O dia desmaia quando, finalmente, chegámos às margens de um pequeno lago artificial. Os derradeiros quilómetros que aqui se dirigem são a descer em zona tranquila, rural, com casas térreas abraçadas por quintais.
A primeira imagem é divina. E não falo de religião. Fixo-me primeiro no reflexo. Um dos edifícios do mosteiro duplicado no estático lençol de água. O branco das paredes e o alaranjado do telhado. A torre clara e a cúpula preta. Linhas sóbrias. Simples. Detenho-me a contemplar antes de decidir avançar.
Estamos num dos mais antigos mosteiros da Moldávia (século XV), a uns 40 quilómetros a noroeste de Chisinau. E que a determinada altura mudou o nome original para assumir um outro, em honra ao seu clérigo superior, Chiprian.
O declínio económico e estagnação cultural durante o século XVII resultou em grandes dificuldades também para este mosteiro que dois séculos depois entrou e nova fase de grande vigor. Até que vieram as guerras do século XX, chegou o período soviético e os monges tiveram de se refugiar em outras paragens.
Agora, em 2016, respira-se com normalidade. É assim há apenas uns 10 anos. Com os russos no controlo, o complexo foi um sanatório para crianças (1962). E o refeitório transformado num verdadeiro ‘clube’: dança, festas (com álcool) e casamentos. Agora, nem traços desse período. O lugar exalta serenidade, tranquilidade. Aqui, o tempo parece estático. Move-se sem pressa alguma.
Em 1989, com o gigante comunista a colapsar, voltaram os serviços religiosos a Capriana. Cinco anos depois principiou a reconstrução que apenas em 2007 ficou concluída. O complexo tem três igrejas. A Assunção da Virgem Maria (1545, de estilo medieval molvado), a de São Nicolau (1840) e de S. Jorge (1907), de estilo barroco.
De Capriana também fazem parte a casa do abade, refeitório e celas dos monges. A igreja de verão, a primeira aqui mencionada, é a mais antiga (preservada) da Moldávia, contendo presentes de diversos reis.
Não longe do mosteiro, há um grande carvalho com o nome de Stefan cel Mare, o Grande, onde dizem que o saudoso rei de há 500 anos descansou após uma batalha. Diria que apenas quis contemplar a beleza bucólica do seu reino.
Há um clérigo que descansa. Parece-me que envia um sms. Com destinatário divino? Nós também precisámos repousar e dirigimo-nos a um cafezinho. Que agora está em festa. A música em decibéis pouco toleráveis e já rolou muito álcool. Para já, apenas a família. E nenhum dos membros parece em estado… normal. Pelos preparos de farta mesa, a noite promete. E a nossa é de volta a Chisinau, pois estamos quase de partida…
Rui Barbosa Batista relata no blogue Correr Mundo a sua invulgar aventura por Palma de Maiorca, Roménia, Moldávia, Itália e São Marino. No site www.bornfreee.com pode aceder a outros relatos e imagens sobre a viagem.