Segunda-feira negra

(Crónica da edição de 22 de Janeiro de 2012)

Uma manchete falsa é um dos danos mais graves que podem ser infligidos à credibilidade de um jornal de referência. E é também um sinal de alerta para vulnerabilidades sérias no plano da organização e controlo editoriais. Por isso me ocupo hoje do título com que este jornal surgiu nas bancas na passada segunda-feira — “Passos já fez mais nomeações do que primeiro Governo de Sócrates” —, apesar de o erro já ter sido reconhecido, em nota da Direcção Editorial publicada na edição seguinte.

Os leitores que de imediato protestaram contra essa manchete não precisaram de tomar conhecimento de um desmentido para se aperceberem do erro patente, com grande visibilidade, na capa do jornal. Bastava ler o texto e consultar o gráfico das páginas seguintes para se perceber que os títulos escolhidos, na capa e no interior, expunham uma conclusão insustentável, resultante de se ter pretendido”comparar” o que não é comparável: as nomeações feitas durante um período de dois meses e meio pelo primeiro executivo chefiado por José Sócrates e as que o actual governo efectuou durante os sete meses que leva no exercício do poder.

É inaceitável que o erro que qualquer leitor menos distraído poderia detectar folheando o jornal na manhã de segunda-feira tenha passado sem sobressalto pelo crivo dos mecanismos profissionais de edição do PÚBLICO. E será ainda pior, mas no plano deontológico, se alguma consciência houve da impropriedade dos processos seguidos neste trabalho.

Na verdade, estava tudo errado na manchete do dia 16. O critério de comparação utilizado, sendo ele próprio discutível, teria necessariamente de conduzir, se tivesse sido usado com o mínimo de seriedade, à conclusão oposta ao que se afirmou na manchete. Como nota a directora do jornal, Bárbara Reis, em resposta às questões que lhe coloquei sobre este caso, não só “as comparações entre as nomeações dos vários governos” deveriam ter obrigado à utilização de “uma base temporal comum que as legitimasse”, como, “mais ainda, se dividíssemos o total de nomeações pelo número de meses, obteríamos como resultado que o actual governo fez proporcionalmente menos nomeações do que os anteriores”. O contrário, afinal, do que se noticiou.

Acresce que o que se escreveu a letras gordas na primeira página estaria sempre tecnicamente errado, mesmo abstraindo do anómalo critério usado para comparar números de nomeações. “Passos já fez mais nomeações do que primeiro Governo de Sócrates” significa que o actual primeiro-ministro nomeou, em sete meses, mais gente do que o seu antecessor em mais de quatro anos, que foi quanto durou o executivo formado após as eleições de 2005. O que não só é grosseiramente falso como não corresponde sequer ao que se pretenderia afirmar, pois tanto o texto como a infografia das páginas 2 e 3 explicavam que só foram considerados dois meses e meio (os iniciais, presume-se) da vida desse governo.

Não foram só as escolhas dos títulos que mancharam uma iniciativa editorial que, a ter sido executada de acordo com as boas regras profissionais, teria o mérito de proporcionar aos leitores o desejável escrutínio da política de nomeações para cargos públicos de um governo cujo líder garantiu em campanha — tal como, aliás, os seus antecessores — que romperia com a nefasta lógica clientelar das escolhas feitas com base no cartão partidário. É do interesse público saber se o actual primeiro-ministro está ou não a cumprir e a fazer cumprir essa promessa (alguns factos referidos no confuso trabalho publicado sugerem que não estará), e se tem ao menos vindo a reduzir o peso da colonização do Estado pelos aparelhos partidários (os números já conhecidos parecem indicar que sim, até à data, mas as limitações da informação disponível dificultam uma percepção exacta). Para esclarecer este ponto, uma comparação com as práticas de governos anteriores faria todo o sentido, se tivesse sido feita com um mínimo de rigor.

Não deve esquecer-se, no entanto, que o escrutínio das nomeações governamentais, para ser útil e permitir formar opiniões com base numa informação correcta, não pode limitar-se a uma contabilização de despachos. Nem sequer, embora esse dado seja certamente relevante, ao conhecimento da filiação partidária (se a têm) dos nomeados. O que mais importará à opinião pública e à desejável transparência no preenchimento de cargos dirigentes é saber se as opções governamentais são feitas com base no mérito pessoal e na competência profissional dos escolhidos. E, para isso, o que importa conhecer é o seu currículo e história pessoal. Se o poder político disponibiliza esses dados, é papel do jornalismo verificá-los. Se o não faz, é dever do jornalismo investigá-los. Se uma análise global é inviável, o inquérito deve dar prioridade aos que são indicados para cargos de maior relevância na administração pública. Em qualquer caso, investigar uma política de nomeações não é contar nomes no Diário da República.

