Aprender a esperar e a contemplar

01EsperaMiyukiCapaCrianças05Dez2020

Um livro sobre a paciência e a impaciência. Para Miyuki é urgente que uma pequena flor do seu jardim, ainda em botão, se abra e floresça.

No primeiro dia de Primavera, a pequena Miyuki acordou de madrugada, percorreu descalça as áleas do jardim e foi ter com o avô, apressada:

“— Levanta-te Avô, levanta-te! O dia despertou antes de ti!

— Espera, Miyuki. O dia não se vai já embora. Deixa-me aproveitar a minha almofada macia e os primeiros raios de sol que me entram pela janela.

— Olha que perdes o último luar de Inverno! Depressa, Avô! Levanta-te, para ainda o apanhares!”

O avô seguiu-a, cumprimentando cada flor que desabrochara naquele despontar da Primavera. “Bom dia, cerejeira! Bom dia, erva-doce! Bom dia, botões de flores!””

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O tempo não tem a mesma duração para todos nós. O avô de Miyuki vai provar-lhe isso mesmo, começando por lhe dizer, face à sua ansiedade de ver desabrochar aquela flor que “preguiçava, ensonada, e parecia ignorar o canto da Primavera”, que “nem todas as flores dançam ao mesmo tempo”.

Nunca foi fácil travar uma criança determinada. Não interessa a sua latitude ou geografia, mas aqui o ambiente remete-nos para os jardins do Japão. Cenário preferencial de Seng Soun Ratanavanh, ilustradora e pintora muito influenciada pela arte e a cultura japonesas.

Já a autora do texto, Roxane Marie Galliez, é investigadora de História das Civilizações e jornalista. Este é o primeiro álbum ilustrado de uma trilogia que criaram juntas e “que acompanha várias aventuras com o seu avô”, informa a editora, que vai publicar os seguintes na Orfeu Mini. Uma colecção criada em 2008 e “que privilegia o formato álbum e entrelaça ilustração com design gráfico, oferecendo ao leitor histórias e objectos inovadores para pensar às avessas”, descreve-se no site da editora.

Em Espera, Miyuki, narrativa e ilustração enriquecem-se mutuamente e partilham o mesmo tom de paz e serenidade, apesar da impaciência da menina.

Na urgência de encontrar água pura para levar à única flor que faltava desabrochar, Miyuki pediu-a ao poço, às nuvens e a um “rapaz de quimono cor de lua [que] cantava e regava as flores” do seu jardim. Conseguiu encher o vaso. Na precipitação do regresso, acabou por parti-lo, ficar sem a água e perder-se no caminho.

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O avô há-de encontrá-la, pô-la a dormir e dizer-lhe na manhã seguinte:
“— (…) Correste tão depressa, que não aproveitaste a primeira manhã de Primavera do nosso jardim. Vem, senta-te ao pé de mim. Olha em volta. Desta vez, vais saber esperar?” Miyuki seguiu as indicações do avô e esperou.

A pequena flor acabaria por desabrochar, com a ajuda da “água mais pura do mundo”, o orvalho vertido de uma outra flor que o avô segurava.

Estamos certos de que, na próxima Primavera, Miyuki trocará a urgência pela contemplação.

Espera, Miyuki
Texto: Roxane Marie Galliez
Ilustração: Seng Soun Ratanavanh
Tradução: Maria Afonso
Edição: Orfeu Negro
32 págs., 14,50€

Texto divulgado a 5 de Dezembro no Público, no site-statélite Ímpar.

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Na edição impressa, a paginação foi de Ana Cristina Fidalgo. A parte de Agenda ficou a cargo, como habitualmente, do Guia do Lazer.

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