A importância do Iowa

Um assessor de campanha explicava-me, há quatro anos, a importância do Iowa no contexto eleitoral norte-americano. Os caucus, comparava, são o momento em que todos os candidatos se atiram à piscina: “É aqui que se atiram à água e começam a nadar. Alguns vão perder as forças e desistir antes de chegar ao fim. O que nadar melhor e chegar mais longe vai poder a atirar-se à água de novo em Novembro”.

Só alguns — poucos — candidatos chegam a aproximar-se da beira da piscina. Nem todos os “comités exploratórios” formados por políticos com ambições presidenciais, em nome próprio ou por interposta pessoa, acabam por evoluir para candidaturas. Para que isso aconteça, são necessárias três coisas: organização, dinheiro e apoios. Os concorrentes que consigam cumprir essas três premissas podem começar então o treino — alguns saberão, logo depois do Iowa, se estão numa prova de maratona, ou se perderam a energia ao fim de 100 metros.

Meses antes de saltar para a água, os candidatos submetem-se a um regime intensivo. São meses de preparação, em que se estabelecem as equipas de conselheiros políticos e voluntários de campanha, em que se afina a mensagem, em que se analisam as sondagens e os focus groups, em que se fazem entrevistas, e gravam anúncios, em que se multiplicam os eventos para recolha de fundos, em que se ensaiam as primeiras acções de rua, pequenos comícios, contactos com eleitores, em que se negoceiam apoios.

Algumas campanhas não singram. Por exemplo, a candidatura do empresário do sector da restauração, Herman Cain, um novato nos palcos políticos que inesperadamente se converteu no líder da corrida republicana, soçobrou, ferida de morte por uma série de alegações de assédio sexual de funcionárias, pela divulgação de infidelidades matrimoniais, e pelas gaffes de campanha — a constrangedora pausa do candidato, incapaz de responder a uma pergunta simples sobre a Líbia, foi fatal para as suas pretensões. Cain “suspendeu” a sua campanha pouco depois, e desapareceu no éter. Inevitavelmente, outros terão o mesmo destino.

As outras campanhas — as que hoje se atiram á água — retirarão do Iowa lições valiosas. O pequeno estado rural, 23º em tamanho e 30º em população, serviu-lhes até agora como uma espécie de laboratório de experimentação. Interessa-lhes, para a frente, replicar o que fizeram bem e corrigir o que correu mal, ajustando a escala. Mas mais do que tudo, interessa-lhes fixar ou desmentir a narrativa que construíram no Iowa. Todos os analistas políticos concordam que a vitória nos caucus pode não ser o mais relevante: um candidato pode ficar em terceiro e ainda assim ser “a grande história” a sair do Iowa.

O ex-senador da Pensilvânia Rick Santorum está bem encaminhado para ser o grande protagonista da votação de 2012. A sua campanha discreta, passou desapercebida até há uma semana, quando inesperadamente o bloco evangélico começou a congregar a atenção na sua candidatura. Pode não ser o suficiente para o projectar para a liderança — as sondagens dizem que não — ou sequer para garantir a longevidade da sua candidatura. Mas a confirmar-se a ascensão de Santorum, a “história” do Iowa será a de que a candidatura de Mitt Romney, que desde o princípio tem sido apontado como o vencedor inevitável, ainda não conseguiu convencer o eleitorado conservador.

Antes de cair o pano, o primeiro acto do Iowa já se revelou importante ao estabelecer como personagem principal o candidato libertário Ron Paul, o excêntrico que noutras campanhas assumiu o papel do coro grego, mas que agora surge no elenco a reclamar as luzes da ribalta. A sua candidatura desafia o establishment republicano, provoca o sistema mediático e entusiasma o eleitorado — a sua mensagem, cândida e robusta, é especialmente atractiva para os jovens.

Rita Siza

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