Por outro lado, uma iniciativa editorial como esta não deve limitar-se a debitar valores quantitativos. Se a ambição é esclarecer bem os leitores, importa discriminar qualitativamente a informação, o que no trabalho publicado é feito sem a ênfase ou o cuidado apropriados, e em alguns aspectos é ignorado. Alguns exemplos: importa distinguir entre novas nomeações e reconduções (os números exibidos na capa do PÚBLICO não o fazem), entre a composição de gabinetes ministeriais e os cargos dirigentes da administração (é nestes que deve concentrar-se a atenção a critérios de “confiança política” que possam fomentar o clientelismo e abrir portas à mediocridade), e ainda entre as posições de maior responsabilidade e as restantes (a relevância pública da escolha de um director-geral não é a mesma da de um motorista, embora ambas integrem a lista global de nomeações).

Outro aspecto criticável na edição do dia 16 é o facto de a infografia publicada na capa ter o título “Nomeações feitas nos primeiros meses de actividade pelos últimos cinco governos”, ocultando o que se descobre nas páginas seguintes: que esses “primeiros meses” significam períodos de tempo muito diferentes entre si. A falta de rigor era agravada no editorial, que assumia como boas as conclusões retiradas de comparações ilegítimas, e recorria ao conceito ainda mais vago de nomeações feitas pelos governos “num primeiro tempo”.

A nota que na edição seguinte, no interior do jornal, reconhecia e corrigia o erro da manchete da véspera deve ser saudada como um gesto indispensável ao restabelecimento da confiança dos leitores que acusaram o PÚBLICO de “manipulação” e “má-fé”. Revelar-se-á credível se forem tomadas as medidas necessárias para que não se justifiquem no futuro reclamações semelhantes às desta “segunda-feira negra”. Na mesma página, porém, uma nova notícia deixava por esclarecer as discrepâncias, reafirmadas, entre dados divulgados por governantes e números “apurados pelo PÚBLICO”, e dava a conhecer que no portal do governo na Internet fora actualizada a contabilização das nomeações já efectuadas (1682, das quais 962 reconduções). Essa informação, aliás, estava disponível desde domingo (mas “já fora do nosso horário de fecho”, garante o jornalista João d’Espiney, autor da peça principal da edição de 16 de Janeiro).

Considero também criticável que na primeira página da edição de terça-feira não tenha sido feita qualquer referência ao facto de a manchete da véspera não ser verdadeira. Mereciam-no os leitores fiéis e todos os que no dia anterior tenham olhado, nas bancas, para a capa do PÚBLICO. A agravar essa lacuna, surgia, com destaque, uma chamada intitulada “Nomeações / Caiu o ‘trovão da desconfiança’ e acabou o estado de graça do Governo”, que remetia para textos de opinião sobre as recentes e contestadas escolhas para cargos de topo nas empresas EDP e Águas de Portugal e os seus efeitos para a imagem do governo de Passos Coelho. Na capa, porém, falava-se apenas, genericamente, em “nomeações”, num exercício de ambiguidade que sugeria ao leitor incauto que a “desconfiança” e o fim do “estado de graça” do governo viriam na sequência da manchete de segunda-feira.

O jornal deve agora reparar o erro cometido e informar os leitores sobre o que realmente se passa em matéria de nomeações governamentais. Bárbara Reis assegura que “esse trabalho está em curso e consistirá na comparação das nomeações feitas pelo actual governo num período de sete meses — o referente usado neste trabalho para o executivo Passos Coelho — com um período idêntico para os restantes governos”. Permito-me sugerir que o esforço não se limite à leitura anotada do Diário da República.

Entre as causas deste desastre jornalístico, a directora refere “a escolha de um critério errado pelo jornalista” e “o acompanhamento inadequado do trabalho” pela direcção. E conclui que “faltou sangue frio para, quando o trabalho foi entregue ao fim do dia de domingo, cancelar a sua publicação, escolher outro tema para aquelas páginas e repaginar todo o jornal”.

Por mim, quanto às lições a tirar deste caso, julgo que a ênfase deve ser colocada na revisão dos mecanismos de escrutínio interno do processo de produção das notícias. Um jornal como o PÚBLICO não pode dispensar meios de controlo editorial hierárquico que garantam a qualidade e o rigor da informação que publica. A credibilidade e o respeito pelos leitores são incompatíveis com a leviandade ou o desleixo no enquadramento do trabalho redactorial. Vale a pena reflectir, mesmo se as considerarmos excessivas, nas palavras de Manuel Vaz, um dos leitores que protestaram contra a manchete do dia 16. Dizendo recear que o jornal queira “distinguir-se por títulos pomposos, mas totalmente inadequados a quem tenha dois dedos de testa”, avisa: “Não é bom caminho; ou então é, mas enganam-se no alvo”.

