O caso do lince maltratado



(Crónica da edição de 30 de Janeiro de 2011)

A 9 de Dezembro passado, o Governo aprovou a oficialização de dois instrumentos que considerou necessários para a aplicação do novo Acordo Ortográfico. A escolha recaiu sobre um vocabulário ortográfico e um conversor automático de textos para as novas regras (denominado Lince) desenvolvidos pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), uma unidade de investigação de que são associadas a Fundação para a Ciência e Tecnologia e duas universidades. À contestação conhecida ao próprio acordo — que o PÚBLICO, como se sabe, não adoptou — vieram somar-se, na sequência dessa decisão, críticas ao conversor escolhido, formuladas por pelo menos uma das empresas privadas (a Priberam) que tinham entretanto lançado no mercado as suas próprias ferramentas informáticas de conversão ortográfica.

Dessas críticas deu conta o PÚBLICO a 15 de Dezembro, numa peça em que um administrador da Priberam questionava em que tipo de avaliação se fundamentara a opção do Governo e criticava a decisão tomada, afirmando nomeadamente que o Lince fazia substituições ortográficas com erros, que o vocabulário em que se apoiava continha palavras mal grafadas e que o próprio conversor fora o menos bem classificado num estudo académico comparativo entretanto divulgado. Sendo o Lince um programa informático descarregável sem custos — o que teria pesado na sua escolha —, acrescentava que duas empresas (uma das quais a sua) disponibilizavam também conversores gratuitos na Internet.

O ILTEC, alvo das acusações referidas, não foi ouvido para a elaboração da peça. A autora, a jornalista Maria Lopes, afirmava no próprio texto que “tal não foi possível até ao fecho desta edição”. Sucede que, pouco depois das 22h00 do dia 14, José Pedro Ferreira, um investigador daquele instituto, que recebera uma mensagem de correio electrónico enviada pela jornalista às 19h36, entrara em contacto com o jornal para prestar os esclarecimentos solicitados, mas foi-lhe dito que a notícia já estaria “fechada”, pelo que as suas explicações só poderiam ser utilizadas na edição seguinte. Mais tarde, pelas 01h30 do dia 15, o mesmo investigador enviou à jornalista uma longa mensagem em que desmentia, citando fontes verificáveis, as acusações feitas ao conversor e ao vocabulário do ILTEC. Além de negar os alegados erros, explicava que o Lince não fora sequer avaliado no estudo académico referido pela Priberam, e afirmava que as ferramentas gratuitas disponibilizadas na rede por algumas empresas “têm funcionalidades muito reduzidas” e “servem, sobretudo, como plataforma de lançamento para os produtos pagos” que comercializam.

Na edição de 16, o jornal publicava uma nova notícia, recordando as acusações do gestor da Priberam e citando algumas frases em que José Pedro Ferreira as contestava. O responsável do ILTEC considerou que este segundo texto mantinha “falsidades, confusões e imprecisões” e, no dia 17, enviou ao PÚBLICO, em conjunto com a sua colega Margarita Correia, uma carta ao abrigo do direito de resposta, queixando-se de que a notícia inicial fora redigida sem “exercício do contraditório” e de que a segunda não corrigira devidamente os erros que alegava existirem na primeira. Afirmava, ainda, que a autora dos textos “não honrou o compromisso” de voltar a ouvi-lo antes da publicação da segunda peça — um compromisso que a jornalista nega, pois teria combinado só fazer esse contacto “caso tivesse dúvidas”. Que não teve.

A carta dos investigadores foi publicada a 23 de Dezembro, acompanhada de uma Nota da Direcção que se limitava a referir que a resposta do ILTEC, a 14, chegara quando “o primeiro texto já estava na gráfica”, e que a jornalista respeitara o compromisso de escrever “novo artigo sobre o assunto” com a versão de José Pedro Ferreira. Considerando-se “lesados” no seu “bom nome” e sem a reparação devida, os responsáveis pelo Lince dirigiram-me uma extensa reclamação no passado dia 13, pondo em causa o comportamento profissional e ético do PÚBLICO neste caso. Dela dei conhecimento a Maria Lopes, que anteontem me fez chegar um igualmente longo texto de resposta, em que refuta vários argumentos dos investigadores do ILTEC e dá uma versão diferente sobre comunicações tentadas e compromissos assumidos.

É impossível citar e analisar detalhadamente neste espaço todos os argumentos e explicações de ambas as partes. Mas, por achar que se trata de um caso exemplar de como procedimentos profissionais menos recomendáveis podem fragilizar a confiança que o jornal deve merecer aos leitores, convido os possíveis interessados a consultarem esses textos no meu blogue (http://blogs.publico.pt/provedor) e formarem a sua própria opinião. E passo directamente às conclusões. Lidas as notícias em causa e toda a documentação referida, creio que o PÚBLICO falhou no ponto essencial: a procura desinteressada e leal da verdade.

