Ontem foi um dia especial em Nova Iorque: os manifestantes de Wall Street que, juntando-se à contestação global de 15 de Outubro, foram subindo a ruas da cidade, com cada vez mais pessoas – milhares, há quem diga que chegaram a ser 10 mil em Times Square – a entrarem na marcha pedindo “o fim da ganância e da corrupção de Wall Street”. Ficam aqui alguns retratos de manifestantes, dos mais jovens aos mais velhos:
Zack Devel, 19 anos, estudante universitário, Pensilvânia
“Estou a protestar contra Wall Street, contra o capitalismo abusivo – atenção, não acho que o capitalismo seja mau”, explica. “Mas as grandes empresas abusaram e isso afectou toda a gente”. Gente como o seu pai, que teve de retirar 500 mil dólares que tinha poupado para a reforma para manter a casa da família após a crise do subprime. Os bancos foram resgatados, o seu pai aguentou o desemprego, agora um emprego que detesta onde ganha metade do que ganhava antes… “Onde está o resgate dele?” pergunta.
April Kidwell, 27 anos, empregada de mesa e artista
O cartaz de April fala do direito a ser feliz. O que quer dizer com isso? “Bom, basicamente estou falida e pobre e sempre paguei os meus impostos”, diz. Um dedo partido e a falta de seguro de saúde para o tratar fez com que não possa trabalhar – nem servir a mesas nem na sua arte. Não acampa em Wall Street mas sai à rua sempre que há manifestações. “Isto é só o início. As pessoas estão fartas”. Quanto ao Presidente, nota, com um sorriso triste: “Fui a maior apoiante de Obama, mesmo antes de ele dizer que se candidatava. Mas infelizmente ele está mais preocupado em agradar à direita.”
Tom Hagan, 60 anos, representante de vendas de móveis
Tom Hagan mete conversa com quem passa e a quem pára diz que esta é a sua “segunda luta pela democracia”. “A primeira vez foi quando lutei pela democracia no Vietname, quer dizer, pelo menos na altura pensei que era o que lá estava a fazer”, conta. O seu cartaz, amarelo fluorescente, explica que apoia “o renascimento da democracia”. O que quer dizer comisso? “Quero que seja investigado o comportamento das empresas financeiras, e não só com duas pequenas audiências no Congresso”, explica. “Eles sabiam que o que estavam a fazer era errado e perigoso – são sociopatas, isso é que define os sociopatas”. Depois disso, então, “podemos começar a mexer-nos para que as grandes empresas possam pôr menos dinheiro na política”.
Jackie Montgomery, 80 anos, reformada
“Tenho 80 anos e estou zangada como o diabo. Apoio esta causa e apoio democracia verdadeira” é o cartaz de Jackie. Numa voz suave que contrasta com a ira do cartaz, conta que está prestes a perder a casa, em Brooklyn, onde viveu os últimos 48 anos porque não consegue renegociar com o banco o pagamento da mensalidade que disparou depois da crise do subprime. É a primeira vez que vem aos protestos contra Wall Street – quanto a ela, um movimento “parecido com o Tea Party, mas do outro lado” – e promete “ficar enquanto aguentar”. Quanto à segunda parte do cartaz: “Fico contente por vivermos numa democracia”, diz. “Mas sinto que está ameaçada.”