Quando a María Ulecia decide fazer um jantar na sua casa na Graça (micasaenlisboa, Calçada do Monte nº 49) ou cozinha ela ou convida os seus cozinheiros favoritos. Foi o que fez recentemente, no primeiro de uma série de jantares que vai lançar, em princípio uma vez por mês. E começou com uma Ménage à trois (foi ela que assim o baptizou: Hugo Brito, do Boi Cavalo, Tiago Feio, do Leopold, e David Eyguesier, de Os Gazeteiros.
Mesa posta na varanda com vista para o Jardim da Cerca da Graça, a igreja em cima, o Castelo de São Jorge ao fundo, e os convidados foram-se sentando enquanto a luz do dia ia, lentamente, desaparecendo. Na cozinha, os três chefes e respectivos ajudantes começavam a preparar os pratos.
A ideia era servirem toda a refeição sem dizer qual era o autor de que prato. Cabia-nos a nós provar que conheciamos suficientemente a cozinha que cada um faz para adivinhar. Tarefa que se revelou mais difícil do que parecia. Apesar de terem estilos diferentes são três cozinheiros com características comuns Tiago e David talvez mais próximos, Hugo um pouco mais rock ‘n roll – e por isso mesmo Maria lembrou-se deles (além do facto, explicou ela, de os três restaurantes formarem uma espécie de triângulo em redor da casa dela).
Houve muitas verduras, muitas ervas, comida fresca, como pedia a noite de Verão (que foi arrefecendo, obrigando alguns dos convidados a irem buscar mantinhas) e vinhos naturais. A primeira coisa que chegou à mesa deu logo o tom do que seria o jantar: conjugações inesperadas de produtos e sabores com resultados surpreendemente bons. Foi um pão de milho torrado com ragu de berbigão e ostras pera nashi e rebentos de alho, um prato de Hugo Brito, como viriamos a confirmar mais tarde.
O bonito prato com três tomates de diferentes cores e sabores com gel de azeite, alga de kombu em pickle e manjericão tinha toda a cara de ser do Tiago Feio (e era). Seguiu-se a entrada em cena de David com um prato muito verde: salteado de legumes com uma emulsão de azeda a “agarrar” o conjunto de folhas variadas, chouriço seco e trigo sarraceno.
Criativos, arriscados e bem conseguidos, os três pratos de peixe. No primeiro, Hugo optou pelo contraste de sabores da anchova marinada sobre ameixa grelhada e molho de lagostim. David escolheu a cavala, para a trabalhar com abacate, pepino, beldroegas, pó de atum seco e sésamo preto, com os sabores mais fortes do peixe e do abacate a serem equilibrados pelos outros elementos. Veio acompanhado por uma menus consensual “limonada de algas”.
E, por fim, o Tiago fez um prato esteticamente minimalista (não podemos esquecer que a sua formação é em arquitectura), muito bonito e de sabores muito interessantes: enxaréu dos Açores marinado em saké com areia de boletos e molho feito com a cabeça e espinhas do enxaréu (na foto em cima).
Depois, Hugo não resistiu e avançou para a grelha, despertando o entusiasmo dos mais carnívoros entre os presentes. Um terraço como o de Maria pede grelhados, argumentou, e temos que reconhecer que o cheiro a carne grelhada criou um ambiente diferente. Para a acompanhar vieram abóbora hokaido grelhada com escabeche de coco e coentros, puré de feijoca e beldroegas.
Terminámos com duas óptimas sobremesas de Ana Raminhos, chefe pasteleira dos Gazeteiros, uma de sorvete de pepino e outra de granizado de cerejas com gin.
Agora é só ficar atento ao facebook da micasaenliboa e ver quem é que Maria convida para os próximos jantares. A sua casa quer ser (e já é) um espaço de encontros. Nada melhor do que fazê-los em volta de boa comida e descobertas que nos deixam com vontade de voltar – e, já agora, de ir visitar estes chefs aos seus restaurantes que, como os próprios lembravam no final, não estão no Chiado. É sempre bom voltar a lembrar que existe mais cidade.
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JF da sorte