Em primeiro lugar, a peça inicial sobre o Lince reporta-se a um conflito de interesses em que só é ouvida uma parte. Várias acusações que “justificam” a notícia não foram verificadas, e não existiu contraditório. A “página fechada” não é argumento aceitável, para mais quando os alvos de uma acusação são ouvidos tardiamente e, ainda assim, manifestam a sua disponibilidade para prestar, antes da publicação da notícia, esclarecimentos que deveriam obrigar à sua alteração. Quando está em causa a procura empenhada da verdade, uma página pode ser reformulada. E, mesmo concedendo a dificuldade técnica de o fazer em certas situações, cabe perguntar por que motivo se considerou necessário avançar naquela edição com uma notícia que seria sempre incompleta, em vez de se esperar pelo dia seguinte para confrontar a outra parte. Já aqui escrevi uma vez que as horas de fecho têm por vezes as costas muito largas. E insisto em que a rapidez na informação, quando dispensa as boas práticas, não passa de precipitação e conduz facilmente ao erro.

Em segundo lugar, a peça “corrigida” é de facto insatisfatória. O papel de um jornalista não é o de se limitar a divulgar versões contraditórias, acusações e desmentidos sobre uma qualquer controvérsia de interesse público. O seu dever é procurar a verdade. Neste caso tratava-se de investigar e verificar factos, e a tarefa nem sequer apresentaria especiais dificuldades. Nada indica que esse esforço tenha sido feito. Quem tenha conhecido a polémica em torno do Lince apenas pelas notícias do PÚBLICO não pode considerar-se bem informado. E isso deveria ser sempre o mais importante.

Onze títulos, quatro erros

Duas das dezoito páginas da ampla cobertura que o PÚBLICO dedicou na passada segunda-feira aos resultados das eleições presidenciais e à sua análise eram ocupadas pelos habituais gráficos com as percentagens de votos obtidas pelos candidatos em cada um dos concelhos do país. É um serviço público de interesse indiscutível, e que os responsáveis editoriais decidiram valorizar apresentando, ao lado das tabelas com os resultados, uma coluna intitulada “Um olhar sobre os números”, em que eram destacados, em breves notas, onze factos considerados especialmente significativos ou curiosos sobre a distribuição territorial dos votos.

“Boa opção editorial, pois permite chamar a atenção para algumas situações que o jornal entende que merecem destaque e que ao leitor poderiam passar despercebidas”, aplaude o leitor Carlos Queirós, do Porto. Mas o aplauso acaba aí: “O problema é que, em onze notas, quatro não condizem com os dados disponíveis nas tabelas publicadas mesmo ao lado”. E enumera os erros: “Beja [distrito] foi o melhor score de Alegre” (segundo as tabelas, foi Portalegre); “Alegre só conseguiu ficar em primeiro em dois concelhos: Alandroal (Évora) e Castro Verde (Beja)” (afinal também ganhou em Campo Maior, Portalegre); “Lopes ganha em oito concelhos” (as tabelas mostram que venceu em dez); “Coelho consegue mais de 38 por cento na Madeira” (nos quadros lê-se que teve 39,01 e, “se é verdade que 39,01 é mais de 38”, teria sido mais adequado escrever que obtivera “mais de 39”).

Dois destes quatro erros foram posteriormente corrigidos, na secção “O PÚBLICO errou” da edição seguinte. Os outros não terão sido detectados. Embora o próprio leitor reconheça que serão “ainda mais complexos do que o habitual os problemas de fecho de um jornal num dia de eleições”, a verdade é que os resultados finais do escrutínio foram conhecidos cedo, e a opção de destacar e analisar alguns dados numéricos obrigava a maior rigor na transcrição e revisão dos elementos constantes das tabelas.

Foram demasiadas informações erradas em títulos, mostrando falta de cuidado. Quatro olhos em vez de dois, ou uma segunda consulta aos quadros de resultados, seriam certamente aconselháveis nestas situações. E evitariam que se questionasse, como questionou este leitor: “Se o olhar do jornalista conduz a quatro conclusões erradas em onze casos que seleccionou, não seria mais vantajoso deixar o leitor olhar sozinho para os números e tirar ele próprio as suas conclusões, sem ser induzido em erro?”.

José Queirós

Documentação complementar

Carta dos investigadores do ILTEC



Dirigimo-nos [ao Provedor do Leitor] para dar conta do nosso desagrado e da nossa indignação relativamente ao trabalho da jornalista Maria do Céu Lopes e do jornal Público, devido àquilo que consideramos ter sido um comportamento incompetente, etica e deontologicamente reprovável, que em muito lesou a imagem e o bom nome do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), no qual desenvolvemos atividade de investigação.

