É desta forma que encaro a capital do Uruguai: uma charmosa velha aristocrata. No melhor dos sentidos. Desde 2006 que pouco mudou na sua pele. A cidade velha continua decrepitamente encantadora, embora nos arredores, sobretudo na zona costeira, os crescentes milionários vão construindo verdadeiros palácios que ostentam a sua condição.
Montevideu ostenta o título de cidade latino-americana com maior qualidade de vida e estará nas 30 mais seguras cidades do Mundo, para gáudio do seu milhão e meio de habitantes, cerca de metade da população do país.
Banhado pelo Rio da Prata, tal como Buenos Aires e a vizinha ‘portuguesa’ Colónia de Sacramento, tem uma baia fantástica, embora as águas não sejam da cor mais estimulante para os banhistas, que, indiferentes, se multiplicam.
É um destino estimulante para um fim-de-semana prolongado e essa fama traz argentinos e brasileiros. Uma cidade muito acolhedora e com perfil poético, nomeadamente a nobre zona velha. Não sobressai pelos modernos padrões de beleza estética, é antes um poema que nos agarra desde a primeira estrofe. E, invariavelmente, a ‘dulce’ gente é parte fundamental desse segredo.
O melhor mesmo é preparar-se para andar. E utilizar os deliciosamente decrépitos autocarros para aceder a lugares mais distantes. Como há longas décadas em Portugal, ainda há um cobrador sentado, do lado esquerdo após a entrada, com inúmeras notas entrelaçadas nos dedos, a cobrar bilhete. Impagável também a sua habitual simpatia. Dizem-nos o que desejamos e vão além, atrevendo-se a sugestões na zona onde queremos sair.
Comecemos pela bela Plaza Constitución, que alberga a catedral Metropolitana de Montevideu e tem vários museus nas proximidades, como o de Histórico Nacional e o de Arte Precolombina e Indigena (MAPI). Pode depois baixar umas quadras em direção ao rio e visitar o do Carnaval, aproveitando depois para almoçar no Mercado del Puerto. Um dos lugares imperdíveis para uma refeição. Uma velha infraestrutura que já foi ferroviária com alguns dos mais afamados restaurantes da cidade. Em acolhedor ambiente open space.
A Plaza Independência divide a cidade velha do resto de Montevideu. Que se espraia a partir da longa e comercial avenida 18 de julho. A Puerta dela Ciudadelaé o que sobrou da antiga muralha que dividia as duas áreas. No centro da praça, o imponente mausoléu do general Jose Artigas, verdadeiro herói nacional.
O palácio Salvo é uma das marcas mais distintas e distintivas da capital. Silhueta invulgar e emblemática dos anos prósperos do início do século XX. Edifício com 95 impressionantes metros (27 andares) inaugurado em 1928 e que foi a maior torre da América do Sul durante muitos anos. Ocupa o lugar que já foi da confeitariaLa Giralda, onde Gerardo Matos Rodríguez apresentou ‘La Cumparsita’, o tango uruguaio mais famoso e difundido no Mundo. Os uruguaios defendem que o tango é seu e não argentino. Mas isso é longa história…
O Teatro Solis é outro dos lugares imperdíveis. Está para Montevideu como o Teatro Colón está para Buenos Aires. Lá iremos…
Avançando pela 18 de julho, onde proliferam as casas de câmbio, ou não fosse esta a principal zona comercial, obrigatório deter-nos na Fonte dos Cadeados e subir ao miradouro da camara de Montevidéu, localizado no seu último andar e com apreciável vista panorâmica da cidade.
Afastando-nos do centro, temos a maravilha Rodó, um grande parque urbano localizado no bairro Punta Carretas, próximo das Ramblas. Aqui perto há a Bodega Bouza, uma das mais conhecidas empresas vinícolas do país e com visita guiada muito interessante.
O Palácio Legislativo é a sede da câmara dos deputados e do senado, sendo o prédio mais imponente de Montevideu, pelo tamanho e arquitetura. É possível fazer uma visita guiada para conhecer o seu interior, rico em detalhes e histórias.
O Estádio Centenário pertence ao Peñarol, clube que o FC Porto derrotou na Taça Intercontinental de 1987, sagrando-se o melhor clube do Mundo naquele ano. Está tão velho quanto a zona histórica. Aconselhável para os amantes do futebol.
Ao final da tarde (ou a outra qualquer hora), nada como passear por toda a extensão das Ramblas, que são as avenidas ao longo da orla, à beira-mar. O por do sol no farol de Punta Carretas é uma boa sugestão. Nós aproveitamos para ir ao limite de Montevideu e experimentar a (justificada) fama do ‘El Italiano’, onde comemos o melhor peixe da cidade. E como é bom recuperar os sabores do mar depois de nos termos perdido nas típicas e suculentas ‘parrilladas’ de carne…
Rui Barbosa Batista relata no blogue Correr Mundo a sua aventura pela Argentina e Uruguai. No site www.bornfreee.com pode aceder a outros relatos e imagens sobre a viagem.