José Queirós

 

 

Documentação complementar

Algumas mensagens de leitores sobre a manchete da edição de 16.01.12

1.
“No dia 16 de Janeiro de 2012, o Público titulava em manchete” Passos Coelho já nomeou mais pessoas do que o 1.º Governo de Sócrates”. O título vinha ilustrado com uma imagem com as fotos dos últimos primeiros-ministros e uma barra com o número de nomeações feitas “nos primeiros meses de Governo”. Lendo o texto, constata-se que o número de nomeações apontado ao actual Governo corresponde ao período de “quase sete meses”, ao passo que as nomeações imputadas aos Governos de José Sócrates são de “dois meses e meio” (primeiro Governo) e “três meses e meio” (segundo Governo). Ora, comparar períodos tão diversos para concluir com a afirmação da manchete não pode deixar de ser entendido, por quem leia o texto, como um manifesto exercício de má-fé por parte de um jornal que já comprei e li diariamente e que agora, por estas e por outras, apenas compro de forma muito esporádica. É frequente no Público aparecerem títulos manifestamente apressados, que não correspondem minimamente ao que consta do texto que titulam. Mas não me recordo de ver isso acontecer na manchete da primeira página (passe a redundância). Será que ao domingo não há nenhum editor de serviço no jornal?
16 de Janeiro de 2012
C. Loureiro

2.
Foi com alguma indignação que eu, leitor habitual do vosso jornal, e reconhecendo o excelente trabalho jornalístico que é praticado na vossa redacção, me deparei com a notícia que fazia manchete na edição n.º 7952 de 16 de Janeiro de 2012, na qual se pode ler “Passos já fez mais nomeações do que primeiro Governo de Sócrates”.
Cumpre aqui, desde já, clarificar que não tenho quaisquer filiações partidárias, e que a opinião aqui expressa é a de um simples cidadão atento à actualidade nacional. A minha indignação prende-se com a clara discrepância entre o título na capa e a notícia em si mesma. Nesta notícia, presente nas páginas 2 e 3 da referida edição, podemos claramente constatar que, ao contrário do que está na capa, não só o que de facto se compara não é o “primeiro Governo de Sócrates” – de 4 anos – com os sete meses de Governo de Passos Coelho, como ainda se quer comparar apenas dois meses e meio do 1º Governo de Sócrates com os sete meses de governação de Passos Coelho (v. gráfico da página 3).
Ora, esta escolha não me parece plausível. Isto porque o eng. José Sócrates cumpriu de facto pelo menos 7 meses em cada um dos seus Governos, pelo que a opção de comparação deveria ser, obviamente, comparar 7 meses de cada Governo para se apurar quantas haviam sido as nomeações. Se tal não fosse possível, dever-se-ia comparar apenas 2 meses e meio de cada Governo. A opção de usar uma comparação com quatro medidas temporais diferentes – 2 meses e meio, 3 meses e meio, 5 meses e 7 meses – parece-me injustificada. Por tudo isto acima indicado considero que a capa da edição mencionada serve apenas, infelizmente, para o propósito de lucrr com informação sensacionalista que não é verdadeira do que para informar os leitores, o que acho que acaba por ser frustrante para os leitores que todos os dias pagam para ler o vosso jornal.
16 de Janeiro de 2012
André  Reis e Silva

3.
Será ironia, mas, no mesmo dia em que escreve um texto sobre “O valor da lealdade em jornalismo”, o seu Público serve-nos com requinte um título de primeira página que não lembra ao diabo. Julgo mesmo a raiar a insolência para com os seus leitores. Abre-se a página 3 e percebe-se que o jornalista (será?) andou a catar datas para poder enganar o leitor. Não é que a comparação é feita entre os dois meses e meio do primeiro Governo de José Sócrates e os sete meses do Governo Passos Coelho? Não lembra realmente ao diabo. Lamentavelmente, o Público vem ultimamente a querer distinguir-se por títulos pomposos, mas totalmente inadequados a quem tenha dois dedos de testa. Não é bom caminho, ou então, é, mas enganam-se no alvo. Ultimamente, tenho-me defendido com a única arma de que disponho: deixo de comprar o jornal um dia ou dois até me passar a raiva (…).
17 de Janeiro de 2012
Manuel Vaz
Lavra