Passamos a narrar os factos (…):



1. No dia 9 de dezembro, foi aprovada em Conselho de Ministros a oficialização de dois instrumentos indispensáveis à aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, desenvolvidos pelo ILTEC, sob nossa coordenação, a saber, o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) e o conversor para a nova ortografia Lince, ambos de acesso universal e disponíveis gratuitamente no Portal da Língua Portuguesa (www.portaldalinguaportuguesa.org). Ambos os produtos resultaram de projetos submetidos ao Fundo da Língua Portuguesa, avaliados e aprovados em 2009 e concluídos em 2010.

2. No dia 14 de dezembro p.p., entrou na caixa de correio da Direcção do ILTEC pelas 19.36 minutos, portanto depois da hora de fecho de expediente, uma mensagem de correio eletrónico da jornalista Maria do Céu Lopes, do Público, solicitando esclarecimentos relativos ao nosso conversor, com base em alegações de empresas (…). A jornalista alega ter contactado o ILTEC telefonicamente por essa hora, sem resposta; ora, dado que havia pessoas no Instituto que não ouviram o toque do telefone, apenas podemos presumir ter ocorrido uma falha técnica de comunicação.

3. Pouco depois das 22 horas do mesmo dia, José Pedro Ferreira contactou Maria do Céu Lopes telefonicamente para prestar os esclarecimentos solicitados. Foi-lhe dito pela jornalista que infelizmente a notícia já estaria fechada desde pouco depois das 21 horas. Nessa conversa telefónica, a jornalista, negando-se a enviar-nos cópia da notícia, comprometeu-se a contactar-nos de novo no dia seguinte para que pudéssemos responder ao seu conteúdo. Mesmo assim, José Pedro Ferreira escreveu e enviou pelas 01.29 horas, já do dia 15 de Dezembro, [uma] mensagem de correio electrónico que (…) contém esclarecimentos e fontes objetivas de verificação desmontando todas as alegações com que foi confrontado [ver, abaixo, “Mensagem enviada à jornalista por José Pedro Ferreira”].

4. No dia 15 de dezembro foi publicada no jornal Público impresso (p. 11) e na página online com chamada à primeira página a notícia “Concorrência questiona escolha do Governo para conversor do novo acordo ortográfico” – http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/concorrencia-questiona-escolha-do-governo-para-conversor-do-novo-acordo-ortografico_1471036 -, contendo apenas a opinião da empresa Priberam, que vende produtos na área de intervenção do ILTEC, notícia cheia de falsidades que a jornalista não se deu ao trabalho de verificar (…).

5. No dia 15, estranhando a falta de qualquer contacto de parte da jornalista, começámos, após as 12.30, insistentemente a tentar entrar em contacto com ela por todos os meios telefónicos ao nosso dispor (extensão de telefone no jornal, telemóvel, redacção do jornal, área editorial). Após inúmeras tentativas infrutíferas, conseguimos o contacto de uma outra jornalista da redação do Público que nos disse que Maria do Céu Lopes ali se encontrava, ao seu lado, tendo-lhe passado o telefone. José Pedro Ferreira falou brevemente com Maria do Céu Lopes e esta assegurou-lhe que ouviria a nossa resposta ao artigo, agora que já tínhamos podido lê-lo, mas apenas depois de pegar de novo no assunto, ainda nesse dia. Disponibilizámo-nos a prestar todo o apoio e esclarecimentos necessários. Porém, a jornalista já só nos contactou depois de fechado o artigo, alegando esquecimento, impedindo que, de novo, pudéssemos responder informadamente às acusações que nos eram feitas (…).

6. No dia 16 de Dezembro foi publicada a notícia “AR aprova conversor Lince e empresa refuta erros” – http://jornal.publico.pt/noticia/16-12-2010/ar-aprova-conversor-lince-e-empresa-refuta-erros-20839795.htm -, apenas na edição impressa, ao mesmo tempo que se republicou o artigo da véspera com chamada em diferentes secções do jornal online. Não apenas não foi dada a esta segunda notícia o relevo dado à primeira, como ela se encontra de novo repleta de falsidades, confusões e imprecisões, facilmente verificáveis se a jornalista tivesse feito devidamente o seu trabalho, nomeadamente as seguintes:

a) O ILTEC não é uma empresa, pelo que não poderia ser “concorrente” da empresa Priberam. Ora, o título da segunda notícia diz precisamente que o ILTEC é uma empresa e, mais à frente, diz que é uma parceria da FCT com as Universidades de Lisboa e Nova de Lisboa, quando nada disso é verdadeiro (bastava à jornalista ter consultado a página de entrada do sítio do ILTEC).

