Há coisas que não se repetem

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Assim que se lê o título, vêm várias hipóteses ao pensamento. Num mundo tão diverso, podia estar a falar-se de muita coisa. Mas é preciso folhear o livro até ao fim para ver esclarecido o mistério. Começa assim a descoberta: “Há-os em todos os países, nas terras altas e nas planícies longínquas, nas urbes populosas e nas aldeias esquecidas. Podem encontrar-se em qualquer lugar, apesar de não serem fáceis de conseguir.”

“Que raio será?”, pensa o leitor. As ilustrações vão revelando opostos em cada plano, quase sempre com gente. “Não há dois iguais: alguns são doces como o reencontro e amargos como o adeus”, lê-se mais adiante, enquanto se vê um homem a abraçar um cão (reencontro) e outro (o mesmo?) a acenar a uma mulher (despedida).

Começamos a ficar convencidos de que não há dois “momentos” iguais. Sempre com o afecto a ditá-los. “Deve ser isso”, pensa o leitor. Quando chega à parte em que se diz que “uns são breves como um abrir e fechar de olhos e outros, longos como o tempo de espera”, fica-se com a certeza de que é de “momentos” que se fala. Engano. Só no plano final, em que a dobra do livro se abre, imagem e palavras provam que há outras coisas que não se repetem e podem ser “alegres, como um melro”.

Espera-se que hoje já lhe tenha acontecido. E volte a acontecer, mesmo se não exactamente da mesma maneira. É que não “há dois iguais”.

Não Há dois Iguais
Texto Javier Solino
Tradução Elisabete Ramos
Ilustração Catarina Sobral
Edição Kalandraka
30 págs. 13€

(Texto divulgado na edição de 7 de Março do Público, página Crianças.)

Para conhecer outros trabalhos de Catarina Sobral, siga-nos.

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