4.
(…) Ao comparar o número de nomeações deste Governo em 6 meses, fizeram-no não respeitando nas várias comparações um mesmo período-6 meses. Efectivamente no dia seguinte registaram o erro, informaram – mas não voltaram a publicar os números corrigidos. Deviam, entendo eu (…).
Continuo a gostar do jornal diário, acho que é o melhor, mas espero contribuir para um “limar ” no sentido da verdade e rigor.
19 de Janeiro de 2012
Maria Manuela Ramos de Melo Rocha
Porto

5.
Esta foi uma semana negra para o Público. Começou por divulgar conclusões manipuladoras sobre as nomeações do governo. Numa altura em que o governo está debaixo de fogo por causa das nomeações para a EDP, a notícia do Público não ajudou a esclarecer a questão, antes se prestou às maiores demagogias.
(…)Os jornais atravessam momentos difíceis. O Público não é excepção. Os leitores são poucos e o Público parece apostado em fazer jornalismo para afugentar os poucos que restam (…).
20 de Janeiro de 2012
Miguel Azevedo

 

Perguntas ao jornalista João d’Espiney

1) Com que fundamento foi decidido estabelecer comparações (patentes nos títulos das páginas 1 e 2 de 16.01) entre diferentes governos acerca do número de nomeações efectuadas, quando o próprio texto e o gráfico que o acompanha tornam claro que foram contabilizadas nomeações feitas em períodos de tempo substancialmente diferentes?
2) Por que é que títulos e abertura do destaque foram construídos em torno dessa ideia de comparação com anteriores governos, quando na própria peça se afirma que “resta aguardar ainda alguns meses” para se poderem “fazer comparações com os anteriores governos”?
3) Por que é que a “nota metodológica” publicada ignora o “critério” de comparação utilizado, bem como a distinção entre novas nomeações e reconduções?
4) Segundo o Diário Económico de 16/01, citando um despacho da Lusa, os dados relativos a nomeações tinham sido actualizados a 15/1 (domingo) no portal do Governo. Esses elementos não foram tidos em conta? Porquê?
5) Por que é que se optou pelo método de considerar apenas as nomeações publicadas no Diário da República, quando na própria peça se reconhece que esses dados não retratam a realidade actual?
6) Na peça de 17.01constata-se que os números de nomeações anunciados pelo Governo são “diferentes” dos “apurados pelo PÚBLICO”, sem que se diga claramente quais são correctos. Porquê?
7) Não considera que o jornal tem a obrigação de voltar em breve ao assunto, esclarecendo os leitores sobre qual é a situação real nesta matéria das nomeações?
19 de Janeiro de 2012
J.Q.

 

Resposta do jornalista João d’Espiney

1 e 2 – A decisão foi errada e teve apenas a ver com o facto de os períodos analisados nos governos anteriores se reportarem aos momentos em que fiz este levantamento quando ainda estava noutros jornais (e portanto as datas em que foram publicados). O objectivo foi sempre dar uma ideia do número de nomeações nos primeiros meses de mandato do respectivo Governo. No texto faço referência ao levantamento que fiz no passado em relação ao número de nomeações efectuadas pelos Governos de Durão Barroso e o primeiro de José Sócrates ao fim de dois anos de mandato. Esses períodos, por serem iguais, eram comparáveis. E esse devia ter sido o critério do trabalho agora em questão.
3- A nota metodológica foi feita com o objectivo de explicar ao leitor como fiz a contabilização em relação a alguns organismos que vão ser objecto de extinção/fusão no âmbito do Plano de Redução e Melhoria da Administração Pública (Premac). A nota não explica a distinção entre novas nomeações e reconduções, mas essa informação está no texto principal.
4- O portal do Governo foi de facto actualizado, mas só à noite, já fora do nosso horário de fecho. Por outro lado, nem todas as nomeações publicadas no Portal tinham saído em Diário da República, e por isso achei que me deveria cingir ao critério de utilizar os despachos publicados em DR.
5- O critério das nomeações publicadas em DR sempre foi o que segui nos trabalhos que fiz em relação aos anteriores governos. As nomeações públicas em DR não retratam a realidade na medida em que o Governo ainda vai ter de nomear muitas pessoas para cargos dirigentes da Administração Pública, na sequência das novas leis orgânicas dos vários Ministérios decorrentes do Premac, cujo processo ainda está longe de estar concluído.
6- Não é verdade. O que escrevi foi: “Até sexta-feira, tinham sido publicados um total de 1097 nomeações, das quais 750 para os gabinetes. Para os cargos dirigentes da administração directa e indirecta, sector empresarial do Estado e outras funções em organismos e estruturas da AP, foram contabilizadas 347 nomeações, 131 das quais correspondiam a reconduções e 216 a novas nomeações.”
7-Sem dúvida. É por isso estou a preparar um novo trabalho com o objectivo de informar correctamente os leitores.
20 de Janeiro de 2012
João d’Espiney

