A primeira vez que viajei, a primeira vez que saí do país, foi para vir a Paris. Em 1998. Nessa altura, uma semana no início do verão, mochila às costas, fiz tudo o que era possível fazer. Saía da pousada da juventude às 6 ou 7 da manhã e ia à procura dos monumentos. Fui dos esgotos ao Arco do Triunfo, do Museu Picasso, do Pompidou ao Louvre. E subi à Torre Eiffel, ao segundo andar, até onde era possível ir a pé.
De então até hoje, mudaram as leis que permitem que a Torre seja fotografada, filmada ou fixada em filme, fotografia ou quadro oficial. Numa altura em que a imagem se tornou banal – e mais banal do que a Torre Eiffel talvez não exista – parece estranho que a cidade queira cobrar por ter o seu ex-libris (que o poeta Verlaine odiava e fazia tudo para se desviar do seu caminho).
Decidi subir à Torre, misturando-me com os turistas, esperando uma hora para entrar, ouvindo as diferentes línguas, olhando para o que os outros queriam ver, esperando encontrar uma outra cidade (cuja vista da torre vi a ser filmada assim, sublime, no belíssimo plano de “A Carta”, de Manoel de Oliveira).