Ir à fava no Poial

O sms dizia assim: “Estava a pensar convidar algumas pessoas a ir à fava no Poial”. Não, a ideia não era insultar nenhum político da nossa praça; era, literalmente, ir apanhar fava. E vindo da Maria José Macedo, da Quinta do Poial, era absolutamente irrecusável – pensei eu e pensaram muitas outras pessoas, que, numa manhã de domingo, sem se perceber bem se ia chover ou fazer sol, apareceram na quinta de agricultura biológica em Azeitão.

O sol veio, e ficou. As favas estavam prontinhas a ser apanhadas. E, como eramos muitos e ansiosos por mostrar a nossa dedicação à agricultura biológica, foi um instante enquanto enchemos algumas caixas.

O passo seguinte demorou mais tempo: era preciso descascar as favas. A Maria José tinha preparado duas mesas compridas de madeira, e os grupos formaram-se à volta de caixas de favas. Havia portugueses e estrangeiros, e todos tinham trazido alguma coisa para contribuir para o almoço. Abriram-se as primeiras garrafas de vinho, e não houve quem nos detivesse no afã de descascar favas.

Houve, sim, quem quisesse levar a tarefa ainda mais a peito e sugerisse que se tirasse a pele das favas para se fazer uma versão diferente do prato, só com a favinha verde e tenra. E houve quem fosse na conversa… Mas valeu a pena, tenho que reconhecer (a foto está aqui em baixo).  

Na mesa foram aparecendo saladas, pão, tortilhas, pastas várias para barrar. E na cozinha, começou-se a fazer as favas, usando ervas que se apanhavam logo ali nas plantações do Poial. Vegetais não faltavam – e saídos directamente da terra.

Comeu-se muito bem. Todos encontrámos alguém que conheciamos e ficámos a conhecer alguém novo, houve muita conversa à volta da mesa, um brinde à Maria José, e um resto de tarde passado entre as fileiras de legumes plantados, com ela a explicar-nos o que é o quê e a tentar que, no entusiasmo de arrancarmos ervas daninhas como se a salvação da agricultura portuguesa dependesse de nós, não levássemos atrás também as cenouras ou os alhos.

Tudo isto teve um propósito. A Maria José queria saber se resultava a ideia de trazer à Quinta do Poial quem quisesse conhecer os legumes e ervas aromáticas, cozinhar com eles (sempre diferentes, conforme as alturas do ano, claro), aprender coisas sobre agricultura biológica, e partilhar experiências.

A Maria José é uma idealista assumida – foi das primeiras a dedicar-se à agricultura biológica, tem legumes maravilhosos que vende aos sábados de manhã no mercado do Príncipe Real, trabalha com alguns dos principais chefes, desde José Avillez do Belcanto a Vincent Farges da Fortaleza do Guincho, passando pelo Alexandre Silva do Bocca (e eles não lhe poupam elogios). E agora está a pensar que chegou a altura de abrir o Poial a quem o queira visitar.

Sorte a nossa que ela não tenha desistido de ser uma idealista e que continue a acreditar que o caminho é este – e que o devemos fazer uns com os outros.

Dou mais notícias quando houver outros almoços no Poial

5 comentários a Ir à fava no Poial

  1. De la part d’une amie de longue date, dont le rire et le sourire m’ont toujours rendue plus heureuse
    et de la part d’une invitée au Quinta do Poial, où j’ai apprécié ses légumes, ses fleurs, ses herbes…Je regrette ton absence
    je t’embrasse, Dona Zé
    marie-Gonzague

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    • Tão cedo não perguntarei a ninguém se quer ir à fava, mas em breve poder-se-há testar a receita do Miguel Pires no “Mesa Marcada”.
      Flores de courgette recheadas (com o que se quizer), uns joaquinzinhos da horta, e o que se descobrir por aqui, que dê para improvisar um dia singular, entre a terra e o prato

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  2. Mandaram-nos literalmente à fava… e o que seria viver sem “ser” na utopia…..
    A próxima colheita… talvez a guerra do tomate… existem várias especies no Poial..com diferentes cores, tamanhos e sabores…

    Sorte o previlégio de uns olhos (com barriga), nos presenciar com o registo, deste que foi o primeiro almoço utopico no POI(SO)AL.

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