b) Carlos Amaral, da Priberam, única fonte usada no primeiro artigo, mentiu descaradamente quando afirmou que a aplicação desenvolvida por nós, o Lince, tinha ficado em último lugar numa avaliação científica da Universidade do Minho. Havia sido claramente explicado à jornalista, com fontes, que o referido artigo (que lhe foi por nós fornecido) não refere sequer o Lince e que a sua data de publicação é anterior à da publicação do próprio Lince. Neste segundo artigo, a jornalista transmite este esclarecimento, factual e provado por fontes de acesso fácil, como opinião nossa.

c) A jornalista não referiu serem comprovadamente falsas as afirmações de Carlos Amaral, da Priberam, publicadas na notícia anterior, de que havia outros programas de conversão gratuitos disponíveis aquando da atribuição do projecto Lince. O único programa de conversão existente além do Lince era, na verdade, o FLiP, da Priberam, de que cada licença custa 69,99€ (http://www.flip.pt/Produtos/FLiP8/Pre%C3%A7os/tabid/211/Default.aspx).

d) A jornalista não desmentiu que o VOP, o vocabulário que o Governo oficializou, tivesse erros, como havia afirmado anteriormente, com exemplos falsos, Carlos Amaral, da Priberam. Havia sido explicado à jornalista que os casos indicados por ele eram falsos e a jornalista poderia, de resto, ter verificado tudo por si própria em poucos minutos nas ligações que lhe foram indicadas, todas disponíveis gratuitamente para quem as queira consultar.

e) A segunda notícia repete que o Lince foi encomendado a uma empresa e não feito pelo ILTEC, quando lhe fora explicado, em detalhe, que escolhemos essa empresa apenas para desenvolver a interface, como é aliás normal (do mesmo modo, os desenhadores do sítio web do Público não são autores do Público, mas apenas da interface).

f) A jornalista deturpou tudo o que lhe fora dito acerca da versão impressa do VOP e do eventual vocabulário da Academia das Ciências. Fora-lhe explicado que o VOP tem 210 000 entradas; que o último vocabulário da Academia, de 1970, tinha perto de 50 000 e que o novo terá número ainda desconhecido, mas que se calcula ser abaixo das 100 000. Lendo a notícia fica-se com uma ideia de que o transmitido por nós foi uma coisa completamente diferente, com claro prejuízo para as boas relações institucionais do ILTEC com as entidades mencionadas.

g) A jornalista afirma que caberia à tutela escolher os termos para a edição impressa (!). Esta afirmação é tão abstrusa, tão disparatada que não vislumbramos como pode ter sido feita mesmo por alguém que, não sendo especialista da área, teria feito alguma investigação para escrever a notícia. O que lhe havia sido dito foi que competiria à tutela definir os princípios que deverão reger essa publicação impressa, dado que terão que ser tomadas opções de que lhe foram dados exemplos. De novo, a notícia contribui para passar uma ideia errada do ILTEC, com prejuízo para as suas boas relações com parceiros institucionais seus.

h) Apresenta José Pedro Ferreira como “coordenador das bases de dados do ILTEC”, cargo inexistente, quando José Pedro Ferreira lhe transmitiu que foi coordenador para as bases de dados e fontes do VOP e é um dos responsáveis pelo Lince, factos que a jornalista teria verificado se tivesse consultado o sítio web do ILTEC e o próprio Portal da Língua Portuguesa.

i) A jornalista repetiu acriticamente e sem as desmentir afirmações de Carlos Amaral publicadas no artigo anterior, sendo que lhe havia sido demonstrado, sempre com indicação de fontes rapidamente consultáveis, serem essas afirmações falsas e mal intencionadas.

7. No dia 17 de dezembro foi enviada em correio registado com aviso de recepção uma carta para publicação ao abrigo do direito de resposta , que foi publicada na página 8 da edição impressa de 23 de Dezembro de 2010, seguida da seguinte Nota da Direção do Público:

«A jornalista recebeu resposta do ILTEC às 22h10 de dia 14, quando a página com o primeiro texto já estava na gráfica. Na altura, confirmou com o colaborador do ILTEC que no dia seguinte escreveria novo artigo sobre o assunto com a sua versão, compromisso que honrou no dia 15.»

O combinado havia sido que o ILTEC seria ouvido novamente após ter oportunidade de ler a notícia, de modo a poder responder ao que ali é afirmado, e não apenas que sairia nova notícia no Público.

