Do silêncio à chinfrineira, de Damaraland à Costa dos Esqueletos

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Se há coisa que não falta na Namíbia é espaço. É possível andar horas, muitas horas, por estradas infindáveis e só nos cruzarmos com duas mãos cheias de pessoas – e é bem provável que uns quantos sejam viajantes em jipes com tendas de campismo no cocuruto.

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O nome já dá uma pista: Namib tem origem Nama e significa “local vasto”. Estamos no 34.° maior país do mundo e não se vê vivalma. Idiossincrasias de um território com uma das mais baixas densidades populacionais do globo: pouco mais de dois milhões de habitantes no total, distribuídos (e de forma muito pouco homogénea) por 825 mil quilómetros quadrados de território. Fora os turistas – na ordem de um milhão por ano.

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Atravessar Damaraland, e palmilhar as inóspitas montanhas avermelhadas, ou percorrer a Costa dos Esqueletos, com as fotogénicas dunas que escondem cadáveres de navios afundados, é conhecer um verdadeiro silêncio, apenas interrompido de quando em quando pela passagem de mais uma caixa a motor com rodas (que perante esta imensidão se torna algo claustrofóbica). Territórios a perder de vista, tão diferentes entre si, que convidam, e incentivam, à introspecção, toda uma outra viagem em si própria. Já dizia Flaubert: “Viajar torna uma pessoa modesta – vê-se como é pequeno o lugar que ocupamos no mundo.”

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Até que à chegada ao Cabo da Cruz, onde um padrão junto à praia assinala a passagem de Diogo Cão, o primeiro europeu a pisar a costa da Namíbia em 1486, abre-se a porta da carrinha e… tudo é diferente. Já não há silêncio, antes uma cacofonia estridente de balidos. Um cheiro nauseabundo invade, sem piedade, o ar outrora límpido. Diferente de qualquer outro odor que já inebriou estas inocentes narinas, entranha-se em cada poro, pêlo, fiozinho de cabelo.

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Desfecha-se então todo um aparato: milhares de lobos-marinhos estendidos no areal – que mal se distingue entre os corpos prostrados – empilhados uns em cima dos outros. Feitos estátuas ao sol, outros aparentemente enfurecidos com o vizinho do lado, crias a berrar pela mãe, nadadores a atravessar as ondas. Existem três espécies destes mamíferos no sul de África e os lobos-marinhos-do-cabo (Arctocephalus pusillus) são uma delas. Nesta colónia, a 115 quilómetros de Swakopmund, vivem durante todo o ano entre 80 a 100 mil adoráveis animais. Nota-se. A chinfrineira – e o perfume – não enganam.

A Fugas viaja pela Namíbia a convite da Across

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