 

Perguntas à directora do PÚBLICO, Bárbara Reis

 1) Como é que foi possível construir-se uma manchete [16.01] com base em comparações que a própria Direcção veio depois a reconhecer que não podiam ser feitas? Como foi acompanhado o trabalho do autor da peça e como foram validadas (se foi esse o caso) as suas conclusões?
2) Os períodos temporais claramente identificados no gráfico da pág.3 (e na notícia) não autorizavam as comparações feitas, como se reconhece no “Esclarecimento e correcção” de 17.01. Foram discutidos e aprovados os “critérios” que presidiram às “comparações” efectuadas?
3) Tendo em conta que são referidos períodos temporais muito diferentes para comparar a acção de vários governos em matéria de nomeações, o conceito de “nomeações num primeiro tempo”, utilizado no editorial, não deve ser visto como um exemplo de falta de rigor?
4) Por que é que títulos e abertura do destaque foram construídos em torno dessa ideia de comparação com anteriores governos, quando na própria peça se afirma que “resta aguardar ainda alguns meses” para se poderem “fazer comparações com os anteriores governos”?
5) Segundo o Diário Económico de 16/01, citando um despacho da Lusa, os dados relativos a nomeações tinham sido actualizados a 15/1 (domingo) no portal do Governo. Esses elementos não foram tidos em conta no Destaque? Porquê?
6) Na edição de 3ª feira, foram noticiados os números referentes a nomeações divulgados pelo gabinete do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares. O jornal não os questiona, mas nota que são “diferentes” dos que apurou através do Diário da República. Não consideram que os leitores deveriam ser informados de qual é a verdade neste domínio?  
7) Por que é que se optou pelo método de considerar apenas as nomeações publicadas no Diário da República, quando na própria peça se reconhece que esses dados não retratavam a realidade actual?
8) Por que é que não foram distinguidas com clareza novas nomeações e reconduções?
9) Por que é que, até hoje, não foi publicada uma notícia que responda, com o rigor desejável, às questões suscitadas pela manchete de 2ª feira?
19 de Janeiro de 2012
JQ

 

Resposta de Bárbara Reis

A direcção reconhece que foi utilizado um critério errado nas comparações que deram origem à manchete e aos títulos das páginas 2 e 3 da edição de segunda-feira, 16. As comparações entre as nomeações dos vários governos nunca poderiam ter sido feitas sem uma base temporal comum que as legitimasse. Mais ainda, se dividíssemos o total de nomeações pelo número de meses, obteríamos como resultado que o actual governo fez proporcionalmente menos nomeações do que os anteriores. Foi um erro inaceitável que lamentamos e pelo qual pedimos desculpa aos leitores na edição do dia seguinte, terça-feira, 17.
Como foi possível este erro? Inicialmente foi proposto ao jornalista João d’Espiney um trabalho sobre nomeações, matéria que o jornalista domina, em que as comparações com o passado fossem feitas com base num denominador temporal comum (seis meses). No entanto, a base de dados que o jornalista utiliza e utilizou no passado não permitia essa comparação, o que desconhecíamos. Falhou a direcção ao não ter acompanhado adequadamente o trabalho do jornalista, embora estivesse consciente da complexidade da matéria a tratar, dada a quantidade de dados que teriam de ser consultados. No momento da publicação, o critério seguido no trabalho também não foi questionado adequadamente pela direcção. Houve um conjunto de erros, da escolha de um critério errado pelo jornalista ao acompanhamento inadequado do trabalho. E faltou sangue frio para, quando o trabalho foi entregue ao fim do dia de domingo, cancelar a sua publicação, escolher outro tema para aquelas páginas e repaginar todo o jornal.
Não nos foi possível, desde segunda-feira, produzir uma nova notícia que corrigisse esse erro. Esse trabalho está em curso e consistirá na comparação das nomeações feitas pelo actual governo num período de sete meses – o referente usado neste trabalho para o executivo Passos Coelho – com um período idêntico para os restantes governos referidos neste trabalho, a única forma de dar aos leitores informação rigorosa sobre este tema.
20 de Janeiro de 2012
Bárbara Reis

 

 

 

2 comentários a Segunda-feira negra

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