8. No dia 26 de dezembro de 2010 foi transmitida no programa Páginas de Português da Antena 2 uma peça sobre o Lince, em que o jornalista entrevistou, além de Margarita Correia e de Carlos Amaral, José João Almeida, um dos autores do referido artigo em que supostamente se apresentaria uma avaliação do Lince. Através deste trabalho tomámos conhecimento de que este autor nunca fora contactado pela jornalista do Público e que não tinha sequer conhecimento de que o referido artigo estivesse a ser usado pela Priberam, de forma enganosa, com intuitos claramente comerciais.

Apesar de não sermos jornalistas e de não termos qualquer formação nesta área, não nos é difícil constatar que:

– a jornalista publicou a primeira notícia tendo ouvido apenas uma das partes envolvidas, parte essa cujos interesses são tão óbvios que não podemos deixar de os entender;

– a jornalista não apenas ignorou a posição do ILTEC sobre este assunto, como, depois de a ouvir e ler, a deturpou completamente;

– a jornalista não verificou fontes, não se informou, mostrando desconhecer totalmente a matéria sobre a qual se propôs escrever não uma, mas duas notícias.

Não podemos, portanto, deixar de nos sentir profundamente lesados no nosso bom nome pelo comportamento da jornalista e do jornal Público. Fazendo hoje mesmo uma pesquisa no Google com os títulos das notícias em causa, verificamos que a primeira devolve 769 resultados (a maioria deles com a notícia integralmente reproduzida), ao passo que a segunda devolve apenas seis (e nenhum deles reproduz a notícia).

Acreditamos convictamente ter sido alvo de falta de profissionalismo e atitude etica e deontologicamente reprovável (…).

Lisboa, 13 de Janeiro de 2011

José Pedro Ferreira

Margarita Correia

(Investigadores do Instituto de Linguística Teórica e Computacional)


Resposta da jornalista Maria Lopes



Aqui vai a minha resposta às questões apontadas pelos investigadores do ILTEC. Optei por responder a cada um dos pontos para que as respostas sejam directas e concretas.



2 . Contactei o ILTEC para o número de telefone que aparece no site do Instituto, por diversas vezes durante a tarde do dia 14. Mandei o e-mail de facto às 19h36 quando o telefone me devolveu uma resposta em gravação. O e-mail devolveu uma resposta dizendo que a mensagem fora entregue ao destinatário dois minutos depois.



3. Fui contactada pelo investigador José Pedro Ferreira por volta das 22h10/22h20, a quem disse que enviara a notícia para o jornal pouco depois das 21h (foi às 21h10), e que tendo passado uma hora a página já estaria fechada e até na gráfica. O investigador disse-me que só me ligara a esta hora porque sabia que os jornais fecham tarde (alegou mesmo ter amigos nos jornais que lhe diziam isso) e ele próprio costuma estar no ILTEC até bastante tarde. Pediu-me insistentemente que lhe mandasse a notícia que iria sair no dia seguinte. Expliquei-lhe, apesar da sua insistência, que não é ético – nem aceitável no PÚBLICO, já que me voltou a dizer saber que há jornais onde isso se faz – enviar qualquer notícia antes da sua publicação ainda que seja para obter uma reacção. Mas enumerei todas as críticas que a Priberam fazia ao corrector Lince e ao vocabulário, os erros que a Priberam lhes apontava, a questão da subcontratação de outra empresa e o estudo da Universidade do Minho mais detalhadamente do que fizera no e-mail. José Pedro Ferreira respondeu a todas as questões que lhe coloquei, eu anotei todas as suas respostas. Disse-lhe que tendo a posição do ILTEC voltaria a escrever sobre o assunto no dia seguinte, com as respostas a todas as críticas apontados pela Priberam. Disse também que se tivesse dúvidas lhe voltaria a ligar no dia seguinte (15 de Dezembro), à tarde, porque de manhã estaria numa audição no Parlamento, incontactável.

4. No dia 15 de Dezembro foi publicada a notícia que escrevera na véspera, sem a versão do ILTEC por a página já estar fechada quando o ILTEC entendeu responder-me por telefone.



5. Tinha acabado de chegar ao jornal, já da parte da tarde, quando a editora do Portugal, Ana Fernandes, me passa o seu telefone. Falei com José Pedro Ferreira, a quem confirmei ter recebido a sua explicação por escrito. Concordou que era apenas a formalização de tudo o que me dissera ao telefone, não tinha mais nada a acrescentar. Combinámos que eu lhe ligaria se tivesse dúvidas e, se não as tivesse, mandava-lhe um e-mail no fim de escrever o artigo apenas para lhe confirmar que sairia de facto um texto no dia seguinte (16 de Dezembro) com a versão do ILTEC, como me pediu insistentemente. Foi o que fiz: escrevi o e-mail pouco antes de ter saído do jornal (22h10), em vez de o escrever assim que terminei o texto, talvez duas horas antes. Mas repito: só fiquei de ligar caso tivesse dúvidas, já que não iria abordar nenhuma outra questão que não tivesse já sido esclarecida por José Pedro Ferreira. Não ficou impedido qualquer novo esclarecimento já que não houve qualquer nova questão que se colocasse.

