandes cruzeiros das maiores companhias inglesas e americanas como ja existe em França, Italia, Finlandia e Alemanha.

    Não poderia o Jornal desenvolver esse tempo e obter informações sobre essa e outras ideias sobre a Economia do Mar, consultando o Porto de Lisboa, Governo em funçoes e oposição que pode vir a assumir gestão do país.

    Ademais, no que concerne aos Vistos Gold ainda nao foi descortinado pela comunicação social qual a estrategia do Governo de Esquerda e Governo Psd/ Cds sobre o desenvolvimento do mesmo, pois é inegavel a vantagem do programa na reabilitação urbana em Lisboa e na obtenção de elevados fundos para o País e sabendo se que agora Madrid esta apostar forte no programae Lisboa pode vir a perder fundos .

    Considero que o Jornal poderia ser mais exigente na obtenção dessas informações .
    Com os melhores cumprimentos,
    João Pedro

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