A defesa de Obama

Os democratas abriram a sua convenção de Charlotte com uma vigorosa defesa de tudo o que o Presidente Barack Obama fez nos últimos quatro anos e um duro ataque de tudo o que o seu adversário republicano Mitt Romney se propõe fazer caso seja eleito para a Casa Branca.

Da primeira lei assinada por Obama, o Lilly Ledbetter Act, que consagra a igualdade salarial entre homens e mulheres, à polémica reforma do funcionamento do sistema de saúde conhecida como Obamacare (outrora anátema, mas agora definitivamente abraçada pelos legisladores e os delegados democratas); da retirada das tropas americanas do Iraque à morte de Osama Bin Laden; do programa de recuperação da indústria automóvel ao pacote de estímulo económico que baixou os impostos e permitiu salvar milhões de postos de trabalho; do programa “Race to the Top” lançado pelo departamento de Educação ao reforço do financiamento federal para bolsas de estudo universitárias; da defesa do direito dos gays a serem contratados pelo Exército sem recriminações e autorizados a casar ao direito das mulheres fazerem a sua própria escolha sobre a sua saúde reprodutiva, …, não ficou praticamente nenhuma lei por mencionar, nenhuma iniciativa por elogiar, declaração presidencial por enaltecer.

E o que o Presidente ainda não fez, ou porque não teve tempo ou porque, como repetiram quase todos os oradores que subiram ao palco em Charlotte, porque a oposição republicana no Congresso não permitiu, é precisamente o que, no entender dos liberais, justifica a reeleição de Barack Obama.

Mas a razão principal para que os americanos concedam mais quatro anos de mandato ao Presidente, aquela que a Primeira-Dama foi até Charlotte para enunciar, é porque é Barack Obama que conhece a classe média, sabe quais são os seus desafios diários, preocupa-se com os seus problemas quotidianos, luta pelos seus interesses, protege os seus direitos, trabalha para melhorar as suas condições e qualidade de vida. “Barack Obama sabe o que representa o sonho americano porque ele viveu o sonho americano”, lembrou Michelle Obama, que foi a grande protagonista da primeira noite, levando o pavilhão ao rubro com um poderoso discurso, pessoal, emocional e rico em subtilezas.

Como Ann Romney há uma semana em Tampa, Michelle foi ao palco para atestar pelo carácter e os valores do seu marido e oferecer um vislumbre da sua intimidade. A Primeira Dama fez a defesa do amor que sente pelo marido — hoje maior do que há quatro anos, quando renitentemente aceitou acompanhá-lo na sua caminhada até à presidência, maior do que há 23 anos, quando se conheceram — mas mais do que isso, fez uma defesa apaixonada das políticas de Barack Obama, sustentando melhor do que ninguém o caso para a sua reeleição.

O seu testemunho pessoal foi, inteligentemente, o mais eficaz discurso político da noite. Sem mencionar o seu rival republicano uma única vez, Michelle Obama arrasou a narrativa oferecida pela campanha de Mitt Romney. O sucesso, disse, não vale de nada se não for acompanhado de gratidão e humildade, porque ninguém constrói o seu sucesso sozinho. Ou de integridade e honestidade: “A verdade é o mais importante. Não se seguem atalhos nem se joga com regras próprias — o sucesso não conta se não for alcançado de forma justa e transparente”, declarou. E aqueles que sucedem, prosseguiu, têm o dever de manter aberta a porta da oportunidade,  e não fechá-la na cara daqueles que vêm atrás” e podem seguir o seu exemplo.

O tema da oportunidade foi também a pedra de toque do discurso do mayor de San Antonio Julian Castro, escolhido para o keynote speech da convenção. O jovem político texano de ascendência mexicana arrancou timidamente, mas construiu a sua intervenção num crescendo que culminou com a plateia de 6000 delegados rendida às suas palavras.

“O sonho americano não é um sprint bem uma maratona: é uma estafeta. As nossas famílias às vezes precisam de mais do que uma geração para chegar à linha da meta. Mas cada geração passa à seguinte os frutos do seu trabalho.”

Julian Castro 2016?, especulava-se na internet mal o mayor terminou. O veterano consultor político republicano do Texas, Mark McKinnon, já vê em Castro “o primeiro Presidente hispânico dos Estados Unidos”.

Igualmente explosivo esteve o governador do Massachusetts, Deval Patrick, o sucessor de Mitt Romney no cargo e que não desperdiçou a oportunidade de recordar o registo do republicano. Patrick, que curiosamente se eximiu em recordar o pioneirismo de Romney na produção de uma lei para o acesso a cuidados médicos e a cobertura universal da população do Massachusetts, lembrou, por exemplo, como o republicano que corre com base nas suas credenciais de promotor do crescimento económico, falhou redondamente no que diz respeito à criação de emprego no governo do estado, que foi o “47º entre 50 na criação de postos de trabalho” (uma afirmação que pode ou não ser interpretada como inteiramente verdadeira). Mas mais interessante do que o que disse dos republicanos foi o que Deval Patrick disse aos democratas: “Têm de desenvolver uma coluna vertebral e defender aquilo em que acreditam”, exortou. “Vão deixar que o Presidente Obama seja vítima do bullying dos conservadores?”, perguntou.

De resto, o discurso do antigo Chief of Staff da Casa Branca (e perigoso cão de ataque), Rahm Emanuel, revelou-se banal. Como o da maior parte dos oradores que passaram pelo palco antes dos trabalhos da convenção entrarem em directo nos canais generalistas — mais para atacar Mitt Romney do que para promover Barack Obama. A liderar os ataques esteve, surpreendentemente, o falecido “leão do Senado” Ted Kennedy, uma das figuras mais queridas das bases liberais e cuja justa homenagem serviu também para recordar o seu combate eleitoral contra Mitt Romney.

Rita Siza

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