6. O tipo de destaque dado às notícias no online não são da competência da jornalista.

a) O facto de não ser uma empresa não a coloca numa redoma de não concorrência no mercado. A partir do momento em que fornece um serviço que qualquer outra entidade também disponibiliza é concorrente.

O site do ILTEC diz actualmente: “O Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) é uma associação privada sem fins lucrativos cujos associados são a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, a Universidade de Lisboa e a Universidade Nova da Lisboa”.

Ora, o ILTEC é uma parceria da FCT com as universidades de Lisboa e Nova de Lisboa. Não há erro.

b) A informação dada por Carlos Amaral, da Priberam, foi corrigida no segundo artigo, como o ILTEC reconhece.

c) A questão de haver outros programas de conversão gratuitos não foi abordada na conversa com o ILTEC.

d) Os erros apontados pela Priberam foram desmentidos na notícia de 16 de Dezembro: está no título e no corpo do texto. “O VOP é a maior base lexicográfica do português: tem 1,5 milhões de formas, é normal que tenha alguns erros”, disse ao PÚBLICO José Pedro Ferreira, coordenador das bases de dados de português do ILTEC, negando, porém, todos os exemplos que a Priberam havia identificado ao PÚBLICO – até porque há “diversos critérios de interpretação de algumas regras” do novo acordo. O VOP, acrescenta, é um “léxico gratuito, aberto e que pode ser corrigido”.

e) Não é verdade que se diga que o Lince foi encomendado a uma empresa e que não foi feito pelo ILTEC. Diz-se: “O ILTEC é uma parceria da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e das universidades de Lisboa e Nova e recebeu financiamento do Fundo da Língua Portuguesa para os projectos que estão disponíveis gratuitamente na Internet. À empresa privada Knowledgeworks contratou o desenvolvimento da aplicação informática.”

f) O texto refere que “O VOP é a maior base lexicográfica do português: tem 1,5 milhões de formas”. Nunca se fala de qualquer questão que possa colocar em causa as relações institucionais com qualquer entidade.

g) José Pedro Ferreira, na conversa da noite de dia 14 afirmou: “Está prevista uma edição em papel, mas a selecção dos termos terá que ser feita pela tutela” porque seria impossível imprimir uma obra com 1,5 milhões de entradas.

h) José Pedro Ferreira identificou-se exactamente como sendo “coordenador para as bases de dados do português do ILTEC” na conversa de dia 14.

i) Na notícia de dia 16 foram refutadas consecutivamente todas as afirmações que o responsável da Priberam fazia na notícia de dia 15, como se pode ler no texto publicado.

7. O direito de resposta foi publicado e repito que cumpri com o compromisso assumido: verter no segundo texto a posição do ILTEC e voltar a contactar caso tivesse dúvidas. Na segunda conversa telefónica, no dia 15, com João Pedro Ferreira ficou combinado que usaria as explicações dadas na noite anterior oralmente e o documento que fora enviado por e-mail. E o investigador não pediu para acrescentar qualquer explicação. Mais: pouco depois de falar com João Pedro Ferreira recebi um e-mail (que anexo) da outra investigadora que assina esta carta ao provedor onde diz subscrever o texto enviado na véspera e disponibiliza-se “também para prestar a colaboração de que necessitar”. Nada mais.

8. Nunca foi dito no texto que fora contactado o autor do estudo da universidade do Minho.

É um facto que a primeira notícia só ouve uma das partes, apesar das tentativas para ouvir o ILTEC – que reconheceu, no telefonema às 22h10 de dia 14, que não respondera mais cedo por saber que os jornais fecham tarde. A notícia atribui à Priberam todas as afirmações e considerações – nenhuma parte da interpretação da jornalista. A posição do ILTEC foi sucessivamente expressa com citações do investigador João Pedro Ferreira, claras e directas, que tinham sido dadas ao telefone na noite de dia 14 e por isso mais explícitas do que boa parte das explicações enviadas por escrito.

Mas também é um facto que a jornalista fez aquilo com que se comprometeu: escrever uma segunda notícia no dia seguinte com a versão do ILTEC refutando absolutamente todas as acusações da Priberam. O ILTEC mandou uma resposta no dia 15 de Dezembro à 1h29, confirmou o seu conteúdo no dia 15 à tarde, já depois de ter lido o primeiro texto publicado e não quis fazer nenhum acrescento. Significa que estava satisfeito com as explicações dadas por telefone e por escrito à jornalista.

