Cinco histórias tradicionais portuguesas contadas de novo. Mas por um mestre, António Torrado. Só quem muito sabe das palavras e já contou e recontou pode escrever frases como esta, ao descrever o despeito de sete irmãos perante o nascimento de uma menina: “Nem vale a pena ouvir os restantes, que a música não variava, em coro ressentido. Música e coro desafinados pelo ciúme.”
Ou esta, também do conto Maria Rosa e os Sete Veados Barbudos: “Todo o santo dia o príncipe suspirava, com aqueles suspiros fundos que vêm em espiral do coração à boca e não enganam ninguém.” O livro abre com a divertida história do Zé das Moscas, que ouve “assim uns zumbidos, bzz-bzz… bzz-bzz, que vêm e vão, passam e voltam, desandam e tornam. Bzz-bzz… bzz-bzz…”.
Andam as moscas atrás do Zé e o Zé atrás do médico, do advogado, do veterinário, do comandante da polícia e do juiz. Só queria que lhe resolvessem o problema. Não o fazem, mas, com ironia e justiça, o assunto resolve-se. O livro está recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 4.º ano, mas, mesmo que não estivesse, este é um autor que se recomendará sempre — nos seus vários registos.
Um dia, António Torrado disse ao PÚBLICO que já tinha escrito “sobre tudo e mais alguma coisa”. Ainda bem. O seu escrever tem graça — e sabedoria.
Vem Aí o Zé das Moscas e Outras Histórias
Texto: António Torrado
Ilustração: Maria João Lopes
Edição ASA
64 págs., 10,90€
(Texto divulgado na edição do Público de 5 de Setembro, página Crianças.)
Quando António Torrado viu esta ilustração de André Letria (que a desenhou a nosso pedido), disse, com o seu bom humor, temer que as crianças pensassem que ele era “um psicopata”.
O trabalho escrito para a Pública (divulgado em Setembro de 2010) também pode ser lido directamente no Público online. Siga-nos.
Alunos do 4.º ano representam Vem aí o Zé das Moscas. (Letra pequena não conseguiu identificar a escola. O vídeo foi colocado no YouTube por Alexandrina Martins.)