Pequim é uma festa pela manhã

Hoje, só hoje, li o aviso do golpe da cerveja a 10 euros. O aviso era para coisa que podia ir aos 500 euros. São golpistas por conta da casa. Quem vier a Pequim fica já avisado. Também há um quiosque de táxi dentro do aeroporto e cobram 1/4 do que paguei cá fora. Os cães têm um ar bem tratado e as pessoas passeiam os cães com ar afectuoso, não me parece que andem a pastorear o jantar.

Hoje às sete e meia estava no parque próximo do hotel. Tinha a ideia peregrina de ir às compras, mas desisti. Pequim é uma festa pela manhã. O parque estava a abarrotar de gente, centenas de pessoas a fotografar a Primavera na forma de tulipas mas principalmente peónias. Parecia um concurso inverso dos telefones, a ver quem tinha uma teleobjectiva maior (como se as pobres das peónias fossem fugir, se os fotógrafos se aproximassem mais um passinho…) Ganhou um exagerado com um fole de metro entre a lente e a máquina.

Depois há milhares de pessoas a dançar, a jogar uma espécie de badminton com uma vela grande que chutam eximiamente e com grande noção de exibicionismo, a fazer tai chi, com ou sem espada, a jogar pingue-pongue ou uma espécie de jogo das damas.

Os avos passeiam os netos, os filhos passeiam os pais, de braço dado ou de cadeira de rodas. Havia uma velhota velhíssima, na cadeira de rodas, a fazer o seu tai chi possível. Havia velhos que eu diria que mal se podiam mexer, mas faziam espargatas entre dois pilares, outros com a perna atrás do pescoço. Tudo canta, dança, se movimenta e, embora os rostos sejam extremamente marcados, embora imagine que as suas vidas tenham sido muito duras, têm alegria para dar e vender.

 

Já não me apeteceu ir às compras. Deixei-me perder pela cidade sem destino, pelas partes novas mas principalmente pelas novas partes velhas. Depois de terem demolido a velha Pequim, reconstroem quarteirões inteiros à moda dos antigos hutong. As partes mais bem conservadas são, então, as partes da nova antiga Pequim. Havia centenas de putos da escola a correr os hutong.

Vim almoçar às três da tarde, uma sopinha wanton de camarão. Tenho de privilegiar o boteco da senhora que me empresta o computador. A gente distrai-se um bocadinho e o mundo fica todo virado. O que era um negócio florescente há dois anos (as lojas de Internet) já não existe. Agora cada um com o seu e wi-fi por todo o lado.

Apanhei um escaldão no pescoço, ontem na muralha. Hoje tem sido um inferno para transportar a máquina fotográfica.

Entrei na farmácia, apontei para o pescoço e ela deu-me uma pomada. Estava à espera duma coisa mentolada, que desse uma sensação de frescura e fiquei, antes, com o pescoço em brasa. Calor com calor se apaga, versão chinesa das coisas do amor.

Pensei em investigar a vida nocturna de Pequim, mas com os pezinhos como estão, acho que vou sentar o rabo na ópera.

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