Maria do Céu Lopes

Mensagem enviada à jornalista por José Pedro Ferreira

Aqui vai a argumentação e as fontes para as minhas afirmações na conversa telefónica de há

pouco. A resposta parece longa porque inclui muitas referências para fontes, para poder verificar

por si própria a informação, mas tentei ser conciso. Respondo por pontos:

1. O artigo que supostamente avalia o Lince

2. A existência de outras ferramentas gratuitas

3. Críticas aos dados do VOP

4. Críticas ao dados do Lince

1. O artigo que contém uma comparação das ferramentas de conversão em linha a que me fez

referência está disponível aqui: http://www.lrec-conf.org/proceedings/lrec2010/pdf/898_Paper.pdf

Data de lançamento do Lince: 8 de junho de 2010 (fonte:

http://www.publico.pt/Cultura/conversor-ortografico-lince-ainda-nao-e-o-oficial_1441003)

Data de envio da proposta de artigo por parte dos autores (e portanto da análise que o

sustenta): 8 de novembro de 2009 (fonte: http://www.lrec-conf.org/lrec2010/?-Important-Dates-)

Data de envio da última versão do texto para publicação: 18 de março de 2010 (fonte:

http://www.lrec-conf.org/lrec2010/?-Important-Dates-)

Data de apresentação oral do artigo: 19-21 de maio de 2010 (fonte: http://www.lrec-conf.org/)

Não podia, portanto, ter sido o Lince a ser avaliado no artigo, dado que o Lince ainda não existia. O

próprio artigo diz, aliás: “Due to timing reasons, Portal da Lingua Portuguesa results were gathered

using the online version of their conversion tool, which may have affected their results.” (p. 231, nota

5). O artigo não faz menção ao nome ‘Lince’, de todo; no momento em que o texto foi fechado

tínhamos já anunciado que o iríamos lançar, o que justifica a nota dos autores. Só pode portanto

ser mal intecionada a intenção de querer usar esse artigo para criticar o Lince.

A ferramenta em linha que foi avaliada no artigo foi desenvolvida rapidamente por nós em 2008,

dado que não havia ainda outras ferramentas gratuitas e sentimos que o público precisava

rapidamente de instrumentos de esclarecimento quando ao Acordo Ortográfico. A ferramenta

avaliada, semelhante às que existem agora, deixou de ser mantida por nós a partir do momento em

que iniciámos o desenvolvimento do Lince (e daí que tenha ficado tão abaixo na avaliação), tendo

sido retirada do Portal da Língua Portuguesa no início de 2010, dado que era muito limitada, não a

mantínhamos, e já existiam outras ferramentas gratuitas do mesmo tipo e com as mesmas

limitações. Quando o estudo foi publicado já não estava disponível.

2. O Lince é uma aplicação muito mais complexa e com muito mais capacidades que os

conversores em linha que foram avaliados e que estão disponíveis. É como comparar laranjas e

maçãs. Não existe uma ferramenta gratuita comparável – nem paga – e com capacidades sequer

próximas. As outras ferramentas gratuitas apenas convertem reduzidos excertos de texto e apenas

são usáveis na Internet. Só pode ser mal intencionado, portanto, o argumento de que havia

ferramentas em linha gratuitas disponíveis aquando da decisão de financiar o Lince, dado que são

ferramentas com propósitos muito distintos.

As ferramentas que as empresas que me mencionou disponibilizam têm funcionalidades muito

reduzidas (apenas permitem converter até 3000 caracteres de textos copiando-os e colando-os

para a página – cf. infra) e não permitiriam aplicar o Acordo Ortográfico em nenhum país. O Lince

permite converter gratuitamente tantos documentos quantos se queira em simultâneo, em poucos

segundos, suportando todos os sistemas operativos, todos os formatos mais comuns de ficheiro de

texto (DOC, DOCX, PDF, TXT, RTF, ODT…) e todas as variedades do português; permite marcar

excertos de texto a excluir da conversão, personalizar – e guardar – as definições de cada um e

deixa a cargo do utilizador a escolha da sua preferência nos casos de opcionalidade. Nenhuma das

outras ferramentas existentes garante qualquer uma destas funcionalidades, mesmo isoladamente.

Imagine-se converter todo o acervo de uma editora, com milhares de títulos, copiando, à vez,

excertos de texto de 3000 caracteres (cerca de uma página), um a um, para a caixinha da página

da Internet e depois copiá-los de volta para o documento original. Perder-se-ia toda a formatação e

levaria anos… Por outro lado, a interpretação do Acordo Ortográfico seria feita por empresas com

interesses comerciais e não acreditadas cientificamente (o ILTEC é uma unidade de investigação

avaliada regularmente por um painel internacional nomeado pela Fundação para a Ciência e

Tecnologia – teve muito bom na última avaliação). Por outro lado ainda, o Lince assegura a

atualização dos dados por um período de seis anos e permite o contínuo desenvolvimento de

novas funções (até ao fim do ano será lançada uma nova versão com ainda mais funções). Não

faria sentido usar uma ferramenta sem nenhuma destas características para aplicar uma reforma

determinada pelo Estado e a que todos teremos que obedecer.

Essas páginas de acesso gratuito disponibilizadas por empresas com interesses comerciais e que

foram avaliadas no artigo servem, sobretudo, como plataforma de lançamento para os produtos

pagos, com mais funções (e ainda assim muito menos que as do Lince), que essas mesmas

empresas comercializam (nomeadamente o FLiP, da Priberam, que integra uma função – embora

muito limitada – de conversão, e os dicionários da Porto Editora, que têm vindo a ser adaptados ao

Acordo Ortográfico). Pode ver por si própria: http://www.flip.pt/tabid/566/default.aspx (Priberam);

http://www.portuguesexacto.pt/#%25%2502%25%25a%20baixo%3B%20abaixo (Porto Editora);

Lince: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=lince.

Não parece ser muito bem intencionada, pois, a comparação e o modo como é feita (pelas pessoas

com quem falou, e não pelos autores do artigo, que não têm culpa nenhuma e nem afirmam – nem

podiam – ter testado o Lince), mentindo quanto ao que o Lince é – e muito menos do interesse

público.

3. Alguns dos “erros” que lhe apontaram não o são: decorrem de diferentes critérios de

interpretação do Acordo Ortográfico. Por exemplo, não se diz no Acordo Ortográfico que ‘bem-feito’

ou ‘água-ardente’ mudam, como lhe disseram: o que se diz é que há formas, como ‘aguardente’ ou

‘benfeito’, que existem (cf. http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?

action=acordo&id=15-4&version=1990). Isso não implica que as duas variantes da palavra não

existam em paralelo, como tem, aliás, sido reconhecido pela generalidade das obras lexicográficas

de referência ao longo dos últimos cinquenta anos. A forma ‘água-ardente’ é, aliás, atestada a par

de ‘aguardente’ nos outros dicionários existentes, incluindo os das empresas com que falou:

http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=%C3%A1gua-ardente (Priberam);

http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/%C3%A1gua-ardente (Porto Editora).

Por outro lado, não há nenhum erro na palavra ‘beirão’, como lhe disseram:

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?

action=lemma&lemma=59311&highlight=^beir%E3o$. Dado que estamos constantemente a rever e

a corrigir os nossos dados, é possível que tenha sido corrigida entretanto, embora me pareça

pouco provável, dado que não estamos a trabalhar nessa área.

A forma de plural da palavra ‘para-choques’ tem, e apenas na sua forma de plural, uma gralha (que

não corrigimos agora pois não seria justo para com o seu artigo, mas corrigiremos em breve), dado

que tem um “s” a mais. Mas não lhe parece que querer destruir uma obra que tem mais de um

milhão e meio de formas, como é o Vocabulário Ortográfico do Português, mais a mais na sua

primeira edição, porque tem uma gralha numa ou outra forma é um pouco forçado? Em um milhão

e meio de formas há sempre coisas a rever, e é isso que temos feito incessantemente e

continuaremos a fazer; noutros países, há vocabulários e dicionários com mais de vinte edições

que continuam a ser revistos; não há uma fonte desta dimensão, para nenhuma língua, que não

tenha falhas, mesmo após muitas edições e revisões. E há que alertar ainda para o facto de todas

as palavras do VOP terem disponível uma ligação para contacto por parte do público em geral

(veja, abaixo da entrada, “comentários e sugestões”), que acompanhamos e fazemos refletir no

nosso Vocabulário quando há razão para tal, diariamente – pelo que a gralha nos podia ter sido

indicada.

4. Testei o Lince quanto a todas as palavras que me referiu, incluindo a tal forma ‘adopta-se’ e não

encontrei nenhum erro na conversão em nenhuma delas… Pode testar por si própria:

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=lince. Se encontrar algum erro, estou, é claro,

muito interessado em conhecê-lom para o podermos corrigir.

Espero que tenha ficado tudo mais claro e que possa agora fazer-nos justiça, caso a notícia saia

mesmo hoje com aqueles erros todos. Não temos nada a esconder, gostamos de críticas e estamos

sempre disponíveis para responder a quaisquer questões. Mas estas discussões têm que ser

sérias… Estamos ao vosso dispor para qualquer outra dúvida que possa surgir.

15 de Dezembro de 2010

José Pedro Ferreira

Instituto de Linguística Teórica e Computacional


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